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Tardes literárias

Muitas vezes, de tarde, ia para a sala com um livro na mão, e deitava no sofá laranja, contra a parede com o mural do campo florido. Ia com o livro na mão e ecostava-se no sofá laranja, abrindo na página que tinha acabado na tarde anterior. Então, via a página amarelada que seguia na seqüência, e lia. Lia o romance na página subseqüente à que deixara na tarde do dia que passara.

Deixava-se levar pelo enredo, as falas das personagens, a história que ia-lhe na mente. Nela, ou a partir dela, encontrava outras histórias desse mesmo ou de outros autores ou autoras. Então, ia para Cronin a partir de Helena, de Machado de Assis. Ou de Helena, para A mão e a luva, também de Machado de Assis.

E de uma para outra, e destas para outras, desdobrava-se na mente do nosso amigo leitor, o mundo da literatura que os autores e autoras criam para nosso beneficio e deleite. Assim, passava horas deliciosas, horas em que o tempo parecia ter-se detido, horas em que nenhum problema o afligia, horas em que se deixava levar, simplesmente, pelas páginas dos livros pelo mundo da literatura e das histórias.

Leituras

Ao ler o livro que lia, ia para outros livros que lera. Voltava para as paragens de uns e do outro. Misturavam-se as personagens. A leitura era uma viagem em múltiplas direções.

Dois amigos (Diálogo)

–Me gusta leer, ¿y a vos?

–A mí también. Y vos, ¿qué leés?

–De todo, ciencia, religión, filosofía, esoterismo, sociedad, marxismo, fenomenología, literatura, de todo un poco. Tenía un amigo que decía que uno se vuelve loco de tanto leer. El negro, el hermano de Amanda.

–Y Amanda, ¿Cómo anda?

–No sé si anda o la llevan, tuvo un accidente, me parece. No sé, me parece, ¿te das cuenta?

–¿Por qué usás siempre muletillas, decís: “te fijas, no sé si me explico, es muy lindo, apois, pois é, é isso”?

–Me gusta, ¿por qué, algún problema?

–Es que leí en un libro que eso refleja inseguridad, no sé si me entendés.

–Te entiendo muy bien, no necesitás muletillas, aunque no tengo problema de que uses muletillas, ¿te das cuenta?

–É isto. É verdade, não é verdade? Não é mesmo? Não sei se sou claro. Está certo?

–É isso aí. (Fim da conversa, se foi, realmente, uma conversa, não sei se me explico)

Livros e televisão

A televisão ajuda a manter o hábito da leitura. Se houvesse mais programas interessantes, a boa leitura tenderia a ocupar um lugar menor nas nossas vidas, me parece.

Hoje, por exemplo, vi um programa chamado Diálogos Impertinentes, na TV SESC, onde literatos e filósofos discutiam a literatura como jogo. Muito bom. Programas assim valem a pena.

O escritor, dizia um dos painelistas, segundo Kant –ele citava—faz parte de um jogo, o jogo da vida, que envolve cognição e imaginação. Lembrava o poema Xadrez, de Borges: somos jogadores, quem é o jogador que joga conosco, as peças, são movidas por quem?

O pica-pau, Silvio Santos, a novela das 8, das 6, das 3, se é eu existe esta novela das 3, devem ser jogos, também. Um jogo é esta vida, jogo. Jogas. A criança joga e todos jogamos. Muitas vezes ando com um livro de Cronin de cá pra lá, no carro ou em casa, de um lugar para outro.

Lembro das viagens em motocicleta do protagonista de mais de uma das histórias do escritor que escrevera mais de 40 romances depois de encerrada sua carreira como médico. A figueira de Judas, o nome do romance que estou lendo, de Cronin. Umas descrições mestras.

Moray, o estudante de medicina, divisa Mary Douglas, o amor da sua vida, pelo reflexo dela no espelho. Borges, espelhos, jogo. De noite, gosto de ler o salmo 119, me ajuda a me alinhar com Deus. Ao menos, trato.

Tem-me feito bem conviver com o grupo de formação ecumênica na Universidade. Alimentamo-nos uns aos outros. Agora, vens chegando em João Pessoa, Mary. E o neném. E o dia que termina. 31 de julho de 2009