A partir deste sábado (7), os imigrantes que escolherem o Rio de Janeiro como lar passarão a contar com um centro de acolhimento e cidadania, o Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (Crai), localizado na Gamboa, região central da cidade.
O local foi criado a partir de uma parceria da Prefeitura do Rio com a Community Organised Relief Effort (Core), uma organização sem fins lucrativos fundada pelos atores hollywoodianos Sean Penn e Ann Lee para atuar em diversos países e populações em situação de vulnerabilidade.
A nova casa funcionará em um espaço cedido pela prefeitura, no segundo andar do Mercado Popular Leonel de Moura Brizola, prédio do município na rua Bento Ribeiro 86, perto da Central do Brasil. Coube à Core reformar e adaptar as salas para o Crai.
O centro, primeiro voltado a imigrantes na cidade, tem por objetivo oferecer abrigo temporário, assistência social e jurídica.
Atualmente, a Prefeitura do Rio de Janeiro não sabe quantos imigrantes moram na cidade, como vivem e de onde vieram. Uma das principais dificuldades encontrada pelos imigrantes é explicada em parte pela falta de documentos, como um CPF, que causa limitações para direitos trabalhistas e até mesmo para atendimento no SUS.
O Crai vai funcionar de segunda-feira das 9h às 18h e, no sábado, das 9h às 15h.
O livro “Dois séculos de imigração no Brasil – imagem e papel social dos estrangeiros na imprensa” será lançado no Rio de Janeiro, no próximo dia 18 de junho, terça-feira, na Livraria Folha Seca (rua do Ouvidor, 37), das 17h30 às 20h30. A obra foi publicada em dois volumes.
Para investigar como a imprensa tratou do tema da migração desde o início do século 19 até os nossos tempos, o autor Gustavo Barreto consultou 11 mil edições de periódicos jornalísticos impressos presentes no país ou em português e sobre o Brasil em que o tema da imigração foi citado direta ou indiretamente.
Foram selecionadas cerca de 200 matérias jornalísticas – e o resultado é a obra de 400 páginas, lançada em dois volumes. A pesquisa é fruto de quatro anos de pesquisa do autor, que é jornalista e pesquisador da área (saiba mais sobre os dois livros abaixo).
O livro contou com o apoio de cerca de 30 pessoas, que participaram da pré-venda antecipada, sendo esta a sua única fonte de financiamento. O preço da obra continuará promocional no lançamento, saindo por 35 reais cada volume – a metade do preço nas lojas.
Durante o lançamento haverá uma confraternização no bar ao lado da Livraria Folha Seca, que fechou uma parceria com o local para o evento.
Mais sobre a obra
Capa do volume 1 da obra. Os dois volumes serão lançados em junho de 2019
A entrada e o estabelecimento de imigrantes no Brasil desde 1808, data da abertura dos portos ao comércio com as nações amigas, foi um dos grandes acontecimentos da História do país. Somente entre 1901 e 2000, a população brasileira saltou de 17,4 milhões para 169,6 milhões de pessoas, com 10% desse crescimento devendo-se aos imigrantes.
Esse intenso fluxo migratório foi acompanhado de um ainda maior fluxo de informações sobre esses novos residentes. Durante todo o período analisado nesta obra de dois volumes – de 1808 a 2015 –, a imprensa ocupou-se do assunto a partir de referências conceituais, como assimilação, nacionalismo, embranquecimento, eugenia, racismo, xenofobia, tolerância e hospitalidade.
A partir da consulta de 11 mil edições de periódicos jornalísticos impressos presentes no país ou em português e sobre o Brasil em que o tema da imigração foi citado direta ou indiretamente, foram selecionadas aproximadamente 200 matérias jornalísticas que compõem este estudo.
O objetivo, tomando como referência os estudos migratórios, foi abordar as seguintes questões: o que significa ser imigrante ou estrangeiro para a imprensa brasileira ao longo da nossa História? Qual foi o papel atribuído a esses indivíduos e grupos, no Brasil, pelos meios de comunicação impressos?
No primeiro volume, do início do século 19 até o final da Primeira República, o autor faz uma breve introdução sociológica do Brasil oitocentista, bem como uma apresentação do debate teórico que nos guiou ao longo de todo o estudo, abordando conceitos como “raça”, “etnia”, “povo”, “identidade nacional” e “cultura”.
O período de 1808 a 1870 é marcado por experimentações na área de políticas imigratórias e a intensificação, sobretudo a partir de 1850, do debate acerca da necessidade de “braços para a lavoura”. É a partir da década de 1870 que o “ensaio” imigrante ganha força; desse momento até o final do regime monárquico, surgem muitas das colônias que se tornariam cidades profundamente influenciadas pelos seus primeiros colonos.
Da chegada dos republicanos ao poder (1889) até o início do governo Vargas (1930), é vitoriosa a tese de que o futuro do Brasil depende do braço europeu na lavoura. Procuram-se agricultores brancos que, de uma vez só, trarão a prosperidade econômica e o “melhoramento racial”.
No segundo volume, o autor trata do primeiro governo de Vargas (1930-1945), quando foi relativamente bem-sucedido um projeto autoritário e nacionalista de poder. Tratou-se de um período de grande receio para muitos dos estrangeiros, em grande parte obrigados, da noite para o dia, a deixar seus “quistos étnicos” e se “assimilar”.
A partir de 1946, a frágil democracia brasileira vive uma relativa tranquilidade institucional, mas já com sinais de que a doutrina da segurança nacional ganharia peso. Essa doutrina marcaria – no que diz respeito às políticas migratórias – o período seguinte, a partir da ditadura civil-militar vigente entre 1964 e 1980, com a marca autoritária persistindo em meio ao tímido, porém importante avanço do ideário dos direitos humanos nos meios de comunicação.
O objetivo maior desta obra é contribuir, dentro das limitações deste autor, com os estudos migratórios no Brasil, de modo a repensarmos nossa identidade e nossa solidariedade com os estrangeiros que aqui buscam uma nova vida.
O autor mantém, desde então, um site do projeto com novos textos publicados periodicamente. Acesse em www.midiacidada.org.
Os dois volumes de “Dois séculos de imigração no Brasil” já estão disponíveis para venda. Além da Livraria Folha Seca (rua do Ouvidor, 37, Centro, Rio de Janeiro), as principais livrarias também já disponibilizaram a obra, incluindo o site da Editora Appris (http://bit.ly/projeto200appris), Amazon (http://bit.do/projeto200) e Livraria Cultura (http://bit.ly/projeto200cultura).
Sobre o autor
Gustavo Barreto é jornalista na área de Relações Internacionais, com mestrado em Direitos Humanos e Internet e doutorado em Mídia, Cidadania e Migrações. Membro do grupo de pesquisa sobre migrações, diásporas e tecnologias da informação e da comunicação (Diaspotics), vinculado à Escola de Comunicação da UFRJ, onde fez estágio-docência por quatro anos. É autor do livro “Cidadania e Internet” (2017), lançado também pela Editora Appris.
Os dois volumes de “Dois séculos de imigração no Brasil” contaram com a orientação de Mohammed ElHajji, professor nos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (POS-ECO) e Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social (EICOS), ambos da UFRJ, e autor do prefácio. O autor pode ser contatado no e-mail gb@ufrj.br.
“Dois séculos de imigração no Brasil pela imprensa” – www.midiacidada.org – é um site que busca contar a História das migrações internacionais no país a partir de relatos da imprensa lida e/ou produzida no Brasil.
A iniciativa é, na verdade, uma pesquisa de Doutorado que será apresentada no início de 2015, na Escola de Comunicação da UFRJ. O site oferece uma plataforma interativa, em que qualquer pessoa poderá comentar os textos que deverão compor a tese.
Até fevereiro de 2015, serão publicados toda semana pelo menos dois textos sobre o tema. Lançada em março de 2014, a plataforma já conta com 10 publicações.
A pesquisa sobre os imigrantes proporciona uma profunda reflexão, curiosamente, sobre o que é ser “brasileiro” – e como o pensamento dos formuladores de políticas de imigração no Brasil foi determinante para moldar esse conceito.
Inicialmente, a pesquisa divide o período de 1818 até os dias de hoje em cinco etapas, contendo também outros textos gerais publicados na seção “Etc”.
A autoria é do pesquisador Gustavo Barreto, sob orientação do professor Mohammed ElHajji (coordenador do site oestrangeiro.org). A qualidade da hospedagem do site é garantida pela empresa Axent.
Acesse em www.midiacidada.org
Jornalista, 40, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis em https://amzn.to/3ce8Y6h). Acesse o currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/0384762289295308.
Por Ruana Corrêa A imigração haitiana para o Brasil teve um aumento considerável após o catastrófico terremoto de Janeiro de 2010. Tal assunto colocou em pauta os temas de imigração e refúgio. A diferença básica entre eles é a seguinte: os refugiados saem de seus respectivos territórios motivados a salvar suas vidas, preservar sua liberdade, pois o Estado não garante; enquanto os imigrantes econômicos descoloram-se para melhorar sua perspectiva de vida e da família. Os haitianos são considerados imigrantes econômicos.
A proximidade geográfica entre Brasil e Haiti, a Missão de Paz brasileira no território haitiano, são os apontados como fatores determinantes para esta escolha. A porta de entrada é o Estado de Manaus, onde dirigem-se para as cidades de Tabatinga e Brasiléia, visto que lá existem postos da Polícia Federal. Devido à falta de preparo do Estado em termos de políticas públicas para refugiados, observa-se a mobilização de grupos ligados à Igrejas que auxiliam os haitianos que fugiram para o Brasil.
Nesse âmbito, destaca-se o Projeto Pró-Haiti na cidade de Manaus. Muitos haitianos saiam de Tabatinga para Manaus, onde procuravam ajuda na Igreja de São Geraldo, lá a Pastoral da Migrante da Arquidiocese de Manaus se mobilizou a fim de ajudar os haitianos. Eles contaram com ajuda de outras congregações, o povo amazonense, Polícia Federal e o Ministério do Trabalho. O principal objetivo do projeto é mobilizar diferentes forças e prestar um trabalho profissional e específico, fornecendo assistência jurídica e orientação sobre programas de saúde, educação, emprego e Justiça. E na maioria dos casos há atendimento psicológico e aulas de português dadas por professores voluntários. O Pró-Haiti atende cerca de 200 pessoas por semana, e todos os serviços prestados são gratuitos.
O projeto recebe apoio financeiro da Igreja de Manaus através da Caritas Diocesana e dos jesuítas do sul do Brasil, o superior geral dos Jesuítas, sediado em Roma, também proporcionou ajuda financeira. Além de contarem com doadores espontâneos de outros lugares do país que sensibilizaram-se com o projeto, como um grupo de italianos que fizeram uma campanha de roupas e enviaram alguns valores.
Após conseguirem documentação a maioria sai de Manaus, porque receberam oferta de emprego em outros lugares, como São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. E neste último Estado, graças aos meios de comunicação, encontra-se haitianos em quase todas as cidades. Diante de tal demanda, foi o governo do Estado criou o Fórum Permanente de Mobilidade Urbana no final do ano passado, que envolve sociedade civil e governo e abrange migrantes, refugiados, tráfico de pessoas, apátridas e marítimos.
Em entrevista concedida ao IHU On-Line, o missionário jesuíta e membro do Projeto Pró-Haiti, Paulo Welter, disse que é difícil cumprir a legislação internacional quando o assunto é refugiados e reapatriados, apesar da legislação internacional ser bem clara quanto ao que deve ser feito, as nações que recebem os refugiados costumam colocar impecilhos para o cumprimento dos acordos. Certamente influenciado pelo estágio de globalização em que vivemos, onde somente o humano não é globalizado.
No próximo dia 20 de junho (segunda-feira), acontecerá, no auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), no campus da UFRJ da Praia Vermelha, o III Fórum de Imigração do Rio de Janeiro. O evento, organizado pelo Programa de Educação Tutorial da Escola de Comunicação da UFRJ (PET-ECo), tem como tema de 2011 ‘Trocas Interculturais/Novas Identidades Locais’.
No Brasil, país que inventou a miscigenação, o modelo multicultural não resiste à força do contágio social e subjetivo. Logo depois da etapa de transição – durante a qual os refúgios comunitários são estratégicos para o estabelecimento e aclimatação –, o imigrante se encontra gradativamente impelido a se inserir no tecido social e cultural local.
A dinâmica de atritos e negociações, mas também de mimetismos, empréstimos e trocas mútuas, por parte do imigrante e do nativo, acaba deixando marcas identitárias profundas dos dois lados e permitindo o aparecimento de espaços simbólicos verdadeiramente interculturais. São espaços de interseção, onde o próprio e o emprestado, o novo e o antigo, o autêntico e o traduzido se tornam partes do mesmo conjunto identitário e subjetivo que envolve, inova e ensaia novas possibilidades de estar-junto e estar-no-mundo.
O III Fórum de Imigração convida estudiosos, pesquisadores, especialistas, lideranças comunitárias e interessados em geral para refletir, trocar idéias e debater a realidade migratória no Brasil. O desafio proposto pelos organizadores é, justamente, de trazer para o debate uma reflexão sobre a noção de interculturalidade no Brasil; exemplos de práticas culturais e marcas identitárias imigrantes incorporadas no cotidiano da sociedade brasileira; exemplos de aclimatação da cultura dos imigrantes à realidade local; exemplos de práticas culturais novas e inovadoras, fruto de encontro entre o imigrante e o nativo; uma avaliação dos eventuais benefícios ou prejuízos de tal dinâmica sobre as comunidades culturais estabelecidas no Brasil.
O Fórum acontece durante todo o dia 20, das 8:30 às 17h, e terá duas mesas de debate, mini degustação de comidas típicas de algumas comunidades de migrantes, além de apresentações culturais ligadas ao tema do encontro. Confira a programação:
Programação
8h30 – Café da manhã 9h às 12h – Mesa Conceitual 12h às14h – Apresentações artísticas e comidas típicas 14h às17h – Mesa Comunidades