- pais zelosos jamais deixariam sua filha participar de uma festinha desse tipo, então o caso pareceu-me uma variante da arapuca que uma vigarista armou para extorquir dinheiro do boxeador Mike Tyson (sendo ridiculamente apoiada pela Justiça dos EUA…);
- Polanski estava na mira dos segmentos mais conservadores e fanatizados da sociedade estadunidense desde 1968, quando dirigiu O Bebê de Rosemary, então poderia ter havido parcialidade na condução do seu caso;
- a suposta vítima acabou retirando, quando adulta, a queixa que seus país apresentaram contra Polanski;
- como jornalista, conheço muito bem a compulsão por holofotes de alguns burocratas que exercem atividades tediosas e medíocres, então tive absoluta certeza de que, fosse Polanski um cidadão comum, não estaria sendo perseguido de forma tão encarniçada tanto tempo depois; e
- sempre considerei a prescrição de crimes um componente fundamental da civilização, então avaliei como uma desumanidade a detenção de Polanski aos 76 anos de idade, quando sua periculosidade para a sociedade era nenhuma e sua contribuição, das mais relevantes.
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EUA mentem para obter a extradição de Polanski
Então, sabendo quem é Polanski e tendo amiúde travado contato com nulidades semelhantes às que o martirizam na minha carreira jornalística, dou total crédito ao que ele acaba de afirmar, num justificado desabafo:
“Os Estados Unidos continuam pedindo minha extradição mais para servir minha cabeça numa bandeja para a mídia do mundo todo do que para realizar um julgamento acerca do qual já foi feito um acordo há 33 anos”.
Segundo ele, o pedido de extradição enviado às autoridades suíças “é baseado em mentira”.
Não duvido, pois foi com mentiras que os EUA condenaram a muitos, inclusive Sacco e Vanzetti, cuja inocência acabaria sendo oficialmente reconhecida 50 anos após sua execução.
O advogado de Polanski acaba, por sinal, de apresentar formalmente o pedido de que sejam exigidas da Justiça estadunidense as transcrições de depoimentos de um ex-promotor do caso, as quais, diz ele, “provarão de forma conclusiva que o pedido de extradição feito pelos Estados Unidos ao governo suíço se baseia em declarações falsas e materialmente incompletas”.
Polanski foi acusado de, numa festa de notáveis de Hollywood, haver mantido relações sexuais com uma modelo de 13 anos.
O termo estupro está sendo até hoje utilizado incorretamente pela imprensa brasileira, já que, em nosso País, subentende coação. Os estadunidenses, com seu moralismo de jecas, o aplicam até a sexo consentido, desde que praticado por adulto com menor.
Polanski admitiu ter transado com a modelo, mas afirmou que a relação foi consentida e que ela não era virgem.
Desde meu primeiro artigo, concedi o benefício da dúvida a Polanski, por vários motivos, além da atuação pra lá de suspeita dos funcionários estadunidenses que, ao fazerem essa tempestade em copo d’água, conquistaram minutinhos de fama dos quais jamais desfrutariam por mérito real:
- pais zelosos não deixariam sua filha participar de uma festinha desse tipo, então o caso pareceu-me uma variante da arapuca que uma vigarista armou para extorquir dinheiro do boxeador Mike Tyson (sendo ridiculamente apoiada pela Justiça dos EUA…);
- Polanski estava na mira dos segmentos mais conservadores e fanatizados da sociedade estadunidense desde 1968, quando dirigiu O Bebê de Rosemary, então a parcialidade na condução do seu caso é hipótese mais do que provável;
- a suposta vítima acabou retirando, quando adulta, a queixa que seus país apresentaram contra Polanski; e
- sempre considerei a prescrição de crimes um componente fundamental da civilização, então avalio como uma desumanidade os dois meses de detenção e a atual prisão domiciliar de Polanski, aos 76 anos de idade, quando sua periculosidade para a sociedade é nenhuma e sua contribuição, das mais relevantes.
O caso está para ser decidido, “sem pressa”, pelo ministro da Justiça suíço.
Sobre sexo e política
No entanto, derrapou melancolicamente ao escrever o que deveria ser uma análise do filme Lula, o filho do Brasil para a Folha de S. Paulo (Os Filhos do Brasil).
Acusa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de lhe haver revelado que tentou currar um preso jovem, durante o mês que passou preso no Dops em 1980.
Primeiramente, Benjamin já deveria saber que algo tão grave não pode ser trombeteado com respaldo tão frágil.
Não procurou a suposta vítima, nem sequer trouxe o endosso dos três brasileiros que, segundo ele, teriam escutado a conversa (afora um estadunidense que não entendia nosso idioma). Ficou na base do “ele disse, eu ouvi”.
Sendo, como é, adversário político do Lula, estava obrigado a apresentar testemunhos para coonestar seu relato. Unicamente com os elementos contidos no texto, qualquer tribunal o condenaria como caluniador.
Também não vi pertinência. Por que exumar algo tão longínquo, se não presenciou o episódio, não conta com o aval da (repito) suposta vítima, nem tem certeza de que realmente ocorreu e de que se passou dessa maneira?
Sempre fui avesso à promiscuidade com o poder. Procuro manter, em relação aos poderosos, o que outrora chamávamos de distanciamento crítico.
No entanto, Lula não é nenhum Berlusconi. Pode ser criticado como qualquer ator político, mas sem golpes baixos.
O fato é que essa afirmação sem comprovação será difundida exaustivamente na internet e na imprensa, produzindo um estrago na imagem de Lula que poderá ser injusto.
Ou seja, mesmo que nada se prove e ninguém corrobore, ainda assim muitos cidadãos concluirão que a verdade estará sendo acobertada.
Quem já sofreu tantas acusações levianas da extrema-direita, como Benjamin, deveria ser o primeiro a não incidir na mesma prática.
Polanski foi acusado de, numa festa de notáveis de Hollywood, haver mantido relações sexuais com uma modelo de 13 anos.
O termo estupro andou sendo utilizado levianamente pela imprensa brasileira, já que, em nosso País, subentende coação. Os estadunidenses, com seu moralismo de jecas, o aplicam até a sexo consentido, desde que praticado por adulto com menor. Faltou explicar esta diferença
Polanski admitiu ter transado com a modelo, mas afirmou que a relação foi consentida e que ela não era virgem.
Em meus artigos, concedi o benefício da dúvida a Polanski, por vários motivos:
- o caso pareceu-me semelhante à arapuca que uma vigarista armou para extorquir dinheiro de Mike Tyson, inacreditavelmente apoiada pela Justiça dos EUA;
- Polanski estava na mira dos segmentos mais conservadores e fanatizados da sociedade estadunidense desde 1968, quando dirigiu O Bebê de Rosemary, então pode ter havido parcialidade na condução do seu caso;
- a suposta vítima acabou retirando, quando adulta, a queixa que seus país apresentaram contra Polanski;
- como jornalista, conheço muito bem a compulsão por holofotes de alguns burocratas que exercem atividades tediosas e medíocres, então tenho absoluta certeza de que, fosse Polanski um cidadão comum, não estaria sendo perseguido de forma tão encarniçada tanto tempo depois; e
- sempre considerei a prescrição de crimes um componente fundamental da civilização, então avalio como uma desumanidade os dois meses de detenção a que foi submetido Polanski, aos 76 anos de idade, quando sua periculosidade para a sociedade é nenhuma e sua contribuição, das mais relevantes.
Como fez no caso de Marina Petrella, ultimamente Sarkozy vem colocando os sentimentos humanitários à frente das razões de estado, o que contribui para tornar o ar de nosso planeta mais respirável. Houvesse só Berlusconis e o fedor seria insuportável.
A comunidade se chama Sou de Direita, e daí?.
Isto comprova, mais uma vez, que a atuação do Ministério Público Federal no combate aos crimes virtuais deixa muito a desejar.
Praticamente se restringe ao estelionato e pedofilia, nada fazendo, p. ex., para defender a imagem dos resistentes que lutamos bravamente contra a ditadura militar e hoje somos, dia após dia, alvos de injúrias, difamações e calúnias nos sites e redes de e-mails fascistas.
De resto, a baixaria da comunidade direitista comprova que os reacionários brasileiros estão aí para limitar liberdades, disseminando o ódio e a irracionalidade. São herdeiros da Ku Klux Klan.
Polanski é vítima do despeito dos liliputianos
“…Roman Polanski tem um chalé em Gstaad há muitos anos e nunca foi incomodado. Sua prisão ocorre alguns dias depois da assinatura de uma convenção bilateral suíço-americana, na qual a Suíça para salvar seu banco UBS fraudulento decidiu, é o que deduz, se submeter a tudo, inclusive a fazer o papel mercenário da busca de pessoas procuradas por delitos mesmo prescritos nos EUA”.
É tudo muito sórdido! Faz lembrar as perseguições macartistas, o despeito/rancor mal dissimulado contra os seres humanos mais idealistas e talentosos.
Penso na vida de Polanski, tão sofrida.
Ter passado a meninice fugindo e escondendo-se dos nazistas, enquanto a mãe morria num campo de concentração.
Haver sido privado, pelos psicopatas da Família Manson, não só da companheira com a qual formava um casal perfeito, Sharon Tate, como também da criança que ela gerava.
Sofrer campanhas difamatórias dos jecas e fanáticos religiosos em razão do seu O Bebê de Rosemary parecer celebrar o advento do reino de Satã (o que nunca foi sua intenção, nem a de Ira Levin, autor do livro que deu origem ao filme, A Semente do Diabo).
Ser obrigado a deixar para sempre os EUA, estigmatizado por uma acusação preconceituosa.
Daí minha admiração por ele ter sempre conseguido dar a volta por cima, assimilando e transcendendo os golpes do destino.
Sua resposta foi proporcionar a todos nós, generosamente, horas inesquecíveis de diversão e reflexão.
É um dos principais cineastas da melhor década do cinema mundial, a de 1960. Foi quando realizou os primorosos A Faca na Água, Repulsa ao Sexo e Armadilha do Destino, além do clássico de terror O Bebê de Rosemary e da comédia de terror A Dança dos Vampiros.
Continuou, como diretor, alternando filmes mais densos e/ou sombrios (MacBeth, Quê?, Chinatown, O Inquilino, Lua de Fel, A Morte e a Donzela, O Último Portal, O Pianista) com entretenimento de qualidade (Tess, Piratas, Oliver Twist).
Além de registrar desempenhos marcantes como ator, não só nos próprios filmes, como em Uma Simples Formalidade (de Giuseppe Tornatore, sua melhor atuação) e A Vingança (de Andrzej Wajda).
Que benefício à sociedade trará seu encarceramento? Por que infligir tal penar a um homem flagrantemente inofensivo, que, ademais, permanece produtivo e criativo aos 76 anos?
Tentando compreender o que leva esses liliputianos dos podres poderes a perseguirem de forma tão encarniçada os homens que lhes são imensamente superiores em tudo e por tudo, como Roman Polanski e Cesare Battisti, vêm-me à mente os versos de Geraldo Vandré em sua igualmente sofrida Canção da Despedida: “Um rei mal coroado/ Não queria/ O amor em seu reinado/ Pois sabia/ Não ia ser amado”.