O Greenpeace na França acaba de produzir uma série de sete vídeos sobre extração ilegal de madeira no Congo. Nos episódios, a atriz francesa Marion Cotillard visita vilarejos no país africano em uma investigação sobre a cadeia de destruição das florestas da região.
No primeiro dos sete episódios, Marion chega à cidade de Oshwe acompanhada de Gregoire Lejonc, do Greenpeace. Lá descobrem os perigos que ameaçam as florestas antigas. No segundo episódio, Marion revela as dificuldades e as conseqüências de um país com uma governança precária.
A República Democrática do Congo possui a segunda maior floresta tropical do mundo, superada apenas pela Amazônia. Mais de 60% da população do Congo depende diretamente ou indiretamente das florestas do país para subsistência.
O Greenpeace acredita que é essencial manter intactas as florestas nativas. A proteção beneficia o ambiente e o povo congolês, através de fundos internacionais que pagam para evitar a destruição das matas.
Novos episódios serão colocados no ar semanalmente. Confira os dois primeiros:
Ativistas do Greenpeace tentam liberar peixes ameaçados de extinção de rede no Mediterrâneo e são atacados por pescadores armados com ganchos, arpões e rojões. E, como em todos os cantos desse planeta, lá estava um brasileiro: João Talocchi, autor de um relato que vale cada palavra.
O lema de um dos navios do Greenpeace é “Hurry up and wait” (Apresse-se e espere), contou o blog do jornal francês Le Monde. Ativistas do Artic Sunrise, navio que já integrei por um breve momento em passagem pelo Rio de Janeiro no ano 2000 – eu era então um jovem ativista, com 18 anos –, foram interceptados pela Marinha de Malta, no início de junho.
Os ativistas tentavam impedir a pesca de atum azul, uma espécie à beira da extinção, no Mediterrâneo. Também estava a serviço outro navio que já rodou mundo, o Rainbow Warrior. Passou despercebido, então fazemos aqui o registro.
Como em todos os cantos desse planeta, lá estava um brasileiro: João Talocchi, que fica baseado no escritório de Amsterdã. Ele foi convidado pelo coordenador de ações do grupo ambientalista, no começo de junho. “Ele aceitou e 12 horas mais tarde pousou em Malta, sem saber direito o que o aguardava”, conta uma descrição no site brasileiro do grupo. No dia 4 de junho, João descobriu que fora chamado para um embate com a turma que pesca atum. “O objetivo da ação era afundar uma parte da rede de pesca com os sacos de areia, para que os atuns pudessem fugir”.
Os ambientalistas admitiram que não obtiveram sucesso: no relato do Le Monde, “(…) Les militants de Greenpeace ont été obligés de reconnaître leur échec, la limite de l’utilisation de la non-violence contre des gens prêts à en user.” Algo como: “Os ativistas foram obrigados a reconhecer o fracasso, o limite da ação não-violenta contra pessoas dispostas a usar a violência”. E finaliza: “Estes são a nossa esperança de futuro”.
O relato de João Talocchi, abaixo, é impressionante e vale cada palavra. “Nós sabíamos que a recepção não seria das melhores”, adiantou. “O Greenpeace luta para que o atum azul seja incluído na lista das espécies em extinção, para que a pesca dessa espécie seja proibida e para que sejam criadas áreas marinhas onde eles possam se reproduzir, em um ambiente saudável. Afinal, o que vale mais: oceanos saudáveis ou mercados cheio de atuns azuis no Japão?”
Leia a seguir:
“4 de junho de 2010. Mediterrâneo, em algum lugar próxima a Malta.
Uma cavalaria. Eram seis botes do Greenpeace, navegando juntos e rápido, em direção aos navios de pesca. Na popa de cada um deles, tremulava um banner com mensagens contra a extinção do atum azul. Estão escritas em três línguas. Queremos que todos saibam por que estamos aqui.
Nos barcos, quase 20 ativistas vestidos com macacões laranjas, capacetes, óculos de proteção e coletes salva-vidas. A bordo, levamos sacos de areia e escudos feitos de compensado de madeira. Nós sabíamos que a recepção não seria das melhores.
O objetivo da ação era afundar uma parte da rede de pesca com os sacos de areia, para que os atuns pudessem fugir. À medida que chegamos perto, percebi que não ia ser nada fácil. Eram 7 navios de pesca (grandes) e mais de 10 barcos pequenos amarrados na rede, para mantê-la aberta. As embarcações são francesas, mas os pescadores vêm de diversas regiões do planeta, movidos pela ganância. Um atum azul já foi vendido no Japão por mais de 100 mil euros. Cheia, uma rede pode valer até 1 milhão de euros.
Eu estava no maior barco, o Delta. Tudo o que aconteceu a partir daqui ainda passa na minha cabeça como se fosse um filme. Mas foi real. (Mãe, se você estiver lendo, recomendo parar por aqui).
Foram menos de três minutos de navegação até a rede, com a água do mar borrifando na nossa cara. Através da lente gotejada dos óculos de proteção tudo o que eu conseguia ver eram os barcos dos pescadores e os pescadores, que gritavam em várias línguas coisas que eu não posso escrever.
Pescadores respondem com violência a ação no Mediterrâneo contra pesca de atum azul. Foto: Greenpeace.
Em uma manobra rápida, John, piloto do barco, encontrou uma brecha e nos colocou bem na beirada da rede, entre dois barcos dos pescadores. A rede devia ter uns 100 metros de diâmetro e bóias circulando a sua volta. Comecei a jogar os sacos de areia com a ajuda do Marcelo, médico e ativista. Cada um deles pesava em torno de 20 quilos e eles estavam unidos uns aos outros por um pedaço de corda. Em dois ou três minutos conseguimos jogar seis ou sete pares sobre as bóias, enquanto nos equilibrávamos no barco. Já dava para ver que um pedaço da rede ia afundar e que alguns dos nossos outros barcos estavam fazendo o mesmo, em vários lugares. Mas a felicidade durou pouco.
De repente o barco começou se mexer rápido. John tentava evitar que um dos barcos dos pescadores passasse por cima da gente. Me segurei no que deu e, quando fiquei em pé de novo, vi que eles não estavam muito felizes com a nossa presença. Os caras estavam armados com arpões e ganchos afiados e não pensam duas vezes antes de tentar furar o barco. Conseguimos fugir, navegando rápido para dentro da rede, já que nosso bote era movido a jato propulsão, o que evitava que as hélices ficassem presas.
Infelizmente, nem todos tiveram a mesma sorte.
Quando navegamos para fora da rede e ao redor dos pescadores, estava tudo meio caótico. Dois dos nossos barcos estavam presos na rede e sendo atacados pelos arpões. Já dava para perceber que um deles ia afundar. Os outros barcos desviavam dos pescadores e tentavam ajudar quem precisava. Nessa hora, nós fomos em direção ao “gray whale”, mas estava impossível chegar perto. Tudo o que podíamos fazer era olhar um dos navios esmagando o bote contra outro barco de pesca. As duas bananas já estavam murchas e, com a hélice presa, não havia muito o que os quatro ativistas podiam fazer a não ser tentar se defender.
Da popa do navios que acabou de esmagá-los vi um mergulhador que parecia que ia pular em cima deles. Ele pulou, mas caiu na água e começou a cortas os sacos de areia e, depois, o que restou do inflável. Agora, eles estavam afundando bem rápido. Para completar o cenário surreal, a tripulação do navio começou a jogar cebolas nos ativistas. Algumas delas os acertam, mas eles tinham os capacetes e escudos. (Franceses jogando cebolas… meio estereótipo… só faltou jogarem croissants…)
Circulamos por trás de um dos navios para tentar ajudá-los e nos deparamos com outro, vindo direto para cima da gente. Os pescadores estavam loucos! John virou o barco e desviou. Nessas horas é bom ser menor e mais ágil. Mas outro barco deles começou a nos perseguir e novamente tivemos de abortar o plano de ajudar o pessoal do outro bote.
Nesse momento o helicóptero com nosso fotógrafo chegou, mas ele também não foi muito bem recebido. De um dos navios os pescadores atiraram com o sinalizador, que é um tipo de rojão. O tiro passou perto, mas não acertou. Eles atiraram de novo, mas passou longe. Só que, quando olhamos para o navio, deu para ver que dessa vez a pistola do sinalizador não estava mais mirando para cima e sim para nós. Deu tempo de abaixar e nos proteger com o “escudo” antes de ouvir o zunido do sinalizador passando há alguns metros das nossas cabeças. Nós jogamos sacos de areia na rede e eles atiram bolas de fogo na gente.
Foram dois tiros, mas nenhum acertou. Quando eles pararam, deu para ver que os ativistas de um dos botes presos já haviam pulado na água e nadado para outro inflável, que os levou embora. Os pescadores já tinham até dominado o bote e o levavam para um dos navios.
Felizmente, a partir daí as coisas começaram a ficar um pouco menos piores. Todos os nossos barcos já haviam parado de tentar afundar a rede e os que estavam afundando pelo menos não eram mais tão atacados. Conseguimos (finalmente!) ir até um deles, que estava sendo puxado para fora da rede por um dos barcos de pesca. As pessoas estavam penduradas no que restava do bote e passaram para o nosso barco alguns segundos antes da embarcação afundar. E lá se foi um dos botes que mais fez ações pelo Greenpeace – mas foi com dignidade, lutando até o fim. Obviamente, enquanto puxávamos as pessoas para dentro, um pescador tentava furar o nosso barco com um gancho e os outros continuavam a gritar coisas que não pareciam elogios.
Contamos todas as pessoas e voltamos para o Arctic. Quando chegamos descobrimos que um dos ativistas havia sido machucado pelos pescadores. Um gancho que foi lançado para dentro do bote perfurou a batata da perna dele, mas por sorte não pegou nenhuma artéria ou tendão. O detalhe é que os pescadores malucos continuaram a puxar o cabo que estava preso ao gancho, mesmo vendo o que tinha acontecido. Ele foi levado para Malta no helicóptero e está no hospital, bem.
Foi triste ver a violência com que nosso protesto foi recebido e a ganância que move aqueles pescadores, que não estão ali fazendo uma pesca sustentável e artesanal. Eles estão ali para encher o bolso de dinheiro de alguns poucos que querem encher a barriga de atum azul e para isso quase já dizimaram a espécie inteira.
O Greenpeace luta para que o atum azul seja incluído na lista das espécies em extinção, para que a pesca dessa espécie seja proibida e para que sejam criadas áreas marinhas onde eles possam se reproduzir, em um ambiente saudável. Afinal, o que vale mais: oceanos saudáveis ou mercados cheio de atuns azuis no Japão?”
Jornalista, 41, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis em https://amzn.to/3ce8Y6h). Acesse o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0384762289295308.
Assista à campanha do Greenpeace no Brasil sobre as pesquisas com alimentos transgênicos.
O vídeo do link acima deixa bem clara a posição do Greenpeace com relação às pesquisas com transgênicos que vêm sendo desenvolvidas em diversos países e, finalmente, também no Brasil. O problema é que, ao tratar a questão a partir de uma leitura extremamente sensacionalista e maniqueísta, a ONG internacional parece não querer estimular um real debate entre a sociedade civil sobre o tema.
O vídeo problematiza, por exemplo, uma questão muito importante com relação aos transgênicos, que é a formação de conglomerados de grandes empresas que desmantelam a produções dos pequenos proprietários rurais. No entanto, é preciso enxergar também uma questão de fundo que parece ser muito importante.
Hoje, mais da metade da produção de alimentos está nas mãos de multinacionais que podem jogar a bel-prazer com os preços flutuantes dos bens alimentícios, gerando crises como as que atravessamos agora e que atingem de forma contundente os setores mais pobres da população mundial. Todos sabemos – ou deveríamos saber – que o planeta tem capacidade de produzir alimentos suficientes para toda a população mundial e ainda mais. No entanto, justamente por conta do monopólio sobre a produção, a fome ainda persiste como consequência de uma política de distribuição planejada para ser injusta.
Nesse contexto, e levando também em conta as questões de mudança climática, já ficou claro que a transgenia está em vias de ser um fator fundamental para a geopolítica mundial. E os países que não investirem em pesquisas na área terão como única opção se colocarem à mercê dos grandes conglomerados internacionais. Em outras palavras, as campanhas promovidas por ONGs como o Greenpeace tentam embarreirar o desenvolvimento de pesquisa na área, desestimulando os investimentos nacionais e promovendo a criação de entraves jurídicos em um setor tão importante que é a alimentação. Hoje no Brasil, por exemplo, tornou-se tão oneroso patentear as novas descobertas resultantes de pesquisas promovidas por Universidades que estas instituições acabam se vendo forçadas a vendê-las a laboratórios extrangeiros que, ao final, serão os que vão patenteá-las. Resta a nós, então, mais uma vez (!), o papel de compradores de produtos feitos a partir de nossas matérias primas e até mesmo nossa tecnologia. Qualquer semelhança com o velho pacto colonial das aulas de história não é, obviamente, mera coincidência.
Na Europa, as campanhas do Greenpeace levaram à restrição, por exemplo, de importação de alimentos geneticamente modificados, o que desestimula ainda mais o desenvolvimentos de nossas pesquisas dentro da ordem agroexportadora. E, adivinhem só: estamos, ainda por cima, dando de bandeja aos países centrais a matéria prima para que eles desenvolvam pesquisas na área e possam, futuramente, nos explorar. Isso, vale a pena lembrar, quando não perdemos também pesquisadores que não encontram espaço para desenvolverem seus experimentos em pleno território nacional.
Por último, é interessante perceber também a incongruência da peça publicitária que, ao mesmo tempo em que afirma que não são conhecidos os efeitos da transgenia para a saúde humana, simboliza os alimentos geneticamente modificados como pequenos monstrinhos aterrorizantes. Vale mencionar que o processo de testes de risco com transgênicos na América Latina (especial destaque para Brasil e Argentina) leva cerca de sete anos – uma quantidade de tempo aparentemente considerável.
Não desejo, de forma alguma, levantar uma espécie de bandeira pró-transgênicos. Em primeiro lugar porque não julgo ter conhecimentos suficientes sobre a questão. Mas acredito ser importante tentar desmontar certos maniqueísmos naturalizados para que possamos problematizar e entender de verdade o cerne das questões que nos rodeam. É, por assim dizer, um convite ao debate contra a informação verticalizada.
Da Reuters, via Folha de S. Paulo – O mundo poderia eliminar os combustíveis fósseis em 2090, poupando US$ 18 trilhões e criando uma indústria de energia limpa de US$ 360 bilhões. A conclusão é de um relatório do Conselho Europeu de Energias Renováveis e da ONG Greenpeace. O estudo detalha como mudar a matriz energética para estabilizar o clima. Segundo ele, seria necessário investir US$ 14 trilhões em renováveis até 2030. Nesse período, só o custo do carvão mineral seria de US$ 15,9 trilhões.
Usar a mídia deles contra eles próprios. Esta foi a forma que o Greenpeace achou para protestar contra a multinacional Kimberly-Clark, que produz o papel Kleenex e outros produtos de papéis descartáveis com árvores de antigas florestas (‘ancient forests’), incluindo a Floresta Boreal do Canadá.
Em uma das campanhas de mídia da Kimberly-Clark, as pessoas eram convidadas a sentar em um sofá colocado no meio de uma movimentada rua de Nova Iorque. A idéia era fazer com que as pessoas falassem sobre assuntos pessoais de triste lembrança e, ao chorarem, utilizassem os lenços Kleenex.
Os ativistas fizeram, então, uma ação durante as gravações. Uma das integrantes do grupo se ofereceu para falar, sem anunciar que era ativista do Greenpeace, ao mesmo tempo em que seus colegas preparavam cartazes da campanha, que pedia mudanças na política ambiental da Kimberly-Clark. O resultado está no vídeo abaixo.
Os ativistas também ocuparam a fábrica da multi em Ontário, no Canadá, e intervieram em reuniões de acionistas e conselheiros da empresa, no Texas, Estados Unidos. As ações foram em fevereiro deste ano, mas a campanha continua. O Greenpeace prometeu que irá continuar a interromper as operações da Kimberly-Clark e mobilizar os seus clientes até que o seu CEO Thomas Falk e a sua empresa parem de destruir a Floresta Boreal.