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Quando vem as cores

O chamado da cor. Quando as cores chamam, eu atendo. Atender o chamado das cores, é ir para um mundo silencioso, quieto, mas muito vivo. Um mundo de sentimento e memória. Esses dias atrás, tenho me recolhido a esta sensação, que vem quando fico em volta das cores. Dos papéis e pincéis. Das aquarelas e dos vidros com água. Um desses dias, fiquei a olhar os lápis de cor. Via o amarelo, o vermelho, o azul, o verde, o laranja. Sentia as cores, mais do que apenas as via. Esta sensação me dava uma paz muito grande. Botei um pouco de água em uma das folhas de papel, e vi a água sendo absorvida.

Passei um verde e fui desenhando alguns traços, como se fosse uma pradaria, ou um mar. Acabou sendo um mar. Mas não me importava muito o que era, ou o que seria, e sim, o que estava sendo, e o que eu ia sentindo, ao ver o verde se espalhar, cobrir a folha, ocupar espaço. Depois pintei umas nuvens no céu, um azul celeste claro  que ia se misturando com a água. Foi como se estivesse vendo todas as nuvens que vi na minha vida. Todos os céus que já vi na minha vida. O mar ficou encrespado e depois coberto de preto. Risquei a superfície, e apareceram linhas claras, mostrando a cor de baixo. Ficou lindo, em movimento. Não era algo que eu tivesse planejado, projetado.

Não sabia o que iria desenhar ou pintar. Foi vindo, e eu curtindo esse vir das cores. Esse meu vir nas cores. Fiz um outro quadrinho, ou fui instrumento da sua feitura. Uma espécie de sol, laranja, vermelho e amarelo, muito tênue. Do mesmo modo. As cores do fundo, foram se misturando com as da base, criando como flores lilases ou roxas. Umas rosas não planejadas, que iam se formando ao sabor do movimento que misturava cores do céu e da terra ou da água. Não sabia o que era, apenas sentia a beleza das florezinhas que iam se formando. Quando vem as cores, um silêncio vem junto, um silêncio que te acolhe.