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Karl Marx. O Capital. Crítica da Economia Política

MARX, K. Le Capital. Critique de l´Économie Politique.  Éditions du Progrès, Moscou, 1976. Livre III, chap. 19, pp. 330-338. Resumo do capítulo XIX, O Capítulo XIX: Capital financeiro (Alder Júlio Ferreira Calado)

* O capital financeiro constitui um aspecto do processo de produção capitalista. Está mais diretamente conectado às operações técnicas do dinheiro. Também, tem a ver com o processo de circulação do capital industrial e do capital comercial.

* Ainda que conectado com o capital industrial e com o capital comercial, o capital financeiro, dada a dinâmica impressa pelo movimento do dinheiro, empreende uma dinâmica própria, relativamente autônoma.

* O capital financeiro expressa uma fração do capital industrial e uma fração do capital comercial, que vai assumir uma dinâmica própria enquanto capital-dinheiro, tornando-se assim uma forma de capital relativamente autônoma do capital total.

* Tal como sucede ao processo de acumulação, o capital investido passa a ser o ponto de partida e o ponto de chegada, na dinâmica capitalista, significando uma etapa transitória no processo de construção capitalista.

* Tal movimento é que gera a metamorfose representada na fórmula M – A – M.

* A depender da troca de mercadorias, o dinheiro pode atuar seja sob a forma de meio de circulação, seja como meio de pagamento, permitindo ao capitalista tanto aplicar uma grande soma de dinheiro como receber uma enorme soma de dinheiro.

* Essas operações fazem parte da dinâmica própria das técnicas operacionais do dinheiro ou dos encargos e taxas, não criando, porém, valor. Tais operações são protagonizadas por um segmento particular dos capitalistas (os que lidam com o universo financista).

* “Uma determinada fração de capital deve sempre existir sob a forma de tesouro, de capital-dinheiro, em potencial: reserva de meio de compra e de pagamento.” (p. 331)

* Em função da divisão social do trabalho, essas operações técnicas relativamente autônomas do capital, asseguram em geral a manutenção dos interesses de todos os segmentos capitalistas.

 * Graças à sua dinâmica crescente, o capital financeiro vai permitir uma crescente complexificação das operações técnicas, ocasionando um amplo universo de espaços operacionais no sistema financeiro, do que se beneficiam, direta ou indiretamente, todos os segmentos do capital total.

* Também, em função de tal potente dinâmica, o sistema financeiro vai ganhando escala globalizante, de tal modo a expressar-se também na importância da circulação do dinheiro sob a forma de moedas nacionais e locais, para o que o sistema cambiário exige a adoção de um valor-padrão que é o ouro, como parâmetro internacional de câmbio.

 * São bastante amplas e sutis as vinculações do capital financeiro com as demais formas de capital (industrial e comercial), não obstante seu relativo grau de autonomia. Isto se dá graças à incessante expansão dos negócios do capital por todo o mundo, a implicar múltiplas operações financeiras (de câmbio, de moedas, de moeda-lastro), sem contar as inúmeras operações relacionadas ao comércio de metais que escapam, por vezes, do circuito financeiro propriamente dito.

*  Em algumas passagens do capítulo, sente-se bem o cuidado do autor em sublinhar a crescente e complexa evolução do capital financeiro, cujas operações puramente técnicas vão ganhando autonomia, sem que isto signifique a manutenção de laços orgânicos com o espírito do capital total.

 * Importa, sobretudo, ao  final do capítulo, tentar para os laços orgânicos e eficazes que unem todas as formas sob as quais atua o capital total – seja sob a forma de capital industrial, seja para a forma de capital comercial, seja sob a forma de capital financeiro: de todos os modos os capitalistas são os ganhadores à custa da exploração da Classe Trabalhadora e do esbulho da natureza.

João Pessoa, 9 de novembro de 2015

*Texto/Resumo elaborado em função dos estudos de O Capital, como tarefa coletiva da Oficina do saber, coordenada pelo Professor Ivandro da Costa Sales, com reuniões mensais realizadas no município do Conde – PB

En amor

Rojo y amarillo

Paz y serenidad

Fuerza y placer

Centramiento y foco

Seguridad

Pensando en estas cosas, veo que el placer, la fuerza, la serenidad, la seguridad y la paz, vienen de una única fuente.

El intelectual o la intelectual disocian constantemente todo. Separan y oponen. Disecan y excluyen. Yo, al contrario, junto y reúno, coso y tejo, integro, constantemente.

Por eso es que cada vez más estoy bien. La unidad alcanzada me contiene y me guarda. Ella es preexistente. Es hacia allí que va todo. El sentido de la vida es amor.

La vida no tolera la disociación. Es unidad. Una. Cuando prestamos atención, podemos saber sin duda (o con poco margen de duda) si estamos por entero en una acción.

La historia, la música, la literatura, la vida cotidiana, la poesía, son otros tantos medios para recomponer la unidad del todo.

El todo no suprime sino integra las partes. La ignorancia ampliamente extendida en nuestros días, se apoya en la negación de la filosofia, que a su vez nos muestra la génesis de las cosas.

Al tomarse como dado algo que no lo es, se invierte la realidad y se pervierte el sentido del vivir. No hay necesidad de que personas sufran, pasen hambre, se enfermen y mueran.

Esto es perfectamente evitable. Desde por lo menos los años 1960, las Naciones Unidas han mostrado que hay alimentos para todas las personas.

Al esconder y negar el conocimiento, se destruye la humanidad de la gente. Se la condena a vivir y morir sin sentido. ¡Esto no puede ser!

La idiotización, la bestialización, la pura y simple degradación que se quiere naturalizar, no tiene nada de natural. Es decisión de los poderes de este mundo. Esto debe cambiar.

El desarrollo pleno de la persona en toda la multiplicidad y diversidad de sus dimensiones, debe ser garantizado por una educación libertadora, cuyos fundamentos y práctica se encuentran, entre otras fuentes, en la pedagogia de Paulo Freire.

La obra de Karl Marx ha puesto en evidencia los efectos nocivos de una sociedad basada en la acumulación de riquezas y en la propiedad privada, que destituyen a la persona de su dignidad, tornándola apenas medio. Algo que se usa y se desprecia.

Es imprescindible un cambio de dirección. El Papa Francisco viene insistiendo en esta necesidad. ¡No tenemos tiempo que perder!

La sociología de Max Weber y Emile Durkheim señalan con claridad el carácter imprescindible del sentido y la solidaridad como bases de la sociedad.

Es imperioso que la educación, la familia y la sociedad como un todo, se vuelquen en esa dirección.

Brasil viene dando pasos firmes en ese sentido. Dejar la política de muerte y engaños practicada durante estos últimos diez años.

Reorientar la vida hacia el amor. Su fuente, origen y sentido.

Ilustración: “El tejido del universo.”

A Pedagogia de Paulo Freire e suas interfaces com a Terapia e a Literatura

Breves notas a partir da exposição, seguida de diálogo com seus interlocutores, feita pelo Prof. Marcelo Bezerra de Oliveira.

Nestes últimos dias de convalescença, após dez dias de experiência hospitalar, tive a oportunidade de “ler” (ouvir) duas preciosas elaborações investigativas com que nos brindaram o professor Ivonaldo Leite, em seu precioso texto sobre a densa contribuição dos anarquistas, no período compreendido entre o último quartel do século XIX e as primeiras décadas do século XX, e de uma exposição valiosa, feita pelo professor Marcelo Bezerra de Oliveira, sobre o tema-objeto do presente texto. Oportunamente voltarei a tecer comentários sobre o texto do professor Ivonaldo Leite.

Neste 4 de maio próximo passado, tive a oportunidade de acompanhar virtualmente a exposição do Prof. Marcelo Bezerra de Oliveira, filósofo também dedicado à teoria do conhecimento de Paulo Freire, atendendo ele a mais um convite do Grupo de filósofos e filósofas Clínicos, do qual ele próprio faz parte, com o objetivo de expor as principais interfaces da Pedagogia radical freireana com a própria Filosofia Clínica, com a Terapia e com a Literatura.

Pressupondo nos seus interlocutores conhecimento prévio sobre dados biobibliográficos sobre Paulo Freire, professor Marcelo já apresenta Paulo Freire em seu trabalho no SESI em Pernambuco (Recife e adjacências), na segunda metade dos anos 50, mais precisamente ao final da década, coincidindo com a gestão de Miguel Arraes, à frente do Governo. Situa-o já como um pedagogo perspicaz, voltado para o acompanhamento e animação dos Círculos de Cultura junto às populações periféricas da área metropolitana de Recife. Já então, transparece seu trabalho brilhante, no âmbito da educação, voltado para o processo de Alfabetização daquelas populações, com características peculiares:

-Inspira-se na Pedagogia radical centrada tanto no inacabamento, quanto nas potencialidades dos Humanos. Uma pedagogia que se alimenta na vocação ontológica dos humanos a “ser mais”;

– É marcada pel concepção, e sobretudo pelo exercício da horizontalidade do trabalho pedagógico, em que educandos se sentem também educadores, e educadores comportando-se também como educandos;

– Trata-se de um trabalho movido pela Dialogicidade, ou seja, a convicção de que todos os que participam desse espaço educativo tenham direito a pronunciarem sua palavra;

– É uma experiência marcada, a cada passo e a cada momento, por um despertar e por um estímulo contínuos, no sentido de que os participantes exercitam a consciência de si e do mundo, não apenas como seres inconclusos, mas também como seres de marcantes potencialidades;

– Nesta experiência, o papel do Educador/Educadora não é o de “facilitar” o processo de aprendizagem, mas o de problematizá-lo perante os Educandos/Educandas;

– Trata-se de uma Pedagogia que antes de se preocupar com a “leitura da palavra”, exercita a “leitura de mundo”.

O Grupo de Filósofos e Filósofas Clínicos, também integrado pelo professor Marcelo, ocupa-se fundamentalmente de exercitar o pensar filosófico aplicado a situações clínicas, em que o Filósofo Clínico dialoga horizontalmente com o partilhante, tendo como objetivo um enfrentamento exitoso de situações existenciais disfuncionais por parte do partilhante. Dá-se aí uma experiência terapêutica, na força libertadora do conhecimento: – como preconizava o grande poeta cubano José Martí, “O conhecimento liberta”.

Meus primeiros contatos com a Filosofia Clínica em situação terapêutica me remeteram a outra bela experiência coletiva: Terapia Comunitária Integrativa (TCI), criada e liderada pelo Psiquiatra e Antropólogo Adalberto Barreto (também cursou Filosofia e Teologia) com sua rede de formadores e formadoras (da qual também fazem parte o Sociólogo Rolando Lazarte, a Enfermeira Maria Oliveira Filha, e a Pedagoga Ana Vigarani, entre tantas outras pessoas). Trabalhando inspirados na Pedagogia de Paulo Freire. A TCI organiza-se ao modo de um movimento tendo no “ethos” comunitário sua força de inspiração, atuando no Brasil e na América Latina, e em alguns países europeus. A quem interessar possa, sugiro o site https://www.adalbertobarretocursos.com/ .

Neste sentido, vale a pena um olhar crítico, para a trágica conjuntura brasileira atual, em que um segmento minoritário de nossa sociedade teima em manter-se refém no obscurantismo, no negacionismo, fazendo vistas grossas a evidências históricas, fazendo-nos retroceder a tempos tenebrosos.

No que diz respeito à Literatura, o professor Marcelo, de há muito, lidando com este campo, explicita com propriedade a força terapêutica do saber literário, um campo marcado pela riqueza da transversalidade com uma infinita gama de campos de saber – populares, artísticos, filosóficos, científicos…

Tanto em sua exposição inicial, como no momento de diálogo com os demais participantes, o professor Marcelo, também se ocupou de explicitar algumas fontes do pensamento freireano, tendo sempre o cuidado de não identificar o pensamento de Freire com qualquer uma das fontes em que bebeu, a medida que, ao longo de sua produção, sempre fez questão de, sem jamais negar nenhuma delas, exercitar sua autonomia frente às mesmas. Dentre as diversas fontes em que se inspirou Paulo Freire, o professor Marcelo destacou a alteridade recolhida do pensamento de Martim Buber “Eu e Tu”, enquanto um dos participantes da sessão acrescentou o nome de Emmanuel Lévinas, o Existencialismo, inclusive o de Gabriel Marcel (destacando seu aporte quanto à “A consciência fanatizada”) e seu diálogo com o marxismo, especialmente com Marx. De minha parte – sobre o tema já tive a oportunidade de escrever alguns artigos, inclusive https://revistaconsciencia.com/rastreando-fontes-da-utopia-freireana-marcas-cristas-e-marxianas-do-legado-de-paulo-freire-por-alder-julio-ferreira-calado/ – entendo terem sido o marxismo – Marx, Gramsci, … -, e a Teologia da Libertação as fontes principais de sua Pedagogia.

Graças ao professor Marcelo Bezerra de Oliveira, inclusive enriquecido pelos instigantes questionamentos compartilhados pelos seus interlocutores (Filósofos/Filósofas Clínicos) bem como por dois textos que ele previamente disponibilizou aos participantes, nos oportunizou uma reflexão crítica de grande atualidade, inspirada nas teses gnosiológicas de Paulo Freire, em suas interconexões com a Filosofia Clínica, a Terapia e a Literatura.

 

João Pessoa, 10 de maio de 2022.

Ao filósofo da práxis rendo loa, combatente maior do Capital

Ao filósofo da práxis rendo loa

combatente maior do Capital

 

Em seis décadas e meia, fez legado

Que o ultrapassa, de longe, em gerações

A Verdade ele ama, sem senões

Sua vida dedica, obcecado

Desnudando o fetiche do Mercado

Suas Teses persistem magistrais

E seu Método, fecundo cada vez mais

Gên’ro Humano, com rumo libertário

Que se livre do Monstro, do calvário

Intuir novo mundo, justiça e paz

 

João Pessoa, 5 de maio de 2022

A Educação Popular na Universidade: Conquistas e Desafios

A produção de saberes constitui uma marca fundamental do processo de humanização, desde tempos imemoriais. Da Ásia (China, Índia, Oriente Médio…), África, civilizações tais como a dos Astecas, dos Maias, dos Incas e, tempos depois, Europa, sucederam-se ou coexistiram múltiplos e diferenciados centros de produção de saberes: populares, filosóficos, artísticos, no campo do sagrado, científico – tecnológicos…

Parece consenso o reconhecimento de que, desde o século XI – e principalmente depois do século XVI – os centros de produção científica, em especial as Universidade, vêm ocupando lugar privilegiado ou exclusivo. A par das Universidades, estes centros se têm dedicado à produção de saberes técnico-científicos, voltados à preparação de quadros profissionais representativos dos interesses dos setores dominantes, secundarizando ou mesmo excluindo de seus espaços estudantes das camadas populares.

Os Estados Modernos aprimoraram esta função desenvolvendo especialmente a produção de saberes científicos, mas sempre na perspectiva de formação dos seus quadros da burguesia dos quais restaram excluídos, os setores populares, mantendo excepcionalmente parcelas insignificantes. Esta é uma marca precípua do Estado, organismo essencial destinado a viabilizar a dominação de uma classe social sobre as demais.

Nessas condições, sócio-históricas, que vêm prevalecendo na organização da vida acadêmica, não há como e por que estranhar-se objetivos e planos aí vigentes. Neste sentido, seguem cumprindo seu papel. Desde a Idade Média, as Universidades se têm prestado aos setores dominantes e dirigentes, o que as torna um espaço proibitivo ou fortemente restritivo ao acesso das camadas populares e em especial das mulheres. As universidades, sendo como eram – e como ainda são, em grande medida! – espaços destinados a prepararem os quadros dirigentes da classe dominante, revelam-se hostis ao protagonismo das classes populares e outros grupos sociais,tais como os quilombolas, os povos originários, as comunidades LGBTQI+.

Nos tempos Modernos, tal como sucedia desde a Antiguidade, o Estado segue sendo um instrumento fundamental, ao lado do Mercado, para viabilização do domínio de uma classe sobre as demais (dos antigos senhores sobre os escravos; dos senhores feudais sobre os servos; da burguesia sobre os trabalhadores e trabalhadoras…). Isto continua, ainda que de forma nuançada, no presente.

Nisto não há surpresa: ontem como hoje o Estado – ao lado do Mercado – segue cumprindo seu papel, inclusive na organização da Cultura e da Educação refém, que é das políticas governamentais (infraestrutura, saúde, transporte, legislação trabalhista, mídia, religião, segurança pública, organização fundiária, produção agrária, papel dos bancos, agronegócio, produção de commodities…). Da Educação Infantil à Pós-Graduação, sejam governamentais ou particulares, as Universidades são organizadas pelo Estado…

 

Conquistas/desafios; no caso do Brasil

 

Todavia há de se reconhecer que este modo de organização não se dá de modo linear, mas com idas e voltas, resultante de lutas e concessões que favoreceram aos interesses das camadas populares. Foi isto, por exemplo, o que se deu, mais recentemente, durante os governos Lula (1º e 2º) e Dilma, durante os quais diversas conquistas, inclusive no campo educacional, se registraram.

No que diz respeito, especificamente, à Educação Popular, numa perspectiva marx-freire-dusseliana, resulta imperioso manter-se vigilante quanto aos limites da Educação Popular na Universidade, sem que se menosprezem suas potencialidades, a depender das circunstâncias histórico-culturais prevalecentes.

Neste sentido, sem negar ou subestimar o papel transformador da Educação Popular na Universidade, em tal contexto, importa ter sempre presentes suas potencialidades e seus limites. Comecemos pelos seus limites. Partindo do entendimento de que a Educação Popular corresponde ao processo de humanização, por conseguinte, do desenvolvimento do ser humano como um todo e de todos os seres humanos, esta Educação Popular supõe a construção processual de condições que permitam o exercício de um conjunto de dimensões – dimensão cósmica, dimensão de espacialidade, das relações sociais do Trabalho, de gênero, de etnia, geracionais, de dimensão econômica, da dimensão política, da dimensao cultural, ética, estética, erótico-afetiva, entre outras. Apostar, com todas as fichas, em que isto seja exequível a contento no atual modo de produção, de consumo e de gestão societal, não parece razoável.

Ao mesmo tempo, até para ousarmos superar o atual sistema, importa começarmos desde já, por meio da Educação Popular, posta em prática, nos limites das atuais possibilidades, ainda que de modo molecular.

A despeito de uma conjuntura sócio-histórica consideravelmente adversa, do ponto de vista das classes populares, no Brasil e em outros países, algumas conquistas merecem destaque. Limitamo-nos aqui a realçar avanços, no campo universitário, da Educação Popular e da Extensão Popular. Mesmo sabendo tratar-se de um espaço em disputa, de consideráveis desvantagens para as classes populares, diversas Universidades Públicas, localizadas nas 5 regiões brasileiras, dentre as quais, nos permitimos, destacar a Universidade Federal da Paraíba que  tem logrado avanços significativos no campo da Educação Popular e da Extensão Popular.

Há algumas décadas, vêm atuando instâncias significativas nessa área, dentre as quais o NUPPO, Núcleo de Pesquisa e documentação da cultura popularhttps (//ufpb.br/nuppo), o SEAMPO, Serviço de Educação e Assessoria a Movimentos Populares (http://www.prac.ufpb.br/extelar/), a (TCI ) Terapia Comunitária Integrativa (http://www.cchsa.ufpb.br/cchsa/editores/noticias/rodas-de-terapia-comunitaria-integrativa-tci-online-do-ambito-da-ufpb), o NEDET, Núcleo de Extensão em Desenvolvimento Territorial e Agroecologia (https://issuu.com/nedetufpb/docs/_revista_01_ago_21_revis_o_fillipe/8), e aqui ressaltando, a atuação do Extelar – Grupo de Pesquisa em Extensão Popular.

O EXTELAR, trabalhando em rede com outros grupos de pesquisa, especialmente na área de Educação Popular em Saúde e em Economia Solidária Popular, vem apresentando avanços significativos no campo da pesquisa em Educação Popular e em Extensão Popular. Vasta tem sido a gama de atividades desenvolvidas por este grupo de pesquisa associado a outros com semelhantes objetivos. Diversas publicações protagonizadas por pesquisadores e pesquisadoras do Extelar dão uma amostra da qualidade destes trabalhos.

A despeito desta e de outras conquistas similares, nunca é demais lembrar os sérios limites de se trabalhar Educação Popular e Extensão Popular no âmbito acadêmico, controlado que é pelo Estado. Mesmo assim, sempre é possível contar com um certo percentual de docentes, pesquisadores e extensionistas, junto com estudantes e membros do corpo técnico-administrativo, empenhados em levar adiante vários projetos de Educação Popular e de Extensão Popular.

Quanto aos desafios que a conjuntura nos apresenta, destacamos alguns deles. Um primeiro tem a ver com o enfrentamento de uma conjuntura pandêmica, agravada por todo um pandemônio sociopolítico, no Brasil e no mundo. Pandemônio que já dura alguns anos, protagonizado por fortes correntes ultradireitistas, com nítidas marcas neofascistas. Não bastasse o desafio de se trabalhar a educação popular e a extensão popular no campo acadêmico, cumpre acrescentar o peso especial da atual conjuntura sócio-histórica.

Em tempos menos desfavoráveis para os interesses das classes populares, a Educação Popular e a Extensão Popular já contariam com adversidades significativas. Uma das razões para lhe dar-se com Educação Popular nas Universidades – especialmente as Universidades mantidas pelo Estado, por lidarem com mais nitidez, com o entrelaçamento desejável entre docência, pesquisa e extensão. Sendo, como são, as Universidades, governamentais ou particulares controladas pelo Estado, parceiro orgânico do Mercado, dificilmente se pode apostar todas as fichas no trabalho da Educação Popular e da Extensão Popular, visando certa hegemonia. Com efeito, quando trabalhamos com Educação Popular, numa perspectiva marx-freire-dulceliana, parece uma tarefa complexa por em prática marcas relevantes de uma Educação Popular, que tome como prioridade balizas tais como: uma dimensão cósmica, uma dimensão ecológica, uma dimensão espacial, uma dimensão econômica, uma dimensão política, uma dimensão cultural, um trabalho a partir das relações com o sagrado, com a ética, com a estética, com a dimensão erótico-afetiva, com a dimensão das relações sociais de gênero, de étnia, de gerações, a dimensão do trabalho, entre outras. Neste sentido, importa igualmente reconhecer nos movimentos sociais populares aquele sujeito histórico mais apropriado para dar conta destes desafios. Referimo-nos, especialmente, aos movimentos sociais-populares e, particularmente, aqueles que trabalham com uma perspectiva de construção societal alternativa ao modo de produção, de consumo e de gestão societal dominante.

A despeito deste desafio, importa lembrar que estas dimensões já vêm sendo trabalhadas no chão do cotidiano das classes populares e dos movimentos sociais populares, ainda que de modo molecular. Com efeito, podemos observar, nas correntezas subterrâneas, diversas experiências de alternatividade que se acham em curso. Como exemplos ilustrativos, podemos citar as associações que compõem a ASA (Articulação do Semi-Árido), a qual se acham vinculadas dezenas de entidades comunitárias e de movimentos populares. Na esteira deste evento, podemos destacar como experiências inovadoras o empenho de vários desses grupos e comunidades em criar alternativas de convivência do Semi-Árido. Diversas são as tecnologias alternativas que vêm sendo utilizadas, nesta direção. É, também, o caso de muitas experiências de caráter agroecológico, bem como de catadores e catadoras de resíduos sólidos, coletivos feministas, de experiências inovadoras protagonizadas por movimentos populares ligados aos povos originários, das florestas, das águas, bem como por diversas comunidades quilombolas.

 

Exemplos ilustrativos de tais conquistas/desafios

Educação Popular na Universidade é, sim, possível e necessária. São múltiplos os exemplos que podem ser enumerados, no Nordeste, ao longo do país, da América Latina e do mundo. Por outro lado, é prudente não superestimar o lugar da Educação Popular e da Extensão Popular no campo das relações universitárias. Se isto é um horizonte auspicioso testemunhado por docentes, discentes e técnicos administrativos, por outro lado, convém não esquecer que estes correspondem a um percentual simbólico, ainda longe de caracterizar as ações hegemônicas vivenciadas no campo acadêmico.

Outro aspecto importante a enfrentar, tem a ver com o misto de conquistas e desafios, apresentado por algumas experiências exitosas, no plano da educação popular e da extensão popular, vivenciadas pela Inar Universidade. Aqui nos limitaremos a alguns desses desafios com um misto de conquistas. Ainda nos anos 90, experiências de educação popular e de extensão popular eram vivenciadas no campo acadêmico, em relação com as escolas públicas, com alguns movimentos populares e pastorais sociais e até com alguma referência sindical, a exemplo do conhecido e apreciado projeto Zé Peão, em uma fecunda parceria com os trabalhadores da construção civil, junto aos quais dessas experiências eram compartilhada, principalmente com os trabalhadores da construção civil em processo de letramento ou de alfabetização. Nos prédios em construção, reuniam-se regularmente dezenas de trabalhadores, à noite, acompanhados e orientados por professores e professoras da UFPB, membros do projeto Zé Peão. Experiência que tem atravessado décadas. Ainda neste campo, entre educação popular e extensão popular, também nos anos 90 e anos seguintes, alguns professores da UFPB, ainda quando os laços institucionais relativos às experiências de extensão popular eram bastante vagos, trabalhos de formação eram realizados, principalmente em Serra Redonda, com estudantes provenientes das pastorais de juventude e outras, com o objetivo de vivenciarem um processo formativo, do qual faziam parte estudos de realidade social, de psicologia, de dinâmica de grupo, além de outros temas relativos à formação cristão, dada a pertença de vários desses membros, ao campo das pastorais sociais. A Fundação Dom José Maria Pires, sediada no antigo Centro de Formação Missionária, em Serra Redonda, organizava essas experiências a partir de finais dos anos 90 e vários anos no correr dos anos 2000.

Mais recentemente, em confluência com movimentos sociais populares do campo e algumas pastorais sociais, trabalhos de extensão vêm sendo realizados. Por meio de ofertas de cursos de formação, de reflexões sobre uma diversidade temática, compreendendo análise de conjuntura, educação popular, em saúde, agroecologia, direitos humanos, educação em saúde popular, economia solidária popular, trabalhos em conjunto com povos originários da região (potiguaras e tabajaras), trabalhos de educação popular e de extensão popular com os camponeses e camponesas da região do Vale de Mamanguape constituem exemplos ilustrativos de experiências fecundas realizadas em parceria entre a UFPB e comunidades de  povos originários, comunidades quilombolas, camponeses da região, pastorais sociais, a exemplo da CPT, com suas enriquecedoras feiras agroecológicas , testemunham um trabalho fecundo e desafiante da UFPB com vários setores da sociedade civil paraibana.

Entendemos tratar-se de experiências que entendemos como conquistas, mas também como desafios. Como conquistas, pelo fato de representarem avanços consideráveis na parceria entre uma universidade pública – ufpb- e diversas organizações de base de nossa sociedade. Parceria feita com sujeitos históricos relevantes, a exemplo de vários movimentos populares, tais como o MST, o MPA, o movimento das comunidades populares, pastorais sociais do Campo, parceria com os povos originários da região, com as comunidades quilombolas, com os trabalhadores e trabalhadoras do campo, tendo a educação do campo como um horizonte de referência voltado para a educação popular e para a extensão popular.

Consideramos também, tais experiências como desafios, à medida que, não obstante seus ganhos de qualidade, ainda se desenvolvem em um ritmo, aquém do desejável, seja por conta dos limites institucionais – a universidade, como antes mencionado,  é um campo de disputa, não tão favorável à classes populares – , seja pelo fato de que, como uma instituição organizada e controlada pelo estado, as potencialidades tornam-se aquém do que se deseja. Além disso, cumpre destacar, nestes últimos anos, numa conjuntura, multiplamente adversa, sobretudo a partir do golpe híbrido nos governos populares, situação agravada, pelo pandemônio do desgoverno Bolsonaro, bem como pelas graves consequências da pandemia. Aqui focamos, com mais ênfase, os trabalhos protagonizados pela UFPB, por tratar-se de uma universidade que acompanhamos com mais frequência e da qual temos mais registros, mas, cumpre lembrar que, junto com a UFPB, várias outras universidades, em diversas regiões do país, a exemplo da universidade de Goiás, também propiciam experiências de educação popular e de extensão popular, de grande alcance.

Educação Popular na Universidade constitui um desafio a ser enfrentado, com lucidez, com coragem e com audácia, por um percentual ainda simbólico do conjunto de sujeitos da Universidade, mas, de todo modo, resta o convite a que, ano após ano, mais gente se incorpore a estas práticas de Educação Popular, no âmbito da Universidade. Para tanto, cumpre inovar dia após dia, as formas de trabalho, de tal modo que, seja no planejamento, seja na vivência dos componentes curriculares, seja nas atividades de pesquisa e de extensão, seja ainda na capacidade de interagir com os movimentos sociais populares e outras organizações de base de nossa sociedade, vamos conseguindo imprimir ritmos promissores, nesta perspectiva, de tal sorte que, o que representava o “Trivium” Medieval (a lógica, trabalhada como instrumento do bem-pensar; a gramática, instrumento trabalhado como a arte do bem-escrever; e a retórica, instrumento para se trabalhar melhor o falar, o comunicar) e o “Quadrivium” (a aritmética, a geometria, a astronomia e a música), base-curricular dos inícios da Universidade, se convertam, no campo da Educação Popular, em novos componentes curriculares, em que ênfase seja dada não tanto ao “bem-pensar” (a lógica), não tanto ao bem-escrever (gramática), não tanto ao discurso-rebuscado (a retórica), mas a enfatizar-se a Práxis, a Ortopraxia, a ousadia de transformar o mundo, quanto ao modo de produção, ao modo de consumo e ao modo de gestão societal, alternativos a toda sociedade de classes, e em harmonia com o planeta, de modo a tomar estas balizas como fundamento teórico-prático da atuação da Educação Popular e da Extensão Popular.

Importa, não menos, ter presente que estes esforços devem ser compartilhados para além de cada país, para além da América Latina, sempre em conexão com outros tantos movimentos e iniciativas similares que se dão no mundo inteiro.

 

João Pessoa, 13 de novembro de 2021

PS: Este texto corresponde à transcrição (por conta das condições de vista do autor) de sua exposição a título de síntese, do tema que lhe foi proposto, por ocasião do VIII Seminário Internacional Universidade e Educação Popular.

Um marco alcançado e a profissão de fé de um blogue de resistência

Por Celso Lungaretti

As visualizações de página do blogue Náufrago da Utopia acabam de chegar à casa de 2 milhões. Não sei dimensionar a importância deste total em termos de blogosfera, mas eis alguns dados para os leitores poderem aquilatar por si mesmos:

— o blogue existe desde 8 de agosto de 2008;

— tem 3.900 posts publicados;

— conta com 620 seguidores;

— vem mantendo nos últimos meses uma média de 1.600 acessos diários;

— tais acessos provêm principalmente do Brasil (91,4%), EUA (3,7%), Portugal (1,4%) e França (0,5%).

Sejam ou não significativos tais números, a sensação que eles trazem a esta diminuta equipe (eu e os colaboradores permanentes Apollo Natali e Dalton Rosado) é de dever cumprido.

No meu caso e no do Apollo, o de continuarmos sendo jornalistas, fiéis à nossa missão de disponibilizarmos a verdade aos cidadãos comuns para que os poderosos não imponham tão facilmente as versões e análises que lhes convêm; e sendo jornalistas independentemente de tais poderosos decretarem nossa morte profissional, a pretexto da idade mas, muito mais, por não gostarem das convicções expressas em nossos textos.

No do Dalton, o de difundir uma interpretação do marxismo ainda pouco conhecida, mas que pode desempenhar um papel importante na renovação teórica da esquerda, ainda mais agora que as estratégias e táticas adotadas desde 2003 foram colocadas dramaticamente em xeque pelo impeachment de Dilma Rousseff e pelas circunstâncias nas quais ocorreu.

Também vejo este blogue como uma continuação da luta que outrora iniciei para livrar a comunicação de massa da tutela absoluta dos barões da mídia. Vale a pena explicar melhor.

Após minha participação na luta armada ter-me deixado em frangalhos, fui juntar os cacos numa comunidade alternativa, que era também uma forma de manter vivo meu sonho, ainda que a abrangência fosse bem menor.

Já não se tratava de desbravar um caminho para o povo, pois aprendera da forma mais sofrida a levar sempre em conta a correlação de forças, que naquele momento era totalmente desfavorável a quaisquer projetos ousados de nossa parte.

Mas ao menos podíamos, nós mesmos, praticar em recinto fechado um estilo solidário de vida, ajudando-nos uns aos outros e dividindo o trabalho e seus frutos igualitariamente. Foi o que pensamos e, por alguns meses, conseguimos levar à prática

Era, contudo, difícil mantermos algo assim  em meio ao terrorismo de estado que grassava lá fora, com suas atrocidades, injustiças e intolerância. E, como no conto antológico do Poe, a peste invadiu o castelo no qual acreditávamos estar a salvo dela.

Quando a nossa comuna se desintegrou, só me restou voltar à vida insípida de quem batalha apenas para garantir a sobrevivência pessoal. Como o jornalismo era uma vocação que se manifestara desde que  comecei a fazer jornais no curso médio para fins de conscientização política, foi o nicho que encontrei na divindade suprema do capitalismo, o deus mercado.

Mas, inconformado em ser apenas uma correia de transmissão de valores nocivos, usava minhas horas de folga para prover o antidoto, em publicações precárias que produzia com companheiros igualmente dados à escrita.

Eram bancadas por nós mesmos, na esperança de que vendendo para amigos, conhecidos e para o público de nossas palestras e festas, arrecadássemos o suficiente para recuperar o que gastáramos. Nunca aconteceu.

Sabíamos que éramos pulgas tentando contrabalançar o estrago produzido pelos mamutes da indústria cultural, essa portentosa máquina de moldar a consciência dos cidadãos, tangendo-os para o conformismo e o consumismo.

Mas, tentávamos. Por mais que os resultados ficassem aquém de nossas expectativas, nunca desanimávamos. Era o que podíamos fazer e o fazíamos com enorme carinho. Cruzar os braços, jamais!

E é o que o Náufrago hoje faz. Lembrando os versos daquela comovente canção que Sérgio Ricardo compôs nos anos de chumbo, “cada verso é uma semente/ no deserto do meu tempo”.

Aqui plantamos as sementes de uma esquerda que reassuma, como prioridade máxima e como sua razão de ser, a organização do povo para o combate sem trégua à exploração do homem pelo homem, até a vitória final.

Trata-se do que mais precisa ser feito neste momento e também do mais difícil de se fazer, pois já estão arraigados em nossas fileiras os vícios, a desmobilização e a acomodação resultantes da opção pelas urnas em detrimento das ruas.

É mais fácil domesticar-se os bravos do que incutir bravura nos domesticados. Ainda mais depois de tantas e tantas décadas desperdiçadas em vãs tentativas de humanizar o capitalismo por dentro, rezando pela cartilha da democracia burguesa (que não passa do arcabouço institucional da dominação capitalista)!

É também aqui que tentamos ressuscitar valores como o da generosa solidariedade revolucionária, cada vez mais trocada pela postura egoísta de apoiar-se apenas o próprio partido ou a própria facção, lixando-se para as desgraças de outras forças do campo da esquerda e inclusive para os infortúnios de antagonistas pertencentes à mesma facção.

Há, ainda, que restaurarmos a própria moral revolucionária, a nossa, que infelizmente está ficando cada vez mais indistinguível da deles, nestes tristes tempos em que tantos trocam a dialética pelo mais rasteiro utilitarismo.

Aqui plantamos, ademais, a semente do respeito incondicional aos direitos humanos e à preservação do meio ambiente, pois nada, absolutamente nada, justifica os atentados à dignidade dos indivíduos e à sua existência (gravemente ameaçada pela devastação do nosso habitat).

São tudo menos herdeiros de Marx e Proudhon os que se norteiam pela realpolitik, justificando atrocidades e massacres quando perpetrados pelos bons bárbaros contra os maus bárbaros; quem existe para conduzir a humanidade a um estágio superior de civilização jamais pode transigir com a barbárie, assim como a um religioso é vedado pactuar com o demônio.

E aqui tentamos exercitar o pensamento crítico, não deixando jamais de refletir sobre as práticas da esquerda, no sentido de aprimorá-las e de prevenir erros que poderão evidenciar-se desastrosos adiante. Quando a intolerância no relacionamento com as tendências minoritárias se dissemina cada vez mais entre nós, é fundamental restabelecermos o respeito entre companheiros e uma atitude positiva face aos questionamentos válidos.

Até porque erros terríveis foram cometidos nos últimos tempos pelos detentores da hegemonia, os quais quase sempre fecharam os ouvidos às advertências daqueles que se encontravam em minoria… mas estavam com a razão!

De resto, somos os primeiros a reconhecer que as sementes por nós espalhadas frutificarão ou não graças a fatores que vão muito além de nosso idealismo, do nosso tirocínio e dos nossos esforços.

Neste momento da vida só podemos apontar caminhos e dar exemplos, na esperança de que novos combatentes, com o vigor de que já não dispomos, inspirem-se nestas leituras ao decidirem suas linhas de ação.

Aos leitores que respeitam nossos esforços, peço: ajudem-nos a divulgar este blogue de resistência, que ninguém patrocina e tão poucos organizados apoiam, mas que prova ser possível sobreviver com as próprias forças (e desnecessário, portanto, vender a alma); e difundam estes textos impregnados de toda nossa experiência de vida e de todas as esperanças que ainda mantemos no futuro da humanidade, para que eles possam atingir seus objetivos…e nós também!

A luta continua..

SOBRE O MESMO ASSUNTO, LEIAM TAMBÉM:

A IMPORTÂNCIA DE UMA COMUNICAÇÃO LIVRE DO JUGO DO CAPITAL

Por Dalton Rosado

Disse Marx, nos Grundrisse, que a máquina, ao reduzir o trabalho humano a um mínimo, beneficiária o trabalho emancipado e seria a condição de sua emancipação.

Assim Marx inseriu, de maneira genérica, os ganhos da tecnologia para a emancipação humana; e nela está inserida a comunicação via satélite, que agora, por meio da internet, liberta (até certo ponto) a informação do jugo do capital.

É difícil para o capital bloquear a circulação da informação eletrônica, uma vez que a vida moderna se rege por tal modo de comunicação sob os mais variados aspectos; e, em termos técnicos, uma coisa dificilmente pode ser separada da outra.

Já estão distantes no tempo as tradicionais (e autoritárias) ações de empastelamento dos jornais que contrariavam os interesses dos governantes a serviço do capital. Mas, jornalistas até hoje continuam sendo assassinados e perseguidos por suas práticas profissionais… (clique para ver mais)

A ESQUERDA DA MINHA VIDA.

Por Apollo Natali

Afinal, que caminho é esse, a esquerda, pauta fiel do Náufrago?  A resposta culta eu ouço da boca dos estudiosos, dos intelectuais, da Academia. Mas como trocá-la em miúdos, em linguagem simples e direta, para boa parte dos 200 milhões de brasileiros não tão acadêmicos? Para o gasto do dia a dia do mortal que anda de ônibus, qual o significado dessa palavra  incompreendida até para mim?

Definição acadêmica: os grandes ideólogos do marxismo e do anarquismo, Marx e Proudhon, pregavam a tomada de poder pelos trabalhadores que reformulariam a sociedade no sentido da priorização do bem comum, com as pessoas trabalhando solidariamente para que as atividades produtivas visassem ao pleno atendimento das necessidades humanas em regime de cooperação voluntária e igualdade.

Lindo. Utópico. Impraticável. Como se tem visto. Que Lungaretti e seus pares de idéias possam perdoar minha visão turvada. Longínquo, incerto é o dia em que a humanidade vai atingir o topo moral necessário a uma vida feliz como essa. Não estaremos aqui para ver, nem nossos descendentes… (clique para ver mais)

6º Congresso do PT: em busca da ousadia perdida.

Cartaz do PT em 1980. Onde foi parar esta ousadia? 

Eis o que dizia o Partido dos Trabalhadores no seu manifesto de fundação, datado de 10 de fevereiro de 1980:

Os trabalhadores querem a independência nacional. Entendem que a Nação é o povo e, por isso, sabem que o país só será efetivamente independente quando o Estado for dirigido pelas massas trabalhadoras. É preciso que o Estado se torne a expressão da sociedade, o que só será possível quando se criarem condições de livre intervenção dos trabalhadores nas decisões dos seus rumos. Por isso, o PT pretende chegar ao governo e à direção do Estado para realizar uma política democrática, do ponto de vista dos trabalhadores, tanto no plano econômico quanto no plano social. O PT buscará conquistar a liberdade para que o povo possa construir uma sociedade igualitária, onde não haja explorados nem exploradores. O PT manifesta sua solidariedade à luta de todas as massas oprimidas do mundo

O texto atual é bem mais cauteloso

Eis o 13º e último dos pontos para mudar o PT alinhavados pelo vice-presidente do partido, deputado estadual Paulo Teixeira (SP), como propostas para serem discutidas no próximo congresso nacional petista, marcado para o início de junho:

Retomar o caminho republicano inspirado nos valores do socialismo democrático, fundados na igualdade, no controle público democrático do Estado e no pluralismo! A renovação programática do PT não pode temer a palavra socialismo, que deve andar junto com a palavra democracia. A atualização do programa do PT que ocorrerá no 6º Congresso precisa compreender que é tempo de enfrentar o fascismo com força, mas sem repetir os erros de conciliação que nos trouxeram até aqui. (…) O capitalismo deu errado: oito homens possuem a mesma riqueza que a metade mais pobre da população. Os índices de desigualdade social no mundo são parecidos com os do início do século XX, que gerou duas Guerras Mundiais e milhões de mortos. O PT precisa combater esse sistema desigual e através do socialismo e da democracia encontrar novos marcos programáticos para o futuro do país e do mundo.

Resumo da opereta:

  • o PT praticou vergonhosamente a política de conciliação de classes durante os 13 anos e 4 meses durante os quais a burguesia lhe concedeu permissão para gerenciar o capitalismo brasileiro; 
  • agora que os poderosos dispensaram sua colaboração com um pontapé nos fundilhos, deverá discutir uma retomada das bandeiras anticapitalistas, o que seria seu primeiro passo na direção certa em muitos e muitos anos.

Alguém ainda ousa dizê-lo em reunião do PT?

Espero, contudo, que o faça com verdadeira disposição de luta, expressa num discurso muito mais afirmativo do que esse que vocês leem acima. 


O redator estava visivelmente pisando em ovos, como que pedindo desculpas pela mudança de rumo proposta e fazendo questão de escrever democracia cada vez que escrevia socialismo, qual uma atenuante obrigatória. [Antigamente tínhamos total clareza quanto ao fato de que a democracia de uma sociedade de classes jamais será uma verdadeira democracia e não hesitávamos em proclamar esta verdade em alto e bom som, utilizando sempre a expressão democracia burguesa…]

Isto para não falar na patética menção ao caminho republicano, que faria o PT continuar patinando sem sair do lugar até o final dos tempos. Salta aos olhos e clama aos céus que o caminho a ser retomado é o revolucionário


Ou seja, o parágrafo de 2017 é muito pior que o de 37 anos atrás, embora melhor do que a prática recente do PT. Mas, se quiser recuperar a credibilidade, o partido terá de curar-se dessa paúra crônica de dizer algo que possa assustar os pequenos e grandes burgueses.

Ficou meio hilária, p. ex., a recomendação aos companheiros, de que deixem de temer a palavra socialismo, como se fosse a única palavra deletada do dicionário petista. E revolução? E marxismo? E anarquismo? E comunismo? E a expressão marxista exploração do homem pelo homem? E a frase lapidar de Prodhon, a propriedade é o roubo?

Torço para que os companheiros petistas  se deem conta de que o tempo das tergiversações, das papas na língua e dos panos quentes acabou. Ou reencontram a ousadia perdida ou serão varridos do mapa pelos novos ousados. É simples assim.

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Depois do vendaval

Os pleitos municipais de 2016 revelaram um enorme desencanto do eleitorado brasileiro com a política em geral e com o Partido dos Trabalhadores em particular.

Assim, nas dez cidades brasileiras com maior peso político e econômico em que se realizaram eleições para prefeito –Brasília fica fora da relação porque lá inexiste tal cargo–, o não-voto (abstenções, nulos e brancos) atingiu o percentual de:
  • 34,84% em São Paulo, totalizando 3.096.304 eleitores inscritos, enquanto o eleito, João Doria (PSDB), obteve 3.085.187 votos;
  • 41,53% no Rio de Janeiro, totalizando 2.034.352 eleitores inscritos, enquanto o eleito, Marcelo Crivella (PRB), obteve 1.700.030 votos;
  • 38,50% em Belo Horizonte, totalizando 742.050 eleitores inscritos, enquanto o eleito, Alexandre Kalil (PHS), obteve 628.050 votos;
  • 39,48% em Porto Alegre, totalizando 433.751 eleitores inscritos, enquanto o eleito, Nelson Marchezan Jr. (PSDB), obteve 402.165 votos;
  • 32,74% em Curitiba, totalizando 422.153 eleitores inscritos, enquanto o eleito, Rafael Greca (PMN), obteve 461.736 votos;

  • 31,86% em Salvador, totalizando 620.662 eleitores inscritos, enquanto o eleito, ACM Neto (DEM), obteve 982 246 votos;
  • 25,13% em Fortaleza, totalizando 425.414 eleitores inscritos, enquanto o eleito, Roberto Cláudio (PDT), obteve 678.847 votos;
  • 22,30% em Recife, totalizando 257.394 eleitores inscritos, enquanto o eleito, Geraldo Júlio (PSB), obteve 528.335 votos;
  • 17,30% em Manaus, totalizando 217.540 eleitores inscritos, enquanto o eleito, Artur Neto (PSDB), obteve 581.777 votos;
  • 39,28% em Campinas (SP), totalizando 322.875 eleitores inscritos, enquanto o eleito, Jonas Donizette (PSB), obteve 323.308 votos.

Ou seja, quem realmente venceu em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre foi Ninguém, não aquele que sentará na cadeira de prefeito.

E os estados nordestinos continuam tardando em sintonizar-se com o sentimento predominante nas regiões economicamente mais desenvolvidas (aquelas que, segundo Karl Marx, apontam o rumo que as demais seguirão). Em 2014, salvaram Dilma Rousseff da derrota. Dois anos depois já estão rejeitando o PT, mas ainda não estenderam tal rejeição às demais forças da política oficial. Atingirão tal estágio em 2018?

Segundo o Congresso em Foco (vide aqui), o PT despencou de 24,2 milhões de votos obtidos nos dois turnos das eleições para prefeito de 2012 para 7,6 milhões agora, além de passar a comandar uma única capital brasileira (Rio Branco) e de sofrer dolorosa derrota no ABCD paulista, berço político de Lula.

Está pagando caro pela postura que começou a assumir já na década de 1980 e depois foi aprofundando cada vez mais: o abandono dos ideais revolucionários e consequente aposta na melhora das condições econômicas dos explorados sob o capitalismo.

Ou seja, prometeu conduzir a classe operária ao paraíso pelo caminho tão fácil quanto ilusório das urnas; e, previsivelmente, não conseguiu cumprir a promessa. Daí estar agora sendo visto pela maioria dos brasileiros como farinha do mesmo saco, não mais uma exceção à venalidade generalizada, mas tão somente a confirmação da regra de que o homem comum nada de bom deve esperar dos podres Poderes e de quem deles participa.

Isto porque o PT (e boa parte da esquerda não-petista) não levou em conta duas evoluções muito importantes do quadro político e econômico.

.O CAPITALISMO AINDA RESISTEMAS SUA AGONIA É IRREVERSÍVEL.

O capitalismo continua minado pela contradição fundamental de que, ao usurpar dos trabalhadores parte substancial dos valores que eles criam, não lhes dá condições de adquirir todos os frutos do seu labor. Tal descompasso, antigamente, levava às crises cíclicas, guerras e agudas depressões, formas extremas de tornar mais equilibradas a oferta e a procura.

Os marcantes avanços científicos e tecnológicos das últimas décadas vêm reduzindo cada vez mais a componente de trabalho humano nos produtos, o que faz diminuir na mesma proporção o lucro que o capital pode extrair de cada item produzido. Como a expansão ininterrupta é condição sine qua non de sua vitalidade, o fato de cada vez mais chocar-se com limites intransponíveis debilita crescentemente o capitalismo, prenunciando seu colapso definitivo.

A crise devastadora para a qual marcha a economia globalizada só não eclode com força total porque a penúria e o apertar de cintos são transferidos de país para país, com a relativa prosperidade de uns tendo como contrapartida o inferno de outros; e também porque a concessão indiscriminada de crédito sem garantia e a emissão desmedida de moeda sem lastro permitem empurrar com a barriga o acerto de contas, adiando longamente (mas não indefinidamente) o juízo final.

Mais dia, menos dia, o castelo de cartas desabará, impondo ao sistema capitalista como um todo uma depressão econômica tão profunda que fará a da década de 1930 parecer brincadeira de criança.

Ao trocar a luta de classes pela conciliação de classes, o PT acreditou que bastaria se mostrar tão inofensivo e domesticado quanto um lulu de madame, resignando-se a não meter o bedelho nas decisões macroeconômicas, para os donos do Brasil o deixarem cuidar das miudezas administrativas em paz; e supôs que o bom desempenho que as commodities brasileiras vinham obtendo no comércio internacional durante a década passada duraria para sempre, permitindo-lhe satisfazer o apetite pantagruélico do grande empresariado e, ao mesmo tempo, colocar algumas migalhinhas a mais na mesa dos coitadezas.

O preço destas apostas equivocadas é sua degringola atual.

A POLÍTICA OFICIAL É SÓ FIGURAÇÃO, O PODER ECONÔMICO MANDA E DESMANDA.

Outro fenômeno que vem se acentuando cada vez mais é o avassalamento do poder político ao poder econômico. Não há mais sobrevivência possível fora do modelo capitalista de inspiração neoliberal, pelo menos enquanto ele for dominante em escala global; países ou blocos que tentam isoladamente confrontá-lo, têm até agora sucumbido. [A bola da vez é a Venezuela, símbolo maior do agonizante bolivarismo.]

A lógica da economia capitalista se impõe esmagadoramente sobre o Executivo e o Legislativo (bem como sobre as instâncias superiores do Judiciário), tornando inócuas as tentativas de colocar em xeque a exploração do homem pelo homem a partir das tribunas parlamentares e dos palácios do governo. Os mandatos eletivos servem para dar boa vida a maus representantes do povo, mas não para emancipar o povo.

Então, outra lição importante a tirarmos da ascensão e queda do PT é que a chamada via eleitoral caducou e hoje só serve para manter a esquerda patinando sem sair do lugar.

O que fazermos, então?

O primeiro passo, obviamente, será estancarmos a hemorragia e voltamos a acumular forças.

Resgatarmos nossa credibilidade, tão abalada por escândalos que jamais poderiam ter ocorrido no nosso campo.

E reerguermos a esquerda, como uma alternativa à política oficial e não como parte do seu sistema.


O tempo das bravatas e dos projetos mirabolantes passou. Temos de, humildemente, voltar a participar das lutas justas da sociedade, dando nossos melhores esforços para que elas frutifiquem, ao mesmo tempo em que estivermos alertando os explorados, humilhados e ofendidos, no sentido de que suas conquistas só serão definitivas com a superação do capitalismo. Até lá, continuaremos assistindo a retrocessos como o empobrecimento, nos últimos anos, da nova classe média que os petistas se ufanavam de haver gerado.


Quanto aos voos maiores, são algo para pensarmos quando a correlação de forças não estiver tão desequilibrada em nosso desfavor como está agora; e também quando as crises econômica e ambiental do capitalismo se agravarem ainda mais, provavelmente interagindo entre si. Tudo leva a crer que, nas próximas décadas, a humanidade enfrentará seu maior desafio em todos os tempos.

Como em 1917 na Rússia e em 1949 na China, é bem provável que então se abram janelas revolucionárias, com os homens redescobrindo a solidariedade na luta que terão de travar por sua sobrevivência ameaçada. Pode ser o ponto de partida para uma reorganização da sociedade em bases bem diferentes, passando a priorizar a colaboração fraterna dos homens em prol do bem comum. 

Dilma e o PT já travam a guerra da partilha dos bens

Quando tinha o jornalismo como profissão, ouvia uma campainha soando em minha mente nos momentos em que um entrevistado tentava me manipular. Então, não levava em conta apenas o que ele estava dizendo, mas refletia sobre qual seria o porquê de ele dizer tal coisa. Alterar o comportamento dos mercados em favor de alguém? Detonar algum adversário nas escaramuças de bastidores? Desviar as atenções de um erro ou falcatrua em que estivesse envolvido?

Se há algo de que me orgulho na minha carreira é nunca ter sido ingênuo e jamais haver deixado que algum me(r)dalhão da política ou das finanças me usasse como correia de transmissão de versões que tentava plantar na imprensa. E também recusava as propostas indecentes que me eram feitas abertamente. Preferi dormir bem do que desfrutar as vantagens e regalias que obteria se fosse mais flexível. Cada um sabe o que quer na vida.

A campainha tocou quando o PT lançou uma declaração oficial de que não estava abandonando Dilma Rousseff. Ora, por mais gritantes que sejam as evidências de que seu afastamento não terá volta, caberia ao partido, noblesse oblige, apoiá-la até o fim, afundando junto com a capitã. Se vem a público declarar que está fazendo o que nada seria além de sua obrigação… é porque, obviamente, não o está fazendo. 

Enquanto isto, Dilma solta os cachorros em cima do partido na entrevista que concedeu à revista Fórum. Está lá:

Eu acredito que o PT precisa passar por uma grande transformação. Primeiro, uma grande transformação em que se reconheçam todos os erros que cometeu do ponto de vista da questão ética e da condução de todos os processos de uso de verbas públicas.

Ou seja, está sendo impichada por crime de responsabilidade e insinua que a total responsabilidade cabe ao partido, que prevaricava enquanto ela tocava harpa com os anjos. É o mesmo que dizer: “As acusações procedem, mas não contra mim. Foi o partido que cometeu todos os deslizes do meu governo”.

Ela também aponta sua metralhadora giratória em várias outras direções, menos numa: a sua. Pois, embora o modelo de governo adotado nas duas gestões do Lula estivesse esgotado, foi a Dilma quem chutou o pau da barraca.

Tornara-se impossível proporcionar recordes de faturamento mês após mês para os grandes bancos e, ao mesmo tempo, ir aumentando homeopaticamente a quota de migalhas para os andares de baixo. 

Se a Dilma mantivesse a política econômica do Lula, haveria recessão, mas muito menos aguda do que aquela que acabou ocorrendo.

Se ela se mirasse no exemplo da Wanda, romperia a aliança com o grande capital e apostaria as suas fichas nos explorados. 

[Aumentando, p. ex., substancialmente a tributação das grandes fortunas, que sempre foi ridícula (de tão irrisória!) no Brasil. Precisaria, é claro, organizar as massas para que estas lhes dessem sustentação, uma lição de casa que deixou de ser feita nos oito anos do Lula. Mas, teria levado as lutas políticas e sociais do Brasil a um novo patamar e, ainda que fosse derrubada, o seria como titã (a exemplo do Allende) e não enxotada por um piparote do Congresso.]

Em vez disso, ela preferiu ir buscar no fundo do baú o nacional-desenvolvimentismo da década de 1950, tentando alavancar o crescimento econômico com investimentos estatais. Se isto não funcionou com o Getúlio Vargas, cuja estatura política era infinitamente maior e que tinha muito mais apoio dos trabalhadores, como poderia dar certo em plena época de globalização dos mercados e com timoneira tão medíocre? Não deu outra: ela afundou de vez a economia e praticamente quebrou a Petrobrás.

O segundo maior motivo do impeachment decorreu do primeiro: quando lhe caiu a ficha das lambanças que cometera e da terrível recessão que incubara para o mandato seguinte, ela quis a todo custo se reeleger, na esperança de consertar os estragos e salvar sua imagem.

Recorreu ao pior estelionato eleitoral de todos os tempos no Brasil, obteve sua vitória de Pirro e… simplesmente, não soube o que fazer com ela! Passou 16 meses sem conseguir tomar as rédeas da situação e imprimir um rumo à economia. Como a natureza e a política abominam o vácuo, o sistema tratou de preenchê-lo com o Temer. 

De resto, o subtexto das últimas movimentações do PT e da Dilma é este: o casamento está rompido e os antigos cônjuges já começaram a disputar encarniçadamente os bens outrora comuns.

Os grãos petistas estão carecas de saber que o mandato presidencial daqui a algumas semanas virará cinzas e, retórica de conveniência à parte, querem mais é descolar a imagem do partido da de Dilma. Sabe-se que vários candidatos do PT às eleições municipais estão preferindo ter no seu palanque o Demo com chifre e rabo do que a afastada… 

Na guerra da partilha dos bens, aposto no PT. Dilma se tornará irrelevante instantaneamente, no exato momento em que a despejarem do Palácio da Alvorada, enquanto o partido definhará aos poucos, conforme novas forças forem emergindo na esquerda, com propostas mais ousadas… e revolucionárias!