Arquivo da tag: mudanças climáticas

Governo tem poucas ideias sobre clima. E confusas

Foto: Riccardo Maria Mantero/Flickr/CC
Foto: Riccardo Maria Mantero/Flickr/CC

Daniela Chiaretti, repórter especial do Valor. Publicado neste jornal em 22 de janeiro de 2019

Há 30 anos um amigo jornalista ouviu de seu primeiro editor, ao entregar o primeiro texto de sua vida profissional, a seguinte avaliação: “Suas ideias são poucas, porém confusas”. A frase cômica se aplica tristemente ao reordenamento feito pelo governo do presidente Jair Bolsonaro no tópico “mudança do clima” nos ministérios pertinentes. Se há algum clima (com o perdão do trocadilho) nas pastas que eram protagonistas do assunto, a de Meio Ambiente (MMA) e a das Relações Exteriores, é o de “barata-voa”. São só 22 dias de governo, é verdade, mas por enquanto reina o caos.

Caso esses ministérios tenham agora alguma atribuição verdadeira em termos de mudança climática, o tópico foi bem escondido no organograma que reestruturou o governo. O que era uma forte prioridade nas duas pastas foi enxugado, disperso e relegado a um plano indefinido. A Secretaria de Mudança do Clima e Florestas era a maior do MMA, com 140 pessoas. Produziu planos nacionais de adaptação aos impactos climáticos e levava adiante políticas de combate ao desmatamento da Amazônia e do Cerrado. Agora, ninguém sabe, ninguém viu. No Itamaraty, que tinha um formidável time de negociadores climáticos e uma subsecretaria para lidar com o tema, o assunto foi pendurado em algum lugar da recém-criada Secretaria de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania. Imagina-se que esteja em “proteção da atmosfera”.

Esse redesenho traduz desinformação, ideologia e uma inevitável dose de risco à economia e à segurança do país. As declarações de “saio-e-fico” do presidente Jair Bolsonaro sobre a permanência ou não do país no Acordo de Paris, iniciadas durante a campanha e repetidas por integrantes do governo, ilustram esses equívocos.

Na terça-feira, a última agenda do chanceler Ernesto Araújo foi com seus pares Teresa Cristina Corrêa da Costa Dias, da Agricultura, e Ricardo de Aquino Salles, do Meio Ambiente. A agenda é pública, mas o conteúdo, não. A versão que corre é que Araújo teve que ser convencido pelos outros dois a não retirar o Brasil do Acordo de Paris. A soturna desconfiança do chanceler sobre o maior acordo climático internacional parece ter sido vencida por argumentos econômicos e ambientais dos outros dois. Basta passar os olhos pelo acordo e ver o quanto essa discussão é bizarra.

Nenhum dos 195 países signatários do Acordo de Paris pode sair dele, se assim desejar, antes de novembro de 2020. Nenhum é nenhum mesmo. Os Estados Unidos – surpresa! – continuam lá. Os negociadores americanos seguem indo a todas as conferências do clima, as famosas CoPs, sentam em seus devidos lugares e trabalham. Defendem os interesses americanos, brecam o que entendem ser recuos chineses em transparência, cuidam para que as posições dos EUA estejam lá. Não são tontos de abandonar o barco e deixar os outros decidirem à revelia. Vai que um dia os EUA tenham outro governo e voltem. Renegociar o texto é muito mais difícil, até para a nação mais poderosa do mundo.

Não se sai do Acordo de Paris com bravatas. Em 1º de junho de 2017, nos jardins da Casa Branca, o presidente Donald Trump fez seu show ao anunciar que os EUA “sairiam” do acordo. O futuro do pretérito se explica pelo artigo 28 do acordo.

Funciona assim: o acordo começou a vigorar em 4 de novembro de 2016. A comunicação oficial de um país signatário que se arrependeu só pode ser feita três anos depois de o tratado ter entrado em vigor – em 4 de novembro de 2019. Só então o país rebelde pode informar a Seção de Tratados da ONU em Nova York. Se Trump cumprir o que prometeu, os EUA poderão sair do acordo em 4 de novembro de 2020.

Há uma coincidência irônica nessas datas: trata-se do dia seguinte às eleições americanas, que devem acontecer em 3 de novembro de 2020. Seja qual for o resultado da eleição, Trump ainda será presidente, pode assinar a saída e, aí sim, os EUA terão deixado o Acordo de Paris. Mas, se o tratado tem regras para quem quer sair, não estabelece normas para quem quer voltar. O novo presidente pode decidir assim e tudo se resolver rápido. O que vale para os EUA vale para todos. O dano disso tudo está na mensagem ruim que o país dá aos outros, aos investidores em energia limpa, ao fluxo de capital da nova economia.

Outro ponto que revela desconhecimento sobre como funcionam as negociações internacionais é a conversa de Trump (copiada pelo presidente Bolsonaro e pelo ministro Salles) de que o país pode até ficar no Acordo de Paris, mas quer renegociar o texto. Não que a ideia seja impossível de concretizar, mas é improvável. As mudanças precisariam ser combinadas com os russos, com os chineses, com os indianos, com os outros 190 países que ratificaram o tratado climático. Trump quis reabrir o texto, ninguém deu a mínima abertura. Para o Brasil, este debate não faz o menor sentido econômico, ambiental e jurídico.

O que está por trás do capricho de tirar os termos que remetem a clima e ao combate ao desmatamento da estrutura dos ministérios? Supõe-se que, pela falta do nome, a sociedade não vai mais cobrar políticas para a Amazônia? Quando a seca continuar castigando colheitas e cidades, de quem se cobrará as políticas de adaptação? Quando chuvas cada vez mais fortes castigarem o país, a quem se recorrerá? Qual o entendimento do governo Bolsonaro para o maior desafio desta e das futuras gerações de humanos? Será tudo entendido como um castigo divino porque brasileiros não vestem azul e brasileiras não vestem rosa? Ou uma grande conspiração marxista para impedir nossa venda de grãos?

É um alívio notar que em outras pastas as atribuições continuam similares. O Ministério da Ciência e Tecnologia deve continuar com os inventários nacionais de emissões de gases-estufa. No da Economia juntou-se o que fazia a Fazenda e o Planejamento – estudos de precificação e mercados de carbono e o acompanhamento do financiamento climático de fontes externas – e a vida segue.

O Ministério da Agricultura é uma exceção: ali o tema ganhou status. Pode ser um bom sinal de se querer impulsionar a agricultura de baixo carbono e a pecuária sustentável. O ruim são as outras mensagens da pasta que se apropriou da demarcação de terras indígenas, territórios quilombolas e reforma agrária e do Sistema Florestal Brasileiro, com o cadastro que indica os passivos ambientais dos produtores rurais.

Leia mais de Daniela Chiaretti

Novo relatório do Painel do Clima da ONU terá 25 brasileiros

Afra Balazina, Andrea Vialli e Karina Ninni, Especial Para o Estado – O Estado de S.Paulo

Vinte e cinco cientistas brasileiros foram anunciados ontem como autores do próximo relatório do Painel do Clima da ONU (IPCC). No total, haverá cerca de 830 pesquisadores de todo o mundo trabalhando no documento.

“É um número estupendo de cientistas do País. Um reconhecimento ao trabalho dos pesquisadores brasileiros em mudanças globais”, comemora Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), que integra o grupo. O IPCC recebeu 3 mil indicações de cientistas. A ex-secretária nacional de Mudanças Climáticas Suzana Kahn, também escolhida pelo IPCC, afirma que, dos 25 brasileiros anunciados, 20 fazem parte do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.

A ONU ressaltou que quase um terço dos autores vem de países em desenvolvimento e o grupo atual tem maior quantidade de mulheres autoras (elas são 25% do total). Mais de 60% dos cientistas nunca trabalharam antes com o painel.

O IPCC, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2007, foi criticado por falhas em seu relatório anterior. Por isso, uma revisão crítica do trabalho está em andamento. O novo relatório será divulgado entre 2013 e 2014. O painel brasileiro pretende terminar seu trabalho antes disso para poder contribuir com o documento.

TRÊS PERGUNTAS PARA Fábio Pitaluga
Principal negociador do Brasil na Comissão Internacional da Baleia

1. As negociações sobre a substituição da moratória da caça de baleias por um sistema de abate controlado falharam e serão suspensas por um ano. Por que as negociações não tiveram êxito?

Da parte do Grupo de Buenos Aires, que reúne 12 países da América Latina, incluindo o Brasil, achamos que havia falta de equilíbrio entre o que estava sendo demandado dos conservacionistas – ou seja, a concordância com a concessão de mais dez anos de caça às baleias para Japão, Noruega e Islândia, entre outras – e as promessas feitas por essas nações. Quer dizer: estavam nos pedindo para ceder em troca de promessas futuras cujo cumprimento ninguém garantia.

O documento que estava na mesa agora não especificava o que aconteceria depois desses dez anos.

2. As notícias de que o Japão comprou votos de alguns países insulares e africanos foi comentada em Agadir?

Dentro da plenária, logicamente não. Mas nos corredores, sim.

3. A proposta de criação de um Santuário Baleeiro do Atlântico Sul foi discutida?

A proposta fazia parte de um pacote. Na verdade, estava no texto desse documento sobre o qual não houve consenso. Se ele tivesse sido aprovado, o santuário teria sido também.

AQUECIMENTO GLOBAL: SP regulamenta lei de mudanças climáticas
O governo de São Paulo assina hoje, no Palácio dos Bandeirantes, decreto que regulamenta a Política Estadual de Mudanças Climáticas. Sancionada em 2009, a Lei n.º 13.798 traz a meta de reduzir 20% das emissões dos gases de efeito estufa até 2020, com base nos dados de 2005.

Referendo mundial para enfrentar mudanças climáticas

A maioria das pessoas sabe que a Conferência dos Chefes de Estado sobre o Clima, realizada em dezembro de 2009 em Capenhague, foi um fracasso. A grande mídia deu essa informação.

Como de hábito, contudo, ela deixou de informar sobre o que fizeram as organizações sociais que também se reuniram na mesma oportunidade. Menos ainda elas noticiaram o que foi proposto por governantes em favor de caminhos alternativos aos que dominaram os debates da Conferência.

Em vista disso, o presente artigo propõe-se cobrir parte desse vazio, destacando a proposta apresentada à Conferência no dia 17 de dezembro pelo Presidente da Bolívia, Evo Morales.

Clique aqui e conheça a proposta.

Conferência Internacional sobre Semiárido será no Ceará

Conferência Internacional sobre Semiárido será no Ceará, de 16 e 20 de agosto de 2010

Entre os dias 16 e 20 de agosto deste ano, o Ceará será o foco das atenções no mundo. O Estado sediará a II Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento e Regiões Semiáridas (ICID+18), que será o evento mais importante sobre meio ambiente e sustentabilidade desde o Encontro de Copenhague, na Dinamarca (COP 15), ocorrido no fim do ano passado.

A ICID+ 18 será o maior centro de discussões do mundo sobre o tema e acontecerá 18 anos após a sua primeira realização, também no Ceará. A ICID 92, realizada em janeiro de 1992, foi fundamental para que o tema do semiárido fosse debatido durante a ECO 92, no Rio de Janeiro. Assim como a primeira conferência, a ICID+ 18 servirá como base para discussões na RIO+ 20, em 2012.

A Conferência será acompanhado pela comunidade científica brasileira e internacional, além de veículos de comunicação dos cinco continentes. A ICID+18 está sendo organizada pelo Governo do Estado do Ceará e pelo Ministério do Meio Ambiente e já conta com o apoio do Banco do Nordeste do Brasil, Embrapa, Universidade Federal do Ceará e Universidade de Illinois (EUA).

Os objetivos desta nova Conferência são reunir participantes do mundo inteiro para identificar e focalizar ações nos desafios e oportunidades que enfrentam as regiões áridas e semiáridas do planeta; explorar sinergias entre as Convenções das Nações Unidas no que concerne ao desenvolvimento de regiões semiáridas e gerar informações para subsidiar os governos e a sociedade com o objetivo de melhorar a sustentabilidade econômica, ambiental e social de regiões semiáridas.

Durante a ICID+18, serão debatidos três temas principais: clima, vulnerabilidades e impactos de variabilidade e mudança do clima e políticas públicas para adaptação a mudanças climáticas e para o desenvolvimento sustentável de regiões semiáridas. Para embasar todo o conteúdo de debates para a ICID+18, estão sendo encomendados cerca de 30 estudos de caso em todo o mundo para serem analisados por cientistas, pesquisadores e ambientalistas durante o evento.

A ICID 92

A primeira Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas (ICID 92) foi realizada em Fortaleza entre os dias 27 de janeiro e 1 de fevereiro de 1992. Organizado pelo Governo do Estado do Ceará em parceria com a Fundação Esquel Brasil, a conferência recebeu ainda o apoio de entidades como Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Fundação MacArthur, Governo Holandês, Banco Mundial, Embrapa e CNPq.

A ICID 92 reuniu na época mais de 1200 pesquisadores e cientistas, que debateram sobre o semi-árido de cada região do mundo. Como resultado da Conferência, foi produzida a Declaração de Fortaleza – A busca do desenvolvimento sustentável para as regiões semi-áridas. Este documento serviu como base de discussões durante a ECO 92.

Além da Declaração de Fortaleza, a ICID 92 produziu uma série de documentos que contribuíram para o desenvolvimento de pesquisas em todos os países que contam com regiões semi-áridas. Entre estes documentos, estão os Anais da Conferência (publicados em português, espanhol, inglês e francês); o livro publicado pelo Ipea, Desenvolvimento sustentável no Nordeste; e o livro publicado pela Cambridge University Press, Climate Variability, Climate Change and Social Vulnerability in the Semi-arid Tropics.

Os representantes da ICID 92 na ECO 92 conseguiram ainda aprovar artigos dentro da Convenção de Combate à Desertificação (UNCCD). Para o Brasil, os resultados da ICID 92 culminaram na elaboração do Projeto Áridas: Uma metodologia de planejamento para o desenvolvimento sustentável do Nordeste. Uma conferência internacional sobre o tema, realizada em 1995 em Pernambuco, proporcionou a produção de planos de desenvolvimento sustentável para sete Estados brasileiros: Ceará, Bahia, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Rondônia (Projeto Umidas).

Informações:

Coordenadoria de Imprensa do Governo do Estado
Casa Civil (comunicacao@casacivil.ce.gov.br / [85] 3101.6247), ou clicando aqui.