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MST lança campanha nacional “Compartilhe Literatura, Cultive Imaginação”

Movimento promove campanha solidária de doação de livros de literatura para escolas e espaços formativos nas áreas de Reforma Agrária

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra acaba de lançar a campanha nacional “Compartilhe Literatura, Cultive Imaginação”, com o objetivo de construir espaços de solidariedade entre a cidade e o campo, fomentando o acesso à literatura.

A campanha integra as atividades do 1º Festival Literário do MST: Escrevivências Sem Terra, Luta e Construção, lançado entre a programação celebrativa do Movimento rumo aos seus 40 anos.

Com isso, o Movimento abre convocatória mobilizando o público para doar livros de literatura nas sedes dos Armazéns do Campo, distribuídos em diversas cidades do Brasil. Abrindo as portas dos espaços de comercialização de alimentos agroecológicos também para receber doações de livros literários que irão chegar para a base social dos Sem Terra, com o objetivo de garantir o direito à literatura.

“Então, o objetivo é mesmo garantir esse direito, que é um direito do ser humano. Nas palavras do Antonio Candido, ao acesso à literatura e, com ela, com acesso ao livro literário, a conhecer, experimentar e cultivar de fato a imaginação”, anuncia Luana Oliveira, que integra a coordenação da campanha.

A coordenadora explica ainda que o apoio de todos e todas, amigos e amigas do MST, é fundamental para fortalecer o processo do direito à literatura para o povo Sem Terra, bem como os espaços dos Armazéns do Campo, como um espaço de referência da arte, da literatura e da cultura geral.

Campanha recebe doação de livros de literatura em todo o país. Foto: Juliana Adriano

“A literatura é um direito inalienável. E é por isso que nós estamos construindo coletivamente a superação da cerca que nos impede de ler e escrever o mundo”, destacou Júlia Iara Araújo, dirigente nacional do Movimento e integrante da Frente de Literatura Palavras Rebeldes do MST.

Os livros doados serão destinados para as escolas do campo, centros de formação, bibliotecas e vão compor também as ações formativas do Movimento.

Para conferir o local mais próximo para realizar as doações, acesse o site dos Armazéns do Campo.

*Editado por Gustavo Marinho

Fonte: MST

(14/06/2023)

Homilia do Papa Francisco, na missa da vigília do Natal-2017

«Completaram-se os dias de [Maria] dar à luz e teve o seu filho primogênito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria» (Lc 2, 6-7). 

Com esta afirmação simples mas clara, Lucas leva-nos ao coração daquela noite santa: Maria deu à luz, Maria deu-nos a Luz. Uma narração simples para nos entranhar no acontecimento que muda para sempre a nossa história. Tudo, naquela noite, se tornava fonte de esperança.

Mas recuemos alguns versículos… Por decreto do imperador, Maria e José viram-se obrigados a partir. Tiveram de deixar os parentes, a sua casa, a sua terra e pôr-se a caminho para se recensearem. Uma viagem nada confortável nem fácil para um casal jovem que estava para ter um bebê: viram-se forçados a deixar a sua terra. No coração, transbordavam de esperança e de futuro por causa do filho que chegava; mas sentiam os passos carregados com as incertezas e perigos próprios de quem tem de deixar a sua casa.

E em seguida tocou-lhes enfrentar a coisa talvez mais difícil: chegar a Belém e sentir que era uma terra que não os esperava, uma terra onde não havia lugar para eles.

Mas foi precisamente lá, naquela realidade que se revelava um desafio, que Maria nos presenteou com o Emanuel. O Filho de Deus teve de nascer num curral, porque os seus não tinham espaço para Ele. «Veio para o que era seu, e os seus não O receberam» (Jo1, 11). E lá, no meio da escuridão duma cidade que não tem espaço nem lugar para o forasteiro que vem de longe, no meio da escuridão duma cidade toda em movimento que parecia querer, neste caso, edificar-se voltando as costas aos outros… precisamente lá acende-se a centelha revolucionária da ternura de Deus. Em Belém, criou-se uma pequena abertura para aqueles que perderam a terra, a pátria, os sonhos; mesmo para aqueles que sucumbiram à asfixia produzida por uma vida fechada.

Nos passos de José e Maria, escondem-se tantos passos. Vemos as pegadas de famílias inteiras que hoje são obrigadas a partir. Vemos as pegadas de milhões de pessoas que não escolhem partir, mas são obrigadas a separar-se dos seus entes queridos, são expulsas da sua terra. Em muitos casos, esta partida está carregada de esperança, carregada de futuro; mas, em tantos outros, a partida tem apenas um nome: sobrevivência. Sobreviver aos Herodes de turno, que, para impor o seu poder e aumentar as suas riquezas, não têm problema algum em derramar sangue inocente.

Maria e José, para quem não havia lugar, são os primeiros a abraçar Aquele que nos vem dar a todos o documento de cidadania; Aquele que, na sua pobreza e pequenez, denuncia e mostra que o verdadeiro poder e a autêntica liberdade são os que honram e socorrem a fragilidade do mais fraco.

Naquela noite, Aquele que não tinha um lugar para nascer é anunciado àqueles que não tinham lugar nas mesas e nas ruas da cidade. Os pastores são os primeiros destinatários desta Boa Notícia. Pelo seu trabalho, eram homens e mulheres que tinham de viver à margem da sociedade. As suas condições de vida, os lugares onde eram obrigados a permanecer, impediam-lhes de observar todas as prescrições rituais de purificação religiosa e, por isso, eram considerados impuros. Traía-os a sua pele, as suas roupas, o seu odor, o modo de falar, a origem. Neles tudo gerava desconfiança. Homens e mulheres de quem era preciso estar ao largo, recear; eram considerados pagãos entre os crentes, pecadores entre os justos e estrangeiros entre os cidadãos. A eles – pagãos, pecadores e estrangeiros – disse o anjo: «Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor» (Lc 2, 10-11).

Eis a alegria que somos convidados a partilhar, celebrar e anunciar nesta noite. A alegria com que Deus, na sua infinita misericórdia, nos abraçou a nós, pagãos, pecadores e estrangeiros, e nos impele a fazer o mesmo.

A fé desta noite leva-nos a reconhecer Deus presente em todas as situações onde O julgamos ausente. Ele está no visitante indiscreto, muitas vezes irreconhecível, que caminha pelas nossas cidades, pelos nossos bairros, viajando nos nossos transportes públicos, batendo às nossas portas.

E esta mesma fé impele-nos a abrir espaço a uma nova imaginação social, não ter medo de experimentar novas formas de relacionamento onde ninguém deva sentir que não tem um lugar nesta terra. Natal é tempo para transformar a força do medo em força da caridade, em força para uma nova imaginação da caridade. A caridade que não se habitua à injustiça como se fosse algo natural, mas tem a coragem, no meio de tensões e conflitos, de se fazer «casa do pão», terra de hospitalidade. Assim no-lo recordava São João Paulo II: «Não tenhais medo! Abri, antes, escancarai as portas a Cristo» (Homilia na Missa de início do Pontificado, 22/X/1978).

No Menino de Belém, Deus vem ao nosso encontro para nos tornar protagonistas da vida que nos rodeia. Oferece-Se para que O tomemos nos braços, para que O levantemos e abracemos; para que n’Ele não tenhamos medo de tomar nos braços, levantar e abraçar o sedento, o forasteiro, o nu, o doente, o recluso (cf. Mt 25, 35-36). «Não tenhais medo! Abri, antes, escancarai as portas a Cristo». Neste Menino, Deus convida-nos a cuidar da esperança. Convida-nos a fazer-nos sentinelas para muitos que sucumbiram sob o peso da desolação, que deriva do facto de encontrar tantas portas fechadas. Neste Menino, Deus torna-nos protagonistas da sua hospitalidade.

Comovidos pelo jubiloso dom, Menino pequenino de Belém, pedimo-Vos que o vosso choro nos desperte da nossa indiferença, abra os olhos perante quem sofre. A vossa ternura desperte a nossa sensibilidade e nos faça sentir convidados a reconhecer-Vos em todos aqueles que chegam às nossas cidades, às nossas histórias, às nossas vidas. Que a vossa ternura revolucionária nos persuada a sentir-nos convidados a cuidar da esperança e da ternura do nosso povo.

Insomnio

Esas horas en las que la memoria decide hacer uno de sus vastísimos paseos. Entonces no queda más remedio que tratar de acompañarla al menos hasta cierto punto, a ver si después de ese deseado instante final del recorrido, el sueño finalmente llega. Obviamente a estas horas no es algún tipo de preciosismo estilístico el que me podría llegar a preocupar. Más bien sería dejarme llevar por este movimento que trato de aquietar dejándolo venir a su modo. El viento sopla y hacen ruido los vidrios de las ventanas.

Tal vez alguien más sistemático o paciente, podría iniciar o conluir un libro sobre el insomnio. Una Martha Medeiros o un Graciliano Ramos. Yo quisiera intentar al menos registrar aquí y ahora, mi admiración y perplejidad por lo que son la memoria, la mente, la percepción. Anoche di un vistazo a una película que trata en parte sobre esto: O meu tio da América, que me fuera recomendada por mi tío Ramón Pascual Muñoz Soler. “Willy,” como le llamábamos en familia.

Ayer a la tarde anduve por el centro haciendo algunas compras. Afiches pegados por todas partes. Año electoral. El Frente de Izquierda. Recordé otros años electorales, hace mucho tiempo atrás. Pensé que a pesar de mi afinidad con algo que sin duda es izquierda, la recíproca no es demasiado verdadera. Es decir: aunque me siento verdaderamente del lado de los que trabajan y se interesan por ver triunfar la justicia en este mundo, muchas de las cosas que para mí son de extraordinario valor, son simplemente ignoradas o puestas en lugares de ínfima importancia, por las izquierdas que he conocido.

Esto es como para decir que no me siento obligado a las opciones que oferece la política partidaria. Sigo creyendo más y practicando más la política de lo comunitario, aquella hecha de acciones en redes dedicadas a diversos objetivos convergentes en lo humano, en espacios de relaciones cara a cara. Ý aquí no queda más remedio que decir que lo doctrinario y lo ideológico, feliz o infelizmente, me parecen cada vez más falsificaciones de las cuales con afán sigo tratando de escapar.

No sé con qué grado de éxito, pero sigo tratando de escapar de esos y otros intentos de querer atrapar la realidad y decir: la vida es esto, el ser humano es así, el mundo es esto, y ahí vienen intrincados sistemas de enunciados y proposiciones. Más vale sigo siendo alguien que se sigue sorprendiendo con las cosas. El viento ahora sacude los vidrios de las ventanas con menos ahínco, lo cual parece guardar alguna simetría con el fin de estas disquisiciones. Si finalmente el sueño está por llegar o no, es algo que todavía está por verse.