Arquivo da tag: Justiça Global

Assassinatos no Pará: Brasil é processado na OEA por omissão

No centro, de boné vermelho, dona Maria Joelma, viúva de DezinhoA família e as entidades apresentaram aos governos e ao Judiciário um conjunto de propostas para suspender o processo. Por Leonardo Wexell Severo, de Rondon do Pará (PA), para o Brasil de Fato.

Diante da omissão do governo do Pará em garantir a segurança de Dezinho, quando ainda estava vivo e ameaçado de morte, e a demora da Justiça em punir os assassinos, sua família, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Justiça Global entraram com um processo na Organização dos Estados Americanos (OEA) contra o Estado brasileiro.

Processado pela OEA, o Estado brasileiro propôs um acordo. A família e as entidades apresentaram então aos governos e ao Judiciário um conjunto de propostas para suspender o processo. Entre elas o pagamento de indenização para a família de Dezinho, a construção de um centro de informática na Vila Galvão, a ampliação da sede do sindicato – incluindo um centro de qualificação profissional para trabalhadores rurais e urbanos, a construção de poços artesianos nos Projetos de Assentamento Nova Vitória, José Dutra da Costa e Água Branca, e a retomada de terras públicas no município para o assentamento de famílias sem terra.

O acordo previa ainda a obrigação do governo do Pará e do governo federal em construir um memorial em homenagem a Dezinho e, que, em sua inauguração, teriam que fazer um pedido de desculpa formal aos seus familiares.

Pedido de desculpa

Em nome do governo brasileiro, Maria Ivonete Barbosa Tamboril, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, fez um caloroso pronunciamento no encerramento do evento do dia 26, na Praça da Paz, onde, além da desculpa formal, sublinhou a importância de orquestrar ações conjuntas no âmbito federal para acabar com a impunidade. Um pouco antes, em nome da superintendência do Incra, Ruberval Lopes da Silva havia anunciado a liberação de cerca de R$ 2 milhões em linhas de crédito para os assentamentos e a construção de moradias.

O coordenador regional do Programa Terra Legal, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Castanheira Alves, anunciou a varredura nas glebas públicas ao lado do Ministério Público Federal, além da liberação dos Contratos de Concessão de Uso (CCU), documentos que dão segurança jurídica aos assentados – por meio do título provisório de posse – e estabelecem obrigações.

Em contrapartida, um representante do governo estadual caiu no ridículo ao declarar do alto do palanque – de onde escafedeu-se rapidamente – que a família de Dezinho receberia insignificantes R$ 40 mil como “indenização”, além de R$ 765,00 mensais como pensão vitalícia. E que o Memorial do líder assassinado seria erguido em Marabá, a cerca de 130 quilômetros de Rondon, quem sabe para não importunar os próceres tucanos locais, bastante vinculados ao rastro de sangue.

ONGs querem que ONU investigue ação policial no Alemão

Dayanne Sousa, no Terra Magazine

A organização Justiça Global espera que um levantamento em cerca de 40 casas de moradores do Complexo do Alemão leve a uma investigação independente das mortes que ocorreram no local. O documento foi entregue nesta terça (21) à ONU (Organização das Nações Unidos) e à OEA (Organização dos Estados Americanos). Segundo a diretora-adjunta da entidade, Sandra Carvalho, o motivo é pressionar para que haja uma investigação independente dos casos de morte durante as operações de segurança no Rio de Janeiro.

Em 2007, após uma operação da polícia no Alemão, houve um manifesto nos mesmos moldes. O assessor da Justiça Global, Gustavo Mehl, afirma que a pressão garantiu uma perícia que comprovou que alguns moradores foram executados.

“O que nós questionamos é a falta de transparência, não há um número de mortos nem uma lista parcial de nomes”, critica Sandra. Somando dados divulgados no decorrer das operações, a entidade chegou ao número de 77 mortos entre os dias 21 e 28 de novembro, ou seja, desde o início da resposta policial aos ataques de criminosos. Além do Complexo do Alemão, houve ações na vizinha favela da Vila Cruzeiro.

Denúncias

Entre as denúncias de moradores que foram levadas aos órgãos internacionais, a principal é a chamada “caça ao tesouro”. Segundo as famílias entrevistadas, membros de diversos batalhões diferentes se revezavam para invadir casas e levar dinheiro e objetos de valor.

No início do mês, o Secretário de Segurança do Estado, José Mariano Beltrame, respondeu a acusações de moradores, dizendo que se tratavam de ações de “maus policiais”, mas segundo os relatos, tratavam-se de ações de vários grupos de batalhões diferentes.

O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, declarou que está acompanhando o processo de ocupação das favelas. Em entrevista nesta segunda (20), ele criticou a permanência das forças armadas por muito tempo na região. “Essa presença só é aceitável em caráter absolutamente emergencial e as tropas devem se retirar o quanto antes”, avaliou durante evento na Universidade de São Paulo.