Arquivo da tag: Mino

Caso Battisti: o esgoto se manifesta

No artigo O Fiasco natalino da Fabbrica Italiana di Buffonatas, ao analisar o fracasso retumbante do último golpe propagandístico com que a Itália e seus serviçais tentaram coagir o presidente Lula a proceder como um vil linchador, constatei: “Nem mesmo a grande imprensa brasileira, tão parcial em tudo que se refere a Battisti, embarcou pra valer nessa canoa furada”.

Queimei a língua: a Veja e a CartaCapital não tiveram o comedimento dos jornalões. Em nome de uma causa repulsiva e já perdida, mentiram descaradamente para seus leitores.

A primeira — que era da marginal do Tietê e agora é também dos marginais da extremadireita — disse a que veio desde o título: Grazie, Supremo. Deveria colocar o texto também em italiano, tornando total a vassalagem.

Segundo a Veja, ao completar 55 anos nesta 6ª feira (18), Battisti ganhou “uma passagem só de ida a Roma, cortesia do Supremo Tribunal Federal”.

E por aí seguiu, entre a grosseria explícita e a desinformação programada:

“Lula não tem alternativa a não ser devolver Battisti ao sistema judicial do país onde ele está condenado pelos assassinatos”.

“O terrorista não se encaixa em nenhuma das exceções que poderiam impedir a extradição”.

“Se Lula não extraditar Battisti, não só o Brasil poderá ser denunciado pela Itália na Corte de Haia como o STF certamente enquadrará o presidente”.

CHANTAGEM E ALARMISMO BARATO

A CartaCapital, em Enfim caiu a discricionaridade, não só fingiu acreditar que o factóide desta semana terá alguma importância real no desfecho do caso, como erigiu novamente o ultradireitista Gilmar Mendes em fonte confiável, chegando ao absurdo de ajudá-lo a chantagear Lula.

Assim, no final do texto que Mino desta vez esquivou-se de assinar, tal o estrago que o último causou na sua reputação, está dito que, em recente entrevista à TV Educativa do Paraná, Mendes “insinuava que, se a decisão final de Lula contrariar o tratado, a Itália poderá ingressar com nova ação no STF”.

A CartaCapital aprova entusiasticamente, ao enfatizar que “a decisão do dia 16 não exclui esta possibilidade”.

Trocando em miúdos: a revista do Mino Carta ajuda o principal linchador do STF a fazer alarmismo barato, tentando vergar Lula às imposições italianas, em detrimento da soberania nacional. Que cada leitor tire suas conclusões.

Quanto ao fulcro da questão, já foi esgotado por quem tem conhecimentos jurídicos e autoridade moral para o fazer.

Caso de Dalmo de Abreu Dallari, professor emérito da Faculdade de Direito da USP e professor catedrático da Unesco na cadeira de Educação para a Paz, Direitos Humanos e Democracia e Tolerância, que considerou a extradição inconstitucional:

“…o dado essencial é que as próprias autoridades italianas afirmam o caráter político das ações de que Battisti foi acusado, pois subversão é crime político, na Itália e no Brasil. Ora, a Constituição brasileira diz expressamente, no artigo 5º, inciso LII, que ‘não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião’. Só isso já torna inconstitucional a extradição de Cesare Battisti.

“Outro obstáculo constitucional intransponível é o fato de que a Constituição brasileira, pelo mesmo artigo 5º, no inciso XLVII, dispõe que ‘não haverá pena de caráter perpétuo’. Ora, o tribunal italiano que julgou Battisti condenou-o à pena de prisão perpétua. Essa decisão transitou em julgado, e o governo italiano não tem competência jurídica para alterá-la, para impor uma pena mais branda, como vem sendo sugerido por membros daquele governo. A Constituição da Itália consagra a separação dos Poderes e assim como o presidente da República do Brasil está obrigado a obedecer a Constituição brasileira o mesmo se aplica ao governo da Itália, em relação à Constituição italiana.

“Em conclusão, no desempenho de sua atribuição constitucional privativa o presidente Lula (…) respeitando as disposições da Constituição brasileira, como é seu dever, deverá negar o atendimento do pedido, pela existência de impedimento constitucional”.

Caso também de Carlos Lungarzo, da Anistia Internacional dos EUA, que assim desmistificou o factóide desta semana:

“…não se acrescentou nada novo, porque o caráter discricionário da decisão de Lula não impedia, obviamente, que alguém tentasse depois processá-lo sob qualquer pretexto, como retaliação no caso de que recusara extraditar Battisti. Ou seja, Lula não está obrigado a cumprir a ordem de extradição, mas, se retiver o perseguido em nosso país (com ou sem tratado), pode ser julgado por crime de responsabilidade.

“A única diferença é que hoje, este risco de Lula de ser processado foi colocado pelo Supremo Tribunal numa forma mais escandalosa e despudorada. Agora, pode ser usado com mais força como bandeira pela mídia, pela infame máfia diplomática peninsular, e por todas as forças do terrorismo de estado que se escondem abaixo da democracia aparente da pátria de Berlusconi…”.

Parafraseando Camões, cessa tudo o que os corvos linchadores grasnam, pois um valor mais alto se alevanta: a grandeza de Dallari e de Lungarzo é inalcançável para esses senhores da mídia que direcionam insensivelmente Veja e CartaCapital ao esgoto jornalístico.

Rui Martins: Carta ao Mino

Quem te viu, quem te vê: em outubro de 2008, Gilmar Mendes era exemplo de falta de ética para a CartaCapital

Berna (Suiça) – Faz alguns meses, fui ao seu blog e contestei seus argumentos contrários ao Cesare Battisti. Não entendia como um jornalista do seu porte cedesse sua revista Carta Capital para um Walter Fanganiello publicar inverdades, distorcer fatos e procurasse assim influenciar seus leitores, geralmente de esquerda, a fim de não apoiarem a campanha em favor de Cesare Battisti.

Passaram-se alguns meses, a revista Caros Amigos, o jornal Brasil de Fato e numerosos líderes de esquerda mostraram seu apoio a Battisti até o epílogo do 5 a 4 pelo STF, repudiado por todos. Exceto por você, por sua revista, pelo Fanganiello, que chegam ao absurdo de elogiar Gilmar Mendes, presidente do STF e levantar um hipótese absurda – a da Itália mover ação contra Lula, se ele rejeitar a extradição de Battisti.

Tenho acompanhado a campanha do ex-preso político Celso Lungaretti em favor de Battisti e um de seus últimos textos conta justamente como um seu editorial elogia Gilmar e Peluso, numa contradição com suas antigas posições. Fui ler na Carta Capital online seu editorial, achei estranha sua insistência em malhar alguém mantido de maneira praticamente ilegal na prisão, desde a concessão do refúgio pelo ministro Tarso Genro, e curioso li os comentários de seus leitores ali postados.

E é por isso que lhe escrevo. Naquela centena ou mais de comentários há quase uma unanimidade de reprovação. Alguns amigavelmente lhe pedem para acabar com essa fixação, outros desconfiam do que existe por trás de tanto desejo de vingança, ainda outros colocam em dúvida o mental de um jornalista geralmente brilhante ou se reportam ao tempo de sua amizade com os Mesquitas para colocar em dúvida sua sinceridade na luta contra os militares.

É quase um linchamento. E é estranho para todos nós, que acompanhamos a trajetória do Mino Carta, vê-lo se submeter de própria vontade, como um kamikase, ao pelourinho diante dos leitores lúcidos, que escapam ao pensamento único das outras revistas. Por que tanta insistência em querer ver a desgraça de Cesare Battisti ? Por que, Mino Carta ?

Por que tentar atacar as pessoas que voluntariamente, com prejuízo do seu tempo, do seu trabalho, de sua família, têm dedicado horas e horas para escrever, manifestar, argumentar em favor de Cesare Battisti ? Por que atacar Fred Vargas que, revoltada contra a injustiça a Battisti, vem batalhando em seu favor desde a quebra do seu refúgio por Jacques Chirac e sua busca e prisão no Brasil a mando de Sarkozi ?

Por que sua revista insinuou que Fred Vargas viajava ao Brasil com passagens de Suplicy? Quando todos sabem, na França, que ela se tornou a escritora de maior sucesso de romances policiais, com milhões de livros vendidos e traduzidos em todo o mundo. Com essa fortuna inesperada, contava ela ao jornal Le Figaro, decidiu dar apoio com advogados e assistência ao seu conhecido e amigo escritor, também de romances policiais.

Por que tal acusação com o objetivo de comprometer seu apoio a Cesare Battisti? Por que chamá-la agora de Ninfa Egéria, a viúva chorona do rei romano Numa Pompílio, quando Fred é conhecida pela sua firmeza, força e combatividade ?

Por que insinuar que a Itália poderia entrar com novo mandado de segurança contra o Brasil, se o presidente Lula rejeitar a extradição e a sugestão do STF? Será que você e Fanganiello pensam realmente ser o Brasil uma Abissínia, sujeita aos humores de Roma ?

Diante das atuais acusações de comprometimento de Berlusconi com a Cosa Nostra, dos atos racistas dos líderes fascistas e separatistas da Liga do Norte, ainda será possível se dizer ser a Justiça italiana, que se adapta ao sabor de Berlusconi, superior àquela chefiada pelo ministro Tarso Genro ?

Como afirmar haver segurança nas jaulas italianas, se os suicídios e mortes suspeitas de presidiários se sucedem na Itália ? Como insistir com essa mentira, se organizações fascistas já deram o recado de que esperam a chegada de Battisti para uma liquidação sumária?

Qual o combustível que move sua insistência e obsessão, a ponto de se desacreditar diante de seus fãs, de seus leitores e de comprometer a credibilidade de sua revista? Existe algum pacto, trato, obrigação com a Itália, com o governo Berlusconi, que desconhecemos?

Faz algum tempo, seu blog foi desativado por sua decisão não devidamente explicada, parece também ser o momento de voltar a se dedicar só à pintura, por amor dos leitores e de sua revista, senão vão pensar que está indo para a nova Veja, não aquela de sua época.

Não era minha intenção voltar a lhe escrever, mas foi sua insistência em atacar Battisti, que me obrigou,

Cordialmente,

Rui Martins



Obs.: Rui Martins, jornalista brasileiro radicado na Suíça, era o principal porta-voz do Comitê de Solidariedade a Cesare Battisti nos anos de 2007 e 2008, quando a luta pela liberdade do escritor italiano foi muito prejudicada pelas matérias mentirosas da CartaCapital, qualificando-o de criminoso comum. Como a verdade ainda era conhecida por poucos, houve militantes de esquerda que acreditaram nas falácias do Mino, negando o apoio de que o Comitê desesperadamente carecia. Daí a justa mágoa do Rui. (Celso Lungaretti).

A imprensa golpista morre, viva a blogosfera!

Tenho saudado em palestras e entrevistas o papel que a blogosfera vem assumindo, de alternativa à desinformação programada da indústria cultural.
Se a Folha de S. Paulo, a Veja e a Rede Globo ainda fazem a cabeça dos contingentes mais amplos, que têm interesse apenas superficial nos acontecimentos enfocados e acabam engolindo irrefletidamente o prato feito que lhes é servido pelos especialistas em manipulação, os cidadãos que buscam noticiário isento, interpretações consistentes e opiniões civilizadas cada vez mais vão buscá-los na Web.

Graças a isto, o pequeno grupo de abnegados que começou a luta em defesa da liberdade do escritor Cesare Battisti conseguiu, aos poucos, convencer os melhores seres humanos de que a verdade estava ao seu lado.

Contra o enorme poder de fogo, as pressões e os subornos da Itália; contra a subserviência canina da mídia brasileira aos interesses de outras nações e aos das oligarquias nativas; contra a inacreditável tendenciosidade do presidente do Supremo Tribunal Federal e do ministro que relatou o processo; e contra a campanha aqui orquestrada pelos ultradireitistas em geral e pelas viúvas da ditadura em particular, movidos pelo ódio genérico aos idealistas e pela obsessão em atingir os veteranos da luta armada que hoje ocupam posições destacadas no PT, contra tudo isso Fred Vargas, Eduardo Suplicy, Rui Martins e algumas dezenas de anônimos mas imprescindíveis voluntários conseguiram sustentar a bandeira da resistência em 2007 e 2008.

Até que, em função das evoluções do caso ocorridas ao longo de 2009 e também do incansável trabalho de esclarecimento desenvolvido pelo Comitê de Solidariedade a Cesare Battisti e por simpatizantes da causa, a correlação de forças foi ao poucos se invertendo na internet, até ficar francamente favorável aos solidários, contra os linchadores.

A formidável corrente de opinião que se formou na web, atingindo os circulos do poder, acabou frustrando os planos maquiavélicos da dupla Gilmar Mendes/Cezar Peluso.

Ao invés de vitória esmagadora almejada, a sua cruzada para estuprar a Lei do Refúgio e a jurisprudência obteve míseros 5×4 nas duas primeiras votações, quando o STF resolveu apreciar um caso já decidido por quem tinha autoridade para fazê-lo e quando o STF autorizou a extradição de um perseguido por razões flagrantemente políticas e condenado num processo flagrantemente contaminado por um sem-número de distorções e aberrações.

Depois, o impacto e a repercussão do demolidor voto do ministro Marco Aurélio de Mello, que reduziu a pó de traque o relatório de Cezar Peluso, acabaram determinando a inversão do placar na terceira votação.

Ficou faltando a última e decisiva peça do quebra-cabeças de Mendes: tornar obrigatório o acatamento da decisão do Supremo por parte do presidente Lula, o que faria o Brasil retroceder a um patamar de civilização inferior ao da Idade Média, quando os condenados podiam ao menos pedir clemência aos soberanos.

Prevaleceu o entendimento tradicional e correto de que ao STF cabe apenas autorizar a extradição, mas sua concretização ou não deve ser decidida pelo Poder Executivo, que é quem conduz a política externa do País.

Agora, Lula tem o caminho desimpedido para confirmar a decisão que seu governo tomou em janeiro/2009, a única admissível em termos jurídicos.

“ESSA DO MINO QUEBROU AS MINHAS PERNAS”

Mas, não é só nos grandes acontecimentos (e este foi o maior deles até hoje!) que se percebe o robustecimento de uma nova consciência na internet, com as fileiras dos cidadãos esclarecidos expandindo-se cada vez mais e conquistando influência cada vez maior.

Também o repúdio às falácias da grande imprensa cresce a olhos vistos. Não só o Movimento dos Sem-Mídia consegue colocar muitos manifestantes na rua contra a Folha de S. Paulo, como os próprios leitores rechaçam veementemente as imposturas dos veículos golpistas, seja nas seções a eles destinadas, seja no espaço de comentários.

Das mensagens recebidas pela Folha de S. Paulo a respeito da acusação sem provas nem testemunhas que César Benjamin fez ao presidente Lula, 210 reprovaram a postura do jornal, contra apenas 9 concordantes. Isto deu respaldo ao ombudsman Carlos Eduardo Lins da Silva para proferir a mais enfática acusação que já fez à sistemática fabricação de factóides por parte do jornal:

“Só quem crê dispor de certezas prévias inabaláveis, como os fanáticos religiosos ou políticos (muitas vezes são a mesma coisa), pode se achar capaz de distinguir verdade e mentira com base só em palavras”.

E uma avalanche de críticas dos leitores da CartaCapital desabou sobre Mino Carta, nos comentários a respeito do editorial em que rasgou seda para Gilmar Mendes, por sua posição contrária a Cesare Battisti. A condenação foi praticamente unânime. Eis um desabafo bem humorado:

“É impossível ser capaz de julgar toda matéria que leio, se é parcial ou não. Preciso de um mínimo de confiança pra me informar. Mas essa do Mino quebrou as minhas pernas. Inacreditável! A fixação pelo Batistti fez ele elogiar o Gilmar Mendes? Vou dormir e de manhã eu volto aqui pra ver se eu não estava sonhando….”

Muitos leitores extraíram a conclusão óbvia:

“Depois dessa da CartaCapital e do cair de máscaras do Mino, só resta-me uma postura a adotar. Desistir do meu intento de renovar a CartaCapital e viver da blogosfera”.

Quanto mais a grande imprensa violentar as boas práticas e os princípios éticos do jornalismo, maior será o número de leitores migrando definitivamente para a web. Os mais dotados de espírito crítico à frente.

Só que, não se iludam os senhores da mídia, quem perde os formadores de opinião, mais dia, menos dia, perde todo o resto.

Daí a decadência já visível da Veja e da CartaCapital. E o desempenho cada vez pior da Folha de S. Paulo nas bancas.

É hora de denunciarmos todos que estupram o jornalismo

Companheiros e amigos,

agiu muito bem o Eduardo Guimarães ao convocar uma manifestação do seu Movimento dos Sem-Mídia para protestar neste sábado (5) contra o novo estupro cometido pela Folha de S. Paulo contra o jornalismo.

Estive lá e lembrei que a sucessão de descalabros atingiu intensidade máxima em 2009, com as malogradas tentativas de minimizar as atrocidades da ditadura militar qualificando-a como uma mera ditabranda, de envolver Dilma Rousseff com um obscuro plano de sequestro no tempo da luta armada (de quebra ilustrando a reportagem com uma ficha policial falsa, para denegrir a ministra), de forçar a condenação de Cesare Battisti no STF (publicando um repulsivo editorial lobbista no dia do julgamento) e de colocar no presidente Lula a pecha de estuprador.

Mas, não é só a Folha que vem estuprando o jornalismo nos últimos anos. E eu apelo a todos, no sentido de que destaquem também a inacreditável campanha movida pela CartaCapital contra o escritor Cesare Battisti, uma das mais encarniçadas perseguições que qualquer indivíduo sofreu por parte de um veículo da mídia brasileira em todos os tempos.

Nunca se viu um semanário destacar o mesmo assunto em tantas edições consecutivas como fez a CartaCapital no início de 2009, por meio ora de textos de Mino Carta, ora de Walter Maierovitch, ora de ambos. Sempre com o mesmo viés tendencioso/linchador e sempre recusando os pedidos de resposta e de espaço para apresentar o outro lado, que o bravo jornalista Rui Martins e eu cansamos de apresentar.

Agora que Mino Carta desceu ao ponto mais baixo de sua longa trajetória, tecendo os mais rasgados elogios a Gilmar Mendes apenas porque se trata de sua última esperança de ver extraditado Battisti, essa guinada oportunística deve e precisa ser conhecida pelo máximo de leitores e de internautas.

Chega de veículos que querem fabricar acontecimentos ao invés de os noticiar! Chega de senhores da mídia personalistas e atrabiliários como Otavinho Frias e Mino Carta! É hora de arrancarmos as mascaras de todos eles!

Conto com vocês.

CELSO LUNGARETTI

Mino Carta tem novo ídolo: Gilmar Mendes!

Recordar é viver: eis como
a CartaCapital via Gilmar
Mendes em out/2008

Mino Carta perdeu de vez a compostura.

Percebendo o iminente fracasso da conspiração midiática que a Carta Capital encabeçou para forçar a extradição de Cesare Battisti, a serviço (há quem insinue que seja a soldo…) dos interesses italianos, Mino arrancou a máscara, desandando a paparicar Gilmar Mendes.

Por incrível que pareça, é isto mesmo: o vilão da Operação Satiagraha virou herói do Caso Battisti!

Eis que a CartaCapital publicou um texto assinado pelo próprio Mino, O STF não é um clube recreativo, elogiando desmedidamente Gilmar Mendes e fazendo uma repulsiva autocrítica de suas diatribes anteriores contra o reacionaríssimo presidente do Supremo Tribunal Federal.

Leiam e pasmem:

CartaCapital já foi muito crítica em relação a certos comportamentos do ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal. Desta vez, louva-lhe a atuação no julgamento do Caso Battisti…

“…o presidente do STF mostrou-se à altura do cargo…

“Um ponto crucial do seu depoimento está na seguinte afirmação…”

E por aí vai, tão louvaminhas que beira a pieguice.

Até uma foto sorridente do bruto o Mino conseguiu encontrar, para exibir no índice da edição, no qual se anuncia que “Gilmar Mendes põe os pingos nos is sobre o caso Cesare Battisti”.

Enfim, Mino rasga seda para Gilmar Mendes na matéria inteira, ajudando-o a fazer lobby no sentido de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ceda aos ultimatos italianos e atacando covardemente a escritora Fred Vargas, com fuxicos de comadre e ironias pedantes (como quando a qualifica de “Ninfa Egéria da campanha pró-Battisti”).

De quebra, dá uma força para o presidente do Supremo em mais uma ridícula tentativa de amedrontar Lula, erguendo novo espantalho (“Mendes introduz, porém, uma insinuação: se o ato final do presidente da República contrariar o tratado, ou for ilegal, a Itália poderá ingressar com nova ação no STF”).

Como qualificar a nova postura de Mino Carta? Creio que ele próprio já disse tudo, há pouco mais de um ano:

“…qual seria a razão pela qual figuras como Gilmar Mendes, ou como Daniel Dantas, contam com o pronto amparo da mídia nativa. Arrisco-me a um palpite: antes de qualquer outro interesse eventualmente em jogo, trata-se talvez de exercer a proteção corporativa, pontual e inexorável entre aqueles que, de uma forma ou de outra, participam dos mesmos privilégios e os mantêm com a ferocidade necessária. Os donos do poder, dispostos a vender a alma para deixar as coisas como estão”.

A julgar pela guinada que Mino deu, Mefistófeles deve ser muito persuasivo.

Mino Carta x Caso Battisti: miados impotentes de um leão desdentado

Antevendo a derrota da cruzada rancorosa e mesquinha que moveu contra o escritor e perseguido político Cesare Battisti, o jornalista Mino Carta, do alto de sua olímpica arrogância, nem esperou o final do julgamento no Supremo Tribunal Federal para atribui-la a “um assustador grau de ignorância” de “setores importantes, ou tidos como tais, da política, da cultura, do jornalismo”, “impróprio em um país que aspira à contemporaneidade do mundo”.
Depois de sair do próprio blogue porque os internautas não endossavam sua posição no Caso Battisti, Mino os continua agredindo por não balirem amém ao que magister dixit. Daí o título que deu ao seu (mais um!) patético desabafo: Quando a ignorância prevalece.
Mino Carta continua obcecado em negar o chamado óbvio ululante: que o Partido Comunista Italiano, ao firmar um acordo podre com o inimigo de classe (a conservadora e corrupta Democracia Cristã, das lojas maçônicas crapulosas, dos remanescentes do fascismo e das ligações perigosas com a Máfia) levou ao desespero os contingentes revolucionários mais fervorosos da Itália, gerando o fenômeno do brigadismo, com cerca de 400 diferentes grupos e grupúsculos optando pela contestação armada ao longo da década de 1970.

E, pior ainda, quer que todos esqueçam ter sido do PCI a mão forte da repressão à ultra-esquerda, respaldando torturas e monstruosas aberrações jurídicas (como a introdução de leis com efeito retroativo e a permissão para se manter qualquer cidadão preso preventivamente — sem condenação, portanto — DURANTE MAIS DE 10 ANOS!).

Não, para Mino Carta tudo se resume à “a miserável trajetória da Armata Brancaleone, que, lá pelas tantas, teve o concurso de Cesare Battisti, na origem meliante do arrabalde, disposto a descobrir na prisão uma vocação revolucionária”.

Tão cego ele se tornou à verdade, preferindo invariavelmente as mentiras oficiais, que até hoje repete como papagaio essa falácia infame contra Battisti, nascido e formado numa família de comunistas, cujos passos desde muito cedo seguiu.

E, como os brasileiros bem informados não acreditam nos porta-vozes da reação italiana, só lhe resta apelar para tentativas de ironia que soam, na verdade, como miados impotentes de um leão desdentado: “Ah, sim, a esquerda nativa…”

Ele mesmo faz menção ao “abissal desprestígio sofrido por Carta-Capital neste longo e polêmico período”, mas prefere atribui-lo a “um certo gênero de esquerdistas, de típica extração verde-amarela, que hoje dedicam seus melhores esforços à acumulação de grana”.

A isso ele pretende reduzir a luta extremamente desigual ( e, ainda assim, vitoriosa!) que cidadãos movidos pelo idealismo e pelo espírito de justiça, contando quase que exclusivamente com a internet, travaram contra a formidável máquina de desinformação burguesa, alinhada com os interesses do governo neofascista italiano!

E se conquistarmos uma vitória épica contra os poderosos daqui e da Itália, isto se deverá apenas, segundo Mino Carta, ao “nosso tradicional jeitinho brasileiro”…

Enfim, não compensa perdermos mais tempo com quem já foi atropelado pela História.

Mas, cabe uma última palavra sobre a cantilena entoada ad nauseam por Mino Carta para negar aos brasileiros o direito de fazer uma avaliação crítica da Itália.

Onde já se viu equiparar um “Estado Democrático de Direito” (ele grafa iniciais com maiúsculas, para tornar mais majestático…) com as ditaduras de míseros países subdesenvolvidos?!

“Genro confundiu a Itália com Darfur”, debocha Mino Carta, colocando a nação de 1º mundo no topo da montanha e mandando às urtigas o Sudão e o ministro da Justiça brasileiro.

SUICÍDIOS E DESTRUIÇÃO PSÍQUICA
DOS PRESOS POLÍTICOS ITALIANOS
No entanto, um artigo escrito nos últimos dias pelo jornalista italiano Achille Lollo nos faz perceber que Tarso Genro tinha mesmo todos os motivos para recear pela vida e pela integridade física de Cesare Battisti, caso fosse enviado a uma masmorra italiana.

Recomendo a todos uma leitura atenta de Mais um suicídio de preso político nas prisões italianas! Por quê?, cujos principais trechos reproduzo em seguida:

“Na Itália, nos primeiros dez meses deste ano, 61 presos optaram pelo suicídio no lugar de ficar nas ‘seções especiais de isolamento’ que os Tribunais impõem através do artigo 41bis a todos os presos considerados ‘perigosos’. Agora o 62º suicídio por enforcamento foi da militante das Brigadas Vermelhas, Diana Blefari Melazzi (38), por não agüentar mais o sistemático isolamento, após seis anos e meio de prisão.

“Apesar do que foi veiculado na revista Carta Capital (a mando do então Sub-Secretário das Relações Exteriores italiano, Donato di Santo e do então embaixador italiano, Valensise) para os terroristas o 41bis é obrigatório e a cadeia perpétua (ergástulo) é mantida para todos os presos políticos que não colaboraram durante as investigações.

“Para Diana Blefari Melazzi (38) o suicídio por enforcamento foi a trágica saída do regime de isolamento especial. Presa em 2003 e condenada à prisão perpétua em 2005, a ex-brigatista, Diana Blefari Melazzi começou logo a manifestar ‘problemas psicofísicos’; tanto que nos últimos quatros anos foi submetida a 30 perícias psiquiátricas, além de várias ‘medicações’…

“Seus advogados e os familiares pediam, apenas, uma transferência para uma clínica psiquiátrica onde poderia ser feito um tratamento específico para, uma vez curada, voltar na penitenciária.

“…os advogados de Diana Blefari Melazzi, no dia 2 de novembro convocaram uma conferência de imprensa para denunciar que ‘Diana Blefari Melazzi não foi tratada porque era uma terrorista das Brigadas Vermelhas: e foi por isso que ela chegou facilmente ao suicídio, sem alguma intervenção por parte do tribunal e das autoridades penitenciárias.

“Os advogados (…) acusaram o sistema judiciário e penitenciário italiano de ter implementado, desde 1978, um regime de isolamento especial para os presos políticos que prevê uma destruição psicofísica, sobretudo, no caso daqueles que não colaboraram com os investigadores. De fato, o suicídio da brigatista acontece 15 dias após o interrogatório dos agentes da polícia política, na prisão Rebibbia. Será apenas uma casualidade?

“Desde 1974 até hoje foram registrados 13 ‘suicídios’ de presos políticos (…). Sem considerar os outros presos políticos que morreram por ‘causas naturais’, apesar de seus advogados dizerem que isto aconteceu por falta de tratamento médico nas prisões especiais onde estavam, como ficou evidente nos casos de Fabrizio Pelli (leucemia) e Nicola Giancola (enfarte).

“O suicídio anunciado de Diana Blefari Melazzi obriga a fazer uma reflexão sobre (…) se as prisões italianas são assim róseas e humanitárias, tal como foram apresentadas por um ex-juiz brasileiro, hoje comentarista da revista Carta Capital. Também é necessário perguntar por que nos últimos nove anos, nas prisões italianas se registraram 510 suicídios de presos por enforcamento?

“Se os presos políticos (não arrependidos) e condenados à prisão perpétua teriam possibilidade de sair em apenas 12 anos, tal como escreveu o comentarista da revista Carta Capital, porque a cada ano se registra o suicídio de um ou dois deles?

“Será que tudo isso é casual? Ou será que a condenação à cadeia perpétua, associada ao isolamento especial do 41Bis, é, ainda, a ‘solução ideal’ para provocar a destruição psíquica e a consequente auto-eliminação dos antigos inimigos do Estado?”

Mino Carta e Walter Maierovitch tudo fizeram para enviar Cesare Battisti a esse inferno. E ainda se surpreendem com o “abissal desprestígio” a que estão hoje relegados!