Passei um verde e fui desenhando alguns traços, como se fosse uma pradaria, ou um mar. Acabou sendo um mar. Mas não me importava muito o que era, ou o que seria, e sim, o que estava sendo, e o que eu ia sentindo, ao ver o verde se espalhar, cobrir a folha, ocupar espaço. Depois pintei umas nuvens no céu, um azul celeste claro que ia se misturando com a água. Foi como se estivesse vendo todas as nuvens que vi na minha vida. Todos os céus que já vi na minha vida. O mar ficou encrespado e depois coberto de preto. Risquei a superfície, e apareceram linhas claras, mostrando a cor de baixo. Ficou lindo, em movimento. Não era algo que eu tivesse planejado, projetado.
Não sabia o que iria desenhar ou pintar. Foi vindo, e eu curtindo esse vir das cores. Esse meu vir nas cores. Fiz um outro quadrinho, ou fui instrumento da sua feitura. Uma espécie de sol, laranja, vermelho e amarelo, muito tênue. Do mesmo modo. As cores do fundo, foram se misturando com as da base, criando como flores lilases ou roxas. Umas rosas não planejadas, que iam se formando ao sabor do movimento que misturava cores do céu e da terra ou da água. Não sabia o que era, apenas sentia a beleza das florezinhas que iam se formando. Quando vem as cores, um silêncio vem junto, um silêncio que te acolhe.
Doutor em sociologia (USP). Terapeuta Comunitário. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Autor de “Max Weber: ciência e valores” (São Paulo: Cortez Editora, 2001. Publicado em espanhol pela Editora Homo Sapiens. Buenos Aires, 2005), Mosaico (João Pessoa: Editora da UFPB, 2003), Resurrección, (2009). Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/