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Sem novidades: Ex-chefe dos batalhões do Choque e da Tijuca chefiava grupo criminoso, diz MP

Foto: Ernesto Carriço / Agência O Dia

É importante relembrar o que já foi escrito por muitos: não existe tráfico de drogas ou milícia sem o Estado. Nosso dinheiro, nosso impostos, são utilizados não apenas eventualmente — trata-se de um sistema que não pode sobreviver sem o aparato estatal.
No mais recente episódio, relatado por esta reportagem do jornal O Dia, o tenente-coronel Márcio de Oliveira Rocha, que comandou o Batalhão de Choque, é acusado pelo Ministério Público de ter chefiado uma quadrilha fardada quando estava à frente do 6º BPM (Tijuca).
Segundo o MP, o esquema de cobrança de propina montado pelo grupo rendia mais de R$ 100 mil por mês, pagos por mototaxistas e motoristas de transporte alternativo com pontos em pelo menos três favelas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A investigação é da 19ª DP (Tijuca).
O bar Bingo da Barão (foto), aqui pertinho, na rua onde moro (em frente à sede do 6º BPM), era o ponto usado para recolher o dinheiro. Segundo o MP, o local era ponto de encontro dos PMs, mas também servia para guardar valores ilícitos deles. Em meio às investigações, os policiais mudaram o local de entrega da propina para outro comércio na Rua Pinto de Figueiredo.
Segundo o MP, os policiais também recebiam dinheiro em pontos nos morros da Casa Branca, Salgueiro e Chácara do Céu. O MP queria que o caso fosse investigado pela Justiça comum, pois a ordem estaria vindo diretamente de Márcio, comandante do 6º Batalhão.
Trechos da escuta e outros detalhes na matéria do jornal O Dia: http://bit.ly/1hGJ6wG
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Sem novidades: Ex-chefe dos batalhões do Choque e da Tijuca chefiava grupo criminoso, diz MP

Foto: Ernesto Carriço / Agência O Dia

É importante relembrar o que já foi escrito por muitos: não existe tráfico de drogas ou milícia sem o Estado. Nosso dinheiro, nosso impostos, são utilizados não apenas eventualmente — trata-se de um sistema que não pode sobreviver sem o aparato estatal.
No mais recente episódio, relatado por esta reportagem do jornal O Dia, o tenente-coronel Márcio de Oliveira Rocha, que comandou o Batalhão de Choque, é acusado pelo Ministério Público de ter chefiado uma quadrilha fardada quando estava à frente do 6º BPM (Tijuca).
Segundo o MP, o esquema de cobrança de propina montado pelo grupo rendia mais de R$ 100 mil por mês, pagos por mototaxistas e motoristas de transporte alternativo com pontos em pelo menos três favelas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A investigação é da 19ª DP (Tijuca).
O bar Bingo da Barão (foto), aqui pertinho, na rua onde moro (em frente à sede do 6º BPM), era o ponto usado para recolher o dinheiro. Segundo o MP, o local era ponto de encontro dos PMs, mas também servia para guardar valores ilícitos deles. Em meio às investigações, os policiais mudaram o local de entrega da propina para outro comércio na Rua Pinto de Figueiredo.
Segundo o MP, os policiais também recebiam dinheiro em pontos nos morros da Casa Branca, Salgueiro e Chácara do Céu. O MP queria que o caso fosse investigado pela Justiça comum, pois a ordem estaria vindo diretamente de Márcio, comandante do 6º Batalhão.
Trechos da escuta e outros detalhes na matéria do jornal O Dia: http://bit.ly/1hGJ6wG
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BOPE distribui panfleto na Maré por helicóptero e assusta moradores (veja reprodução)

Relatos de moradores do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, informam que um helicóptero do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais da PM do Rio) está jogando um panfleto na comunidade informando que “a sua comunidade está sendo pacificada” e pedindo por pistas de crimonosos. A Maré está há dias está sob constante tiroteio, invasão da polícia e pressão dos traficantes.

As denúncias de violações de direitos humanos recebidas pela RENAJORP vêm, no entanto, dos três “poderes” locais: traficantes, milicianos e a própria Polícia Militar.

O panfleto tem assustado alguns moradores, que conhecem os métodos do BOPE de atirar primeiro e perguntar depois.

Veja o panfleto abaixo.

PM do Rio não deixa CPI fiscalizar depósito de armas

A CPI das Armas foi impedida, na última segunda-feira (22/8), de entrar no depósito central de armamento da Polícia Militar, em Niterói. Para o presidente da CPI, o deputado estadual Marcelo Freixo, houve cerceamento ao papel fiscalizador do Legislativo. O depósito não foi escolhido por acaso para a visita surpresa: a CPI já apurou um caso emblemático de um servidor lotado na unidade que fornecia armas e munições para grupos criminosos.

O comando da unidade alegou que a visita ao depósito só seria possível com autorização prévia do comandante-geral, coronel Mário Sérgio. “Esperamos por cerca de duas horas pela autorização, que não veio. Isso é um absurdo. Não é necessário esse tipo de autorização prévia a parlamentares no papel de fiscalizar o Executivo, ainda mais, no caso de uma CPI, que tem o poder-dever de investigação próprio de autoridade judicial. Saio com uma má impressão. O que será que há para ser escondido?”, reagiu Freixo, que foi à unidade com o deputado Flávio Bolsonaro, também membro da CPI. Freixo estuda medidas cabíveis contra o cerceamento, inclusive no Ministério Público.

À tarde, Freixo, Bolsonaro e o deputado Zaqueu Teixeira visitaram o depósito da Divisão de Armas e Explosivos da Polícia Civil (DFAE). Das 150 mil armas acauteladas na unidade, em condições avaliadas como precárias pela própria Polícia Civil, cerca de 100 mil estão em condições de destruição, faltando para isso o seu encaminhamento pelo Tribunal de Justiça ao Exército. Armas e munições são mantidas em um recinto poeirento e sem circulação de ar conhecido como “cofre”, penduradas em pregos nas paredes de tábuas ou espalhadas pelo chão.

O destino das armas e munições do depósito do DFAE foi um dos temas de reunião da CPI das Armas que ocorreu hoje (29/8), com o Tribunal de Justiça, Exército e Polícia Civil. Na reunião, com a participação também da Polícia Federal, foram discutidas as ações necessárias para aumentar o controle do Estado sobre o seu próprio armamento, sobre a fiscalização do comércio legal, assim como para um enfrentamento mais eficaz do tráfico de armas, munições e explosivos no Estado do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro: Livres pres@s polític@s pela visita de Barack Obama

Do Diário da Liberdade

[Atualização 22, 9:35] O PSTU publicou no seu blog a primeira imagem das pessoas encarceradas politicamente após a sua saída da prisão. A foto, que acompanha este texto, foi feita quando @s ativistas eram libertad@s na noite do dia 21, recebidos por seus camaradas, ainda no presídio de Água Santa. O PSTU agradeceu todas as manifestações de apoio e solidariedade.

Em liberdade há poucas horas pres@s polític@s pela visita de Obama

[Atualização 22, 00:20 em Brasília] Ontem (21) de noite foram libertadas as treze pessoas encarceradas pela repressão dos governos Dilma e Cabral. Yuri Costa, no presídio de Água Santa, acaba de dizer que a cela na que estavam foi palco de uma chacina dias antes.

Ato na UFRJ pela libertação d@s pres@s polític@s. Foto: Diário da Liberdade.

As vítimas da repressão desta sexta permaneciam nas prisões de Bangu 8 e Água Santa desde sexta-feira, quando foram detidos arbitrariamente para reprimir os protestos contra a vinda do presidente dos EUA Barack Obama ao Brasil. No sábado, um juiz de plantão havia negado a liberdade, alegando que as pessoas ativistas representariam uma ameaça ao presidente norte-americano e poderiam “macular” a imagem do Brasil. Diário Liberdade ainda não conseguiu imagens da libertação destes ativistas.

Ontem de manhã a “justiça” revelou que se produziria durante a tarde a libertação destas pessoas, após o Imperador Americano deixar o Brasil e lhes ser concedido o Habeas Corpus. Na verdade a libertação produziu-se de noite, e poucas horas após o fim da turnê carioca de Obama, @s pres@s de Bangu 8 e Água Santa estão na rua.

Contudo, estas pessoas continuam indiciadas. A luta dos movimentos sociais é agora para retirar todas as falsas acusações construídas pelo aparelho repressivo, que não duvidou em manter na prisão durante três dias uma mulher de 69 anos. “Vamos insistir no fato de que falta o elemento que configuraria o delito”, disse o advogado Jorge Bulcão, como recolhe o site do PSTU, organização com 10 pessoas presas.

Para o advogado o processo foi uma “aberração jurídica”. “No auto de flagrante não havia uma declaração sequer afirmando que aqueles artefatos estavam de posse dos ativistas detidos”, relata.”No Direito Penal se tem uma coisa que tem que ficar absolutamente clara é a autoria. Na dúvida, se absolve o reu”, afirma. O que foi usado para se determinar o flagrante foi a simples “confissão” dos ativistas de que eles realmente estavam na manifestação contra a vinda de Obama. “Isso é um absurdo, como se estar presente numa manifestação fosse crime”, reclama Bulcão.

Atos pela libertação

Durante o final de semana, uma grande campanha foi feita, com atos e milhares de assinaturas de apoio aos presos.

Terça de manhã num ato na faculdade de letras da UFRJ, na Ilha do Fundão, Cyro Garcia, presidente do PSTU coincidia com outras e outros ativistas na necessidade de não parar com a campanha. No seu discurso, apontou que apesar de essas pessoas serem libertadas, “agora há que limpar o seu nome”. Chamou para todo o mundo assinar.

Faixa também utilizada na manfestação de domingo com os nomes d@s reprimid@s

Multidão de pessoas do mundo estudantil, político e dos movimentos sociais exprimíram o seu apoio às pessoas vitimadas pela repressão no ato na UFRJ, e após ele finalizar foram às prisões de Bangu 8 e Água Santa para recepcionar @s companheir@s.

Policiais “atiraram contra mulheres com crianças de colo”

Sobre a repressão da sexta-feira, Diego Braga mostra uma ferida no seu cotovelo. O ativista, que sofreu danos físicos na ação, assegurou para o Diário Liberdade que os policiais “atiraram contra mulheres com crianças de colo.”

Ainda, Braga lembra que “fizeram presos que o próprio delegado de polícia falou para a mídia que não tinham acusação formal contra eles. Foi uma prisão de segurança. Essas pessoas não são ameaça para a segurança pública. Essas pessoas deram um bate para o imperialismo mundial dizendo que a visita do Obama ao Rio não tem consenso.”

Diego Braga indicou que ontem, domingo, houve uma grande passeada contra a visita do Obama “acrescentando o pauta da libertação dos presos políticos. Ainda, o abaixo-assinado é uma campanha internacional de forma que essa pressão ajudou à libertação destes ativistas”.

Sobre as intenções da visita de Obama, para Diego Braga são claras: “Obama veio aqui para evitar que o Povo Líbio construa a história com as suas pautas. A gente apoia as revoluções árabes. A gente é contra Kadafi e contra Obama.” Braga concluiu chamando “à libertação de todos os povos e à unificação dos povos de todo o mundo em uma nova direção revolucionária”.

Hipocrisia

Ontem diziamos que a palavra hipocrisia era a que melhor podia definir a visita de Obama ao Brasil. Hipocrisia extensível ao governo Dilma: “Obama veio também para reforçar a ideia do Brasil como país em crescimento. Mas a verdade é que essa melhoria não chega ao povo, e sim aos grandes bancos”. Outras razões que Braga deu para a visita do Obama foram “a venda de caças e material de guerra para o Brasil”, o pré-sal “para que a empresa brasileira carregue com a extração e as empresas americanas com o lucro pela venda do petróleo” ou “os acordos de livre comércio, que foram mortos pelos movimentos sociais contra a ALCA e que agora re-viviram com um outro nome”.

Obama pôs o Brasil como exemplo, mas Diego Braga diz que “não é verdade que o Brasil é um país de classe meia hoje. Houve uma ligeira elevação dos salários mais baixos, mas uma diminuição brutal para quem ganha um pouco mais do salário mínimo.” “O governo Dilma não é progressivo” –afirmou.

“Apoiamos a luta do povo da Galiza contra o imperialismo espanhol”

Mesmo nestes momentos de dificuldade para a sua organização, criminalizada pela sua firme posição contra a visita de Barack Obama, Diego Braga teve palavras “para a luta do povo da Galiza contra o imperialismo espanhol. Nós somos contra o imperialismo e pela auto-determinação de todos os povos. Sabemos também da violência da repressão do imperialismo espanhol.” “Galiza livre!” concluiu Braga.

Cyro Garcia na UFRJ

Uma das mais interessantes intervenções do ato desta manhã na UFRJ foi a de Cyro Garcia, que denunciou “detenções totalmente arbitrárias por conta de algo que [@s ativistas detid@s] não fizeram”. “Obama não estava aqui para fazer turismo, mas porque tem interesse nas nossas riquezas naturais, principalmente na camada do pré-sal”, continuou.

Cyro Garcia. Foto: Diário da Liberdade.

Ainda, Cyro Garcia disse que as detenções “não foram realizadas no ato, mas 30 minutos depois”, só após um telefonema exigindo responsáveis pelo coquetel molotov no consulado americano, “e eles, meia hora depois, prenderam treze pessoas aleatoriamente”.

Cyro fez um chamamento a assinar pela libertação d@s companheir@s detid@s apesar de a sua liberdade ter sido garantida na hora, “para limpar o seu nome”.

“Esse tipo de silêncio seria inadmissível se os mortos fossem moradores ricos de Ipanema, mas, como é gente pobre, vale tudo”

Registramos aqui relatos de mídia, com pesquisa de Maria Frô, para que não passe em branco. O leitor mais atento perceberá que existem algumas dezenas de questões sem respostas.

Moradores da Vila Cruzeiro e do Alemão denunciam abusos dos policiais

Por: Renata Mariz, no Correio Braziliense
29/11/2010

Rio de Janeiro – Denuncias de moradores Vila Cruzeiro e do complexo do Alemão sobre abusos praticados durante as ações policiais nas favelas revelam o outro lado das operações contra o tráfico de drogas no Rio.

Na Vila Cruzeiro, uma comunidade que era totalmente dominada pelo tráfico de drogas há pelo menos sete anos, o clima dentro da favela no primeiro sábado após a ocupação das forças de segurança pública oscilou entre o alívio pelo aparente fim da guerra travada nos últimos dias e a revolta em virtude de abusos praticados durante as ações.

“Cheguei do trabalho na sexta-feira vibrando. Pô, ver a polícia aqui tomando conta, coisa que em 30 anos de favela eu nunca tinha visto, era bom demais. Mas o mocinho virou bandido”, lamenta Cosme Souza dos Santos. Porteiro em um prédio no centro da cidade e morador da Rua da Rainha, na Vila Cruzeiro, Cosme encontrou o portão de sua casa, instalado há menos de dois meses, arrombado. Roupas foram jogadas no chão. Móveis, destruídos. Anéis, brincos e um relógio da mulher do morador, Sandra Ferreira, sumiram.

Vizinhos que acompanharam Cosme até a delegacia, onde o homem registrou ocorrência, apontaram policiais como os autores do arrombamento da casa. “Abriram minha geladeira e tomaram todos os refrigerantes que tinha, quase 10 latas”, reclama o porteiro, mostrando um recipiente vazio no quarto, abarrotado de objetos jogados no chão. “Minha casa ficou aberta, qualquer um podia entrar e levar o resto dos meus pertences conseguidos com muito suor e muito trabalho”, revolta-se Cosme, em frente à residência humilde localizada em um corredor estreito da Vila Cruzeiro.

Morro acima, na casa de outra moradora, que não quis se identificar, os policiais também detonaram a fechadura para entrar, conforme relatos de vizinhos. Mas a própria comunidade se encarregou de furtar mais objetos depois da ação dos homens fardados. Prova disso é a recuperação de parte do patrimônio por Isabel Jennerjahn, tia da moradora da casa. Ela vasculhou a residência dos vizinhos e conseguiu reaver dois butijões de gás, dois sofás, um ventilador, um filtro, uma bicicleta e até a árvore de Natal surrupiada por outros moradores.

“Meu Deus, o favelado sempre teve uma imagem de solidariedade. É absurdo os vizinhos se sentirem no direito de fazer o mesmo que os agentes do Estado fazem com a comunidade”, afirma Isabel, que faz parte da Rede de Comunidades contra a Violência, uma entidade não governamental de atuação nacional.

Luciene de França, mãe de uma menina de nove meses que prefere não mostrar o rosto para a fotografia, assim como quase todos os moradores, independentemente do conteúdo dito por eles, também teve uma surpresa desagradável ao chegar em casa, ontem, no alto da Vila Cruzeiro. Seu barraco estava arrombado.

“A comunidade não tem nada a ver com os bandidos. A gente mora aqui por necessidade. Você acha que eu não gostaria de ir para outro lugar? Mas eles tratam todo mundo igual”, reclama Luciene. Ela ainda não arrumou a fechadura de casa. Nem sabe quando poderá fazer o conserto. A mulher acredita que terá de passar mais uma noite na casa da irmã — ela está lá desde a quinta-feira passada — em virtude da falta de luz na Vila Cruzeiro. “A gente não quer traficante aqui, só quer que a polícia trabalhe direito, pegue quem tem que pegar e pronto. Sem esculachar a gente”, diz a mulher, com a filha no colo.

O relações públicas da Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel Henrique Lima Castro, afirmou ser necessário forçar a entrada em casas aparentemente vazias. “No momento em que você conquista um território, tem de fazer a varredura. Só tem essa forma de procurar armas e drogas. Lógico que se desapareceram objetos de valor, peço que o morador registre a ocorrência imediatamente”, afirma o representante da corporação.

Ele destaca que a PM recebe relatos de traficantes tomando as casas para se esconder. Vem daí, segundo Lima Castro, a necessidade de entrar nas residências.

Apesar da revolta por parte de moradores prejudicados de alguma forma com a operação de segurança, a perspectiva de viver longe do domínio do tráfico e, ao mesmo tempo, atendidos por serviços públicos essenciais serve de alento. “Será que agora a polícia vai ficar? Dizem que está tudo bem, que está tudo ocupado, mas eu não sei. Só Deus para saber”, desconfia das notícias muito otimistas um comerciante da Praça Vila Cruzeiro, onde muitos comércios importantes estão localizados. Em bares e lanchonetes, pessoas tomavam cerveja e crianças andavam pelas ruas com tranquilidade, apesar da presença de carros blindados, inclusive um caveirão, da Polícia Militar fluminense.

Cadáveres aos porcos

No início da tarde, uma senhora baixa e negra que gritava na praça, com uma criança no colo, era o retrato do desespero. “Tem 24 horas que meu menino de 16 anos está sumido. Botaram o corpo dele para os porcos”, chorava a mulher, identificada apenas como Dineia. Todos os moradores sabem onde fica o local sobre o qual a senhora falava. “É na vacaria, tem corpo lá, sim”, confirmaram os cerca de 10 transeuntes consultados pela reportagem na subida do morro da Vila Cruzeiro. O local é coberto por mata e pedras. Em vez de vacas, criadas no local tempos atrás, havia porcos se alimentando de cadáveres.

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Polícia Militar do Rio de Janeiro informou não ter conhecimento do fato. Os moradores defendem, enfaticamente, que os corpos são de “vagabundos”, mas também de “inocentes” atingidos durante o confronto. Independentemente da verdade, o conflito urbano que já entrou para a história da segurança pública brasileira será lembrado por pessoas como Cosme, Luciene, Isabel e Dineia de uma jeito muito particular. Eles querem paz, mas também querem respeito.

Abusos também aconteceram no Complexo do Alemão

Uma cerca de ferro instalada pela polícia na Estrada do Itararé, via que dá acesso ao Complexo do Alemão, manteve cinco ônibus estacionados ao longo do domingo com o objetivo de transportar suspeitos encontrados durante a operação. Mas o local ficou durante boa parte do dia cheio de moradores que reclamavam de abusos — desde a detenção de parentes que nada teriam a ver com o tráfico à derrubada de casas por parte dos policiais. Ontem, o Correio mostrou as mesmas denúncias na Vila Cruzeiro, localizada no mesmo complexo.

Léia de Souza, 30 anos, tentava manter a calma, depois que a proximidade do helicóptero da Polícia Militar derrubou metade da casa de sua mãe, na Rua Araruá. “Graças a Deus ninguém ficou ferido, mas a gente não tem para onde ir. Quando reclamei com o policial, ele me mandou morar na casa dos vagabundos”, reclama a mulher, visivelmente confusa em relação a como pedir providências.

Uma senhora que se identificou como Sônia, da casa ao lado de Léia, também teve o muro destruído. Desesperada, a mulher gritava em meio aos policiais. “Tenho três filhos, moro sozinha, não sou bandida nem vagabunda. Mas eles não querem saber. Que proteção é essa que querem dar para a gente?”, questionava Sônia, transtornada. A destruição de seu muro e da casa de Léia ocorreu no momento em que o helicóptero da PM praticamente pousou numa laje próxima para carregar drogas encontradas em um imóvel perto dali.

Quando as famílias pediram para a imprensa fotografar as casas destruídas, um policial ordenou: “Sai da rua, entra para casa e não atrapalha nossa operação”, disse, rispidamente, o policial. Priscilaine Santana, 24 anos, pedia aos policiais, na cerca instalada na Estrada do Itararé, que liberassem logo seu marido. “A gente estava indo para o supermercado, aí revistaram a gente. Viram que ele tinha uma tatuagem e uma cicatriz na barriga, de uma cirurgia. É crime ter tatuagem?”, dizia Priscilaine. Dois homens, Jackson Soares e Elídio Bortolati, diziam ter apanhado de policiais, mostrando marcas pelas costas.

Personagem da notícia

Presente de grego

Ronai Braga, com a mulher, mostra o estrago em sua casa na Vila Cruzeiro: “Não sou contra a instituição. Sou contra os maus policiais, que usam a farda para prejudicar gente trabalhadora”

A revolta acompanhada do choro compulsivo ainda preserva um senso de justiça. “Não sou contra a instituição e o trabalho que eles fazem. Entendo tudo que tem que acontecer para um futuro melhor. Sou contra os maus policiais, que usam a farda para prejudicar gente trabalhadora”, disse, aos prantos, Ronai Braga. Ele teve a casa, na Rua 16 da Vila Cruzeiro, arrombada por agentes da Polícia Civil, segundo vizinhos que o acompanharam na delegacia como testemunhas na hora de registrar a ocorrência. Além de destruírem os móveis da residência, na sexta-feira, os invasores levaram R$ 31 mil, que seriam dados como entrada de um apartamento que a família pretendia adquirir.

Com todos os comprovantes na mão — depósitos bancários, rescisão recente de contrato de trabalho após oito anos com carteira assinada em uma empresa, extratos de FGTS e declarações de Imposto de Renda —, Ronai parece querer provar que seu dinheiro é suado. Pais de dois meninos de 2 e 9 anos, o casal não suporta olhar o quarto das crianças, com os móveis quebrados e as roupas jogadas no chão.

A vizinhança do homem que atualmente trabalha como autônomo, pintando camisetas, relatou na delegacia que um dos policiais que entraram na casa era identificado no uniforme como Carlos A positivo – tipo sanguíneo tradicionalmente inscrito na farda dos agentes de segurança. Ronai completará 32 anos amanhã. “Olha que presente ganhei”, diz.

Para ver o vídeo de Ronai Braga, clique aqui.

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Onde estão os mortos?

Por: LAURA CAPRIGLIONE e MARLENE BERGAMO, na FOLHA DE S. PAULO
05/12/2010

Houve 37 mortes nas operações da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão; não se sabe como ocorreram nem quem era bandido ou inocente

Marlene Bergamo – 30.nov.2010/ Folhapress

Enterro de Rogério Cavalcante, que morreu após ser atingido por uma bala no Alemão

O adolescente Davi Basílio Alves, de 17 anos, morreu na quinta-feira (25/11). Soldado do tráfico -a própria família o admite-, o jovem foi alvejado por policiais e caiu morto em uma rua de terra da Vila Cruzeiro, quando tentava fugir para o Complexo do Alemão. A mãe de Davi mora em uma viela suja, pichada com um imenso C.V. do Comando Vermelho, na parte baixa da favela.

A mulher logo recebeu a notícia de que o filho não conseguiu escapar. Quando o tiroteio amainou, ela correu ladeira acima. Viu Davi morto ao lado de um campinho de futebol e pediu aos soldados vasculhando as quebradas em busca de armas e drogas para que removessem o corpo de lá.

“Eles disseram que tinham mais o que fazer. Que, se ela tinha sido capaz de pôr um bandido no mundo, seria capaz também de enterrá-lo”, rememorou uma vizinha.

A mãe telefonou para a funerária. “Disseram que não dava para fazer o trabalho.” E não dava mesmo. Rajadas de tiros ainda cortavam a favela.

Choveu na noite de quinta. A manhã úmida veio com um calor de 29ºC na sexta. O corpo do adolescente grandalhão começou a incomodar. Rondavam urubus, que se empoleiravam às dezenas na torre de transmissão elétrica, a poucos metros dali.

AOS PORCOS
Das mais de 20 pocilgas localizadas nos terrenos baldios próximos, saíam porcos magros, em estado de fome crônica. No sábado, o cadáver amanheceu dilacerado.

A mãe arrumou um carro -a vizinhança já não suportava o cheiro. O corpo foi enrolado em uma lona e conduzido ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha.

Oficialmente, o jovem morreu naquele dia. Ficou assim registrado na planilha divulgada pelo Instituto Médico Legal: Davi Basílio Alves, 17 anos, pardo, Vila Cruzeiro. Só.

Para a Polícia Militar, 37 pessoas morreram em confrontos polícia-bandidos desde o dia 21 na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão.

Todo dia, a corporação solta um balanço das operações. Coisa sucinta, contabiliza mortos junto com número de garrafas PET e litros de álcool e gasolina apreendidos. Nenhum nome.

Para a Secretaria de Segurança Pública, morreram 18 pessoas (17 identificadas).

O número refere-se aos cadáveres produzidos a partir do dia 25. Os mortos entre os dias 21 e 24, a secretaria não contabiliza. E diz que nem o Instituto Médico Legal do Rio tem dados referentes aos mortos desse período, apesar de todos os corpos recolhidos nas favelas sinistradas pela violência terem sido encaminhados para lá.

INOCENTES
Coincidentemente, a contabilidade da Secretaria de Segurança Pública, omitindo as estatísticas anteriores ao dia 25, evita mencionar incômodas mortes de inocentes óbvios. Como a da adolescente Rosângela Barbosa Alves, 14, atingida por um tiro nas costas enquanto estudava dentro de casa, na frente do computador. Ou a da dona de casa Janaína Romualdo dos Santos, 43, e de um idoso -todos atingidos por balas perdidas.

Sobre as mortes ocorridas a partir do dia 25, o IML nada informa a respeito das circunstâncias em que elas aconteceram. Diz que os “detalhes sobre os laudos são peças de investigação e não serão divulgados”.

Assim, não se sabe se houve tiros à queima-roupa, ou o número de perfurações nos corpos, ou se houve concentração de disparos na cabeça. Nem sequer se sabe se alguém morreu esfaqueado.

SILÊNCIO
A Folha pediu para entrevistar um perito do IML. Resposta: “Infelizmente, não há perito disponível para conceder entrevista sobre o laudo cadavérico dos corpos”.

“Esse tipo de silêncio seria inadmissível se os mortos fossem moradores ricos de Ipanema, mas, como é gente pobre, vale tudo”, disse uma professora da Vila Cruzeiro.

O segurança Rogério Costa Cavalcante, 34, aparece em uma lista de mortos como um dos “traficantes que trocaram tiros com os policiais”, segundo informação oficial da assessoria de comunicação da Polícia Civil do Rio.

Das poucas coisas que se sabe sobre os mortos nos confrontos dos últimos dias, uma das mais certas é que Rogério Costa Cavalcante não trocou tiros com os policiais. Ele foi alvejado bem na frente das câmeras de fotógrafos e cinegrafistas.

Tinha os bolsos cheios de convites para a festa de aniversário de seu único filho. Iria entregá-los quando deu o azar de ficar entre os fogos da polícia e dos traficantes.

Cavalcante caiu com um buraco na barriga, pediu socorro e desfaleceu na frente das câmeras. A Primeira Página da Folha de sábado passado (27/11) publicou a foto.

SEM AUTORIDADE
O homem foi enterrado no cemitério do Catumbi na terça-feira (30/ 11). Com a polícia acusando-o de ligação com o tráfico, nenhum representante do Estado achou necessário levar solidariedade à família. Da imprensa que se acotovelava no Complexo do Alemão quando Cavalcante foi atingido, só a Folha acompanhou o enterro.

O Ministério Público ainda aguarda a conclusão dos inquéritos sobre as mortes, para entrar na história. Isso pode demorar até 30 dias.

Na última quinta-feira, um grupo de ONGs com atuação na área dos confrontos reuniu-se para “construir uma agenda propositiva para o conjunto de favelas do Alemão”. Pediam investimentos do governo. Sobre os 37 mortos, nenhuma palavra.

LISTA PARCIAL

VALDEMIRO CARLOTA, 45 (Negro)
EWERSON GONÇALVES, 19 (Pardo)
WILIAN DE ANDRADE, 20 (Branco)
JONATAN BONFIM, 21 (Negro)
MANOEL NOGUEIRA, 20 (Negro)
FELIPE DE CARVALHO, 18 (Negro)
EMERSON THOMÉ, 25 (Pardo)
SERGIO DE MEDEIROS, 25 (Branco)
JOÃO CARLOS ALVES, 19 (Pardo)
RUAN DOS SANTOS, 21 (Pardo)
THIAGO FARIA, 22 (Pardo)
ANDERSON MENDES, 20 (Pardo)
DAVI BASILIO ALVES, 17 (Pardo)
JOÃO LENON RIBEIRO, 22 (Pardo)
MAURO DOS SANTOS, 20 (Negro)
ROGÉRIO CAVALCANTE, 34 (Branco)
LUIS CARLOS JOSÉ, 32 (Pardo)
NÃO IDENTIFICADO (Pardo)

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Morador diz que foi amarrado por policiais em blitz

Por LAURA CAPRIGLIONE e MARLENE BERGAMO, na Folha
02/12/2010

Amarrado com as mãos para trás por um fio de ventilador, amordaçado com a fralda do sobrinho de um mês, imobilizado em uma cadeira de espaldar alto, um biscateiro de 19 anos diz ter passado meia hora de terror em sua casa, na Vila Cruzeiro, na manhã de ontem.

A mãe, mulher, irmã e o filho de 3 anos dele, que estavam no imóvel na hora em que os policiais chegaram, foram expulsos do local pelos soldados. Ficaram na porta, gritando por socorro.

A Folha entrou na casa do biscateiro poucos minutos depois de os quatro policiais se retirarem em um carro azul claro e branco, as cores da PM. As crianças berravam. O rapaz teve uma crise de choro convulsivo. Mãe, mulher e irmã gritavam, assustadas e revoltadas. “Onde é que está o dinheiro? O que é que tu tem aí pra perder?, perguntavam todo o tempo. Falavam que se o dinheiro não aparecesse, me matariam”, disse o biscateiro.

Os policiais vasculharam a casa. Com os canos de suas armas, estouraram o forro de plástico no teto, em busca de algo que pudesse estar escondido. Segundo a família, não encontraram nada.

A casa fica no segundo piso de um imóvel que era, até quinta passada, ocupado por um homem suspeito de ligações com o narcotráfico.

A polícia já vistoriou o piso inferior, que foi depois saqueado. Teto com sanca de gesso e lâmpadas embutidas agora estão quebrados. Sofás e móveis modulares da cozinha e banheiro também foram revirados.

SEGUNDA VEZ
Segundo a irmã do biscateiro, policiais do Batalhão de Operações Especiais e da Tropa de Choque já estiveram em sua casa.

“Eles vieram, revistaram tudo e nos deixaram em paz. A gente achou até que era correto, porque tinha um sujeito meio bandido bem embaixo de nós. Mas hoje foi diferente. Quando viram que não tinha nada aqui em casa, mandaram todos nós sairmos de casa e ficaram aqui só com meu irmão. Para nós, parecia que nunca mais íamos revê-lo com vida.”

A doméstica Maria, 52, mãe do biscateiro, gritou tanto pedindo para entrar em sua casa que mal conseguia falar com a Folha. Segundo ela, os policiais haviam retirado as identificações de seus uniformes. “Eu só vi que um deles era O+”, disse, referindo-se ao tipo sanguíneo de um dos soldados.

A assessoria da PM do Rio afirma que as denúncias de abusos cometidos por policiais serão investigadas e que o comando da tropa punirá “com rigor” os envolvidos em “desvios de conduta”.

A família do rapaz não pretende denunciar os policiais. “Quando vocês forem embora, eles vêm e acertam contas com a gente”, disse a mãe.

Aumentam denúncias de violações de direitos na Vila Cruzeiro

Militantes da Rede contra Violência estiveram ontem, 1º de dezembro, na Vila Cruzeiro, e puderam recolher diversas denúncias de violações dos direitos humanos por parte das forças de segurança estatais (polícia e forças armadas) que ocuparam recentemente a localidade. Nesta visita, também participaram correspondentes de uma televisão européia e jornalistas de um grande jornal paulista.

O ambiente na comunidade é de extrema tensão e é possível perceber o quão apreensivos e desconfiados estão os moradores. Quase toda a atenção destes está voltada para os últimos acontecimentos e suas rotinas foram inteiramente alteradas. Os militantes da Rede ouviram diversos relatos que, de uma maneira geral, expressavam a preocupação dos moradores com o que poderia acontecer com seus familiares e em suas casas quando lá não estivessem.

À medida que caminhavam, os referidos militantes e jornalistas eram abordados por moradores revoltados com a situação e que gostariam, de alguma forma, de denunciar a situação que estavam vivenciando. Não era preciso abordar as pessoas e perguntar sobre violações, os moradores procuravam-nos espontaneamente. Ouvimos queixas e denúncias de cerca de 30 pessoas. A cada passo ficava muito claro que a versão oficial de um apoio irrestrito da população local a ação do Estado não se sustenta.

Há uma preocupação generalizada com a forma como as revistas aos moradores e às casas são realizadas. Diversas pessoas, que quase sempre não queriam se identificar por medo do que lhes poderia acontecer, já que temem represália às suas denúncias, reclamavam de humilhações sofridas, especialmente as diferentes formas de violência física e psicológica às quais foram submetidos. Muitos, é possível afirmar, foram ofendidos em sua dignidade de seres humanos.

O procedimento padrão utilizado pelos policiais, especialmente os da polícia militar, é o seguinte: sem mandato de busca e apreensão ou outra autorização judicial, que legalmente permitiria a entrada nas casas, os agentes de segurança arrombam portas, portões e grades, com pessoas no interior ou não. Reviram os móveis e outros pertences, levam objetos de valor e quebram o que sobra. Em uma das primeiras casas que visitamos, percebemos muitos objetos revirados e jogados no chão. A moradora nos informou que os policiais levaram a televisão e inclusive o chuveiro do banheiro. A geladeira desta moradora foi vendida pelos policiais a outro morador local pelo valor de R$ 500,00.

Um grupo de moradores que os militantes da Rede encontraram ao caminhar pela comunidade disseram que não agüentam mais a presença da polícia. Dizem que agora são obrigados a trancar toda a casa e estão com medo que roubem seus pertences e outras violências sejam cometidas. Outro morador relatou que arrebentaram a porta de sua residência e que agora têm que tomar mais cuidado. No momento em que conversavamos com este último, aparece um senhor, que mora na localidade há mais de 50 anos, e reclama da repetição das abordagens dos policiais às casas. Mais a frente, um grupo de mulheres reclama que entrou em contato com a Comlurb para que esta retirasse carros queimados próximos às suas residências, mas não obtiveram resposta.

Além das críticas aos arrombamentos e roubos de objetos, muitos moradores reclamaram da forma de tratamento desrespeitosa e humilhante por parte dos agentes de segurança. Uma moradora disse que “eles nos tratam como bicho”. Ela ainda informou que policiais do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) têm uma atitude completamente diferente quando não há mais luz do dia ou as câmeras da imprensa por perto. Reclamaram, ainda, da truculência dos policiais do 16° Batalhão.

Em outra situação, policiais do 22° Batalhão, não identificados (como, de resto, acontece com a maioria dos policiais), entraram numa casa, amordaçaram um jovem, levaram-no para um dos cômodos da residência e retiraram os seus familiares, inclusive crianças recém nascidas, colocando-as na rua. Enquanto mantinham o jovem amarrado, bateram nele com um cabo de vassoura. Perguntavam se ele possuía alguma informação sobre bandidos, mas o jovem afirmava que não. Em vão. Os policiais perguntaram, então, se ele tinha dinheiro, pois, se tivesse, não quebrariam nada em sua casa. Entretanto, percebendo que as pessoas ali eram pobres, os policiais quebraram o forro do teto e pegaram celulares. Importante mencionar que alguns policiais estavam de touca ninja. Antes de irem embora, ainda pegariam uma foto do referido jovem, sem explicar o motivo de tal atitude.

Durante toda a caminhada realizada, a principal denúncia recebida foi a de que um outro jovem teria sido assassinado pela polícia, fato não noticiado pela imprensa. Segundo informações, os policiais acharam que se tratava de um traficante. O jovem foi morto e seus restos mortais jogados a animais.

A comitiva da Rede e da imprensa foi à localidade da Vila Cruzeiro chamada Vacaria, onde até a tarde de sábado (27/11) haviam cadáveres insepultos sendo devorados por porcos. Sentimos o forte cheiro de decomposição, vindo de um matagal, mas foi impossível verificar a existência de restos humanos. Uma viatura da PM (que foi filmada pelo cinegrafista da TV estrangeira) passou por nós e dela exalava forte odor de restos em decomposição.

Oficiaremos o Ministério Público no sentido de organizar uma ida à comunidade, sem acompanhamento policial ou da imprensa, para que as inúmeras denúncias possam ser formalizadas com segurança pelos moradores.

(*) Matéria publicada originalmente pela Rede de Comunidades e Movimentos contra Violência.

“Aí vem os direitos humanos, direito disso, direito daquilo, ONGs…” (Desembargador Luiz Zveiter, Presidente do TJ-RJ)

Nesta manhã (01/12), o Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Desembargador Luiz Zveiter, foi à Rádio CBN para falar sobre as recentes operações da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro. O chefe de uma das instituições responsáveis por manter o Estado de Direito do RJ deu declarações notáveis.

Segundo Zveiter, existe uma “onda de denuncismo” que está “atrapalhando o trabalho sério da polícia”. Os responsáveis pelo este denuncismo seriam “representantes que os traficantes deixaram” na favela. “Aí vem os direitos humanos, direito disso, direito daquilo, ONGs…”, segundo ele, para “atrapalhar” o trabalho da polícia, que entrou “sem dar nenhum tiro em pessoas de bem”.

Lucia Hippolito responde, satisfeita com a resposta: “É verdade. É verdade. Muito obrigado.”

O Desembargador Luiz Zveiter – o mesmo que fraudou um concurso no próprio TJ (cassado pelo Conselho Nacional de Justiça) e que foi denunciado pela Deputada Cidinha Campos – preocupa ao fazer este tipo de consideração. É a Justiça, afinal, a principal responsável entre os três poderes em garantir os direitos fundamentais previstos na Constituição.

Eu pergunto: o que o Sr. Luiz Zveiter quis dizer com “direito disso, direito daquilo”? Será que ele é contra a legalidade constitucional, que garante direitos e deveres a todo e qualquer cidadão do Estado? É permitido, segundo a ordem constitucional, atirar em “pessoas do mal” (em oposição às pessoas de bem), segundo o Desembargador Luiz Zveiter?

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(*) Gustavo Barreto, jornalista. Contato pelo @gustavobarreto_.