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O Papa: cuidado com disseminação de falsidades e ódio através das redes sociais

O Papa Francisco encontrou-se na manhã deste sábado, no Vaticano, com membros da Rede Internacional de Legisladores Católicos, uma rede cujo objetivo é a formação de uma nova geração de líderes católicos capazes de promover a doutrina social da Igreja na esfera pública. Francisco advertiu sobre os riscos da tecnocracia dominante de hoje, que tende a “coisificar” as pessoas e os recursos naturais

O Papa Francisco recebeu no Vaticano, na manhã deste sábado, 26 de agosto, os participantes do XIV Encontro anual da “Rede Internacional de Legisladores Católicos”, que se realiza em Frascati, nas proximidades de Roma.

Em seu discurso, o Santo Padre aprofundou o tema escolhido para o encontro deste ano: “Luta das grandes potências, Captura Corporativa e Tecnocracia: resposta cristã às tendências desumanizantes”, um tema que aborda os aspectos vitais da nossa existência.

A este respeito, o Papa referiu-se à Encíclica ‘Laudato Si’, dizendo que o “paradigma tecnocrata dominante” suscita profundas questões “sobre o lugar e a ação que, hoje, o ser humano ocupa no mundo”.

Promover a doutrina social da Igreja

Certamente, disse Francisco, um dos aspectos mais preocupantes deste paradigma, devido aos seus impactos negativos sobre a ecologia humana e a natureza, é a tentação sutil do espírito humano, que conduz as pessoas, sobretudo os jovens, a fazer um uso distorcido da liberdade. Notamos isso quando homens e mulheres são encorajados mais a exercer um controle e não tanto uma proteção responsável dos “objetos” materiais ou econômicos, dos recursos naturais da nossa Casa comum ou uns dos outros. Este modo de “coisificar” acaba tendo um impacto negativo sobre os sujeitos mais pobres e frágeis da sociedade”.

“Ao procurar responder a esta questão e aos muitos desafios associados, promovendo uma doutrina social católica, disse Francisco aos participantes no Encontro, gostaria de salientar que a própria estrutura da sua organização pode lhes oferecer um quadro de referência: vocês são uma rede internacional, cujo intuito é reunir em uma comunidade a nova geração de líderes cristãos corajosos”. A este respeito, o Papa ponderou:

O objetivo de cada Rede é estabelecer uma conexão entre as pessoas, conscientizando-as de pertencer a algo bem mais superior a elas. Eis o propósito de muitas plataformas mediáticas, que fazem tanto bem através dos meios de comunicação. Mas, é preciso também fazer atenção, porque, infelizmente, nos canais de comunicação podem-se encontrar práticas desumanizantes, de natureza tecnocrática”.

Apelo radical à escuta e ao respeito recíprocos

Entre tais práticas, Francisco destacou a divulgação deliberada de notícias falsas, incitação ao ódio e divisão, redução das relações humanas com algoritmos, para não mencionar a promoção de falsos sentimentos de pertença, especialmente entre os jovens, que os pode levar até ao isolamento e à solidão.

O uso distorcido dos encontros virtuais, afirmou o Papa, pode ser superado com uma cultura de encontros autênticos, que implica um apelo radical à escuta e ao respeito recíprocos, até para quem tem opiniões divergentes.

Neste sentido, afirmou, a “Rede Internacional de Legisladores Católicos” pode dar exemplo, porque tenta reunir pessoas do mundo inteiro, de forma sincera e genuína. E explicou:

Criar uma rede, porém, não significa apenas unir pessoas, mas dar-lhes a possibilidade de cooperar para atingir a meta de um objetivo comum. Os primeiros discípulos de Jesus foram chamados a uma ação conjunta ao lançar as redes para uma pesca abundante. Poderíamos definir a criação de redes como ferramentas para ser utilizadas, de forma partilhada, para a realização de um objetivo comum”.

Missão comum de proclamar com alegria o Evangelho

Ambos os aspectos “conexão e objetivo comum” são as características do trabalho da “Rede Internacional de Legisladores Católicos”, que também refletem a vida da Igreja, Povo de Deus, chamado a viver em comunhão e missão. Estes dois aspectos, sustentados pela força do Espírito Santo, unem as pessoas na comunhão fraterna interna e, ao mesmo tempo, as impelem à missão comum de proclamar com alegria o Evangelho. E o Papa concluiu:

Uma rede verdadeiramente cristã já é uma resposta às tendências desumanizantes, porque não tende apenas às verdades que libertam a existência do homem, mas as tornam modelos no contexto de suas atividades. Por este motivo, manter uma rede internacional, genuinamente católica, significa indicar, com credibilidade, uma alternativa à tirania tecnocrática, que induz os nossos irmãos e irmãs a se apropriar dos recursos, tanto da natureza como da existência humana, que, no entanto, diminui a sua capacidade de tomar decisões e viver livremente”.

O Santo Padre se despediu dos participantes no Encontro da “Rede Internacional de Legisladores Católicos”, invocando o Espírito Santo que inspire e oriente os esforços de todos para formar uma nova geração de líderes católicos treinados e fiéis, que se dedique à promoção do ensinamento social e ético da Igreja e do crescimento do Reino de Deus.

Fonte: Vatican News

(26-08-2023)

Abertas as inscrições para Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão

Nesta 14ª edição, o Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão incentiva o recebimento de pautas que traduzam as necessidades e as esperanças de um país assolado por emergências sanitárias, desastres ambientais, ataques à democracia e seus valores, desinformação, violência, desigualdades, fome.

Ataques frequentes aos Direitos Humanos por forças políticas conservadoras e esgarçamento do tecido social do país acabam por delinear o momento histórico e político em que vivemos e o papel que nos cabe na construção do futuro.

Para o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, o futuro começa agora. O mundo pós-pandemia e das desigualdades pode parir um novo modelo de civilização, uma nova época de possibilidades.

Olhar com atenção o presente e fazer ecoar os gritos do mundo é prerrogativa do jornalismo, que por meio das pautas que escolhe e das reportagens que desenvolve, também conta a história do cotidiano e é capaz de transformá-lo.

Fica, então, o desafio: quais pautas o mundo está gritando? Para ouvir o presente e ajudar a construir o futuro em bases mais éticas, humanas e solidárias, o Jornalismo e os Direitos Humanos têm papel fundamental.

Inscrições até o dia 19 de junho de 2022. Todos os detalhes em https://vladimirherzog.org/jovem-jornalista/

FENAJ protesta contra condenação do jornalista Rubens Valente

(Foto de Roque de Sá/Agência Senado, e ao lado a reprodução da capa)

A Federação Nacional dos Jornalistas expressa o seu protesto contra recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que penaliza o jornalista Rubens Valente, autor do livro “Operação Banqueiro” – uma extensa e rigorosa reportagem sobre Daniel Dantas, banqueiro preso em 2008, em operação da Polícia Federal –, por citações a ministro da corte.

A ação judicial é de autoria do ministro Gilmar Mendes, do STF, que – como figura pública relacionada ao caso judiciário de Daniel Dantas – teve sua trajetória reportada na obra. Sem fazer reparos significativos aos fatos apresentados, o ministro pediu a condenação do jornalista por “danos morais”.

É notável que, na primeira instância, Mendes tenha perdido a ação, pois o juízo concluiu que no livro não há “informação falsa ou o intuito difamatório”. Em suma, trata-se de um relato jornalístico, com base em apurações e fatos reportados.

Na 2ª instância (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios/ TJDFT), a sentença foi reformada. Nos tribunais superiores, Superior Tribunal de Justiça e STF, a decisão ganhou tintas escandalosas, na via da censura e da penalização abusiva.

Rubens Valente, jornalista assalariado, foi condenado inicialmente a pagar uma indenização de R$ 143 mil a Mendes (já paga), e agora, como réu solidário, pagar mais R$ 175 mil não pagos pela empresa (Geração Editorial). É um valor que espolia o profissional, dilapidando o pouco amealhado em uma vida de trabalho jornalístico sério.

A decisão final ainda inclui a exigência de que, caso a obra venha novamente a ser publicada, tenha incorporadas, na íntegra, a petição inicial da ação de Mendes e a sentença judicial. São cerca de 200 páginas (!!), o que inviabiliza o livro e se caracteriza, nos fatos, como censura.

A FENAJ vê com preocupação os diversos casos ocorridos nos últimos anos, no Brasil, de utilização do Judiciário para cercear a livre circulação da informação jornalística e para castigar jornalistas. E vê com preocupação redobrada esta decisão, por ter sido tomada pela mais alta corte do país.

Manifestamos claramente nosso inconformismo, em defesa do direito constitucional da população brasileira à informação, garantido pelo exercício do jornalismo (art. 5º, inciso XIV da Constituição). Não podemos concordar com uma decisão que pode agora dar base a perseguição judicial a jornalistas, atentando contra a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão e a própria democracia.

Manifestamos a total solidariedade da FENAJ ao jornalista Rubens Valente, e tomaremos as medidas ao nosso alcance para apoiá-lo e ajudá-lo a manter o seu relevante trabalho jornalístico.

Federação Nacional dos Jornalistas

Referência do jornalismo latino-americano, Rodolfo Walsh completaria 94 anos

Por Fernanda Paixão

Seu último escrito foi também sua última ação política: uma carta denunciando os crimes da ditadura militar

No dia 9 de janeiro de 1927 nascia Rodolfo Jorge Walsh, que completaria 94 anos este ano. Escritor, militante e notável jornalista argentino, deixou no país um legado que até hoje é referência literária e histórica.

Seu compromisso social e seu apurado instituto investigativo o levaram a combater o cerco informativo durante a ditadura militar, a envolver-se na espionagem internacional e escrever contos e reportagens que revolucionaram a forma de fazer jornalismo na América Latina.

Sua grande obra, o livro Operação Massacre, é uma síntese dessa trajetória. Enquanto jogava xadrez em um bar, mas de ouvidos atentos, escutou a conversa de uma mesa próxima a frase: “há um fuzilado que vive”.

A conversa referia-se ao fuzilamento de rebeldes contra a ditadura no lixão de José León Suárez, em Buenos Aires, em 1956. Walsh parte, então, para uma jornada investigativa que seria publicada em partes em uma revista e, em 1957, em livro.

Isso faz de Walsh um inaugurante do jornalismo investigativo no continente e antecessor de Truman Capote, considerado como fundador do gênero pela publicação de “A sangue frio” em 1966.

“Não posso, nem quero, nem devo renunciar a um sentimento básico: a indignação diante do massacre, da covardia e do assassinato.”
Rodolfo Walsh

“Essa investigação é realmente impressionante”, destaca Felipe Pigna, historiador e difusor cultural renomado na Argentina. “Nessa obra, é possível ver como, além de um grande escritor e jornalista, Walsh era um notável investigador, com uma sensibilidade muito particular e que sabia como plasmá-la – o que tem a ver com o fato de que ele era também um grande leitor de ficção policial”, conta Pigna.

Na introdução de Operação Massacre, o historiador e escritor Osvaldo Bayer, falecido em 2018, disse sobre seu amigo Walsh: “suas melhores qualidades literárias foram alma e humanidade.” Em entrevista concedida à TeleSUR, definiu o jornalista como “o melhor de todos da nossa geração”.

Saiba mais: Agência de comunicação popular é lançada na Argentina, uma parceria do Brasil de Fato

Da ultradireita católica ao peronismo sindical

Além de seu trabalho investigativo, Walsh teve ações políticas que marcaram sua história, como seu período em Cuba e as grandes colaborações ao lançar agências de notícias e jornais que ofereciam narrativas alternativas sobre a região e a classe trabalhadora.

Em Cuba, lançou a agência de notícias Prensa Latina, ao lado de figuras como Gabriel García Márquez. O objetivo era confrontar a desinformação promovida por agências de notícias norte-americanas, apresentar informações e outras perspectivas sobre a Revolução Cubana.

Ele também colaborou com a revolução ao decodificar mensagens criptografadas entre a CIA e a tropa de cubanos exilados, na tentativa de invasão que ficou conhecida como a Invasão da Baía dos Porcos, em 1961.

Também nos tempos da ditadura, inaugura a Agência de Notícias Clandestina, que tentava informar a população com folhetos distribuídos em meios de transporte, quando a maioria dos meios de comunicação seguiam a narrativa militar.

Mas nem sempre a trajetória política do jornalista argentino esteve a esquerda. Walsh foi criado no ultradireitismo católico, e teria comemorado a queda de Juan Domingo Perón em 1955, com o golpe militar. “Walsh vinha de uma família irlandesa muito católica”, conta Pigna. “Formou-se em um colégio católico, mas logo aproximou-se de grupos católicos que se afastavam da ultradireita, a Aliança Libertadora Nacionalista. Depois, torna-se completamente crítico a esses grupos e toma uma postura oposta às origens políticas da sua adolescência.”

Ele também colaborou com a revolução ao decodificar mensagens criptografadas entre a CIA e a tropa de cubanos exilados, na tentativa de invasão que ficou conhecida como a Invasão da Baía dos Porcos, em 1961.

Também nos tempos da ditadura, inaugura a Agência de Notícias Clandestina, que tentava informar a população com folhetos distribuídos em meios de transporte, quando a maioria dos meios de comunicação seguiam a narrativa militar.

Mas nem sempre a trajetória política do jornalista argentino esteve a esquerda. Walsh foi criado no ultradireitismo católico, e teria comemorado a queda de Juan Domingo Perón em 1955, com o golpe militar. “Walsh vinha de uma família irlandesa muito católica”, conta Pigna. “Formou-se em um colégio católico, mas logo aproximou-se de grupos católicos que se afastavam da ultradireita, a Aliança Libertadora Nacionalista. Depois, torna-se completamente crítico a esses grupos e toma uma postura oposta às origens políticas da sua adolescência.”

Fonte: Brasil de Fato

(22-01-2021)

Brasil desmilinguindo, gente morrendo, e Bolsonaro praticando tiro ao alvo

Por Ricardo Kotscho
Se não é caso de impeachment, só pode ser de interdição por uma junta médica.
No dia em que o Brasil amanheceu desmilinguindo, com novos recordes de mortos e contaminados pelo coronavírus, o povo saindo novamente às ruas, no pico da pandemia, e encerrando a quarentena por conta própria, o preço dos alimentos disparando, os miseráveis se aglomerando em filas intermináveis na frente das agências da Caixa para escapar da fome, com congestionamentos voltando às grandes cidades, as UTIs dos hospitais públicos lotadas e com filas na porta, o presidente da República saiu do Palácio da Alvorada hoje cedo, sem falar com os jornalistas, e foi praticar tiro ao alvo no estande General Darcy Lázaro, em Brasília.
Dá para acreditar? Foi ele mesmo quem divulgou o vídeo nas redes sociais: “Aí, dez tiros, o pior foi 8. Tá bom, né? Depois de 30 anos inativo. Bom dia a todos”.
Devem ser os quase 30 anos em que Bolsonaro passou inativo no fundão do baixo clero na Câmara, sem dar tiros nem aprovar qualquer projeto, depois de ser afastado do Exército, aos 33 anos.
Bolsonaro venceu, tinha motivos para comemorar. Nomeou para o Ministério da Justiça e o comando da Polícia Federal dois amigos do peito, garantindo a retaguarda, e convenceu boa parte da população que esse negócio de pandemia era bobagem.
Por todo o país, prefeitos e comerciantes se uniram para acabar com essa história de isolamento social, seguindo a mensagem do grande líder do rebanho: o importante é levar vantagem em tudo.
Com as investigações sobre a sua família no STF e em várias instâncias da Justiça, agora sob os cuidados de um delegado que foi o seu chefe de segurança na campanha eleitoral, e de demitir os dois ministros mais populares do governo, inclusive o da Saúde, em plena pandemia, Bolsonaro agora acha que pode tudo.
Estava tudo muito bem planejado. Depois de fechar negócio com a turma do Centrão, no escurinho do Planalto, o capitão correu em seguida para o “Forte Apache”, o Quartel General do Exército em Brasília, para garantir o apoio da tropa em sua ofensiva final contra a democracia e a Constituição. Moro caiu com um peteleco.
Agora, com tudo sob seu controle, cercado dos filhos e de generais de pijama, Bolsonaro pode tranquilamente praticar tiro ao alvo às 7 da manhã, sem dar a menor bola para o que está acontecendo no país, com as tragédias humanas se sucedendo por toda parte.
O alvo somos todos nós, que não fazemos parte da seita bolsonarista, sem chance de que algo possa mudar tão cedo.
Com 33% da população ainda achando que o governo dele é ótimo ou bom, podem morrer quantos mais milhares de pessoas forem, não importa. Os devotos da seita não vão mudar de opinião.
Desde o guru Jim Jones, o predecessor de Olavo de Carvalho, não há registro na história de um povo que tenha caminhado tão mansamente para o suicídio coletivo.
Até países como a Alemanha, tão competentes no combate à pandemia, já se arrependeram de ter afrouxado esta semana o isolamento social, ao notar o crescimento de novos casos de contaminação.
Aqui só querem afrouxar cada vez mais. Parceiro do negacionismo de Bolonaro no ínício da grande crise sanitária, agora até o amigão Trump resolveu cortar os voos com o Brasil.
Mas nada é capaz de mudar as certezas do “Mito”, cada vez mais cheio de si, o presidente que não descansa enquanto não promover o “liberou geral”, agora com um ministro de fachada, para o grande mago Paulo Guedes retomar os seus maravilhosos planos de crescimento da economia em “V”, com as reformas só cortando despesas e acabando com os direitos sociais, tudo em nome do equilíbrio fiscal e da alegria dos bancos.
São todos uns pândegos, gente sem nenhuma empatia, indiferentes aos sofrimentos humanos, ressentidos crônicos e vingativos, que se aprazem na “schadenfreude”, a alegria dos nazistas alemães de ver a desgraça dos outros.
Aqueles, queriam conquistar e subjugar o mundo porque se achavam uma raça superior. Essas tropas de assalto nativas, querem o quê? Estão a serviço de quem?
E o país vai se desmilinguindo a cada dia mais, gente morrendo nas filas dos hospitais, sem respiradores nas UTIs, sem vagas nos cemitérios superlotados, morrendo de fome, sem despedidas nem velórios.
Vida que segue, enquanto deixam.
Fonte: Balaio do Kotscho
(28-04-2020)

Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos abre inscrições

Jornalistas, artistas do traço e repórteres fotográficos de todo o Brasil têm até o próximo dia 20 de julho para inscrever suas produções e concorrer ao 41º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

Considerado entre as mais significativas distinções jornalísticas do país, o Prêmio Vladimir Herzog tem abrangência nacional e reconhece, ano a ano, trabalhos que valorizam a democracia e os direitos humanos. A iniciativa conta com o apoio do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio).

Para concorrer, os candidatos devem acessar o site do prêmio, preencher a ficha cadastral e anexar sua obra publicada ou veiculada no período entre 24 de julho de 2018 a 20 de julho de 2019, inclusive. Nesta edição, serão aceitas produções jornalísticas inscritas em seis categorias:

1) Arte – ilustrações, charges, cartuns, caricaturas e quadrinhos publicados em veículos impressos ou eletrônicos

2) Fotografia – foto ou série fotográfica publicada em veículos impressos ou eletrônicos

3) Produção jornalística em texto – reportagens em texto publicadas em veículos impressos ou eletrônicos

4) Produção jornalística em áudio – reportagens ou documentários em áudio

5) Produção jornalística em vídeo – reportagens ou documentários em vídeo

6) Produção jornalística em multimídia –  reportagens multimídia publicadas na internet

O 41º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos é promovido e organizado por uma comissão constituída pelas seguintes instituições: Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ); Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo; Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI).

Outras organizações incluem Coletivo Periferia em Movimento; Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP); Instituto Vladimir Herzog; Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB Nacional, Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo; Conectas Direitos Humanos; Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo e  Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM).

Calendário executivo

41º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos

  • Regulamento e Inscrições em premiovladimirherzog.org
  • Período: 27 de junho a 20 de julho de 2019
  • Júri de 1ª etapa: 1º de agosto a 15 de setembro, via sistema
  • Júri de 2ª etapa e divulgação dos vencedores: 11 de outubro, quinta-feira, em sessão pública de julgamento na Câmara Municipal de São Paulo / Sala Oscar Pedroso Horta e transmissão ao vivo pela internet, das 10h às 14h, em Auditórios on-line
  • Roda de Conversa com os Ganhadores: 24 de outubro, quinta-feira, das 14h às 18h
  • Solenidade de premiação: 24 de outubro, quinta-feira, 20h
  • Local: TUCARENA – Rua Monte Alegre, 1024, Perdizes, São Paulo

Para mais informações, acessar www.premiovladimirherzog.org

Fonte: Nações Unidas (27-06-2019)

 

Jornalismo declaratório

Foto: Rawpixel.com

Em todos os países há políticos demagogos que falam o que quiser, sem se dar o trabalho de pesquisar sobre o tema. Alguns, inclusive, presidentes – como tem sido comum –, que não têm vergonha de mentir à nação.

No jornalismo, não é incomum abrir espaço para estas declarações. Afinal, vêm de um chefe de Estado. Elas vêm acompanhadas, no entanto, de comentários de especialistas, checagem de dados e verificação dos fatos. Isso se chama jornalismo.

Mas, em todo o mundo, desde muito tempo, não se pratica mais jornalismo diante de tais palavreados inconsequentes. Simplesmente se descreve o que a autoridade pública disse e pronto – publica-se!

Isso pode ser qualquer coisa, menos jornalismo.

Há, inclusive, uma expressão para isso: é o jornalismo declaratório. Alguém declara qualquer besteira, você publica e empresta a credibilidade da imprensa ou da TV para essa besteira. Não é jornalismo e, na maior parte das vezes, é pura desinformação a serviço do poder.

Foi assim que o fantoche que ocupa o Palácio do Planalto conseguiu emplacar algumas linhas em diversos meios de comunicação, afirmando que “em nenhum país do mundo há uma Justiça do Trabalho como no Brasil” (Valor Econômico).

Mentira. Desinformação. Mas o jornalismo declaratório nada informa, apenas amplia a ignorância ou opinião. Como disse, não é jornalismo. O jornalista Leonardo Sakamoto – esse, sim, praticando jornalismo comum – foi atrás de especialistas e rapidamente desmascarou o fantoche-presidente.

Pouco importa. Deu na TV, no rádio, o presidente disse.

E a grande mídia ainda se pergunta por que está em crise.

Kucinsky dedica prêmio Herzog a Lula, com ‘tristeza’ por jornalistas

Por Paulo Donizeti de Souza

Escritor Bernardo Kucinski se diz “acabrunhado” com o papel de profissionais da imprensa no fenômeno Bolsonaro: “Como explicar o voto de milhões de brasileiros a um ser repulsivo?”

Ao ser reconhecido na 40ª edição do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, o escritor Bernardo Kucinski citou em pronunciamento a memória de Luiz Eduardo Merlino e do próprio Herzog. Tomou a morte trágica de dois dos mais brilhantes jornalistas de sua geração – ambos após violentas torturas nos porões da ditadura – como elo para sua expressão de perplexidade pela ascensão política de Jair Bolsonaro, apoiador confesso do crime de lesa humanidade que é a tortura.

“Como explicar o voto de milhões de brasileiros a um ser repulsivo? Como explicar um fenômeno de dissonância cognitiva de tal magnitude? Suas causas são certamente muitas e complexas. Mas não é um processo que nasceu ontem. Vem sendo cevado ao longo de décadas, desde que um operário, um simples operário, liderou as grandes greves que levaram à queda da ditadura e posteriormente se tornou presidente do Brasil”, definiu em sua fala durante a cerimônia de premiação, no último dia 25 de outubro.

O escritor disse não se espantar com a postura dos “donos do poder econômico”, já esperada, em favor do ex-capitão, tampouco com a da classe média “frustrada e enraivecida”, nem mesmo com a do povo pobre, presa fácil das teses de linchamento e justiçamento.

“O que mais me entristece e me envergonha neste momento (…) é a postura dos que deviam saber melhor, entre os quais, obviamente, nós, os jornalistas”, disse, numa referência à renúncia de grande parcela dos profissionais em relação ao exercício da ética e da crítica ao executar o noticiário ao sabor dos donos dos meios de comunicação sem pensar nas consequências para a democracia, para a sociedade e para outras vidas humanas.

Bernardo Kucinski abriu, porém, ressalvas ao compartilhar a premiação com “os jornalistas que exerceram e exercem a função mais nobre de nosso ofício, que é a de defender a liberdade, a vida e os direitos fundamentais do ser humano, entre os quais o direito à moradia, à alimentação, à educação e à saúde”.

Nesse momento, lembrou ainda do papel histórico do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem assessorou nos primeiros anos de mandato presidencial. “Compartilho (o prêmio) também com o ex-presidente Lula, que à extensão desses direitos devotou sua carreira política, hoje, mais do que nunca, vítima do ódio coletivo e do linchamento.”

Respeitado professor de Jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Kucinski foi um dos pioneiros do jornalismo econômico, voltado à produção de conteúdo acessível ao cidadão médio. Com larga experiência na imprensa brasileira, comercial e alternativa, e internacional, deu na década passada valorosa colaboração para a criação da Revista do Brasil, embrião desta RBA – período em que começou a se desapegar do jornalismo para estudar e se aprimorar na literatura de ficção. Por meio da ficção, continuou expressando resistência, como cidadão, em favor da memória e da verdade.

O livro de contos K – Relato de uma Busca foi sua primeira obra ficcional, inspirada na procura incansável de seu pai pela filha Ana Rosa Kucinski, professora do Instituto de Química da USP e militante da Ação Libertadora Nacional, sequestrada junto com o marido em 1974 pelo aparato de repressão e, até hoje, desaparecida política.

Toda essa trajetória profissional e cidadã conferiu a Kucinski o reconhecimento também já conferido a personagens como Perseu Abramo, Elifas Andreato, Raimundo Pereira, Rubens Paiva, Mauro Santayana, Audálio Dantas e dom Paulo Evaristo Arns. Mais uma vez, o Prêmio Especial Vladimir Herzog ficou em boas mãos.

Leia íntegra

Alocução na outorga do prêmio Jornalístico Vladmir Herzog de Direitos Humanos e Anistia, 25 de Outubro de 2018, Tucarena, SP (antes, portanto do segundo turno da eleição)

Boa noite a todos e a todas. Entendo a escolha do meu nome para o prêmio Vladmir Herzog deste ano como um posicionamento coletivo de repúdio aos que pregam a violação dos direitos humanos, mais do que homenagem a um indivíduo. E agradeço por ter sido escolhido o instrumento desse gesto. Sinto-me honrado.

Quarenta e oito anos atrás, em 1970, tempos de ditadura militar, eu e minha mulher partíamos para Londres para o que se chamava então de exílio voluntário. Levava no bolso uma cartinha de recomendação do Vlado para o chefe do serviço brasileiro da BBC, onde Vlado havia trabalhado. Levávamos na bagagem os originais de um livro escrito por mim e pelo jornalista Italo Troca, denunciando as torturas no Brasil – encomenda do jornalista Luiz Eduardo Merlino, que o publicou na França com o título Pau de Arara, a violência militar no Brasil.

Pouco depois, em julho do ano seguinte, Luiz Eduardo Merlino foi preso ao retornar ao Brasil e torturado no pau de arara, no Doi-Codi de São Paulo, comandado pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Merlino sofreu ruptura da veia femural e foi deixado à morte. Tinha apenas 23 anos. Era um dos mais brilhantes jornalistas da nossa geração.

Passaram-se quatro anos. No dia 25 de outubro de 1975 parti outra vez para Londres, para um breve estágio numa redação. Ao desembarcar, recebi a notícia de que Vlado tinha sido assassinado no mesmo DOI-CODI de São Paulo em que mataram Merlino. Ao visitar amigos na BBC soube que agentes da embaixada tentavam extrair declarações de que Vlado era mentalmente instável.  Vlado tinha apenas 38 anos.  Também foi um dos mais brilhantes jornalistas de nossa geração.

Em 2008, passados quase 40 anos da morte de Merlino, Ustra tornou-se o primeiro oficial condenado em ação declaratória por sequestro e tortura, movida pela família de Merlino. Entretanto, oito dias atrás, já como reflexo dos novos tempos, o Tribunal de Justiça de São Paulo derrubou a sentença condenatória da primeira instância. E dentro de três dias, num dos episódios mais extravagantes de histeria coletiva de nossa história, poderá se eleger presidente do Brasil uma pessoa que além de desqualificada, em todos os sentidos da palavra, tem como ídolo esse mesmo o coronel Brilhante Ustra, responsável pelo assassinato de Merlino e co- responsável com seus colegas de repressão pela morte de Vlado e outras 433 pessoas entre as quais 210 desaparecidos políticos.

Cito artigo de Monica de Bolle da revista Época do dia 21 do mês passado:

Abro aspas: Em 2015 Bolsonaro disse em vídeo que Pinochet fez o que tinha que ser feito…Em 1999 durante entrevista à TV Bandeirantes, Bolsonaro deu a seguinte declaração: Você só vai mudar, infelizmente, quando partirmos para uma guerra civil aqui dentro. E fazendo um trabalho que o regime militar não fez. Matando 30 mil, e começando por FHC. Em 2016 disse o candidato e uma entrevistadora O erro da ditadura foi torturar e não matar. Fecho aspas.

Cito agora, o que essa mente, essa sim doentia, disse em vídeo tornado público no último domingo: “A faxina agora será muito grande. Essa turma se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora ou para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria… Se Lula estava esperando o Haddad ganhar e assinar o decreto de indulto vou dizer uma coisa: você, vai apodrecer na cadeia. Em breve você terá a companhia de Lindbergh Faria para jogar dominó. Aguarde que o Haddad também chegará ai e não será para visitá-lo não. 

Como explicar o voto de milhões e brasileiros a um ser repulsivo?  Como explicar um fenômeno de dissonância cognitiva de tal magnitude? Suas causas são certamente muitas e complexas. Mas não é um processo que nasceu ontem. Vem sendo cevado ao longo de décadas, desde que um operário, um simples operário, liderou as grandes greves que levaram à queda da ditadura e posteriormente se tornou presidente do Brasil. Atingiu seu e ápice quando Judiciário e imprensa fizeram do combate à corrupção uma guerra sectária. Citei de propósito artigo da revista Época porque o vi com uma das poucas exceções na postura da mídia, essas décadas todas.

Não me cabe julgar o outro. Não me cabe avaliar as razões de cada um. Falo de mim, do que eu sinto. O que mais me entristece e me envergonha neste momento, não é a postura dos donos do poder econômico, já esperada, nem a de uma classe média frustrada e enraivecida, nem mesmo a do povo pobre, açulado pelo discurso fácil do linchamento. O que me acabrunha é a postura dos que deviam saber melhor, entre os quais, obviamente, nós, os jornalistas.

Compartilho este prêmio Herzog com os jornalistas que exerceram e exercem a função mais nobre de nosso ofício, que é a de defender a liberdade, a vida e os direitos fundamentais do ser humano, entre os quais o direito à moradia, à alimentação, à educação e à saúde; e compartilho-o também com o ex-presidente Lula, que à extensão desses direitos devotou sua carreira política, hoje, mais do que nunca, vítima do ódio coletivo e do linchamento. Obrigado

Fonte: Rede Brasil Atual

https://www.redebrasilatual.com.br/revistas/146/kucinski-compartilha-premio-herzog-com-lula-e-lamenta-por-jornalistas-vergonha

(05-11-2018)

A imprensa-partido é o maior legado do Brasil pós-golpe

Se ainda restavam dúvidas sobre a imparcialidade da grande imprensa brasileira, ela acabou para seu mais crédulo adorador nos episódios que culminaram no golpe de Estado contra a eleita Dilma Rousseff. O tempo todo se tratou de uma postura difícil de se jogar para debaixo do tapete da “imparcialidade”, como demonstram incontáveis exemplos expostos nas redes sociais.

A miséria da imprensa é essa: quando interesses estão em jogo, é torcida mesmo. É partido político. Nem esconder tentam.

A imprensa brasileira está morta e, para nosso azar, ainda não há contraponto forte o suficiente para resgatar o jornalismo para além da imprensa partidarizada.

Eu, que há tantos anos estudo a imprensa, incluindo a oitocentista, acho honestamente triste que atualmente a imprensa no Brasil não seja mais fonte minimamente confiável – e, sejamos honestos, 90% dos jornais brasileiros dos últimos dois séculos, sozinhos, também não o eram, mas em seu conjunto formavam um cenário político mais realista.

Se informar hoje é buscar análises estrangeiras e líderes políticos honestos em seus argumentos (não necessariamente institucionalizados). E por que eles estão substituindo a imprensa?

Porque eles mantêm o que a imprensa sempre teve ao longo de muitos anos, historicamente: algum distanciamento e lado bem definido, respectivamente.

Por estar distante do poder, o líder político opositor (que comumente era dono de um pequeno ou médio jornal) nada tem a perder e, por isso, ganha ao denunciar friamente o jogo sujo. Mesmo que alguns, convidados a se sujar, aceitem de bom grado.

O mesmo se dá com o sujeito distante, como os viajantes do século XIX. Mergulhados subitamente numa realidade dura e nova, reagem sem filtros e acabam por emprestar o olhar ainda infantil (no bom sentido) aos observadores viciados.

A imprensa-partido, por estes motivos, não consegue mais enxergar o ridículo estado das coisas da qual faz parte.

Registra-se, ainda, que por falta de vontade política, o governo trabalhista não quis mudar esta situação. Mesmo em momentos em que dependia apenas do Executivo alterar o estado das coisas, seus líderes não o fizeram, acreditando que o diálogo entre classe trabalhadora e a elite ainda era possível e tinha, na grande mídia, espaço privilegiado. Um erro de análise que saiu caro.

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Uma coincidência: no dia em que se formalizará o golpe de Estado contra Dilma, 11 de maio, a Ação Integralista Brasileira promovia um levante contra Vargas e seu Estado Novo, em 1938.

A AIB, para quem não lembra, foi uma organização política de âmbito nacional inspirada no fascismo italiano, fundada por Plínio Salgado em 1932. Salgado esteve pessoalmente na Itália, em 1930, tendo conhecido e entrevistado Benito Mussolini.

Os integralistas apoiaram o golpe de Vargas (novembro de 1937) mas, como não foram agraciados com o espaço político que achavam adequado, decidiram levar à frente os levantes de 1938.