“(…) Lula e o PT tinham uma escolha: eles poderiam aceitar as ‘regras do jogo’ fundamentais, estabelecidas pelos sistemas de poder dominantes do mundo e tentar fazer o melhor possível dentro delas; ou eles poderiam rejeitar essas regras e sofrer as consequências.
As regras foram feitas de maneira a impedir a ameaça da democracia, submetendo os governos à disciplina do ‘parlamento virtual’ dos investidores e credores, os quais podem destruir uma economia de várias maneiras, entre elas com a fuga de capitais e ataques espetaculares às moedas, caso a política de governo for ‘irracional’ – ou seja, dedicada às escolas e à saúde em vez de ao lucro das empresas.
(…) Talvez fosse possível para Lula e o PT seguirem o segundo caminho, como a Argentina de certa maneira fez, e talvez tivesse tido sucesso. Mas os riscos para as pessoas do Brasil não seria desprezíveis, e deve-se pensar nisso com muito cuidado antes de recomendar essa escolha.
Minha impressão, se é que ela vale alguma coisa, é que isso podia ser feito. Mas essas não são propostas que podem ser feitas levianamente e certamente não podem ser feitas em termos doutrinários e ideológicos, sem uma consideração cuidadosa das consequências, no mundo tal como é, e não como gostaríamos que fosse.
(…) As medidas social-democratas instituídas pela pressão popular dentro de sistemas parlamentares atingiram, inquestionavelmente, resultados não insignificantes para pessoas reais que enfrentam problemas reais. Devemos, portanto, apoiar essas medidas, e se nos recursarmos, baseados em algum suposto princípio, podemos estar certos de que aqueles que tiveram as vidas melhoradas não vão nos levar a sério, e com razão.”
Noam Chomsky, 2004, disponível em “Notas sobre o anarquismo” (SP: Hedra, 2011), p.157-158.
Jornalista, 41, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis em https://amzn.to/3ce8Y6h). Acesse o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0384762289295308.