Por Mariana Borgerth, de Belém
Um dia inteiro dedicado a discutir a Pan-Amazônia marcou o primeiro dia de atividades do Fórum (quarta 28). Líderes de movimentos sociais estão em Belém para falar sobre a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento que não destrua os recursos naturais da floresta.
“É importante que o Fórum seja em Belém não apenas pela cidade, mas devido à importância da região. É preciso chamar atenção para a necessidade de observar e construir novos sistemas de desenvolvimento que privilegiem o coletivo, que se utiliza dos recursos sem devastar. Essa é uma causa urgente”, afirma Matheus Otterllo, representante do Fórum da Amazônia Oriental.
Para ele a questão das hidroelétricas é fundamental e defende que o Brasil precisa valorizar alternativas ao sistema hidroelétrico, que prejudica não só a fauna e a flora local, mas afasta a população ribeirinha e anula a sua história e a sua cultura.
O termo Pan-Amazônia faz referência à área total de floresta e se encontra não só no Brasil mas em outros oito países da América Latina: Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Guiana, Guiana Francesa e Suriname.
Para representar a população indígena latina desses locais está presente também o representante da Coordenação Indígena dos Andes, Miguel Palacín, que defendeu que para haver preservação é preciso que os países da América Latina continuem se aproximando, mas que isso aconteça não só economicamente, e sim socialmente. Para ele é necessário que se estabeleçam novas políticas de caráter horizontal, que combatam a militarização dos estados e as ações de petroleiras em território de Floresta.
Quilombolas presentes
Além dos indígenas, também estão presentes em Belém movimentos quilombolas de diversas partes do Brasil. Eles defendem o seu direito ao território e afirmam que são capazes de defender o território de floresta, porque assim como os indígenas utilizam os recursos naturais da terra apenas para subsistência e defendem as áreas florestadas.
Daniel Souza é representante do movimento quilombola no estado do Pará, que possui cerca de 320 comunidades, porém apenas 94 foram reconhecidas pelo governo até o ano de 2006. Souza se queixa, inclusive, que desde então o processo está estagnado.
Os debates sobre a Pan-Amazônia começam hoje (28) e vão acontecer durante todo o evento. Quinta-feira (29) e sexta-feira (30) o debate será na Universidade Federal Rural da Amazônia.
Mais de 1000 indígenas reunidos em Belém
“Viemos dizer para o mundo sobre a necessidade de preservar a floresta”. Segundo Paulo Mendes, da região do Alto Solimões, essa é a principal razão que levou a comitiva dos mais de mil índios brasileiros a se reunirem no Fórum Social de Belém (PA).
O que desejam os índios é que eles passem a ser vistos e respeitados como aliados na preservação da florestas. Os indígenas começaram a chegar antes mesmo do início do Fórum e estão alojados na escola pública Mario Barbosa.
Neste local, as diferentes tribos estão passando por um verdadeiro intercâmbio cultural. Mas o mais interessante é que isso vem acontecendo entre as tribos. Ticunas, Witota, Cambeba, Yanomamis, Wai Wai e muitas outras etnias estão compartilhando o mesmo espaço, trocando conhecimento e reafirmando que quando se fala em cultura indígena não se está falando sobre uma grande massa homogênea.
Um dos grandes marcos dessa comemoração são as festas que acontecem à noite dentro da escola, organizadas pelos próprios indígenas. Cada grupo trata de apresentar as manifestações culturais de sua tribo e compartilhar com os seus “parentes” – outro indígena ainda que de etnia diferente.
As festas estão acontecendo dentro da escola, destinadas aos grupos indígenas. Nesta quarta feira (28), acontece um evento especial para o público: a “Festa das Alianças”. A comemoração está marcada para as 20 horas, na tenda Pan Amazônia, na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA).