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Fazendo memória de dois movimentos populares: Caldeirão e as  Ligas Camponesas

Neste 02 de abril, data do assassinato de João Pedro Teixeira, ocorrido em 02 de abril de 1962 em Sapé, aconteceu mais uma manifestação popular, em memória de João Pedro Teixeira e de vários companheiros e companheiras de luta, membros da gloriosa Liga Camponesa de Sapé, considerada das mais combativas do Nordeste.

Como de hábito, esta data é comemorada na Sede do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas, situada na Comunidade de Barra de Antas, em Sapé – PB.

Há 61 anos, quando João Pedro retornava de João Pessoa, aonde havia ido tratar de assuntos relativos a liga, após descer do ônibus, na entrada de Sapé, ao caminhar cerca de 3 quilômetros, sofreu uma emboscada, cometida a mando de grandes latifundiários pertencentes ao chamados Grupo da Várzea. Com o vigoroso ascenso das Ligas camponesas na região, sendo a de Sapé a mais atuante, da qual João Pedro era a principal referência, sucessivas ameaças de morte – não bastassem recentes assassinatos de outras lideranças camponesas de Sapé (dentre as quais João Alfredo Dias – Nego Fuba – e Pedro Inácio de Araújo – Pedro Fazendeiro -) -, resultaram no assassinato de João Pedro Teixeira, que trazia consigo livros e cadernos para os filhos.

Importa também destacar o protagonismo de Elizabeth Teixeira, sua esposa. Com uma tarefa árdua – a de cuidar de seus 11 filhos -, não restava muito tempo a Elizabeth para dedicar-se com mais afinco aos trabalhos da Liga, ao lado de seu marido. Por outro lado, em face das crescentes ameaças feitas ao seu marido, João Pedro externava a Elizabeth seu pressentimento de que iria ser assassinado. Em entrevista, Elizabeth conta que, a certa altura, todas as noites João Pedro ia se despedir de cada filho, enquanto, por mais de uma vez, perguntou a Elizabeth se ela daria continuidade a sua luta. Reticente, ela desconversa, até que, ao encontrar o marido estirado em uma pedra no hospital, já morto, toma sua mão, e diz: “João Pedro, eu marcharei na tua luta”. Desde então, mesmo tendo que cuidar de seus 10 filhos – pois a mais velha, pressentindo o clima de terror, vem a suididar-se -, passa a enfrentar firmemente a luta Camponesa na região, até que, com a sobrevida do Golpe de 64, ela é obrigada a refugiar-se em São Rafael no Rio Grande do Norte, trazendo apenas seu filho de braço, e tendo que deixar os outros filhos a cargo da família, resultando em enorme trauma pra mãe e filhos. Acerca do legado da Liga de Sapé, convém acessar o site:

 

https://www.ligascamponesas.org.br/

 

Importante igualmente aprofundar o conhecimento deste tema por meio da leitura, seja pessoalmente, seja em grupo, de livros e documentários sobre as Ligas Camponesas, no Nordeste, desde a Liga do Engenho Galiléia, em Vitória de Santo Antão – PE, onde está seu berço. O filme “Cabra marcado pra morrer”, de Eduardo Coutinho, constitui um clássico sobre as lutas camponesas, no Nordeste. Digno de nota, a este respeito, é que, enquanto João Pedro se tornou conhecido pelo título do filme “Cabra marcado para morrer”, Elizabeth Teixeira, sua esposa, hoje com seus 98 anos, é conhecida como “Mulher marcada para viver”.

 

Não foram em vão as lutas travadas pelas Ligas Camponesas, inclusive a de Sapé: tornaram-se sementes das quais brotaram, no campo e na cidade, outros Movimentos Populares, a exemplo do MST e do MTST.

A Caminho do Memorial, na companhia de Frei Roberto e Eraldo, tivemos o cuidado de nos deter, por alguns minutos, à frente da capelinha em memória de João Pedro Teixeira, onde, comovidos, fizemos oração por João Pedro e todos os mártires das Ligas Camponesas.

 

O Movimento de Caldeirão, que se deu entre 1926 a 1936, na área rural situada no Município de Crato – CE, constitui um  relevante capítulo da nossa história de resistência popular, no Nordeste. Sobre ele, há diversos textos e documentários disponibilizados.  Claudio Aguiar, por exemplo, é autor de um romance “Caldeirão” (José Olympio Editora, RJ) bem conhecido sobre o tema, em 1982, tema sobre o qual o mesmo autor elaborou mais recentemente “Caldeirão, a guerra dos Beatos” (2013). Em um texto intitulado “Movimentos e Lutas Sociais no Nordeste”, dedicamos um breve estudo sobre o mesmo tema em 1982. Após os anos 2000, foram produzidos vários documentários sobre o Movimento Caldeirão, dos quais nos permitimos destacar o seguinte: https://www.youtube.com/watch?v=k1FGhelqkjI

 

O Beato José Lourenço, de origem paraibana, mudou-se para Juazeiro, atraído pelos feitos do Pe. Cícero Romão, de quem se aproximou, a ponto de gozar de sua confiança. Sua primeira experiência de trabalho foi no Sítio Baixa Dantas, no Cariri Cearense, Sítio em que protagonizou, juntamente com outros trabalhadores da região, uma experiência de produção agrícola, especialmente no campo da fruticultura, cuja produtividade logo atrairia os maus olhares de gente poderosa da região, sobre o pretexto de que aquela comunidade apresentava um modelo organizativo estranho ao regime dominante. Não demorou muito, e a experiência resultou destroçada pelos poderosos da região.

 

Surgiu, então, uma nova oportunidade para o Beato José Lourenço e sua comunidade: a de se instalarem em outra área conhecida como “Caldeirão dos Jesuítas”, fazendo assim renascer, de modo ainda mais fecundo, uma experiência comunitária de trabalho e oração. Com efeito, diversas fontes dão conta do compromisso da comunidade de Caldeirão, animada pelo Beato José Lourenço e por figuras tais como o Beato Severino Tavares, com a construção de uma comunidade de trabalho e de partilha, bem ao modo do que se encontra no Livro Atos dos Apóstolos, cap.4, 34-35 “Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuem segundo a necessidade de cada um”. Ou seja, orientando-se pelo princípio mais característico de uma experiência comunista: “De cada um conforme suas possibilidades, para cada um, segundo suas necessidades”. Especificamente sobre a relação Cristianismo – Comunismo, vale a pena conferir o recente estudo feito por Eduardo Hoornaert, acessando seu blog: textos de Eduardo Hoornaert.

 

O movimento de caldeirão, aos olhos dos setores escravistas daquela região, trazia de volta o fantasma da Comunidade de Canudos, em sua semelhante experiência de trabalho, partilha e oração, sob a animação de Antônio Conselheiro, tal como interpretou o poeta-repentista Ivanildo Vila Nova:

 

“Num deserto profundo e sem ter fonte

Já surgiu um regime igualitário

Onde um justo já sexagenario

Fez erguer a cidade de Belo Monte

Para então vislumbrar um horizonte

Sem maldade, sem crime, sem dinheiro

Sem bordel, sem fiscal, sem carcereiro

Mais, foi morto e tombado por selvagens

A história fará sua homenagem

A figura de Antônio Conselheiro “

 

Importa notar que, apesar e para além dos massacres sofridos, os poderosos não conseguiram (nem conseguirão) aniquilar as lutas camponesas do movimento de Caldeirão (nem de outros movimentos populares). Disto é prova certa continuidade do movimento de Caldeirão pela comunidade de Pau de Colher (Bahia), animada pelo beato José Senhorinho.

Tal como a Comunidade de Canudos foi destroçada pelo Exército brasileiro, em nome da classe dominante, a Comunidade de Caldeirão foi também massacrada por forças militares do Ceará. Exercitar a memória histórica representa, para os de baixo, uma condição necessária para o seu processo de libertação. Assim como o Memorial das Ligas e Lutas Camponesas da Paraíba segue fazendo, os movimentos populares são igualmente chamados a fazerem memória de suas lutas.

 

Eis por que, justamente nesta semana, a CPT do Nordeste II incluiu em seu programa de  formação um estudo especial sobre o movimento de Caldeirão, em Café do Vento, tendo convidado Frei Roberto Eufrásio de Oliveira, na companhia de Pe. Hermínio Canova, para ministrar este curso.

 

João pessoa, 06 de Abril de 2023

Movimento Raiz Cidadanista, em seu percurso programático: Notas sobre a Teia de Arcoverde-PE

Como anunciada, teve lugar, em Arcoverde-PE, no dia 14 de janeiro próximo-findo, mais uma Teia – termo com que a Raiz designa seus Encontros nacionais e regionais -, desta feita de âmbito regional, para dar sequência a sua agenda programática. Deste Encontro, sob a coordenação de Wellington Santana, integrante da Coordenação nacional da Raiz, participaram membros vindos de diversos municípios nordestino, de Pernambuco e da Paraíba, com o objetivo de debaterem e de indicarem pistas acerca de três questões que compuseram a pauta do encontro:

  • Em que conjuntura internacional e nacional, estamos navegando?

  • Qual a posição dos participantes sobre a questão partidária, sobre o caráter de Movimento ou de Partido e Movimento-Partido a ser priorizada pela Raiz?

  • Qual tem sido a prática cotidiana dos membros da Raiz, em sua ação de militantes?

 

Roda de conversa sobre nossa percepção crítica dos desafios da atual conjuntura

 

Após uma primeira intervenção de Wellington, de boas-vindas e de rememoração dos objetivos desta Teia, seguiu-se também uma rodada de apresentação, após o que foi solicitado a cada participante expressar sua leitura crítica da atual realidade. Tratamos, em seguida, de realçar pontos que julgamos mais tocantes de análise do nosso atual quadro conjuntural.

 

Menos de uma semana após os acontecimentos tenebrosos do dia 8 de Janeiro em Brasília, trazendo a tona toda a violência golpista – felizmente contida e frustrada-, marca inconfundível da barbárie do Desgoverno Bolsonaro, passou-se a conectar criticamente tais acontecimentos ao que sucede no plano da atual Geopolítica, da economia e da grade de valores em vigência, no plano internacional.

 

Nas falas compartilhadas, foi acentuada a conexão entre as práticas neofascistas presentes no Brasil e o que se passa de modo semelhante em outros países (Hungria, Polônia, Inglaterra, França, Espanha…), de modo a nos prevenir da necessidade de termos sempre presentes as características comuns e singulares que o nazifascismo nos traz, fazendo-nos lembrar o alerta de Bertolt Brecht, de que continua fecundo o ventre da besta.

 

Outro ponto, vindo a tona, disse respeito ao contexto da guerra entre a Rússia e a OTAN, travada em solo Ucraniano, de modo a nos alertar contra a tendência ocidental hegemônica, via OTAN/EUA, de atribuir exclusivamente à Rússia a responsabilidade pelo conflito, tentando passar a versão de que o conflito tenha iniciado em 24 de fevereiro o ano passado. Foi também alvo das falas, no contexto da geopolítica e da economia, o desenrolar das estratégias ligadas a nova rota da seda protagonizada pela China e seus aliados, inclusive na América Latina.

 

Trabalhar a Raiz como Movimento, como Partido, como Movimento-Partido?

 

Tendo a Raiz surgido de uma dissidência da Rede – portanto, como Partido – não soa estranha a tendência, sustentada por parte de seus integrantes, de voltar a constituir-se em Partido, iniciativa malograda, em seus primeiros passos. Ainda assim, parte dos integrantes da Raiz tem insistido, inclusive, na possibilidade de se fazer aliança com algum partido, a exemplo do PSOL, com o propósito de organizar candidaturas coletivas. Outra parcela dos integrantes da Raiz, por sua vez, insiste na defesa de a Raiz permanecer como um Movimento Popular, com o propósito de ajudar a fortalecer a sociedade civil, argumentando inclusive a fragilidade partidária institucional, no que tange ao compromisso com as transformações necessárias.

 

Há, ainda, os que, ao interno da Raiz, apostam em uma combinação Movimento-Partido, de modo a desenvolver parceria com alguns partidos, no sentido de potencializar suas iniciativas não institucionais.

 

Práticas militantes em nosso cotidiano

 

A terceira rodada de conversas se deu em torno do que e como, no Nordeste, especialmente em Pernambuco e na Paraíba, os militantes da Raiz vêm desenvolvendo sua ação transformadora. Ouvimos relatos palpitantes, dos quais tratamos de resumir alguns que nos pareceram mais importantes.

 

Na região conhecida como do Moxotó-Pajeú, em torno do Sertão de Arcoverde- PE, algumas iniciativas se mostraram bastante promissoras. Uma delas tem a ver com a experiência de convivência com o semi-árido nordestino, a exemplo das iniciativas protagonizadas pelo grupo liderado por José Artur, no município de Afogados da Ingazeira, em uma área que apresenta um trabalho exemplar, em termos de agroecologia e de convivência com o semi-árido. A Raiz já conhece tal experiência relatada pelo próprio José Artur, em outras Teias, também por meio de vídeos.

 

Nesta mesma toada, vem atuando em diversas comunidades de trabalhadores e trabalhadoras do campo, sertanejos, recorrendo inclusive a iniciativa de produção organicamente ligada a vocação dessa microrregião do Moxotó. Ao mesmo tempo, foram relatadas experiências promissoras no campo da cultura sertaneja e no campo da Educação Popular, bem como na área da Comunicação, em que se acha em curso o projeto de instalação de uma rádio comunitária, com vistas ao atendimento da população situada entre os municípios de Sertânia, Buíque, e Arcoverde.

 

No terreno específico da Educação Popular, seja em Pernambuco, seja na Paraíba e em outros Estados nordestinos, diversas iniciativas vêm sendo desenvolvidas, de modo a assegurar uma agenda contínua de formação, envolvendo a questão de Gênero, da diversidade humana, do espectro etnico (relacionado com os povos originários, as comunidades quilombolas, ciganas…). Não menos importantes vêm sendo vivenciados os trabalhos de formação política, especialmente junto aos militantes de movimentos populares, como acontece, por exemplo, no município de João Pessoa, de Sobrado, de Sapé (estes, na Paraíba), bem como em Recife e Arcoverde (em Pernambuco).

 

Os trabalhos desta Teia contaram com uma boa animação dos participantes, inclusive no intervalo para o almoço, tendo sido encerrados, já passando das 18 horas, com muita disposição dos presentes para o enfrentamento de velhos e novos desafios.

 

Desde então, fatos impactantes, sobretudo no cenário nacional, têm despertado nossa atenção para a profundidade e a urgência e um enfrentamento exitoso dos desafios atuais, dentre os quais merecem especial destaque:

 

  • Menos de duas semanas após o 8 de Janeiro, eis que somos confrontados com as imagens do genocídio dos Yanomami, marca inconfundível da barbárie bolsonarista, que infelizmente se estende por diversos outros povos originários e pelas comunidades quilombolas;

  • Segue sendo urgente a definição do papel dos militares, de modo a superar sua inaceitável tutela sobre a sociedade civíl;

  • Os rastros do neofascismo também se fazem presentes no campo econômico, no qual se revela inaceitável a condução do Banco Central, nas mãos de um bolsonarista, não bastasse a bizarra condição de “independência” legalmente atribuída ao seu dirigente de plantão.

Arcoverde/João Pessoa, 07 de fevereiro de 2023.

Discipulado e Missão na Diocese de Pesqueira: A contribuição dos Missionários e Missionárias inculturados

Não foram vocês que Me escolheram, mas fui Eu quem os escolheu e os enviei, para que vocês vão e dêem fruto e este fruto permaneça (Jo 15, 16) 

Ao longo desses mais de cem anos – e mesmo bem antes deste período -, nossas gentes têm contado com o anúncio do Evangelho, no chão da diocese de Pesqueira, graças a dedicação, de ontem e de hoje, de muitos missionários e missionárias. Dentre os anunciadores da Boa Nova – homens e mulheres -, na experiência missionária vivenciada em nossa região, incluem-se  discípulos e missionários não nascidos no Brasil, vindos de diferentes países, que se inculturaram na  realidade do nosso povo, em especial os mais pobres.

Cada qual à sua maneira, esses missionários e missionárias, tendo deixado sua terra, sua família e seu povo, responderam generosamente à vocação de anunciar testemunhar a Boa Nova, doando-se à causa do Reino de Deus, enfrentando sucessivos desafios econômicos, políticos, culturais, psicológicos, inclusive ao interno da própria Igreja. Rendendo  um tributo a esses missionários e missionárias inculturados na vida eclesial de nossa Diocese e em outras comunidades vizinhas, rememoramos figuras de missionários e missionárias de várias Congregações Religiosas (masculinas e femininas): Oratorianos, Franciscanos, Doroteias, Redentoristas, Padres ’’fidei donum’’, sem esquecermos também a contribuição oferecida por irmãos e irmãs de outras confissões,como os Menonitas, só para citar alguns  exemplos, a título de ilustração.

Justamente neste ano,estamos a comemorar também os 50 anos do profético Documento’’ Eu ouvi os clamores do meu Povo’’, assinado por 11 Bispos nordestinos e 8 Superiores Religiosos do Nordeste. Dentre os signatários do mesmo texto, figuravam Dom Hélder Câmara, Dom José Lamartine Soares (respectivamente Arcebispo e  Bispo Auxiliar de Olinda e Recife), Dom Antônio Batista Fragoso (Bispo de Crateús -CE), Dom José Maria Pires (Arcebispo da Paraíba), Dom Francisco Austregésilo de Mesquita (Bispo de Afogados de ingazeira), Dom Severino Mariano de Aguiar (Bispo de Pesqueira), além de outros signatário Bispos e Superiores religiosos do nordeste. Acerca deste Documento, já tivemos a oportunidade de escrever algumas linhas (cf. https://textosdealdercalado.blogspot.com/2016/07/eu-ouvi-os-clamores-do-meu-povo-um.html) . Dadas as circunstância Históricas da época-em plena Ditadura Civil Militar, em seu período mais tenebroso, sob o General Médici-, este texto de 24 páginas comporta uma corajosa denúncia  profética,por meio de uma análise percuciente das condições de  emprobremesimento da maioria da população nordestina, agravadas pela sistemática perseguição, numerosas prisões e torturas de parcela de significativa de nordestino e brasileiros. Rememorar este Documento constitui também um dos objetivos  de nossa proposta.

Retornando ao foco de nossa Proposta-celebrar a memória de Missionários e missionárias inculturados à nossa realidade-,e não podendo, nestas breves linhas, rememorar detalhadamente cada um – cada uma – desses discípulos missionários, tratamos pelo menos de destacar aspectos  dos que nos impactam pela sua notória contribuição e testemunho da causa libertadora do povo dos pobres, em nossa região.

Em meados dos anos 60, por exemplo, contamos com a presença profética de Pe. Joseph Servat (o querido Pe. José Servat), dedicado missionário que cumpriu um denso serviço profético junto aos trabalhadores e trabalhadoras do campo em todo o Nordeste, inclusive da Diocese de Pesqueira. Francês de nascimento, ele chega ao Brasil, dirigindo-se ao Nordeste a convite de Dom Helder Câmara, em nome da Arquidiocese de Olinda e Recife. Notamos que nesta época, o Brasil estava impactado pela desventura do golpe de Estado perpetrado por forças empresarial-militares, inaugurando a tenebrosa Ditadura empresarial-militar que infelicita o Brasil durante longos 21 anos. Justamente em 1975, quando a ditadura militar recém-instalada havia desmontado, pelas perseguições e prisões, diversos membros da Ação Católica Especializada (JAC, JEC, JIC, JOC, JUC), é que Pe. Servat recebe a incubencia que, junto com alguns Padres, a exemplo do Pe. José Maria da Silva, da Diocese de Pesqueira, que estava respondendo a um IPM (Inquérito Policial Militar) perseguido que estava sendo pelo seu trabalho de Assistente da Jac (Juventude Agrária Católica), de prosseguir aquele trabalho de resistência, por outra via. É assim que, com o trabalho perseverante e conjunto com trabalhadores e trabalhadoras do campo, em várias Diocese do Nordeste, o Pe. Servat se empenha, com persistência, em semear novas sementes de resistência à Ditadura Militar, por meio de um plano de atividades organizativas, formativas e de mobilização dos camponeses e camponesas, especialmente na zona canavieira, mas também em várias microrregiões do Nordeste.

A respeito de Padre José Servat vale a pena conferir uma longa entrevista que ele concedeu ao Professor Antônio Montenegro que,reunindo mais outras quatro entrevista sobre missionários ”Fidei Donum” que atuaram no Nordeste,fez publicar no livro intitulado “ Travessia” (pela Companhia Editora de Pernambuco).

Outra figura veneranda de Missionário atuante na Diocese de Pesqueira  foi o Padre Armando Biehl. Ele atuou em nossa Diocese, na Paróquia de Jataúba, desde 1973, durante vários anos. Ele veio da França, onde havia acumulado longa experiência de  Missionário e de peregrino,tendo feito peregrinação (a pé), da França a Palestina. Vindo para o Brasil, trabalhou inicialmente na zona canavieira de Sergipe, onde travou conhecimento com um jovem casal de agricultores da região: Paulo Carlos de Sousa e Nadja de Sousa – a quem adotou como filho. Nos inícios dos anos 70, a convite de Dom Severino Mariano de  Aguiar, então Bispo Diocesano de Pesqueira, chegaram a Jataúba Padre Armando, Paulo (primeiro Diácono Permanente de nossa Diocese,ordenado em 1973), Nadja e seus primeiros filhos.

A principal marca da ação Missionária de  Padre Armando como também de Paulo e Nadja – foi sua profunda inserção na organização e formação de dezenas de Comunidades do campo, na área rural de Jataúba, bem como de sua integração nas ações pastorais conjuntas das Comunidades das Dioceses de Pesqueira, Caruaru e Garanhuns.  Com efeito, desde meados dos anos 70/inícios dos anos 80, graças ao trabalho conjunto de coordenação das comunidades de Caruaru, Garanhuns e Pesqueira, por meio de distintas atividades organizativas e formativas, em especial por meio dos encontros anuais mais conhecidos como “o Natal das Comunidades” dos quais entre as figuras de referência destacamos o Pe. Pedro Aguiar (Caruaru), Frei Juvenal (Garanhuns) e Pe. Reginaldo Mazzon (Pesqueira).

As comunidades rurais de Jataúba, além da sede da Paróquia, ainda hoje dão testemunho do denso legado do Pe. Armando Biehl, que em conjunto o Diácono Paulo e sua esposa Nadja, percorriam frequentemente todas essas comunidades, seja em função dos trabalhos litúrgicos, seja em função do acompanhamento de suas organizações populares e sindicais. Não surpreende, a este propósito, o depoimento prestado pelo Prof. Francisco de Assis Batista, da UEPB/Campina Grande, ao revelar que, em suas andanças pelo Cariri paraibano, em especial por São João do Tigre, teve acesso a um livro de Atas do Sindicato Rural de São João do Tigre, na qual consta Assinatura como visitante do Pe. Armando Biel. Vários outros testemunhos foram igualmente prestados pela gente pobre daqueles sítios, a exemplo do depoimento prestado pelo missionário leigo Zé Duda, que destacava a capacidade de serviço e de humildade do Pe. Armando, contando até que o Pe. Armando, ao visitar o seu sítio, se dispunha a fazer a limpeza dos ambientes da casa,inclusive recolhendo os penicos e jogando fora o conteúdo.

Dentre tantos Religiosos e Religiosas e Missionários que atuaram em nossa Diocese – Franciscanos, Doroteias, Redentoristas e de outras Congregações-, os redentoristas, Congregação à qual também pertence Dom José Luiz Salles, atual Bispo Diocesano de Pesqueira, tiveram um papel relevante, valendo lembrar a atuação de vários deles: Os holandeses Pe. Jaime, Pe. Estevão, Pe. Antonino, Pe. Gabriel, Pe. Frederico, os últimos dos quais com atuação em Garanhuns e nos vizinhos municípios paraibanos São Sebastião do Umbuzeiro, Camalaú, São João do Tigre, sempre com notável dedicação profética à causa libertadora dos empobrecidos. Ainda dentre estes, cumpre ressaltar a atuação missionária específica de Pe. Estevão, que se ocupava do trabalho missionário, de formação e de promoção dos Direitos Humanos, tanto nas comunidades rurais, quanto nas comunidades da periferia urbana da Paróquia de São Cristóvão em Arcoverde.

Acerca da atuação Missionária de Pe. Estevão, em conjunto com Pe .Jaime, vale destacar pelo menos duas de tantas iniciativas por eles protagonizadas:

– O bom uso das instalações paroquiais especialmente do Salão dedicado, inclusive a formação e à oferta de cursos e análises da conjuntura socio-eglesial;

– O funcionamento regular, por anos a fio, do Boletim “O’Redentor Informa’’, utilizado não apenas para a circulação de notícias das comunidades Paroquiais, mas também como espaço de análise e reflexão crítica sobre a realidade socio-eglesial;

– A animação permanente das comunidades rurais da Paróquia;

– A colaboração e a solidariedade prestadas ao Centro de Defesa dos Direitos Humanos – CDDH -, inclusive em defesa do povo Indígena Kapinawá, no Município de Buíque – PE, bem como em apoio aos trabalhadores e trabalhadoras rurais ocupantes da fazenda caldeirão, no Município de Pedra – PE.

Diversos Padres “Fidei Donum” que atuaram em nossa Diocese, desde meados dos anos 60. Dentre eles: Padre Giovanni Toniutti, Pe. Bruno D’Andrea, aqui chegados em 1965, seguidos por outros, inclusive pelo Pe. Mario Marangon. Mas, pelas razões acima apresentadas queremos destacar a figura do Pe. Reginaldo Mazzon, que continua até o presente, já contando com 59 anos de trabalhos missionários no Brasil, entre a Bahia (Diocese de Feira de Santana – BA, por exemplo), e em nossa Diocese desde inícios dos anos 70, sempre acompanhando as Comunidades Eclesiais de Base.

Pe. Reginaldo, hoje com seus bem vividos 87 anos, estará completando, no próximo dia 30 de junho, 60 anos de ordenação presbiteral, dos quais 59 anos a serviço do povo nordestino, especialmente na Diocese de Pesqueira, onde atuou como Pároco-Vigário em várias Paróquias: Paróquia de São Pedro (Belo Jardim), Paróquia de Nossa Senhora da Conceição (Sertânia), Paróquia de (Poção), Paróquia de Mimoso, e atualmente a serviço das CEBs diocesanas sempre em trabalho conjunto com as CEBs da Diocese de Caruaru e a Diocese de Garanhuns. Ele também segue atendendo a múltiplos convites de serviço sacramental, em especial para o Sacramento da Penitência, convite feito por diversos colegas Padres, inclusive junto ao Santuário da Divina Misericórdia, em Serra das Varas (Arcoverde -PE), pelos Franciscanos, na Paróquia da Imaculada Conceição, em Pesqueira, e pelo Pároco da Catedral. A seguir, cuidamos de destacar seu trabalho específico junto às CEBs. Desde o início de sua atuação missionária, empenhou-se em participar ativamente dos trabalhos de organização das CEBs. Ainda nos anos 70, juntou-se ao esforço interdiocesano (Caruaru, Garanhuns e Pesqueira) de caminhada das CEBs, por meio da realização de diversas atividades, das quais vale ressaltar.

  • Em tempos de grande estiagem como durante o período de 1969-1983, já a serviço das CEBs compôs a equipe que foi participar, em Caucaia – CE, de um relevante Seminário organizado pelo Regional Nordeste da CNBB, em busca de pistas de enfrentamento da grande estiagem. Da caravana participante deste Seminário fizeram parte,além do Pe. Reginaldo,também Pe.Pedro Aguiar, Irmã Maria Emelia Ferreira, entre outros;

  • A Participação e a animação do Natal das Comunidades,celebrado há mais de 40 anos pelas comunidades pertencentes às Dioceses de Caruaru, Pesqueira, Garanhuns, iniciativa que consta de um programa realizado,ao longo do ano,por essas comunidades,do qual a Novena do Natal constitui uma das atividades centrais. Novena elaborada em mutirão pelas equipes das três Dioceses;

  • Pe.Reginaldo acompanhado de nossa Coordenação diocesana de CEBs,têm comparecido, com frequência, aos encontros interdiocesanos,geralmente realizados no Santuário das Comunidades,no Sítio Juriti,a 5 km de Caruaru;

  • Juntamente com os demais membros da Coordenação  Diocesana das CEBs, Pe.Reginaldo anima presencialmente as reuniões e os encontros,desde sua preparação, seja em Pesqueira,seja em Belo Jardim, seja em Jataúba,seja em Sertânia, etc;

  • Também constam da agenda de nossas CEBs os preparativos e a participação nos Encontros Intereclesiais das CEBs, inclusive para o próximo:XV Intereclesial, a acontecer, em julho próximo, em Rondonópolis – MT.

  • Nunca é demais lembrar nosso reconhecimento e gratidão,não apenas a estas figuras aqui destacadas,como também a tantas pessoas anônimas que têm dedicado sua vida ao Reino de Deus e sua justiça, em nossa Diocese e em nossa Região.Por meio desses Missionários e Missionárias inculturados no meio do nosso Povo,nosso objetivo é o de fazer memória do Discipulado e da Missão, em meio aos pobres de nossa Região.

João Pessoa, 25 de Janeiro de 2023

Festa litúrgica da conversão de São Paulo.

Atualização

O discurso de Lula em 30 de outubro, quando foi conhecido o resultado oficial das eleições presidenciais, me tocou profundamente. Depois de muito tempo escutei até o fim, alguém que é o que diz. É o que é. É o que está lá, à vista. Isso tem um efeito sanador.

Ele não era alguém tentando convencer, tentando provar algo, ou se exibir. Era o que eu estava ouvindo. Enquanto eu ouvia Lula, algo em mim estava se juntando, estava se reunindo. E estou certo de que continuará a se juntar e reunir.

Acompanho a trajetória de Lula desde o início da luta pela democratização do Brasil. E o Lula que vi e ouvi é um florescimento, o resultado consistente e coerente, impactante, de um processo de crescimento. Confesso que tenho dificuldades em acompanhar alguém tão singular. Foge do padrão.

Nisso nos parecemos. E em muitas outras coisas. O que mais me tocou, o que mais me toca nesse nordestino, nesse pernambucano, nesse brasileiro de coração sem limites, é sua capacidade de não se trair, de não se curvar, de não ser o que não é. A força do ser é imparável. E foi isso que Lula demonstrou nestas eleições. Está tão inteiro como nunca.

Para um garoto como eu, que amava a Argentina como Lula ama o Brasil, é uma grande lição. Se pode. Sim, é possível. Obrigado, Lula, por me lembrar que é possível. É possível ter um sonho do tamanho de um país. Eu tive esse sonho na Argentina dos anos 1960 e 1970, e ainda o tenho. Agora num país ampliado.

Lula me lembrou vivamente disso, e isso me traz de volta sensações juvenis que continuarão a me acompanhar. A palavra é mais do que um meio. É o que somos. A morte não é a derrota. Derrota é o falseamento, o autoengano, a simulação, a mentira, a força bruta.

Tudo que foi derrotado pelo povo brasileiro em 30 de outubro de 2022. O que não devia prevalecer foi enterrado. Lula renasceu cada vez que tentaram destruí-lo, e ele voltou melhorado. Isso é o que euacho que ninguém devia esquecer. Eu não esqueço.

Não preciso citar Paulo Freire, exibir algumas frases desse outro pernambucano que iluminou minhas tentativas por uma Argentina sem fome, sem violência nem dominação. O que brilha com luz própria não precisa de artifício. Brilha e ponto.

Paulo Freire e Lula. Brasil. Eu sou o que eu faço. Eu sou essas palavras que vão adiante iluminando meu caminho. Faço parte dessa vasta humanidade que não se dobrou, não se quebrou, não se perdeu. Uma semente me servirá, lemos nas Escrituras. Agora eu sei que é verdade. Adiante!

Lula encerra campanha no Nordeste com caminhadas em Salvador e Fortaleza

Por Tiago Pereira

Candidato da coligação Brasil da Esperança foi dar o último apoio decisivo a Jerônimo Rodrigues e Elmano Freitas que disputam com chances os governos da Bahia e do Ceará, terra de Ciro Gomes

O candidato da coligação Brasil da Esperança à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fez seus penúltimos compromissos de campanha em Salvador e Fortaleza nesta sexta-feira (30). Neste sábado (1º), ele participa de caminhada em São Paulo, no último ato antes das votações no domingo (2). A ida do ex-presidente às capitais nordestinas busca consolidar a virada dos candidatos da coligação aos governos da Bahia e do Ceará.

Na capital baiana, Lula percorreu as ruas da Península de Itapagipe, na Cidade Baixa, em carro aberto. Junto ao presidenciável, estavam, Jerônimo Rodrigues (PT), candidato ao governo, e o senador Otto Alencar (PSD), candidato à reeleição. Também participaram o atual governador Rui Costa (PT) e seu antecessor, Jaques Wagner.

Acompanhados por milhares de pessoas, eles cumpriram o trajeto até a Colina Sagrada do Senhor do Bonfim, no bairro do Bonfim. Após descer da caminhonete, Lula cumprimentou apoiadores e deixou o local sem falar com a imprensa.

Pesquisa AtlasIntel/A Tarde divulgada na última terça-feira (27) mostra Jerônimo com 46,5% das intenções de voto. Seu principal concorrente é o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (UB), que chegou a liderar as pesquisas, mas agora teve 39,6% das intenções de voto naquela pesquisa. Considerando apenas os votos válidos (excluindo brancos e nulos), Jerônimo tem 47,6% e está no limite para decidir a eleição já no primeiro turno.

Pelas redes sociais, Jerônimo celebrou a visita de Lula:

Ceará

No final da tarde, Lula desembarcou em Fortaleza. Do mesmo modo, ele percorreu as ruas da capital cearense ao lado do seu candidato ao governo Elmano Freitas (PT), e ao Senado, Camilo Santana, também do PT), além de outros políticos aliados. Aos milhares, os apoiadores seguiram o cortejo a pé, gritando frases de ordem, com faixas e bandeiras.

Assim como Jerônimo, Elmano também arrancou atrás nas pesquisas, mas desponta como favorito nessa reta final. Pesquisa Real Time Big Data divulgada hoje pela TV Record mostra o petista com 39% das intenções de voto, sete pontos percentuais a mais que Capitão Wagner (UB), apoiado por Bolsonaro, que tem 32%. Roberto Cláudio (PDT), em terceiro lugar, tem 18%. Na semana passada, Elmano e Wagner apareciam tecnicamente empatados.

Num eventual segundo turno, o petista também venceria o bolsonarista, por 46% a 42%, de acordo com o levantamento.

Fonte: Rede Brasil Atual

(30/09/2022)

Tengo un sentimiento por João Pessoa

Pongo unas letras en la hoja y el mundo empieza a existir. Los ruidos de la calle. El pío de una ave o dos. Ya en la tercer frase estoy más animado. Más aquí. Voy llegando y ya estoy.

Como les iba diciendo. Noche sin dormir. ¿Qué busco en mi desvelo? Lo de siempre. Estar aquí. ¿Por qué buscar lo que aquí está? No sé por qué. Sólo sé que es así.

Hoy está costando un poco más de lo habitual, encontrar un rumbo. No tanto. ¿No estoy aquí, al final? ¿No estoy sano y vivo? Vivo y sano. Sanísimo.

Al punto que de pronto veo lo que me sucede y lo que sucede alrededor. Las letras van iluminando todo. Vivísimo. Todo me toca mucho. Talvez demasiado. Es mi manera.

De repente el río desborda. El agua sigue hacia abajo. Va a regar los campos. Crecerán los frutos. El día se ilumina. La ciudad. El mar. El campo. Todo está ahí. ¿Qué rumbo tomar? Media vuelta, ¡maaaar!

Van y vienen los pasos. Me acostumbré a hablar en primera persona. A ver si ahora consigo salir. Fue la más corta de mis vueltas desde que estoy de vuelta en Cabo Branco. La lluvia me trajo de vuelta.

Tengo un sentimiento por esta ciudad. Esto me vino muy fuertemente esta tarde. Muy fuerte. Aquí me hice y me sigo haciendo, en distintas estaciones de la vida. Memorias muy buenas.

Es impresionante como los lugares guardan sentimientos, de manera detallada y precisa. ¡Esta es una fuerza inmensa!