De que lado você está? Para mim sempre houve e há um único lado. Estou do lado daquelas e daqueles que constroem cada dia um mundo melhor.
Do lado de quem age por uma humanidade que seja respeitada e respeitadora da dignidade da vida.
Do outro lado, escondidas e escondidos sob máscaras ora “liberais” ora qualquer outro rótulo indefinível, estão as que odeiam a humanidade e trabalham pela destruição.
A vida é muito curta. Não tenho tempo de combater quem está do lado da morte. Polícia e justiça. Educação. Isto deve ser suficiente para encurralar e conter essa manada.
Depois de seis anos de fascismo no Brasil, o que restou é um suspiro. Uma esperança que renasce do que restou de um projeto assassino e canalha, covarde e vil.
Devem ser julgados e punidos os crimes do fascismo.
Os setores golpistas do exército devem ser punidos exemplarmente.
A República não pode tolerar que quem é mantido com dinheiro público aja contra o interesse público.
A população financia com seus impostos esta instituição que repetidamente –desde pelo menos 1964– se envolveu em ações atentatórias da ordem pública e da legalidade constitucional.
Investigar e punir os crimes do golpismo fardado nesta hora em que a cidadania decidiu pela via democrática do voto, retomar a normalidade institucional, é imperioso.
Justiça é isso.
Cada coisa no lugar.
Descabeçar o setor antidemocrático das forças armadas e de segurança se impõe como uma tarefa urgentíssima.
Sou professor e sociólogo. Como sociólogo trabalhei e trabalho pela inclusão social, a costura de laços solidários fortes e esperançadores. Como professor aprendi e aprendo a aprender
Nestas minhas duas veredas convergentes, o que pude ver e continuo a ver, é que há dois lados em confronto
Um lado da sociedade que trabalha, estuda, pesquisa, constrói, presta serviços
E um outro lado, minoritário, que vive às custas de quem trabalha, mente, engana, desfruta de privilégios indevidos, e fica impune
A justiça deveria regular a coexistência não apenas entre estes dois lados, mas ainda mais: deveria ensinar a todas e todos, que temos que nos respeitar mutuamente
Quando a justiça deixa de ser justiça e assume o papel de sócia da injustiça, está tudo perdido
Nestes últimos 10 anos, o que temos visto é uma minuciosa destruição do tecido social, a quebra da ordem pela ação de pessoas e grupos que mentem, enganam, difamam, caluniam.
Instalaram o ódio, a desconfiança, a discriminação contra mulheres, comunidade LGBTQIA+, pessoas negras, etc.
Racharam a sociedade ao ponto de apagarem o raciocínio, cancelando a necessária reflexão que nos torna donos e donas dos nossos atos
As pessoas que praticaram os atos vergonhosos de 8 de janeiro em Brasília, destruindo os prédios dos Três Poderes da república, quebraram algo mais do que objetos
Quebraram a esperança. Danificaram a confiança
Ficou escancarado que as forças armadas, a polícia, não defendem o país nem a população. Servem à destruição e à conduta criminosa
Somente a Justiça poderá refazer o que foi destruído. E não será com discursos nem declarações.
Deverá ser com ações. Processos, prisões, condenações. Sem uma clara delimitação entre o que seja normal e aceito, correto, e o que seja crime, estaremos nas mãos de bandas criminosas da pior espécie, como de fato estamos até o momento.
A história ensina que a inação diante de hordas criminosas abre o espaço para regimes de terrorismo de estado como nazismo, o fascismo, as ditaduras.
Doutor em sociologia (Universidade de São Paulo). Mestre em sociologia (IUPERJ). Licenciado em sociologia (Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, Argentina). Professor aposentado da UFPB. Terapeuta Comunitário Formador. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/
Em audiência ao Corpo Diplomático, Francisco citou o Brasil ao manifestar sua preocupação com o enfraquecimento da democracia. “Sempre é preciso superar as lógicas parciais e trabalhar pela construção do bem comum.”
Guerra, vida, liberdade e democracia: estes foram os temas tratados pelo Papa Francisco ao receber em audiência os embaixadores acreditados juntos à Santa Sé, para o tradicional encontro de felicitação de Ano Novo.
Nesta ocasião, o Pontífice faz um articulado discurso analisando os temas mais candentes para a comunidade global. Antes de iniciar, Francisco agradeceu pelas mensagens de condolências que recebeu por ocasião da morte de Bento XVI e pela solidariedade manifestada durante as exéquias.
Como fato eclesial marcante, Francisco citou a decisão da Santa Sé e da República Popular Chinesa de prorrogar por mais dois anos o Acordo Provisório sobre a nomeação dos bispos. “Espero que esta relação de colaboração se possa desenvolver em prol da vida da Igreja Católica e do bem do povo chinês.”
A imoralidade das armas atômicas
Mas o fio condutor do pronunciamento do Papa foi a Encíclica Pacem in terris de São João XXIII, que está completando em 2023 sessenta anos de sua publicação. Neste texto, consta a preocupação com a ameaça nuclear durante a crise dos mísseis de Cuba – ameaça que se repete ainda hoje. “Não posso deixar de reiterar, aqui, que a posse de armas atômicas é imoral.” “Sob a ameaça de armas nucleares, todos somos sempre perdedores!”, completou.
Aprofundando a III guerra mundial em andamento, Francisco citou primeiramente a Ucrânia, reiterando seu apelo “para que se faça cessar imediatamente este conflito insensato”. Mas nomeou ainda a Síria, Israel e Palestina, Líbano, o Cáucaso, o Iêmen, Mianmar e a península coreana. Falando da África, mencionou as nações da costa ocidental, e recordou a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul, dois países que visitará daqui poucos dias.
As viagens de 2022 também foram recordadas. No Bahrein e no Cazaquistão, o tema foi o diálogo inter-religoso. No Canadá, a colonização ideológica. Em Malta, o naufrágio da civilização ao lidar com o tema da migração.
Mulheres não são cidadãos de segunda classe
Fica então a pergunta: num tempo assim conflituoso, como reatar os fios de paz? Para São João XXIII, a paz é possível à luz de quatro bens fundamentais: a verdade, a justiça, a solidariedade e a liberdade.
Estes bens vêm à tona respeitando os direitos humanos e as liberdades fundamentais de cada pessoa. Mas não é o que acontece às mulheres, por exemplo, em muitos países consideradas cidadãos de segunda classe. Não é o que acontece aos nascituros, que encontram a morte no ventre materno. “Ninguém pode reivindicar direitos sobre a vida doutro ser humano, especialmente se inerme e desprovido de qualquer possibilidade de defesa”, recordou o Papa.
O direito à vida é ameaçado também onde se continua a praticar a pena de morte, como está acontecendo nestes dias no Irã, na sequência das recentes manifestações que pedem maior respeito pela dignidade das mulheres. Até o último momento, disse o Papa, a pessoa pode mudar e se converter, fazendo seu enésimo apelo para que a pena de morte seja abolida nas legislações de todos os países da terra.
Cristianismo incita à paz
A paz exige também educação, antídoto contra a ignorância e o preconceito, e liberdade religiosa. “Em cada sete cristãos, um é perseguido”, recordou Francisco. “O cristianismo incita à paz, porque estimula à conversão e ao exercício da virtude.”
Retomando o tema de sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2023, o Papa reafirmou que “juntos, pode-se fazer muito bem! Basta pensar nas louváveis iniciativas destinadas a reduzir a pobreza, ajudar os migrantes, contrastar as alterações climáticas, favorecer o desarmamento nuclear e prestar ajuda humanitária”.
A propósito do cuidado da “casa comum”, o Pontífice citou a adesão da Santa Sé à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, com a intenção de dar o seu apoio moral aos esforços de todos os Estados para cooperar numa resposta eficaz e adequada aos desafios colocados pela alteração climática.
Enfraquecimento da democracia
Antes de concluir, Francisco manifestou sua preocupação com o “enfraquecimento” da democracia, cujo sinal são crescentes polarizações políticas e sociais, que não ajudam a resolver os problemas urgentes dos cidadãos.
“Penso nas várias crises políticas em diversos países do continente americano, com a sua carga de tensões e formas de violência que exacerbam os conflitos sociais.” E o Papa citou três países: Peru, Haiti e, nas últimas horas, o Brasil. “Sempre é preciso superar as lógicas parciais e trabalhar pela construção do bem comum.”
“Senhoras e Senhores, seria maravilhoso que, ao menos uma vez, pudéssemos encontrar-nos apenas para agradecer ao Senhor Todo-Poderoso pelos benefícios que sempre nos concede, sem nos vermos constrangidos a enumerar as situações dramáticas que afligem a humanidade.”
Este é o papel da diplomacia, que deve aplanar os contrastes para favorecer um clima de mútua colaboração e confiança. Para Francisco, é ainda mais do que isso, é “um exercício de humildade, pois exige sacrificar um pouco de amor-próprio para entrar em relação com o outro a fim de compreender as suas razões e pontos de vista, contrastando assim a soberba e a arrogância humanas que são a causa de toda a vontade beligerante”.
A Santa Sé mantém relações diplomáticas com 183 países. A estes, acrescentam-se a União Europeia e a Soberana Militar Ordem de Malta.
Para o diretor do instituto, Felipe Nunes, o ataque contra as sedes dos Três Poderes da República partiu de uma minoria e pode gerar divisão da base bolsonarista. “(Os atos) Podem isolar Bolsonaro e ampliar a capacidade do governo de conseguir dialogar com mais gente”, destacou Nunes em entrevista ao Metrópoles.
“A maioria da população brasileira que se informa e se manifesta por rede social reprova veementemente o que aconteceu. Dos sentimentos que coletamos hoje, 46% é de tristeza, 25% de gente falando que está com medo e 18% de desgosto”, disse Nunes.
O receio de que a democracia brasileira pudesse ter sido ainda mais danificada (um novo golpe de estado!) foi o que me trouxe até aqui. Aqui esta folha. Não é novo para mim acordar quando a situação política e social está ardendo.
Em outros tempos, estudava também a estas horas. Agora são os ares de renovação do que ainda resta de democracia no Brasil, o que me faz vir aqui. O ataque deste domingo passado, aos prédios do STF, Palácio do Alvorada e Legislativo em Brasília, foram mais do que meros ataques a símbolos da república. O que foi praticado foi um ataque em tudo inaceitável, à população brasileira como um todo. O símbolo é a coisa.
Infelizmente para os neonazistas e as neonazistas, tudo foi filmado e a justiça está agindo. Tarde, mas firmemente. Digo tarde porque tudo isto começou a ser visto já em 2013. 2016 aprofundou a ruptura da ordem constitucional. Um golpe de estado. Em pleno século XX um golpe de estado. Um golpe de estado sucedido de uma eleição viciada da qual emergiu um insólito des-presidente. As hostes seguidoras do tal, agora começam a ser dispersadas. Muito tarde. Tudo tarde. Mas enfim, a sociedade começa a respirar melhor.
Vai ser uma dura tarefa reconstruir a democracia. Reconstruir o país. E a justiça ainda anda lenta demais para meu gosto. Não gosto de assumir a postura de quem está por cima das instituições. Ao contrário, como cidadão acolhido nesta terra, ajo muito mais por dever profissional e cívico, do que por qualquer outra motivação. Não entendi como é que o Judiciário não puniu a agressão de que foi objeto a Presidenta Dilma Rousseff durante o golpe parlamentário de 2016.
O torturador de Dilma Rousseff foi citado por quem logo depois viria a se tornar o pior presidente de toda a história do Brasil. Todo mundo viu. Era rede nacional de TV. Voto a voto, os e as golpistas cuspiram na nossa cara. Nunca engoli isso. Agressão covarde e canalha. Dilma não merecia isto. O Brasil não merecia isso. Mas veio pior ainda. Você deixa a ordem social ir pro espaço, tudo vai por agua abaixo.
Sem regras, normas e valores, inexiste a sociedade. E o estado que deveria ser o guardião da ordem, torna-se o contrário. O agente da destruição. Quando digo ordem, não é legitimando a desigualdade de uma sociedade injusta, baseada na exploração. Estou apontando a algo mais elementar. Algo que o presidente Lula levou em conta durante os seus dois governos anteriores, e novamente se propõe a fazer. Costurar um país desgarrado. Garantir o mínimo de uma existência digna para o conjunto da população.
O mundo deu muitas voltas desde 2013 até hoje. Papa Francisco. Os encontros de movimentos sociais com o vaticano. A revalorização da economia informal. As mudanças no mundo do trabalho. As redes sociais formando e deformando opiniões e atitudes. Como sociólogo formado em várias instituições de ensino superior, não posso simplesmente calar e fazer de conta. Tenho a obrigação de ao menos dizer a que vim.
A recuperação da democracia e a reconstrução social e nacional que o Presidente Lula encabeça, devem prosseguir. Julgar e punir a totalidade dos crimes cometidos contra a humanidade é imperioso. Se o Brasil ou uma parte dele fecharam os olhos para as violações de DDHH cometidas durante estes dez anos, a justiça tem a palavra. É hora de agir. Crime não punido deixa de ser crime. Torna-se norma. Normal. Não pode! Tortura é crime. Calúnia e difamação são crimes. Prisão ilegal é crime. E por aí vai. E não posso menos que dizer, a título de conclusão, que professor e professora também são gente. Há anos que não vemos uma melhora no nosso ordenado! Bom dia!
Doutor em sociologia (Universidade de São Paulo). Mestre em sociologia (IUPERJ). Licenciado em sociologia (Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, Argentina). Professor aposentado da UFPB. Terapeuta Comunitário Formador. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/