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Terapia Comunitária Integrativa com grupos específicos

Ontem tive a oportunidade de assistir a uma mesa redonda sobre Terapia Comunitária Integrativa com grupos específicos. Masculinidades não violentas. Migrantes. Juventudes de bairros populares. Pessoas com deficiências.

A escuta das falas me proporcionou uma alegria difícil de transmitir com palavras.

A desconstrução de traços da cultura dominante, que oprime identidades, gerando violência e exclusão, apresentada por terapeutas comunitários e comunitárias de diversos países.

A minha sensação mais clara, talvez, seja a de quanto vale a pena fazer parte destas redes da TCI. Um lugar onde somos acolhidos e acolhidas como seres humanos.

Me enche de alegria ver o conhecimento que liberta. A escuta das vozes plurais que nos fortalece. O pertencimento que reforça e realça a beleza das diferenças.

(03-08-2023)

ONU elogia criação do comitê para atenção a pessoas refugiadas, imigrantes e apátridas no Rio de Janeiro

Fernando Frazão/Agência Brasil

A Agência da ONU para as Migrações (OIM), a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e e o Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio (PARES) da Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro receberam positivamente a criação do Comitê Municipal Intersetorial de Políticas de Atenção às Pessoas Refugiadas, Imigrantes e Apátridas do Rio de Janeiro.

Criado pela Prefeitura do Rio por meio de decreto do prefeito Eduardo Paes, o comitê foi estabelecido na última sexta-feira (11). O decreto de sua criação foi publicado na segunda-feira (14) no Diário Oficial do município.

O Comitê tem como objetivo defender e promover, na cidade do Rio de Janeiro, os direitos humanos das pessoas refugiadas, imigrantes e apátridas a partir de metas anuais pactuadas entre órgãos e entidades envolvidas com esta temática.

Para isso, o Comitê terá, entre outras atribuições, a articulação e celebração de convênios e parcerias com órgãos e entidades públicas, privadas e da sociedade civil, além da elaboração, viabilização e implementação de políticas públicas que atendam esta população.

“Este é um momento importante, pois a sociedade está mobilizada em favor das pessoas refugiadas, imigrantes e apátridas, na sequência do brutal assassinato do refugiado congolês Moïse Kabagambe. Parabenizamos a prefeitura do Rio pela criação do comitê, que considera a transversalidade dos direitos humanos e atuará em prol da igualde de direitos e de oportunidades para esta população, combatendo a xenofobia e o racismo”, declararam em conjunto o representante do ACNUR no Brasil, Jose Egas, o chefe da missão da OIM no país, Stéphane Rostiaux, e a coordenadora geral do PARES, Aline Thuller.

O Comitê municipal será composto por membros efetivos, com voz e voto, como a Cáritas Rio, e membros consultivos, com voz, como a OIM e o ACNUR. As tratativas com a Prefeitura do Rio para a criação de um comitê municipal voltado às pessoas refugiadas, imigrantes e apátridas já vinham acontecendo antes mesmo do assassinato do refugiado congolês Moïse Kabagambe.

A Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro tem uma atuação histórica na cidade, em defesa das pessoas refugiadas e migrantes, que remonta aos anos 1970.

O ACNUR é parceria da Cáritas Rio há cerca de 40 anos no atendimento a esta população e facilitou, junto à Prefeitura, a formulação do MigraRio (um protocolo de atendimento a refugiados e migrantes no município em vigor desde 2019) além de doações e capacitações dos serviços locais de assistência social e de saúde.

A OIM, por sua vez, tem trabalhado nos últimos anos em diversas ações em parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro para fortalecer as capacidades do município no atendimento e na integração da população migrante.

Divulgação / Prefeitura do Rio de Janeiro

Segundo dados da Secretaria Municipal de Assistência Social da Prefeitura do Rio, o município possui uma população refugiada e migrante bastante diversificada. São cerca de 3.500 pessoas de diferentes nacionalidades inscritas no Cadastro Único do município.

O Comitê Municipal Intersetorial de Políticas de Atenção às Pessoas Refugiadas, Imigrantes e Apátridas do Rio de Janeiro se soma a outros 14 comitês municipais para pessoas refugiadas, migrantes e apátridas existentes no país, além de outros 12 comitês estaduais – inclusive no âmbito do Estado do Rio de Janeiro.

“O Comitê amplificará as vozes destas populações, oferecendo melhores mecanismos para sua integração na cidade do Rio de Janeiro, confirmando o espírito de solidariedade e acolhimento que tem marcado a relação da sociedade brasileira com essas pessoas. Esperamos que, em breve, ações concretas possam ser tomadas para atender às demandas de pessoas refugiadas, imigrantes e apátridas que vivem no Rio”, afirmam os representantes do ACNUR, OIM e PARES/Caritas RJ.

Acordo de Cooperação

No mesmo dia (11), a OIM assinou um Acordo de Cooperação com a prefeitura do Rio de Janeiro a fim de apoiar o município no avanço das políticas públicas para a população migrante e articular ações conjuntas que ajudem a proteger, acolher e integrar essas pessoas.

O documento prevê coordenação entre OIM e município em atividades relacionadas a migrações e áreas correlatas, como retorno voluntário e reintegração, migração laboral, tráfico de pessoas, governança migratória, integração socioeconômica e desenvolvimento local, fortalecimento de capacidades estatais, legislação migratória internacional e parcerias, preparação, resposta e recuperação em crises migratórias.

Ser mulher. Ser humano.

Ser mulher. Ser humano.

Ser humano neste sistema que usa e descarta a pessoa é um desafio cotidiano. Como bem diz o Papa Francisco, não se trata de ideologias, mas da realidade de uma estrutura montada e mantida para a exploração e a exclusão das maiorias. Mulheres, pobres, migrantes, pessoas negras. Tudo se usa e joga fora.

Uma criança abusada sexualmente desde os seis anos é novamente violentada massivamente pela mídia que a expõe e expõe a ação atroz de quem sem qualquer direito tenta impedir um aborto imprescindível. Religião usada para encobrir abusos. Isto é tão antigo quanto o capitalismo. O deus dinheiro no comando.

Ser mulher nesta “sociedade” é um risco contínuo. Mulheres são tornadas objeto de uso. Coisas que se usa e descarta. Coloco sociedade entre aspas porque como sociólogo não entendo que isto em que vivemos seja de fato uma sociedade. É uma destruição. Uma trituração.

Sei disto porque desde muito jovem tive que enfrentar as distintas formas de violência. Aquela que se pratica de pertinho e de longinho. A violência é a regra deste sistema bárbaro. No entanto a resistência à desumanização é contínua e seguirá sendo. Não apenas denunciar mas desfazer. Desmontar.

Potenciar a nosso favor as circunstâncias que tentam nos destruir. A destruição começa pelo corpo, segue pela mente, prossegue pelos sentimentos e se completa nas relações perversas e nocivas. A base e a essência da resistência é o afã de sobreviver. O inimigo do gênero humano é poderoso mas a força do amor é mais poderosa ainda.

Política de exclusão de migrantes leva à violação de direitos de refugiados, afirma ONU

O chefe do Escritório de Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, parabenizou o plano da União Europeia de realocação de 120.000 migrantes, mas ressaltou que políticas de exclusão estão causando mortes, abuso de direitos e prisões de inocentes.

“Uma política de migração que busca simplesmente excluir os migrantes irregulares sem levar em consideração uma análise holística de por que eles estão se mudando provavelmente não resultará em melhor gestão da migração“, afirmou o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, nesta terça-feira (6).

O representante das Nações Unidas elogiou a iniciativa da União Europeia de realocar 120.000 refugiados na Europa e oferecer ajuda financeira aos sírios refugiados, mas advertiu que as políticas europeias vigentes até o momento, que focam na exclusão de imigrantes, põem em risco seus direitos.

A declaração do chefe de Direitos Humanos antecede o Conselho da União Europeia de Justiça e Assuntos Internos que abordará a questão dos refugiados. Para ele, políticas que focam somente em imigrantes ilegais acabam violando direitos humanos, causando mais mortes, prisões e abusos de pessoas inocentes. Zeid deu exemplo de países, como Grécia e Itália, que reduziram as detenções de imigrantes, adotando alternativas à prisão de pessoas que não são criminosas.

“O aumento do controle de fronteiras e vigilância não reduziram o número de migrantes, mas apenas forçaram essas pessoas a usarem rotas mais perigosas, levando ao aumento de abusos de direitos humanos e vidas perdidas”, enfatizou. (7-10-15)

Fonte: Nações Unidas – Brasil
http://nacoesunidas.org/politica-de-exclusao-de-migrantes-leva-a-violacao-de-direitos-de-refugiados-afirma-onu/

Mensagem do Papa Francisco para o dia mundial do migrante e do refugiado

Combater o tráfico de pessoas. Humanizar as migrações. Promover o acolhimento. Combater a discriminação e a exploração. Globalizar a solidariedade.

“Igreja sem fronteiras, mãe de todos”

Queridos irmãos e irmãs!

Jesus é «o evangelizador por excelência e o Evangelho em pessoa» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 209). A sua solicitude, especialmente pelos mais vulneráveis e marginalizados, a todos convida a cuidar das pessoas mais frágeis e reconhecer o seu rosto de sofrimento sobretudo nas vítimas das novas formas de pobreza e escravidão. Diz o Senhor: «Tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber, era peregrino e recolhestes-Me, estava nu e destes-Me que vestir, adoeci e visitastes-Me, estive na prisão e fostes ter comigo» (Mt 25, 35-36). Por isso, a Igreja, peregrina sobre a terra e mãe de todos, tem por missão amar Jesus Cristo, adorá-Lo e amá-Lo, particularmente nos mais pobres e abandonados; e entre eles contam-se, sem dúvida, os migrantes e os refugiados, que procuram deixar para trás duras condições de vida e perigos de toda a espécie. Assim, neste ano, o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado tem por tema: Igreja sem fronteiras, mãe de todos.

Com efeito, a Igreja estende os seus braços para acolher todos os povos, sem distinção nem fronteiras, e para anunciar a todos que «Deus é amor» (1 Jo 4, 8.16). Depois da sua morte e ressurreição, Jesus confiou aos discípulos a missão de ser suas testemunhas e proclamar o Evangelho da alegria e da misericórdia. Eles, no dia de Pentecostes, saíram do Cenáculo cheios de coragem e entusiasmo; sobre dúvidas e incertezas, prevaleceu a força do Espírito Santo, fazendo com que cada um compreendesse o anúncio dos Apóstolos na própria língua; assim, desde o início, a Igreja é mãe de coração aberto ao mundo inteiro, sem fronteiras. Aquele mandato abrange já dois milénios de história, mas, desde os primeiros séculos, o anúncio missionário pôs em evidência a maternidade universal da Igreja, posteriormente desenvolvida nos escritos dos Padres e retomada pelo Concílio Vaticano II. Os Padres conciliares falaram de Ecclesia mater para explicar a sua natureza; na verdade, a Igreja gera filhos e filhas, sendo «incorporados» nela que «os abraça com amor e solicitude» (Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 14).

A Igreja sem fronteiras, mãe de todos, propaga no mundo a cultura do acolhimento e da solidariedade, segundo a qual ninguém deve ser considerado inútil, intruso ou descartável. A comunidade cristã, se viver efectivamente a sua maternidade, nutre, guia e aponta o caminho, acompanha com paciência, solidariza-se com a oração e as obras de misericórdia.

Nos nossos dias, tudo isto assume um significado particular. Com efeito, numa época de tão vastas migrações, um grande número de pessoas deixa os locais de origem para empreender a arriscada viagem da esperança com uma bagagem cheia de desejos e medos, à procura de condições de vida mais humanas. Não raro, porém, estes movimentos migratórios suscitam desconfiança e hostilidade, inclusive nas comunidades eclesiais, mesmo antes de se conhecer as histórias de vida, de perseguição ou de miséria das pessoas envolvidas. Neste caso, as suspeitas e preconceitos estão em contraste com o mandamento bíblico de acolher, com respeito e solidariedade, o estrangeiro necessitado.

Por um lado, no sacrário da consciência, adverte-se o apelo a tocar a miséria humana e pôr em prática o mandamento do amor que Jesus nos deixou, quando Se identificou com o estrangeiro, com quem sofre, com todas as vítimas inocentes da violência e exploração. Mas, por outro, devido à fraqueza da nossa natureza, «sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 270).

A coragem da fé, da esperança e da caridade permite reduzir as distâncias que nos separam dos dramas humanos. Jesus Cristo está sempre à espera de ser reconhecido nos migrantes e refugiados, nos deslocados e exilados e, assim mesmo, chama-nos a partilhar os recursos e por vezes a renunciar a qualquer coisa do nosso bem-estar adquirido. Assim no-lo recordava o Papa Paulo VI, ao dizer que «os mais favorecidos devem renunciar a alguns dos seus direitos, para poderem colocar, com mais liberalidade, os seus bens ao serviço dos outros» [Carta ap. Octogesima adveniens (14 de Maio de 1971), 23].

Aliás, o carácter multicultural das sociedades de hoje encoraja a Igreja a assumir novos compromissos de solidariedade, comunhão e evangelização. Na realidade, os movimentos migratórios solicitam que se aprofundem e reforcem os valores necessários para assegurar a convivência harmoniosa entre pessoas e culturas. Para isso, não é suficiente a mera tolerância, que abre caminho ao respeito das diversidades e inicia percursos de partilha entre pessoas de diferentes origens e culturas. Aqui se insere a vocação da Igreja a superar as fronteiras e favorecer «a passagem de uma atitude de defesa e de medo, de desinteresse ou de marginalização (…) para uma atitude que tem por base a “cultura de encontro”, a única capaz de construir um mundo mais justo e fraterno» (Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado – 2014).

Mas os movimentos migratórios assumiram tais proporções que só uma colaboração sistemática e concreta, envolvendo os Estados e as Organizações Internacionais, poderá ser capaz de os regular e gerir de forma eficaz. Na verdade, as migrações interpelam a todos, não só por causa da magnitude do fenómeno, mas também «pelas problemáticas sociais, económicas, políticas, culturais e religiosas que levantam, pelos desafios dramáticos que colocam à comunidade nacional e internacional» [Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 62].

Na agenda internacional, constam frequentes debates sobre a oportunidade, os métodos e os regulamentos para lidar com o fenómeno das migrações. Existem organismos e instituições a nível internacional, nacional e local, que põem o seu trabalho e as suas energias ao serviço de quantos procuram, com a emigração, uma vida melhor. Apesar dos seus esforços generosos e louváveis, é necessária uma acção mais incisiva e eficaz, que lance mão de uma rede universal de colaboração, baseada na tutela da dignidade e centralidade de toda a pessoa humana. Assim será mais incisiva a luta contra o tráfico vergonhoso e criminal de seres humanos, contra a violação dos direitos fundamentais, contra todas as formas de violência, opressão e redução à escravidão. Entretanto trabalhar em conjunto exige reciprocidade e sinergia, com disponibilidade e confiança, sabendo que «nenhum país pode enfrentar sozinho as dificuldades associadas a este fenómeno, que, sendo tão amplo, já afecta todos os continentes com o seu duplo movimento de imigração e emigração» (Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado – 2014).

À globalização do fenómeno migratório é preciso responder com a globalização da caridade e da cooperação, a fim de se humanizar as condições dos migrantes. Ao mesmo tempo, é preciso intensificar os esforços para criar as condições aptas a garantirem uma progressiva diminuição das razões que impelem populações inteiras a deixar a sua terra natal devido a guerras e carestias, sucedendo muitas vezes que uma é causa da outra.

À solidariedade para com os migrantes e os refugiados há que unir a coragem e a criatividade necessárias para desenvolver, a nível mundial, uma ordem económico-financeira mais justa e equitativa, juntamente com um maior empenho a favor da paz, condição indispensável de todo o verdadeiro progresso.

Queridos migrantes e refugiados! Vós ocupais um lugar especial no coração da Igreja e sois uma ajuda para alargar as dimensões do seu coração a fim de manifestar a sua maternidade para com a família humana inteira. Não percais a vossa confiança e a vossa esperança! Pensemos na Sagrada Família exilada no Egipto: como no coração materno da Virgem Maria e no coração solícito de São José se manteve a confiança de que Deus nunca nos abandona, também em vós não falte a mesma confiança no Senhor. Confio-vos à sua protecção e de coração concedo a todos a Bênção Apostólica.

(3 – 9 – 14)

Sociedade e migração: Não ao preconceito, por direitos e participação!

Mensagem da Pastoral do Migrante

Que relações há entre a imigração contemporânea no Brasil e as migrações de cerca de 240 milhões de pessoas em todo o mundo, inclusive as da costa do mar mediterrâneo em direção a Europa?

Podemos considerar ao menos três aspectos comuns à imigração no Brasil e no mundo: O primeiro é que muitos imigrantes são fugitivos da pobreza; da vergonhosa desigualdade social; de perseguições políticas, religiosas; preconceitos; de violências contra minorias étnicas; etc. O segundo aspecto tem a ver com as mudanças climáticas aceleradas pelo intenso ritmo de produção e consumo que está levando o planeta ao colapso ecológico e ameaça a vida na Terra; do não acesso à água potável; de catástrofes naturais, como tsunamis, terremotos. E o terceiro aspecto relaciona as migrações às crises econômicas; guerras; grandes obras, grandes eventos; à impunidade de crimes como tráfico de pessoas e trabalho escravo que, de acordo com a ONU (2013), logo atrás do tráfico de drogas e de armas, são o terceiro crime mais praticado no mundo e movimentam cerca de 32 bilhões de dólares por ano, o que os coloca entre as atividades criminosas mais lucrativas da economia globalizada; à escassez de políticas migratórias que viabilizem a promoção do migrante como pessoa de direitos, de saberes que contribuem para o bem estar das comunidades que o acolhem. A maioria dos 240 milhões de migrantes no mundo atual vivencia problemas sociais semelhantes aos vividos por muitos imigrantes que tentam melhorar ou recomeçar suas vidas em terras brasileiras.

Há motivos reais para alardes sobre uma “invasão de estrangeiros” no Brasil? Segundo o Eurostat Statistic (2015), em 2012 havia 33,3 milhões de imigrantes na Europa, ou 6,6% da população do continente. A Alemanha e a França tinham, respectivamente, cerca de 12% e 11% de imigrantes. Em 2013, os EUA tinham 46 milhões de imigrantes, 15% de sua população. Já os brasileiros que vivem e trabalham em outros países chegam a 2,8 milhões de pessoas. Ora, os imigrantes que vivem e trabalham no Brasil são cerca de 1,8 milhão de pessoas, ou, 1% de nossa população. É falso falar em “invasão de estrangeiros” no Brasil. Isto só estimula o preconceito e a xenofobia. Na verdade, a sociedade brasileira formada por imigrantes pode ou deve buscar compreender a realidade da imigração; discutir e pressionar os governos para implementar políticas migratórias humanitárias, como o direito universal a acolhida.

Para além da xenofobia, preconceito étnico e racial: No final do Séc. XIX e início do Séc. XX, a imigração no Brasil era branca, de origem europeia, voltada para o colonato e o trabalho assalariado. Hoje, como antes, a imigração permanece voltada para o trabalho; a condição social e econômica dos imigrantes de antes e dos de hoje se caracteriza pela vulnerabilidade. Hoje, como antes, eles fogem da pobreza e trazem a esperança de conquistar respeito, dignidade, e, também trazem a capacidade de contribuir, a partir do seu trabalho, da sua cultura, para alcançar melhor padrão de vida para todas as pessoas. O que mudou então para que a xenofobia e o preconceito sejam tão acintosos como vemos nas redes sociais e nas ruas? Mudou a cor da pele e procedência dos imigrantes. Antes eram brancos europeus. Hoje são negros africanos e caribenhos destinados a postos de trabalho de baixa remuneração, como babás, frentistas, caixas de supermercados, açougueiros, ajudantes gerais, faxineiros, etc.

Há que se considerar também a migração interna no Brasil. Apesar de não constar na agenda política, ela é intensa e suas causas não são diferentes daquelas que motivam a imigração internacional. Em geral, os migrantes internos fogem de violências; da pobreza; conflitos agrários; de enchentes devastadoras; da falta de água potável; etc. Se antes as migrações internas eram percebidas através dos fluxos de nordestinos para a Região Sudeste, de sulistas para as respectivas Regiões Norte e Centro Oeste, hoje o mapa das migrações internas mostra fluxos migratórios mais complexos e voláteis entre todas as regiões brasileiras. De acordo com o IBGE (2010), a expansão do agronegócio e das grandes obras contribuiu para diversificar as rotas migratórias e os rostos dos migrantes. Em sua maioria eles são Indígenas, quilombolas, camponeses, ribeirinhos, operários, jovens (moças e rapazes) que buscam trabalho, estudo, tratamento de saúde e trazem esperanças, saberes vitais às nossas necessidades básicas, como alimentação, diversão, estudos, serviços, etc.

Políticas públicas e imigração: a imigração não é um fato isolado, nem exclusivo de um país. Então, como tratá-la de forma articulada e com foco na garantia de direitos? Não há fórmulas prontas e o caminho é sinuoso. Porém, não há dúvida da urgência de políticas de gestão humanitária da imigração, articuladas entre regiões de origem, trânsito e destino dos migrantes. E nesse aspecto o Brasil precisa dar passos concretos e ágeis. Essas políticas devem viabilizar processos justos e acessíveis de documentação, acesso ao trabalho decente, à moradia, à saúde, ao aprendizado da língua, a programas culturais e pedagógicos, como formas de inculturação, prevenção e enfrentamento ao preconceito e à xenofobia.

Ao abordar o tema sociedade e migração, a Pastoral dos Migrantes convida todas as pessoas e instituições a considerar os migrantes como dons e oportunidades de novos caminhos para a humanidade. Eles nos convidam a abrir a mente, as economias, as políticas; a vencer o medo; a enriquecer nossas culturas; estimulam-nos a derrubar fronteiras e revelam-nos que somos filhos e filhas da mesma pachamama (Mãe Terra). Trata-se de respeitar suas visões de mundo, saberes e experiências fundamentais para a construção de outros mundos possíveis. E possíveis porque já existentes nas práticas cotidianas de pessoas e comunidades. Possamos assim recriar uma nova sociedade, na qual a pátria de todos seja o mundo e o idioma seja o amor, que é sempre capaz de fazer novas todas as coisas.

Fonte: Serviço Pastoral dos Migrantes
https://spmigrantes.wordpress.com/2015/06/19/mensagem-da-pastoral-do-migrante-dia-do-migrante/

Mais de 300 mil migrantes e refugiados chegaram à Europa em 2015, alerta ACNUR

Apesar dos esforços coordenados de resgate, muitos continuam a morrer ao tentar atravessar o Mar Mediterrâneo. ONU pede mais coordenação da Europa para receber essa população.

O número de refugiados e migrantes que atravessaram o Mediterrâneo para chegar à Europa ultrapassou 300 mil pessoas este ano, anunciou a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) nesta sexta-feira (28). A cifra é superior à quantidade total que chegou ao continente no ano passado, estimada em 219 mil.

“Estima-se que 2.500 refugiados e migrantes morreram ou desapareceram este ano ao tentar a travessia para a Europa – comparados aos 3.500 que morreram ou desapareceram no Mediterrâneo em 2014”, disse a porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), Melissa Fleming.

Apesar dos esforços da operação conjunta europeia de busca e resgate que já salvou milhares de vidas (denominada ‘Frontex’), o Mar Mediterrâneo continua a ser a rota mais perigosa para refugiados e migrantes. Fleming alertou que, apenas nos últimos dias, três incidentes separados provocaram várias mortes.

Em um deles, perto da costa da Líbia, estima-se que 200 pessoas desapareceram. Em outro, 51 pessoas morreram sufocadas no porão de uma embarcação. Segundo relatos, os traficantes cobravam para permitir que os passageiros saíssem para respirar.

Apesar de os números serem esmagadores para a capacidade já estendida de alguns países receptores, como Grécia, Macedônia, Hungria, Sérvia ou Alemanha, a quantidade é administrável através da resposta colaborativa e coordenada em nível europeu, explicou o ACNUR. Por isso, todos os países europeus e a União Europeia devem atuar juntos para responder a crescente emergência e demonstrar responsabilidade e solidariedade.

Fonte: Nações Unidas-Brasil
http://nacoesunidas.org/mais-de-300-mil-migrantes-e-refugiados-chegaram-a-europa-em-2015-alerta-acnur/