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Sobre mídia, política e eleições

No twitter, @MarceloSallesJ
1) Tropa de Elite 2 é um bom filme. Com restrições, mas um bom filme. Digo isso basicamente por dois motivos: a) o filme tem um personagem inspirado na história do deputado estadual Marcelo Freixo, que tem sido um grande aliado do povo fluminense, é um sujeito correto; b) o filme mostra as chamadas milícias do jeito que são, e também revela suas ligações com políticos. Por outro lado, o Bope continua sendo apresentado como o supra-sumo da polícia. “O Bope é uma peça fundamental na nossa política de segurança”, diz lá o cap. nascimento. E o que faz essa peça fundamental? Entra na favela e mata bandido pobre, o lado barato do negócio, sem tocar na questão do tráfico internacional de drogas e armas. Assim, a criminalização da pobreza é naturalizada. É nesse ponto que a película, distribuída pela Globo Filmes, se encontra com o noticiário do Jornal Nacional a respeito das favelas.
2) O Vox Populi desta segunda-feira, dia 25, deu 14 pontos de frente para Dilma: 57% a 43% dos votos válidos. Hoje, terça, tem Datafolha, cuja última sondagem apontou vantagem de Dilma de 56% a 44%. O debate que está sendo realizado agora na TV Record não criou um fato suficientemente explosivo para mudar o quadro eleitoral. No conjunto da obra, considerando também os programas eleitorais da noite, diria que José Serra levou ligeira vantagem. Isso porque, pela primeira vez, o tucano puxou uma pergunta sobre a Petrobrás e conseguiu encostar Dilma no córner ao falar que ela também privatizou campos de petróleo – repetindo o início do seu programa eleitoral. Como não houve negativa firme, pode-se dizer que o tema ficou um pouco embolado na percepção do eleitor comum – e este era um dos grandes trunfos da campanha da petista. Por outro lado, Serra fugiu da primeira pergunta sobre criação de empregos (15 milhões no governo Lula contra 5 milhões no governo FHC). Na segunda, não teve jeito. Tentou falar da criação de empregos na saúde, depois passou a acusar Dilma de má gestão (mudando de assunto). Apesar do empate técnico no debate, não acho que a eleição esteja decidida, apesar da razoável vantagem da petista. Durante a semana ainda pode acontecer muita coisa, incluindo as ações da campanha subterrânea tucana – e-mails e panfletos apócrifos. E também ações midiáticas, como a da bolinha de papel. Mais do que nunca, a militância de todo o campo progressista deve estar atenta.
3) O governo Lula conclui essa semana o primeiro curso de formação para policiais atuarem na proteção de defensores dos direitos humanos ameaçados, que se encontram dentro do programa de proteção do governo federal. Serão formados 60 policiais militares do Distrito Federal em Direitos Humanos e técnicas de proteção a pessoas ameaçadas. A iniciativa, inédita no país, é uma parceria do Ministério da Justiça, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e da Polícia Militar do Distrito Federal. As aulas quebram a lógica da velha doutrina militar, que identificava como inimigos lideranças populares, os tais subversivos de outrora. Agora, os membros de movimentos sociais são valorizados. Os policiais recebem cursos sobre conflitos agrários e urbanos, que revelam as raízes das desigualdades e mostram a responsabilidade do latifúndio na produção da violência. A ordem é “proteger a todo o povo, e não só as autoridades tradicionais”.

Sobre mídia, política e eleições

Amigos, transcrevo abaixo editorial do jornal Brasil Atual, assinado pelo jornalista João de Barros, que vai sair antes do segundo turno com tiragem de 1 milhão de exemplares. Além de comparar os dois governos (Lula e FHC), ele traz uma questão interessante: Dilma deveria anunciar Lula como seu ministro da Casa Civil. Uma mensagem direta de que o Brasil seguiria mudando.
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O povo brasileiro tem muito a comemorar. Os últimos oito anos foram extraordinários para o país. Pagamos a dívida externa, o risco-país despencou, a inflação também, encontramos um monte de petróleo, o salário mínimo subiu bastante e equivale hoje a 300 dólares, tivemos mais empregos, construímos casas, demos luz para o povo, a educação e a saúde melhoraram, enfim, a lista é extensa é obra de muita gente, mas em particular de duas pessoas: Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef.
O país está resolvido? Não. Há muito a fazer. A corrupção continua sendo o nosso pior mal. Mas quem foi apanhado com a mão na cumbuca presta contas à Justiça. Outra coisa: a candidata Dilma Roussef deveria anunciar logo o presidente Lula como seu futuro ministro da Casa Civil. Ele teria o mesmo papel no governo dela que ela teve no governo dele. Essa via de mão dupla acabaria de vez com a boataria que se fez em torno da sucessão.
Além do mais, o povo aplaudiria demais essa decisão. Seria uma bela forma de manter em campo um time que está ganhando – e de goleada – há oito anos, não é mesmo? Ou você quer que o Brasil entregue o jogo?
Então, nosso próximo passo é esse: dia 31 de outubro, é Dilma, 13, presidente!

Em vez de esperar por Marina, PT deve tomar ruas e mídias

No Twitter: @MarceloSallesJ
O futuro do Brasil e do continente latino-americano será decidido em outubro. Não em 31 de outubro, mas em todos os dias do mês. Tudo o que for feito hoje e amanhã terá reflexos no dia da votação. Deve ficar claro que o povo brasileiro vai escolher entre dois projetos. O liderado por Dilma-Lula, cuja proposta é de desenvolvimento com distribuição de renda e fortalecimento do Estado, ou o de Serra-FHC, que defende o livre mercado gerador de desigualdades.
Em vez de esperar 15 dias pelo PV, ou Marina Silva, o PT deve ocupar as ruas e as mídias, todas quanto possível, para comparar os dois projetos e combater as mentiras e informações distorcidas contra Dilma. Não vale a pena esperar o PV por dois motivos. Um de seus mais importantes caciques, Alfredo Sirkis, é de extrema direita. Presidente do partido no Rio, duvido que permita apoio ao PT. Em segundo lugar, os eleitores de Marina não são militantes orgânicos a ponto de acatar uma decisão partidária. Então não vale a pena esperar. Se o apoio vier, ótimo. Se não vier, vida que segue.
Apesar de não ter vencido no primeiro turno, Dilma teve excelente votação. Se não a maior, seguramente uma das maiores votações em primeiro turno na história do país. Cerca de 47 milhões de brasileiros apertaram o 13 no domingo dia 3 de outubro. Desses, a maioria veio das classes populares. Em favelas da zona norte do Rio, por exemplo, Dilma chegou a ter 60% dos votos contra cerca de 15% dos adversários. Já na zona sul, como Ipanema e Leblon, a petista perdeu feio. O corte de classe ficou evidente. No segundo turno, manter a estratégia para os espaços populares e repensá-la da classe média pra cima.
Boa parte dos votos que a candidata petista deixou de receber se deve à campanha aberta que fizeram as corporações de mídia durante todo o mês de setembro. Nesse período, praticamente não houve debate sobre o país. Foi denuncismo puro, o que envolveu Dilma numa agenda extremamente negativa. Isso deve, pelo menos, servir para a esquerda entender a importância de democratizar os meios de comunicação de massa.
Mas não a sangria não se deu apenas em razão da campanha midiática contra Dilma. É fato que boa parte dos votos que as pesquisas indicavam para a petista foi desviada pela boataria fundamentalista. Recebi, em Brasília, panfletos acusando o governo Lula de querer implantar uma “rede de domínio do anticristo no Brasil”. O título da mini-revista, com tiragem de 100 mil exemplares, é: “Rebelião contra Deus quer destruir a família e a Igreja”. Mas acontece que o panfleto, pelo menos esse, não é apócrifo. Lá está a assinatura, em letra minúscula: “Coligação O DF pode mais – PSC, PRTB, PR, PSDB, DEM, PP, PMN, PTdoB, PSDC”. Observem que PSDB e DEM, partidos de Serra e seu candidato a vice, Índio da Costa, estão escondidinhos no meio da sopa de letrinhas.
Como esse, outros panfletos foram distribuídos por aí, assinados ou não. Pela internet a mesma coisa. Como já parece ser consenso na blogosfera, a campanha do PT demorou para desmentir os boatos. Para o segundo turno, é preciso ter uma equipe exclusivamente voltada para esse combate, tanto nas diversas mídias quanto nas ruas.
Por outro lado, esse não foi o único motivo. Além dos que estão de acordo com o projeto tucano – e isso tem que ser respeitado – houve muita gente votando no Serra simplesmente para que haja um “revezamento no poder”. Entre os votos de Marina, há os que não gostam nem do PT nem do PSDB (ou nem de Dilma-Lula e nem de Serra-FHC). Os verdes também podem ter identificado em Marina uma melhor candidata para tocar a pauta ambiental, ou a que melhor representa a classe trabalhadora (já que é negra e tem uma história de luta com Chico Mendes, foi alfabetizada aos 16 anos e etc.).
O PT deve considerar todas essas variáveis. E investir nos eleitores de Marina, observando suas várias nuances, e no combate à onda de mentiras e difamações que estão sendo divulgadas em documentos apócrifos ou assinados pela campanha de Serra. No lado propositivo, a campanha deve consolidar a posição que lhe garantiu 47 milhões de votos e se esforçar para comparar os dois projetos, em seus vários aspectos: desenvolvimento social e combate à fome (redução das desigualdades, aumento do salário mínimo, criação de 14 milhões de empregos, saída de 30 milhões de brasileiros da miséria), comunicação (plano nacional de banda larga, empenho na construção da comunicação pública – TV Brasil), cultura (pontos de cultura, pontos de mídia livre), educação (novas universidades e novos centros tecnológicos), desenvolvimento agrário (aumento de R$ 3 bilhões para R$ 16 bilhões no financiamento da agricultura familiar), economia (mais crescimento do PIB com Lula do que com FHC), relações exteriores (aumento do comércio sul-sul, maior presença na América do Sul e na África, diálogo de igual para igual com as potências mundiais), entre outras.
E o mais importante de tudo: todos e todas que acreditam que a eleição de Dilma é fundamental para a consolidação dos avanços conquistados pelo governo Lula devem conversar com os amigos, vizinhos, conhecidos e até desconhecidos. Não de maneira agressiva, impositiva, mas de forma respeitosa, sempre que sentir alguma abertura, naturalmente, apresentando essas e outras informações que evidenciem os dois projetos (Dilma-Lula x Serra-FHC), já que a comparação é extremamente favorável ao projeto público em detrimento do privatista. Também é preciso ter um discurso pronto para neutralizar mentiras e distorções, que estão centradas no campo do fundamentalismo religioso – aborto, casamento gay, drogas, domínio do anticristo. Funcionaria algo como: “Quando Jesus escolheu seus profetas o fez para que levassem a palavra de Deus. E não para professar falso testemunho, como estão fazendo contra Dilma”.
Adesivo no peito, bandeira em punhos, discurso afiado e sorriso confiante – que de cara fechada ninguém convence ninguém. Essas são as armas que a militância deve usar todo santo dia até 31 de outubro.

A vitória do homem sobre as máquinas

No Twitter: @MarceloSallesJ
Aquela não foi uma noite comum. Não, amigos. Numa noite comum o sol não aparece, os bêbados não ficam sóbrios e a chuva, ah, a chuva… Numa noite comum a chuva jamais teria sido ignorada com tanta alegria. Numa noite comum não se celebra uma das maiores vitórias de todos os tempos, quando o ser humano supera as máquinas.
O fato é que nas últimas horas do dia 3 de outubro de 2010 uma pequena multidão tomou conta da Travessa do Mosqueira, nas barbas dos Arcos da Lapa. A Lapa, palco de tantas histórias no Rio de Janeiro, testemunhou a explosão de alegria de uma gente aguerrida, que lá estava para comemorar a eleição de Chico Alencar para a Câmara dos Deputados e a de Marcelo Freixo para a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.
O carnaval fora de época, com direito a bumbo, pandeiro e cavaquinho, foi mais que merecido. Vitória como essa, na política, não aparece toda hora. Chico e Marcelo foram os segundo mais votados em todo o estado do Rio de Janeiro, com 240 mil e 177 mil votos, respectivamente.
A grande questão que se impõe é: como isso aconteceu? Como foi possível vencer as máquinas, com seus cabos eleitorais pagos e seu poder econômico gigantesco, capaz de açambarcar todo o estado com placas e papéis, garantindo uma espécie de onipresença aos seus escolhidos?
Chico Alencar, muito emocionado, disse que o resultado comprova a existência de uma parcela da população fluminense “ávida pela política feita com idéias e causas”. Essa mensagem esteve estampada, ao longo da campanha, na camisa dos militantes que afirmavam suas convicções em contraposição às máquinas: “Não to ganhando um real, to na rua por ideal”.
Marcelo Freixo enxerga em sua expressiva votação uma “resposta da sociedade aos podres poderes” e ressalta a importância de todo o trabalho desenvolvido ao longo de 4 anos, período em que exerceu, pela primeira vez na vida, o mandato de deputado estadual. O professor de história lembra que seu gabinete sempre esteve aberto aos movimentos sociais e serviu de instrumento para as lutas populares.
Gente de todas as idades, pretos e brancos, das universidades, dos sindicatos, das favelas, do funk, dos movimentos pela democratização da mídia e da reforma agrária, e também gente de movimento nenhum. Foi essa gente toda, junto com as equipes dos mandatos – diga-se de passagem: equipes que qualquer parlamentar gostaria de ter – e sob a liderança dos deputados Chico e Freixo. Foi a conjugação desses fatores que tornou possível essa inesquecível vitória do Rio de Janeiro.
Em lugar dos cabos eleitorais pagos – verdadeiros zumbis da política, que não discutem as propostas dos candidatos que representam – estavam os militantes cientes do que estavam fazendo, convictos da importância de cada panfleto e prontos para o debate. Em lugar da frieza das máquinas, o calor que mobiliza, que dá vida a um projeto e o leva adiante.
A festa na Travessa do Mosqueira não tem hora pra acabar. Continua em cada militante que fez essa campanha, onde quer que eles estejam agora. A força, a convicção e a alegria que carregam são a chave para compreender a vitória de Chico e Marcelo. A vitória do homem sobre a máquina. E isso, amigos, nenhum dinheiro pode comprar.

Sobre mídia, política e eleições

0.5) No Twitter: @MarceloSallesJ
1) Entramos no último mês de campanha com ampla vantagem de Dilma sobre Serra, em que as pesquisas de intenção de voto apontam até uma vitória em 1º turno. A candidata do PT tem pelo menos três grandes trunfos, que vão ajudá-la a manter a dianteira: o primeiro é a avaliação positiva do governo que representa, que beira 80%. Isso inclui percepções positivas sobre aumento do emprego e redução da miséria/pobreza. O segundo trunfo é o maior tempo de rádio e TV, com uma média de dez minutos contra sete de Serra. Por fim, Dilma e o PT contam com o apoio da maioria dos prefeitos.
Esse quadro garante, tecnicamente, a vitória de Dilma. Não existem, no horizonte, fatos objetivos, concretos, que se sobreponha aos trunfos que Dilma tem na manga.
Por outro lado, há que se ter em mente que uma eleição não é um fato estritamente técnico, mas eminentemente político. Isso significa que um fato político de grande proporção, que receba ampla divulgação dos meios de comunicação de massa, poderá causar um impacto significativo no quadro eleitoral.
Na vida recente brasileira vimos isso acontecer pelo menos três vezes. Além da histórica edição do debate entre Lula e Collor em 1989, tivemos o caso Lunus, que tirou Roseana Sarney do páreo em 2002, e o “escândalo dos aloprados”, que ajudou a levar a disputa para o 2º turno em 2006. Todos eles foram amplamente expostos pela mídia, cuja união indissolúvel em torno da pauta impôs uma versão única dos fatos.
Conhecendo a estrutura dos meios de comunicação de massa no Brasil e a sanha golpista da direita que vem caindo nas pesquisa, não convém baixar a guarda.
2) Pena os demais candidatos da esquerda não terem conseguido ampliar sua presença nos debates, o que decorre em grande parte do isolamento provocado pelas corporações de mídia. Pena também seus candidatos não receberem o apoio de mais eleitores, o que decorre de inúmeros fatores externos aos partidos, mas também ao fato de que sua aproximação com o povão ainda é muito tímida e da falta de união entre eles (os partidos de esquerda). São três fatos políticos a serem considerados nos próximos anos.
3) Na edição desta segunda-feira (30), O Globo saiu com mais uma matéria na linha “Dilma canta vitória antes do tempo”, apesar de ela já ter negado tantas vezes. Na página 10, a matéria principal chegou a comparar a posição da petista com a de FHC, que em 1985 se deixou fotografar na cadeira de prefeito de São Paulo e terminou perdendo para Jânio Quadros. O parágrafo dizia o seguinte: “Em 1985, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, então candidato a prefeito de São Paulo e líder nas pesquisas de intenção de voto, atendeu a um pedido dos fotógrafos e se sentou na cadeira de prefeito antes da eleição. Ele acabou sendo derrotado por Jânio Quadros”. O curioso é que nem todos os exemplares do Globo desta segunda-feira saíram com esse trecho. Eu tive a oportunidade de ler as duas edições, uma com e outra sem o texto. Ao que parece, alguém mandou parar as máquinas para suprimir este parágrafo. Por que isso teria acontecido?