Guila Flint, de Tel Aviv, para a BBC Brasil – O Ministério das Relações Exteriores de Israel decretou nesta quarta-feira um boicote à emissora de TV Al Jazeera, do Catar, o canal com a maior audiência no mundo árabe. De acordo com as autoridades israelenses, a emissora “incita o terrorismo”. O vice-ministro das Relações Exteriores de Israel, Majali Wahabe, afirmou que a Al Jazeera “é inconfiável, prejudica Israel e incita as pessoas a atividades terroristas”. “Israel não vai mais prestar serviços a um canal que pode nos causar sérios danos”, disse Wahabe. O ministério também afirma que a Al Jazeera é “tendenciosa em favor do Hamas”.
(…) O diretor da Al Jazeera em Israel, Walid El Omari, disse “estar espantado” com a decisão do governo israelense. “É surpreendente que um país que fala tanto de democracia persiga jornalistas e tente reduzir a liberdade de expressão e de movimentação”, disse El Omari. A crise entre a emissora e o governo israelense se agravou depois da cobertura do canal aos últimos choques na Faixa de Gaza, que deixaram mais de 120 palestinos mortos. De acordo com as autoridades israelenses, a cobertura foi “propaganda do Hamas”. O boicote à Al Jazeera foi criticado por especialistas em mídia de Israel. Leia matéria da BBC Brasil clicando no título.
“Gaza tem a mais alta densidade demográfica do mundo: mais de 4.000 pessoas por km2. Cerca de 1,5 milhão de pessoas numa área de 360 km2, imprensadas entre o mar e as fronteiras com Israel e Egito.
“Puro engodo bombardeios aéreos israelenses com ‘precisão cirúrgica’. Impossível evitar vítimas civis como ‘dano colateral’. Não há para onde escapar.
“Em pouco mais de uma semana, 512 palestinos foram mortos. Um quarto das vitimas, segundo a ONU, é de civis, mulheres e crianças. Os feridos já são mais de 2.000 – e os hospitais não dão conta das amputações.
“Trinta e um soldados israelenses foram feridos nos ataques por terra e quatro civis israelenses foram mortos por foguetes de grupos do Hamas.
“A desproporcionalidade entre a guerra total de Israel e os ataques de foguetes do Hamas ou a resistência à ocupação israelense – dos dois lados crimes de guerra sendo cometidos contra civis – fica patente, apesar do bloqueio à entrada de qualquer jornalista ocidental: o ocupante não quer testemunhas do massacre.
“Israel, ao fechar os acessos da fronteira de Gaza há meses, descumpre suas obrigações como potência ocupante e pune coletivamente a população civil. O sistema de água e esgoto beira o colapso, pois os bombardeios destruíram as linhas de eletricidade e há meses não há combustível para gerar energia. Em flagrante descumprimento das convenções de Genebra e seus dois protocolos, estão sendo sistematicamente arrasados hospitais, ambulatórios e escolas, e mulheres e crianças são aterrorizadas.
“…(a) política desastrada de isolamento do Hamas transformou Gaza num enclave condenado a condições de vida a cada dia mais semelhantes aos bantustões do regime do apartheid sul-africano.
“O que se pode esperar nos próximos dias? Nada ou muito pouco, a não ser a intensificação da dança diplomática de visitas a Jerusalém e a Ramallah… Como pano de fundo, bombardeios, o avanço da invasão por terra (e mar), a reocupação, massacre de civis, mais foguetes do Hamas, a caçada letal aos líderes do Hamas (e o trucidamento de suas mulheres e crianças) e mudança de regime em Gaza dissimulada. Tudo deverá continuar até 20/1, quando tomará posse o presidente Obama, do qual se poderia esperar ao menos uma lamentação pelas perdas civis. Trágico começo de ano.”