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Pluralismo

Refletindo sobre o acontecido –e que ainda acontece– no Brasil.

Evitar reforçar a exclusão social

Recusando o discurso do ódio

A confusão de direita com extrema-direita

A identificação do bolsonarismo com nazismo ou neonazismo ou fascismo

Que exista esta mistura é evidente

Mas separar é imprescindível

Caso contrário estaremos a acirrar e aprofundar o racha no tecido social

Que devemos a todo custo tentar cicatrizar

Acolhendo, pontuando o que nos une e não o que nos separa

Tentando a coexistência com as diferenças

Evitando a redução do real ao que me meteram na cabeça que é

Evitando confundir o que é com o que penso

Aceitando a diversidade como um dado da realidade

Admitindo a necessidade de um aprendizado contínuo

Que me remete sem cessar a quem está por perto

Comunidade se faz.

 

Imagem: Psicologia acessível

PT defende a liberdade de culto e de religião

E não é de agora. Partido tem em suas raízes o respeito pela constituição, a presença nas comunidades eclesiais e, ao longo dos governos Lula e Dilma, assegurou o direito à liberdade religiosa

Foram treze anos de governo do PT e, neste período, presenciamos um avanço significativo nas liberdades de culto e religião, demonstradas pelo vertiginoso aumento das igrejas evangélicas por exemplo. Assim começa a entrevista com Gutierrez, evangélico e coordenador nacional do Setorial Interreligioso do PT: “O partido deu todas as condições para que as igrejas ampliassem a sua atuação, sobretudo as evangélicas”, explica.

Gutierrez faz referência à lei sancionada pelo presidente Lula, em 2003, em que igrejas e associações religiosas passaram a ter personalidade jurídica. Com essa medida, as igrejas deixaram de ser tratadas como “clubes de futebol” e passaram a ter estatutos próprios.

A partir de agora é livre o direito de criar uma igreja e praticar uma religião“, disse o presidente Lula, à época.

Ou seja, com esse novo marco jurídico, as igrejas puderam dar um salto importante na própria estrutura, formalização e garantia de direitos.

Está na Constituição

O artigo 5 da Constituição afirma que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Dentre os incisos que se seguem no artigo, estão aqueles relacionados à liberdade de crença:

VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Nos anos 80, o PT foi um dos principais partidos a participar da construção da Assembleia Constituinte, que deu origem à nossa atual Constituição, uma das mais avançadas do mundo. Ou seja, desde as suas origens, o partido defende a aplicação dos direitos constitucionais, sobretudo de liberdade religiosa e de culto.

Está na história

Atuação em igrejas não é um fenômeno novo para o PT. O movimento das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) faz parte das raízes fundantes e formadoras do partido, composto por trabalhadores e trabalhadoras das periferias do Brasil que lutavam arduamente, principalmente nos anos 70 e 80, contra a fome, a carestia e o alto custo de vida.

Junto com movimentos e organizações de diversas outras religiões, características e origens, o PT se consolidou como um partido plural e democrático, atento às garantias de direitos e de respeito a todas as formas de crenças, e a defesa incondicional da liberdade religiosa.

O núcleo evangélico de São Paulo, por exemplo, existe há mais de sete anos. O núcleo nacional de evangélicos realizou dez encontros estaduais e pautou a criação do Setorial Nacional Interreligioso. A experiência já tem um ano e debate internamente a questão da liberdade religiosa e a participação do segmento religioso no parlamento.

Está nos valores

“A política como missão é a mais nobre de todas as missões. Pela política você resgata vida, você abraça pessoas, com políticas de inclusão. Nós fizemos água para todos, luz para todos, ajudamos a trazer universidades e escolas técnicas, apoiamos a agricultura familiar, fizemos aquilo que prega a boa pregação, seja ela religiosa ou política: ajudar os que mais precisam”, explica Jaques Wagner, nascido em lar judaico e senador pelo PT-BA.

Combater a desigualdade social, garantir uma vida digna para quem mais precisa, combater todas as formas de preconceito e ter o amor ao próximo como a régua para a política pública, aliada à construção de justiça social, é o alicerce sobre o qual se molda os valores do PT.

O pastor Daniel Elias explica como não há conflito entre valores da esquerda e princípios cristãos.

“Cristo sempre se identificou com os pobres. Sendo pentecostal, fui membro de igrejas como a Assembleia de Deus. E o que fez eu me identificar com a esquerda foi justamente o que aprendi nessas igrejas. Não só isso, mas principalmente o que aprendi com Deus na Bíblia sagrada. A palavra de Deus, desde o Antigo ao Novo Testamento, sempre esteve do lado dos pobres e dos oprimidos”, conta o pastor.

Está na ação política

“A diminuição da pobreza, da desigualdade social, o aumento do emprego, da renda, tudo isso permite que a pessoa tenha melhores condições para a pessoa exercer a sua espiritualidade. A prosperidade econômica permite que a pessoa exerça sua fé em todas as suas acepções”, explica Gutierrez.

No caso dos evangélicos, para além de todas as políticas voltadas para defender a população mais vulnerável, ao longo dos governos do PT implementamos ações concretas na defesa da liberdade de culto, tais como:

Reconhecimento jurídico das igrejas

Criação da Marcha para Jesus

Criação do Dia Nacional do Evangélico

Criação do Dia da Proclamação do Evangelho

Estado Laico

A defesa do Estado laico é justamente para garantir o direito à liberdade de culto de todas as religiões.  Portanto, reconhecer e respeitar as crenças e garantir que todos tenham direito de exercer a própria fé é o princípio básico do Estado Laico. Assim,defender o Estado laico é defender a liberdade religiosa, como sintetiza Gutierrez:

“O Estado não pode e nem deve ter uma religião oficial, mas deve ter como pilar garantir a liberdade das pessoas exercerem a sua religião independente dela ser maioria ou não”, afirmou.

Ana Clara Ferrari, Agência Todas

Fonte: PT

(06/06/2022)

¿Cómo aplicar lo aprendido en las rondas de Terapia Comunitaria Integrativa?

Cuando digo aplicar, es practicar. Toda palabra puede llegar a tener algún tipo de restricción o inadecuación. Más allá de esto, que trato de contornar yendo a la esencia más que a la forma, lo que me interesa es compartir lo que voy aprendiendo en este aprendizaje colectivo, esta reeducación emocional.

En la ronda de ayer del grupo TCI en español, resonó algo que yo ya venía trabajando: la fuerza viene de la fragilidad. Donde pongo fragilidad puede ser vulnerabilidad, imperfección. El pájaro sobre la rama que se rompe, aprende a confiar en sus alas. Sabe que puede volar.

La vida es inestable e insegura. La fuerza del aprendizaje comunitario es que lo que descubro en mí, es validado por personas que viven o vivieron cosas parecidas. Una de las cosas que me gusta de esta práctica educativa humanizadora es que me reconcilia conmigo mismo.

Son exactamente esas sensaciones de inseguridad, vulnerabilidad, inadecuación, que me ayudan a enfrentar el día a día sabiendo que esa es mi fuerza. También me gusta que en la escucha de mí y de la comunidad, se aguza el oído para la polifonía.

Por ahí la mente se detiene en perfeccionismos linguísticos, pero el corazón no se equivoca y hace la costura exacta. Junto el sentir, que me trae seguridad, confianza, tranquilidad, sosiego, con lo que voy comprendiendo. La memoria se agudiza, se juntan los tempos de la vida.

Dejo de vivir de manera fragmentada o recortada, para vivir unificadamente. No hay ninguna perfección en esto. La vida es como la construcción literaria. Un castilllo de arena que el agua del mar disuelve, y volvemos a construir, incesantemente.

Mis heridas, que son una compañía constante, me recuerdan la totalidad de mi camino. ¿Qué fue lo que aprendí en las sucesivas y constantes situaciones de amenaza y/o agresión? Mi vida a mi favor.

Les invito a que nos hagan llegar sus experiencias. La fuerza colectiva es el sumar, el agregar, el juntar hacia una vida más sana y justa.

Festival de filmes abre inscrições para jovens mostrarem o mundo que querem

Aliança de Civilizações das Nações Unidas (UNAOC) e da Organização Internacional para as Migrações (OIM) abriram a convocação de 2021 para o Festival de vídeo para a juventude PLURAL +, que este ano completa 13 anos. Jovens de todo o mundo podem enviar filmes e fazer com que suas vozes sejam ouvidas sobre as questões sociais urgentes de nosso tempo. O prazo para se inscrever é 18 de junho.

“Hoje, mais do que nunca, precisamos ouvir os jovens e encorajá-los a nos mostrar o mundo que eles querem construir e viver”, disse o alto-representante da UNAOC, Miguel Ángel Moratinos. “O PLURAL+ fornece esta plataforma para empoderar os jovens e permitir que eles compartilhem sua visão e inspirem a todos nós”.

“Através do PLURAL+, muitos jovens têm usado o seu talento para produzir curtas-metragens que apelam a uma mudança para melhor, em particular sobre as questões de migração, inclusão e diversidade”, disse o diretor-geral da OIM, António Vitorino. “Com a mudança a definir as nossas vidas desde a pandemia, agora é uma oportunidade de reimaginar através das lentes dos jovens essas questões e o mundo que queremos”, acrescentou.

Todos os anos, o PLURAL+ convida jovens de até 25 anos para enviar curtas-metragens originais e criativos que transmitam mensagens construtivas relacionadas aos temas de migração, diversidade, inclusão social e prevenção da xenofobia. Os vencedores serão convidados, com todas as despesas pagas, para participarem da Cerimônia de Premiação PLURAL+, que acontecerá no final de 2021.

Com a ajuda de um júri internacional, a IOM e a UNAOC selecionarão em conjunto um curta-metragem em cada uma das três categorias de idade (até 12, 13 a 17 e 18 a 25 anos).

Este ano, eles também entregarão três prêmios especiais: o primeiro, o Prêmio Especial para a Prevenção da Xenofobia, que reconhecerá o filme que melhor ilustrar a questão da xenofobia e promover o respeito a todos. O segundo, o prêmio #forSafeWorship, vai reconhecer o filme que melhor explora o tema da diversidade religiosa e da coexistência entre religiões e credos em nosso mundo moderno. Finalmente, e pela primeira vez este ano, o Prêmio para a Solidariedade em meio à COVID-19 reconhecerá um filme que melhor explora o impacto da COVID-19 e o estigma nos grupos minoritários, e a necessidade de unidade e solidariedade para garantir que ninguém seja deixado para trás em termos de acesso equitativo a tratamento e vacinas. As organizações parceiras do PLURAL+ também concederão uma infinidade de prêmios e oportunidades profissionais para vários jovens cineastas.

Com crescente interesse e participação ao longo dos anos, a PLURAL+ se tornou uma plataforma global de primeira linha para distribuição de mídia juvenil. Desde 2009, mais de 3.500 curtas-metragens de mais de 100 países foram inscritos no festival. Os vídeos vencedores foram exibidos e transmitidos em dezenas de festivais, cinemas e redes de televisão em todo o mundo, assim como em escolas e conferências, e receberam mais de duas milhões de visualizações online.

Clique aqui para obter mais informações e enviar um vídeo.

Fonte: Nações Unidas – Brasil

(14-05-2021)

PT São Paulo faz Seminário Conjuntura e Religião neste sábado (28)

O Diretório Municipal e Estadual do PT de São Paulo realizarão neste sábado (28), o Seminário Religião e Conjuntura na sede do PT da capital, que fica na Rua Asdrúbal do Nascimento, 226, no centro.

O evento contará com a participação do pastor Ariovaldo Ramos, fundador da Frente de Evangélicos pelo Estado Democrático de Direito e líder da comunidade Cristã e do Professor Edin Sued Ambimanssur, doutor em Ciências Sociais e professor da PUC. A participação no evento é aberta para qualquer interessado, desde que seja filiado ou simpatizante do partido.

De acordo com o coordenador do setorial inter-religioso do Diretório Municipal do PT São Paulo, Jair Alves, o seminário tem como objetivo discutir a história da influência das religiões no Brasil e fazer uma análise política do avanço religioso no meio político. “A ideia é reunir propostas para o 7° Congresso Nacional do PT que ocorrerá em novembro”, afirma ele.

O setorial municipal inter-religioso é um espaço plural com participação de católicos, evangélicos, muçulmanos abertos a quaisquer participações, inclusive de ateus, desde que tenham como missão a defesa da vida, da justiça e da paz. As reuniões do setorial são realizadas mensalmente.

Informações

 

Seminário Religião e Conjuntura: História da influencia das religiões no Brasil e analise política do avanço religioso no meio político
Dia 28 de setembro (sábado)
Das 9h às 13 h
Sede do Diretório Municipal do PT São Paulo
Rua Asdrúbal do Nascimento, 226
Confirme presença pelo facebook

Da Redação da Agência PT de Notícias

“Autoritarismo de Bolsonaro está desmontando cinema brasileiro”, diz especialista

Por Marcos Hermanson

Os ataques do governo Bolsonaro à Cultura como um todo e à produção audiovisual em específico – com o travamento completo dos mecanismos de incentivo e financiamento público – podem levar ao colapso o cinema brasileiro, avalia o crítico e professor Pablo Vilaça em entrevista ao Brasil de Fato. Ainda que em um cenário adverso para o setor, nesta quarta-feira (19) é comemorado o Dia do Cinema Brasileiro.

“Em qualquer lugar do mundo, um governo autoritário, quando assume, tenta podar é a produção cultural. Assim que o Bolsonaro assumiu, primeiro ele acabou com o Ministério da Cultura. Segundo, barrou repasses de fundos para produções que já haviam sido aprovadas. A Petrobras, que é uma das principais patrocinadoras de produções audiovisuais, [teve] repasses barrados ou suspensos definitivamente. O Fundo Setorial [foi] bloqueado. Acabou, o cinema brasileiro não sobrevive, simples assim”, constata Vilaça, também edita o Cinema em Cena, um dos sites mais antigos sobre o tema no Brasil.

A paralisação do financiamento público via Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) ou leis de incentivo, ambas as linhas gerenciadas pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), foi abordada por uma série de reportagenspublicadas pelo Brasil de Fato nas últimas semanas.

Vilaça aponta o caráter ideológico do bloqueio. “O cinema, a arte de modo geral, tende a incentivar a empatia, você enxergar o mundo através do olhar do outro. É isso que esses caras não querem”, diz. Abaixo, a entrevista.

Brasil de Fato: Como você resume o momento atual do cinema no Brasil?

Pablo Vilaça: Um dos mais difíceis do cinema brasileiro de modo geral. Os mecanismos de produção [com os quais] o Brasil conta hoje, como o Fundo Setorial do Audiovisual, estão sendo desmontados pelo atual governo.

Mas o cinema brasileiro vive um bom momento. Bacurau ganhou o Prêmio do Júri de Cannes, outros filmes tem ganhado destaque em festivais internacionais.

Você tem que lembrar que o cinema é uma arte que demora muito. Você não inicia um projeto de filme hoje e ano que vem ele está pronto para ser exibido. Esses projetos que nós estamos vendo agora estão há anos em produção. A minha preocupação não é o ano que vem. Minha preocupação é como o bloqueio hoje vai resultar nos filmes que nós não vamos ter daqui a quatro ou cinco anos.

O que os últimos dez ou quinze anos significam para o cinema brasileiro?

O cinema brasileiro, e eu falo isso sem medo de soar ufanista, é um dos mais ricos do mundo. Do ponto de vista estético, temático, de linguagem. Tem três cinematografias que nos últimos anos encantaram o mundo inteiro: a brasileira, a romena e a sul-coreana.

Dentro do Brasil, o cinema brasileiro é desprezado. Lá fora eu canso de ver as sessões de filmes brasileiros abarrotadas. Acho que tinham seis ou sete filmes brasileiros no Festival de Tribeca, há três anos. Todas as sessões virando fila, lotadérrimas. [No Festival de] Berlim, no ano passado, todas as sessões lotadas.

No Brasil a gente tem produção no Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No mesmo ano você vê produções do mesmo país, mas como elas são feitas em locais completamente diferentes, se você não conhece a língua, a impressão que você tem é que os países são muito diferentes.

Eu acho que isso é um fator importantíssimo, que acaba resultando em uma qualidade e versatilidade do cinema brasileiro que pouquíssimos países têm.

O que explica essa desvalorização do nosso cinema aqui dentro, enquanto ele é valorizado lá fora?

Vira-latismo. Vira-latismo puro e simples. Uma insistência em enxergar o que é nosso como inferior ao que é dos outros.

Quais são seus filmes brasileiros favoritos dos últimos dez ou quinze anos?

Engraçado você falar isso. Eu estava comentando em uma rede social o quanto o cinema brasileiro é rico. O cara virou e falou assim: ‘ah é? então me lista dez filmes produzidos nos últimos anos que valem a pena no Brasil’. Aí eu resolvi fazer uma lista de 2001 para cá. Ela tem 220 filmes.

Só para falar dos mais recentes, por exemplo, do ano passado: Tinta Bruta, Inholo, O Bicho Travesti, Dedo na Ferida, Organismo, Saudade, Açúcar, Gabriel e a Montanha, que foi exibido na semana da crítica em Cannes, no ano passado. Foram dez minutos de aplauso ininterruptos quando o filme terminou.

Se você voltar em 1928, um dos filmes mais importantes do cinema mundial é nosso, que é O Limite, do Mário Peixoto. Eu tive o privilégio de ter um encontro com o [cineasta Martin] Scorcese, no escritório dele. Eu perguntei sobre o cinema brasileiro, o que ele sabia sobre. Estava esperando que ele fosse citar Glauber Rocha, que é o cara que todo mundo conhece. Ele citou Glauber Rocha, Cacá Diegues, Mário Peixoto, citou Humberto Mauro, que é um cineasta mineiro da década de 30.

Imagina isso. A importância histórica do cinema brasileiro. Scorcese sabia muito mais do cinema brasileiro do que a maior parte dos brasileiros sabe.

São filmes desconhecidos aqui no Brasil, que não ganham notoriedade.

Vocês publicaram o texto do Antônio Biondi sobre o audiovisual. Ele comentou um negócio importantíssimo: qualquer país no mundo tem políticas de ocupação de telas. Se não tiver isso, os filmes hollywoodianos dominam tudo.

O último Vingadores foi lançado no Brasil e ocupou nada menos que 80% dos cinemas do país. Nos Estados Unidos eles ocuparam cerca de 10% e isso gerou uma revolta lá. Eram artigos e artigos falando do absurdo que era.

Pressionado, o Osmar Terra [ministro da Cidadania] assinou o decreto de regulamentação de telas, e falou que aquilo seria publicado [no Diário Oficial] naquela semana. Isso foi no início de maio, nós estamos no meio de junho. Por quê? Porque parou na Casa Civil. E por que parou? Isso é uma pergunta a se fazer.

Agora [o cinema brasileiro] está sendo desmontado pela classe política por um preconceito ideológico. E por que isso? O cinema, a arte de modo geral, tende a incentivar a empatia, você enxergar o mundo através do olhar do outro. É isso que esses caras não querem.

Ao comentar a exibição de Bacurau (Kléber Mendonça Filho, 2019) no Festival de Cannes deste ano você diz o seguinte: ‘a diferença de o Som ao Redor e Aquarius para Bacurau é a diferença entre um Brasil guiado pela inclusão social e o Brasil de Bolsonaro’. Explique essa afirmação.

No Som ao Redor tem uma cena divertidíssima, em que está havendo uma reunião de condomínio e uma pessoa reclama que a Revista Veja dela chegou fora do plástico. É um filme que gira muito em torno da insatisfação da classe média com a inclusão. Outra cena fantástica é um pesadelo, em que a gente vê meninos de rua saltando os muros do condomínio e invadindo as casas. É o pesadelo da classe média, dos pobres chegando e ocupando o seu lugar.

Bacurau é um filme sobre raiva, sobre viver sob a opressão violenta e se levantar para lutar contra isso. Então não é um filme sobre insatisfação, é um filme sobre luta. Isso tem muito a ver com a percepção do Kleber em relação a tudo que está acontecendo.

Quais são os principais fatos que te dizem que a estrutura de financiamento do cinema brasileiro está sendo desmontada? Por que isso está acontecendo?

Em qualquer lugar do mundo, um governo autoritário, quando assume, tenta podar é a produção cultural.

Assim que o Bolsonaro assumiu, primeiro ele acabou com o Ministério da Cultura. Segundo, barrou repasses de fundos para produções que já haviam sido aprovadas. A Petrobras, que é uma das principais patrocinadoras de produções audiovisuais, [teve] repasses barrados ou suspensosdefinitivamente. O Fundo Setorial [do Audiovisual], bloqueado. Acabou, o cinema brasileiro não sobrevive, simples assim.

Existe algum projeto específico para acabar com as leis de incentivo fiscal?

O tempo inteiro. Você vê vários congressistas do PSL(Partido Social Liberal, legenda de Bolsonaro], constantemente usando essa expressão: “a Lei Rouanet tem que acabar”. 37:15 Agora, é um governo tão ruim, tão incompetente, que eles não conseguem aprovar nada. É a nossa sorte.

Na sua análise do filme 7 dias em Entebbe (José Padilha, 2018) você diz que não gosta de José Padilha, classificando a atuação política dele como problemática, mas que como diretor você mantém sua admiração por ele.

José Padilha é um diretor excelente, só que, a partir do momento em que ele ganha destaque internacional, ele acaba sendo um representante do país lá fora. Ele é o cara que dirigiu Tropa de Elite 1 (2007) e Tropa de Elite 2 (2012), dois dos filmes mais bem-sucedidos comercialmente da história do Brasil.

E todas as vezes que abre a boca, a posição política dele não só é extremamente conservadora, mas desinformada. 43:00 Você tem o Zé Padilha funcionando quase como um porta-voz da Lava Jato. Aliás, tanto foi, que ele produziu uma série absolutamente desonesta [O Mecanismo], que pinta como herói inquestionável o Sérgio Moro.

O Intercept não precisava ter vazado conversas dele [Moro] para eu saber isso. Todo mundo com o mínimo de inteligência e honestidade já sabia disso. O que você tem agora é comprovação. E o José Padilha é um cara que tem acesso à informação. Então é basicamente uma escolha que ele fez.

Em vários momentos, uma escolha profundamente desonesta, de pegar frases ditas por figuras reprováveis, com fonte conhecida, e colocar na boca do Lula.

O fato de o José Padilha ser tão talentoso como cineasta torna o discurso dele como ator político ainda mais perigoso. Ele passa essas mentiras, e passa de maneira que convence o público que não sabia daquilo.

Quem não sabia da autoria da frase do ministro Jucá [Romero, que em 2016 falou em fazer “um acordo com o Supremo e com tudo”, para impedir a presidente Dilma Roussef], vai acreditar que foi o Lula quem disse aquilo.

Você acha que a direita vai invadir as telas do cinema?

Não. Eles podem crescer em número de produções, como Polícia Federal – A Lei é Para Todos e 1964 – Entre Armas e Livros, mas invadir não tem como. Eles não tem voz nesse meio. Com exceção de José Padilha e alguns outros, é muito difícil você encontrar um artista realmente talentoso no meio audiovisual que seja de direita.

Então, não, invadir as telas, não, mas eles podem fazer o contrário, que é impedir que qualquer outro tipo de produção seja realizada.

Edição: João Paulo Soares

Fonte: Brasil de Fato

https://www.brasildefato.com.br/2019/06/19/autoritarismo-de-bolsonaro-esta-desmontando-cinema-brasileiro-diz-especialista/

Democracia e cultura

Democracia é mais do que um sistema de governo. É um sistema de governo, sim, mas é também uma forma da sociedade se organizar. O ataque do governo ilegal ao mundo da cultura, machucou a alma do país.

A alma do país é algo intangível, mas muito vivo. Isso não pode ser destruído. Democracia é uma maneira como a sociedade vê a si mesma. Nestes últimos anos de governos do PT, e antes, na construção do SUS e no processo constituinte, o Brasil foi fazendo um retrato de si, que não pode ser destruído.

Foi feita uma cara includente, de um país que até pouco tempo atrás tinha uma massa enorme dos seus cidadãos e cidadãs, excluídos da sociedade. Isto ao ser atacado, despertou uma reação pelo pais afora, que obrigou o governo ilegal a recuar. Todos e todas temos motivos para nos orgulharmos disto.

Foi defendido um bem intangível, algo que não pode ser reduzido ao material. A arte, a cultura, são a alma da vida. A alma de um povo. Um povo sem cultura e sem arte, é mero rebanho. Massa de manobras. Um dado importante na resistência também, e a força e o poder das redes sociais.

A imprensa alternativa, as revistas e sites, blogs, etc, de jornalistas e movimentos sociais, que vão alimentando uma visão crítica, alternativa à espalhada pela mídia golpista. Isto é muito importante, porque é também um dado da democratização. O diálogo horizontal enriquece, valoriza a opinião de cada um, de cada uma. Não apenas é levada em conta a visão das classes dominantes, no caso, dos golpistas e seus aliados, mas também a versão das classes populares, do setor democrático da sociedade.