Vamos. Ai do país que se mantiver refém de alguma figura pública que, um dia, cumprindo sua obrigação e procurando apagar o seu passado, especialmente o recente, tiver sido decente.
É o caso de Sarney. Todo mundo fala que foi o primeiro presidente pós-ditadura militar e que soube preservar a democracia.
Mas ninguém fala que ele foi o office-boy da ditadura militar durante 21 anos, votou contra as diretas e só trocou de lado, fazendo o que hilariamente se chama de revolução no PDS, passando para o PMDB e sendo candidato na chapa de Tancredo – por imposição dos milicos, ao que se sabe e se sabia à época – quando viu seu filho Zequinha votar a favor das eleições diretas
Seu nome já rolou pelo mundo por permitir morticínio político no Maranhão que governava, denúncias feitas especialmente no caso do lavrador Manoel da Conceição, que teve uma perna amputada devido a confrontos e maus-tratos.
Presidiu o Senado duas vezes, antes desta, e o tal diretor-geral, que ficou 14 anos manipulando nossa grana, foi designado por ele e por ele fez coisas secretas e concretas.
Vamos, sim, julgar José Sarney por se beneficiar , e aos seus, das sombras do Senado brasileiro – que, é verdade, já não serve mais à sociedade brasileira.
Temos 81 senadores e há dez mil funcionários na casa. Eu disse dez mil. Dá mais de 100 funcionários para cada senador, lembrando que, hoje, boa parte deles é suplente e, claro, suplente do Senado também é indicado e, não, votado.
O discurso patético de Sarney, ontem, joga no colo do Senado, que hoje ele preside, a culpa por tudo o que ocorre lá dentro, como se o Senado fosse da responsabilidade de outros que não os próprios senadores da República.
Depois da encenação, José Sarney não anulou nenhum dos atos secretos , utilizados na calada da noite para burlar a sociedade civil e contratar parentes e fazer qualquer tipo de desmando.
Fingindo-se de vestal, de mãos limpas em tudo de sujo que existe na política brasileira contemporânea, e fazendo de conta que só nasceu politicamente quando pulou do trem andando, e passou para a oposição, o velho senador, de 79 anos, devia ter aprendido a respeitar um pouco mais aqueles que dirigiu como Presidente da República – e que nos levou a uma inflação de 100% ao mês, pelo menos.
Não anunciou nada para modificar o quadro escandaloso do Senado Federal, claro.
Por que não pode: tem o rabo está preso na História do Brasil recente – até trocar de domicílio eleitoral para não perder o lugar de senador, ele fez. Dono absoluto da politica maranhense por muito tempo, é senador pelo estado do Amapá.