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O Brasil em compasso de espera

Antes que alguém  me indagasse se desistira de remar contra a corrente, aqui vim, mesmo não tendo algo de novo para dizer.

O noticiário é que me inspira –ou não. Assim, em fases de estagnação como a atual, sinto-me qual  peixe fora d’água.

Que importância, tem, p. ex., a confirmação de mais um ministro do STF suspeito de inadequação para o posto? Conseguirá Fachin ser pior do que o fanático religioso Cezar Peluso, o tendenciosíssimo Gilmar Mendes e o tudo-que-há-de-ruim-concentrado-numa-pessoa-só Dias Toffoli? Duvido.

Dilma Rousseff, tendo vendido a alma ao capital para se manter presidenta, colhe os frutos da barganha: percebe-se claramente que de nossas viciadas e viciosas instituições não partirá a iniciativa de desalojá-la do Palácio do Planalto, já que a capitulação aos realmente poderosos teve menor custo e garante os mesmos benefícios. Vai continuar envergando a faixa presidencial –melhor seria uma coroa igual à da rainha da Inglaterra– enquanto Joaquim Levy governa a economia, em benefício dos exploradores e arrancando o couro dos explorados.

Assim, mudança só haverá se as ruas determinarem. E isto vai depender do agravamento da recessão que ora amargamos. A partir de agosto, depois das férias escolares, saberemos se o povo brasileiro vai se conformar com mais um ajuste fiscal iníquo ou, desta vez, não pagará a conta de um banquete do qual viu apenas as migalhas.

Se há alguma esperança nos expoentes de esquerda que trafegam pelas vias da política oficial, está em Lula, Tarso Genro, Guilherme Boulos e que tais. Quanto aos que agora passaram a rezar pela cartilha do Milton Friedman, temo que estejam perdidos para sempre. Atravessaram o Rubicão.

A opção pelo neoliberalismo não destrói a esquerda somente no presente, vai deixá-la sem credibilidade por muitos e muitos anos. O impeachment seria melhor.

Qualquer coisa, menos uma nova ditadura, seria melhor, do ponto de vista de quem quer acumular forças para a revolução, não apenas conciliar pelo máximo de tempo possível os (no longo prazo), inconciliáveis interesses do capital e trabalho.

Quanto mais vejo o Brasil de hoje, mais me convenço de que tudo o que havia para se dizer sobre este gigante eternamente apequenado, o Glauber Rocha já disse em Terra em Transe (clique p/ ver o filme completo).

Até quando continuaremos negando fogo nos momentos decisivos? Até quando deixaremos que nos soquem pacotes recessivos goela adentro?

Quisera estar confiante de que, desta vez, no pasarán. Não estou.

Sei apenas que no próximo semestre o povo brasileiro decidirá se vai manter-se abúlico como abúlico quase sempre foi, ou se finalmente tomará o destino em suas mãos.

OUTROS TEXTOS RECENTES DO BLOGUE NÁUFRAGO DA UTOPIA (clique p/ abrir):

2015 promete ser o ano mais quente na política brasileira desde 1968

Até no visual esta parece à deriva…

Não trouxe esperança nenhuma a posse de Dilma Rousseff para o novo mandato conquistado aos trancos e barrancos, com a satanização dos adversários, o estelionato eleitoral e o abuso clamoroso da máquina governamental.

Assumiu admitindo que fará mesmo um ajuste recessivo da economia, embora tenha sido este um dos principais espantalhos utilizados por sua campanha contra os adversários.

Eles, os neoliberais empedernidos, estariam preparando medidas duras para tirarem o pão da mesa dos pobres. Ela, a heroína do bem, jamais abriria o saco das maldades.

Agora, dá o dito por não dito e anuncia que vai aplicar fielmente tal receituário, fazendo-nos suspeitar que o vulto feminino com o qual acabará historicamente identificada vá ser o de Margaret Thatcher (já tinham em comum a rispidez e o mandonismo). Um péssimo ponto de chegada para quem um dia deve ter-se espelhado em Rosa Luxemburgo, La Pasionaria e Anita Garibaldi…

Para dourar a pílula, fez a ressalva meramente retórica de que submeterá o País ao “menor sacrifício possível”.

O que isto refresca? Nada. Porque se trata de uma admissão de que as possibilidades ditarão a escala do ajuste. Se concluir que é imprescindível um ajuste dos mais rigorosos, Dilma não faltará com a palavra ao implementá-lo, portanto… me engana que eu gosto!

Quanto ao maior escândalo brasileiro de todos os tempos, o da Petrobrás, Dilma continua com a cabeça enfiada na areia, qual avestruz. Diz que é tudo culpa de funcionários subalternos e de um complô internacional.

Não teria, portanto, nada a ver com o loteamento de cargos e a transformação do governo num balcão de negócios, marca registrada da política podre que nós, ingenuamente, supúnhamos que o PT extirparia do poder, se e quando a ele chegasse. Faz 12 anos que esperamos em vão.

…enquanto estes sabem o que querem e têm de fazer…

Declarações beirando o autismo e a posse de um Ministério super inflado e de quinta categoria só fizeram aumentar nossos receios de que o pior dos mundos possíveis nos espera ao longo de 2015: a certeza de recessão (que talvez evolua para depressão), a ser administrada por um governo fraco e com pouquíssima credibilidade, torpedeado pela direita e pela esquerda.

A primeira, obviamente, tentará o impedimento de Dilma, usando a munição fornecida pelas investigações do petrolão ou outras que surjam. Parece que a única dúvida restante é qual o motivo a ser alegado no pedido de impeachment.

Quanto à esquerda, vale notarmos uma notícia do Estadão do último dia 26, que passou meio despercebida em meio ao clima natalino (a íntegra está aqui):

Cerca de 40 líderes de movimentos sociais, centrais sindicais e partidos como PT, PSOL, PC do B e PSTU começaram a articular a criação de uma frente nacional de esquerda e já preparam uma série de atos e manifestações para 2015. O objetivo dessa mobilização é o de se contrapor ao avanço de grupos conservadores e de direita não só nas ruas, mas no Congresso e no governo federal.

…A iniciativa partiu de Guilherme Boulos, do MTST, que (…) havia feito elogios ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na inauguração de um conjunto habitacional gerido pelo movimento, na Grande São Paulo.

Dias depois, Lula (…) divulgou vídeo no qual diz que é preciso ‘reorganizar’ a relação com os movimentos e partidos de esquerda se o PT quiser ‘continuar governando o Brasil’.

…e estes devem ser incorporados à luta maior que se travará.

Ou seja, o quadro que se desenha é de enfrentamento entre direita e esquerda, com um governo débil no meio, tentando apaziguar ora uma, ora outra.

Este filme eu já vi e acabou mal. Foi no governo de João Goulart, que, aliás, era muito mais competente do que Dilma e mesmo assim não segurou o rojão.

Para contrabalançar, desta vez quem estará comandando a esquerda é o Lula, político dos mais argutos, que certamente vai obter de volta, na marra, os nacos de poder que lhe foram retirados na reforma ministerial, mas não vacilará um segundo quando for hora de preservar o mandato de Dilma, com todos os seus defeitos, da escalada direitista.

E os valorosos manifestantes que foram às ruas a partir das jornadas de junho de 2013, tão vilipendiados pela esquerda palaciana, agora terão de ser vistos de forma bem diferente: conquistar o seu apoio e engajamento será fundamental para a Frente de Esquerda.

O Reinaldo Azevedo sugere que o Boulos foi molestado na infância

fina ironia de Guilherme Boulos no artigo Sugestões para o Ministério de Dilma (vide aqui) foi respondida por Reinaldo Azevedo com uma avalanche de ad hominem e baixarias, tanto na Folha de S. Paulo (aqui) quanto no blogue da nunca veja (aqui).

Sem querer ele provou que uma sugestão do Boulos era equivocada: um sujeito tão limitado intelectualmente não serviria de jeito nenhum para ministro da Cultura, nem mesmo para suceder à nada brilhante Marta Suplicy.
RA precisaria de uma professora que o botasse de castigo, obrigando-o a copiar cem vezes a frase: ironia se responde com ironia, sarcasmo com sarcasmo, quem parte logo para a agressão não passa de um desordeiro de botequim.
Pessoalmente desaprovo a utilização da orientação sexual (real ou suposta) de algum desafeto como trunfo para sua desqualificação. Mas, não consigo deixar de rir quando a coisa é feita de forma tão espirituosa como num artigo que o Fernando Collor lançou para detonar o Itamar Franco, por quem se considerava traído.
Não afirmou uma única vez que o dito cujo era gay, mas cada frase continha uma sugestão velada nesta direção. O ghost writer dele caprichou, conseguindo condensar, num espaço reduzido, uma verdadeira coleção de duplos sentidos homofóbicos. Meu lado de escritor foi conquistado pela verve do sujeito…

Da mesma forma, Boulos bateu no RA com luvas de pelica, ao justificar, dirigindo-se a Dilma, sua indicação para a Pasta da Cultura:

Ele vive falando mal da senhora, mas acho que no fundo é tudo ressentimento. Uma ligação e ele se abre que nem uma flor. Vai por mim, até um rottweiler precisa de carinho. É isso que ele deve estar esperando há anos.

A reação do RA foi a mais banal possível, igualzinha a uma que eu tive aos 18 anos, quando era líder secundarista e, numa reunião com estudantes que tentávamos recrutar, uma participante disse que os defensores da luta armada eram homossexuais enrustidos querendo aparentar virilidade. Inexperiente, sem jogo de cintura, só me ocorreu retrucar com uma grosseria:

Se você quiser, podemos tirar a prova agora mesmo, na frente de todo mundo!.

Aos 53 anos, o RA só foi capaz de sair por idêntica tangente:

Não sei se notam a sugestão, nada sutil, de que sou um veadinho, ‘que se abre que nem uma flor’. (…) Ele poderia tentar me ganhar, sem o apoio de seus bate-paus e incendiários, para sentir o perfume, hehe.

Sendo Boulos professor de psicanálise, talvez treplique com um lugar-comum freudiano: negações muito enfáticas costumam equivaler a afirmações às avessas. Mas, com certeza, ele deve ter conquistas melhores das quais se ocupar. Nem como veadinho (uso a terminologia dele) o RA seria atraente.

Já esta suposição do colunista mais reacionário da revista mais reaça do Brasil está mais para chute na virilha, daqueles que brigões de rua desferem quando estão levando uma surra:

Esse rapaz foi molestado na infância e acabou ficando assim?

Desde quando ter sido vítima de um crime sexual em plena infância é algo de que alguém deva se envergonhar e que possa servir de munição contra ele?! Como pode um jornalista ter uma cabecinha tão pequena? Que conceitos aberrantes povoam a mente desse formador de opinião!
O RA parece um pugilista que está nocauteado em pé e continua lançando os braços mecanicamente para a frente. Por caridade, o Boulos deveria mandá-lo logo para a lona.