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Caso Polanski: os EUA blefavam e a Suíça pagou pra ver

Polanski foi acusado por fanáticos religiosos dos EUA de promover o satanismo em “O Bebê de Rosemary”, quando nada mais fez do que levar às telas o thriller de Ira Levin…

Teve desfecho exemplar o caso da perseguição rancorosa e descabida que a Justiça dos EUA moveu contra o cineasta franco-polonês Roman Polanski, pedindo sua extradição ao governo suíço por conta de um caso dúbio ocorrido em 1977.

A ministra da Justiça helvética, Eveline Widmer-Schlumpf, comunicou nesta 2a. feira (12) ter decidido rejeitar o pedido, liberando Polanski da prisão domiciliar que cumpria em seu chalé, na estação de esqui de Gstaad.

O principal motivo da recusa foi a falta de provas conclusivas sobre o processo estadunidense.

A defesa de Polanski alegou ter o juiz encarregado do caso nos EUA declarado que o tribunal já se dava por satisfeito com as imposições acatadas pelo cineasta, mas tal informação (e outras) não constou do dossiê enviado à Suíça.

As autoridades helvéticas solicitaram formalmente à Justiça dos EUA que lhes encaminhasse as atas de tal sessão, não sendo atendidas.

“Nestas condições, não podemos excluir com total certeza que Roman Polanski já tenha purgado sua pena e que, portanto, a reivindicação de extradição sofre de um vício grave”, afirmou a ministra Schlumpf.

Ficou totalmente confirmado o que eu noticiei no início de maio: EUA mentem para obter extradição de Polanski.

MORALISMO DE JECAS
Polanski foi acusado de, numa festa de notáveis de Hollywood, haver mantido relações sexuais com uma modelo de 13 anos.

O termo estupro andou sendo utilizado levianamente pela imprensa brasileira, já que, em nosso País, subentende coação. Os estadunidenses, com seu moralismo de jecas, o aplicam até a sexo consentido, desde que praticado por adulto com menor. Faltou explicar esta diferença

Polanski admitiu ter transado com a modelo, mas ressalvou que a relação foi consentida e que ela não era virgem.

Em meus artigos, concedi o benefício da dúvida a Polanski, por vários motivos:
  • pais zelosos jamais deixariam sua filha participar de uma festinha desse tipo, então o caso pareceu-me uma variante da arapuca que uma vigarista armou para extorquir dinheiro do boxeador Mike Tyson (sendo ridiculamente apoiada pela Justiça dos EUA…);
  • Polanski estava na mira dos segmentos mais conservadores e fanatizados da sociedade estadunidense desde 1968, quando dirigiu O Bebê de Rosemary, então poderia ter havido parcialidade na condução do seu caso;
  • a suposta vítima acabou retirando, quando adulta, a queixa que seus país apresentaram contra Polanski;
  • como jornalista, conheço muito bem a compulsão por holofotes de alguns burocratas que exercem atividades tediosas e medíocres, então tive absoluta certeza de que, fosse Polanski um cidadão comum, não estaria sendo perseguido de forma tão encarniçada tanto tempo depois; e
  • sempre considerei a prescrição de crimes um componente fundamental da civilização, então avaliei como uma desumanidade a detenção de Polanski aos 76 anos de idade, quando sua periculosidade para a sociedade era nenhuma e sua contribuição, das mais relevantes.
O certo é que Polanski permaneceu encarcerado entre 26 de setembro e 4 de dezembro, quando obteve o benefício da prisão domiciliar, em que permaneceu até hoje.

Para nada.

EUA mentem para obter a extradição de Polanski

Roman Polanski é um extraordinário cineasta e um homem marcado por tragédias pessoais.

A Justiça estadunidense lhe move desde 1977 uma perseguição que, independentemente dos PRETEXTOS alegados, TEM COMO VERDADEIRO E ÚNICO MOTIVO A BUSCA DE HOLOFOTES por parte de burocratas medíocres, que jamais mereceriam uma mísera linha nos jornais se não pegassem carona na notoriedade de um artista maior.
Qualquer outro caso com as mesmas características, que não envolvesse um gigante como Polanski, estaria esquecido no mais morto dos arquivos mortos.

Então, sabendo quem é Polanski e tendo amiúde travado contato com nulidades semelhantes às que o martirizam na minha carreira jornalística, dou total crédito ao que ele acaba de afirmar, num justificado desabafo:

“Os Estados Unidos continuam pedindo minha extradição mais para servir minha cabeça numa bandeja para a mídia do mundo todo do que para realizar um julgamento acerca do qual já foi feito um acordo há 33 anos”.

Segundo ele, o pedido de extradição enviado às autoridades suíças “é baseado em mentira”.

Não duvido, pois foi com mentiras que os EUA condenaram a muitos, inclusive Sacco e Vanzetti, cuja inocência acabaria sendo oficialmente reconhecida 50 anos após sua execução.

O advogado de Polanski acaba, por sinal, de apresentar formalmente o pedido de que sejam exigidas da Justiça estadunidense as transcrições de depoimentos de um ex-promotor do caso, as quais, diz ele, “provarão de forma conclusiva que o pedido de extradição feito pelos Estados Unidos ao governo suíço se baseia em declarações falsas e materialmente incompletas”.


“SUADOURO” À MODA DOS EUA

Polanski foi acusado de, numa festa de notáveis de Hollywood, haver mantido relações sexuais com uma modelo de 13 anos.

O termo estupro está sendo até hoje utilizado incorretamente pela imprensa brasileira, já que, em nosso País, subentende coação. Os estadunidenses, com seu moralismo de jecas, o aplicam até a sexo consentido, desde que praticado por adulto com menor.

Polanski admitiu ter transado com a modelo, mas afirmou que a relação foi consentida e que ela não era virgem.

Desde meu primeiro artigo, concedi o benefício da dúvida a Polanski, por vários motivos, além da atuação pra lá de suspeita dos funcionários estadunidenses que, ao fazerem essa tempestade em copo d’água, conquistaram minutinhos de fama dos quais jamais desfrutariam por mérito real:

  • pais zelosos não deixariam sua filha participar de uma festinha desse tipo, então o caso pareceu-me uma variante da arapuca que uma vigarista armou para extorquir dinheiro do boxeador Mike Tyson (sendo ridiculamente apoiada pela Justiça dos EUA…);
  • Polanski estava na mira dos segmentos mais conservadores e fanatizados da sociedade estadunidense desde 1968, quando dirigiu O Bebê de Rosemary, então a parcialidade na condução do seu caso é hipótese mais do que provável;
  • a suposta vítima acabou retirando, quando adulta, a queixa que seus país apresentaram contra Polanski; e
  • sempre considerei a prescrição de crimes um componente fundamental da civilização, então avalio como uma desumanidade os dois meses de detenção e a atual prisão domiciliar de Polanski, aos 76 anos de idade, quando sua periculosidade para a sociedade é nenhuma e sua contribuição, das mais relevantes.

O caso está para ser decidido, “sem pressa”, pelo ministro da Justiça suíço.

Sobre sexo e política

César Benjamin merece respeito por sua militância na resistência à ditadura de 1964/85.
Não estou suficientemente informado sobre a trajetória posterior, sua atuação no PT e no PSOL, parecendo-me, à distância, um quadro político capaz de abir mão de situações vantajosas em nome de suas convicções, o que é raro.

No entanto, derrapou melancolicamente ao escrever o que deveria ser uma análise do filme Lula, o filho do Brasil para a Folha de S. Paulo (Os Filhos do Brasil).

Acusa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de lhe haver revelado que tentou currar um preso jovem, durante o mês que passou preso no Dops em 1980.

Primeiramente, Benjamin já deveria saber que algo tão grave não pode ser trombeteado com respaldo tão frágil.

Não procurou a suposta vítima, nem sequer trouxe o endosso dos três brasileiros que, segundo ele, teriam escutado a conversa (afora um estadunidense que não entendia nosso idioma). Ficou na base do “ele disse, eu ouvi”.

Sendo, como é, adversário político do Lula, estava obrigado a apresentar testemunhos para coonestar seu relato. Unicamente com os elementos contidos no texto, qualquer tribunal o condenaria como caluniador.

Também não vi pertinência. Por que exumar algo tão longínquo, se não presenciou o episódio, não conta com o aval da (repito) suposta vítima, nem tem certeza de que realmente ocorreu e de que se passou dessa maneira?

Sempre fui avesso à promiscuidade com o poder. Procuro manter, em relação aos poderosos, o que outrora chamávamos de distanciamento crítico.

No entanto, Lula não é nenhum Berlusconi. Pode ser criticado como qualquer ator político, mas sem golpes baixos.

O fato é que essa afirmação sem comprovação será difundida exaustivamente na internet e na imprensa, produzindo um estrago na imagem de Lula que poderá ser injusto.

Ou seja, mesmo que nada se prove e ninguém corrobore, ainda assim muitos cidadãos concluirão que a verdade estará sendo acobertada.

Quem já sofreu tantas acusações levianas da extrema-direita, como Benjamin, deveria ser o primeiro a não incidir na mesma prática.

POLANSKI FORA DAS GRADES
A Justiça suíça concedeu ao cineasta franco-polonês Roman Polanski o direito de aguardar em prisão domiciliar os trâmites do processo de extradição que os Estados Unidos lhe movem por um episódio obscuro de 32 anos atrás.

Polanski foi acusado de, numa festa de notáveis de Hollywood, haver mantido relações sexuais com uma modelo de 13 anos.

O termo estupro andou sendo utilizado levianamente pela imprensa brasileira, já que, em nosso País, subentende coação. Os estadunidenses, com seu moralismo de jecas, o aplicam até a sexo consentido, desde que praticado por adulto com menor. Faltou explicar esta diferença

Polanski admitiu ter transado com a modelo, mas afirmou que a relação foi consentida e que ela não era virgem.

Em meus artigos, concedi o benefício da dúvida a Polanski, por vários motivos:

  • o caso pareceu-me semelhante à arapuca que uma vigarista armou para extorquir dinheiro de Mike Tyson, inacreditavelmente apoiada pela Justiça dos EUA;
  • Polanski estava na mira dos segmentos mais conservadores e fanatizados da sociedade estadunidense desde 1968, quando dirigiu O Bebê de Rosemary, então pode ter havido parcialidade na condução do seu caso;
  • a suposta vítima acabou retirando, quando adulta, a queixa que seus país apresentaram contra Polanski;
  • como jornalista, conheço muito bem a compulsão por holofotes de alguns burocratas que exercem atividades tediosas e medíocres, então tenho absoluta certeza de que, fosse Polanski um cidadão comum, não estaria sendo perseguido de forma tão encarniçada tanto tempo depois; e
  • sempre considerei a prescrição de crimes um componente fundamental da civilização, então avalio como uma desumanidade os dois meses de detenção a que foi submetido Polanski, aos 76 anos de idade, quando sua periculosidade para a sociedade é nenhuma e sua contribuição, das mais relevantes.
O relaxamento da prisão de Polanski foi um passo na direção certa. Parabéns ao presidente francês Nicolas Sarkozy, por suas gestões providenciais!

Como fez no caso de Marina Petrella, ultimamente Sarkozy vem colocando os sentimentos humanitários à frente das razões de estado, o que contribui para tornar o ar de nosso planeta mais respirável. Houvesse só Berlusconis e o fedor seria insuportável.

HERDEIROS DA KU KLUX KLAN
Um bom companheiro de Orkut me advertiu, indignado, de que há um tópico homofóbico impunemente no ar: Pastores gays casam no Rio de Janeiro.

A comunidade se chama Sou de Direita, e daí?.

Isto comprova, mais uma vez, que a atuação do Ministério Público Federal no combate aos crimes virtuais deixa muito a desejar.

Praticamente se restringe ao estelionato e pedofilia, nada fazendo, p. ex., para defender a imagem dos resistentes que lutamos bravamente contra a ditadura militar e hoje somos, dia após dia, alvos de injúrias, difamações e calúnias nos sites e redes de e-mails fascistas.

De resto, a baixaria da comunidade direitista comprova que os reacionários brasileiros estão aí para limitar liberdades, disseminando o ódio e a irracionalidade. São herdeiros da Ku Klux Klan.

Polanski é vítima do despeito dos liliputianos

Continuo inconformado com a pequenez das autoridades estadunidenses e suíças, ao perseguirem o grande Roman Polanski por um caso que não era sólido e já se desmanchou no ar.

Ainda mais depois de ter sido informado, pelo ótimo Rui Martins, que a bizarra prisão foi autorizada pela ministra da Justiça suíça, por coincidência pertencente a um partido de extrema-direita; que o suposto crime, para a maioria dos juristas, já prescreveu; e que a suposta vítima, já quarentona, retirou há alguns anos as acusações lançadas por sua família contra Polanski.
Pior ainda é o que se lê neste parágrafo do artigo semanal do Rui no Direto da Redação, Polanski e a submissão suíça:

“…Roman Polanski tem um chalé em Gstaad há muitos anos e nunca foi incomodado. Sua prisão ocorre alguns dias depois da assinatura de uma convenção bilateral suíço-americana, na qual a Suíça para salvar seu banco UBS fraudulento decidiu, é o que deduz, se submeter a tudo, inclusive a fazer o papel mercenário da busca de pessoas procuradas por delitos mesmo prescritos nos EUA”.

É tudo muito sórdido! Faz lembrar as perseguições macartistas, o despeito/rancor mal dissimulado contra os seres humanos mais idealistas e talentosos.

Penso na vida de Polanski, tão sofrida.

Ter passado a meninice fugindo e escondendo-se dos nazistas, enquanto a mãe morria num campo de concentração.

Haver sido privado, pelos psicopatas da Família Manson, não só da companheira com a qual formava um casal perfeito, Sharon Tate, como também da criança que ela gerava.

Sofrer campanhas difamatórias dos jecas e fanáticos religiosos em razão do seu O Bebê de Rosemary parecer celebrar o advento do reino de Satã (o que nunca foi sua intenção, nem a de Ira Levin, autor do livro que deu origem ao filme, A Semente do Diabo).

Ser obrigado a deixar para sempre os EUA, estigmatizado por uma acusação preconceituosa.

Daí minha admiração por ele ter sempre conseguido dar a volta por cima, assimilando e transcendendo os golpes do destino.

Sua resposta foi proporcionar a todos nós, generosamente, horas inesquecíveis de diversão e reflexão.

É um dos principais cineastas da melhor década do cinema mundial, a de 1960. Foi quando realizou os primorosos A Faca na Água, Repulsa ao Sexo e Armadilha do Destino, além do clássico de terror O Bebê de Rosemary e da comédia de terror A Dança dos Vampiros.

Continuou, como diretor, alternando filmes mais densos e/ou sombrios (MacBeth, Quê?, Chinatown, O Inquilino, Lua de Fel, A Morte e a Donzela, O Último Portal, O Pianista) com entretenimento de qualidade (Tess, Piratas, Oliver Twist).

Além de registrar desempenhos marcantes como ator, não só nos próprios filmes, como em Uma Simples Formalidade (de Giuseppe Tornatore, sua melhor atuação) e A Vingança (de Andrzej Wajda).

Que benefício à sociedade trará seu encarceramento? Por que infligir tal penar a um homem flagrantemente inofensivo, que, ademais, permanece produtivo e criativo aos 76 anos?

Tentando compreender o que leva esses liliputianos dos podres poderes a perseguirem de forma tão encarniçada os homens que lhes são imensamente superiores em tudo e por tudo, como Roman Polanski e Cesare Battisti, vêm-me à mente os versos de Geraldo Vandré em sua igualmente sofrida Canção da Despedida: “Um rei mal coroado/ Não queria/ O amor em seu reinado/ Pois sabia/ Não ia ser amado”.