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Mídia alternativa cobre Fórum Social Mundial Temático em Salvador

Do Boletim NPC

O jornal comunitário da Maré O Cidadão e a Revista Viração cobriram o Fórum Social Mundial Temático de 2010, em Salvador. O encontro ocorreu entre os dias 29 e 31 de janeiro. Um dos depoimentos emocionantes foi o da índia Tainá, que denunciou a criminalização existente aos povos originários.

“Estão matando os povos indígenas. Estão matando o pouco que restou do meu povo Tupinambá!”. Confira em ocidadaonline.blogspot.com e www.revistaviracao.org.br

FSM amazônico tem saldo positivo

Por Gustavo Barreto, de Belém

Os movimentos sociais presentes no Fórum Social Mundial 2009 estão se dirigindo neste momento para a Assembléia das Assembléias, que começa por volta das 15h no palco central da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). A mobilização é muito grande e a idéia é reunir todos os encaminhamentos das assembléias que ocorreram neste domingo (1) pela manhã. Estas, por sua vez, procuraram resumir os encaminhamentos que foram feitos durante os quatro dias de debates, de 28 a 31 de janeiro.

Apesar dos inúmeros problemas de infra-estrutura, que nos impediram por exemplo de cobrir em tempo real o FSM 2009 (os textos serão divulgados pouco a pouco na próxima semana), o resultado foi muito positivo, pois o clima de integração entre os continentes foi muito intenso.

Grande parte dos debates giraram em torno da questão da destruição ambiental promovida pelo modelo capitalista, que passa por uma crise estrutural. A saída dos capitalistas – com destaque para as grandes corporações – está clara: “reformar” o capitalismo. A saída de todos os participantes também está dada: estamos em meio a uma crise civilizatória e não há como “reformar” um sistema falido, que gera tanta riqueza em pequenas “ilhas” de progresso, ao mesmo tempo em que deixa milhões de seres humanos à margem de direitos básicos como educação e saúde.

Esta perspectiva, algo que poderíamos denominar quase que um “Consenso de Belém”, é importante para que as entidades e cidadãos aqui comprometidos com um novo paradigma de sociedade – que coloca as pessoas acima dos lucros – possam se fortalecer e cada vez mais derrubar os poderes hegemônicos atuais e a própria noção de “hegemonia”.

Lidou-se muito com a idéia de “anti-hegemonia”, com o poder descentralizado das redes, apesar da resistência de muitos dos próprios presentes no evento, alguns poucos que parecem querer substituir um grupo de dominantes por outro, supostamente iluminado, mantendo sim a lógica de opressão de muitos por alguns. A multiplicidade de atores sociais não permite que esta lógica vigore num outro mundo possível e necessário.

Como está quase na hora da assembléia, voltamos depois para escrever mais sobre este evento que, apesar dos problemas inerentes de uma sociedade civil recém-nascida, foi o maior sucesso.

(Em breve todas as fotos que registramos por aqui)

Quebradeiras de coco babaçu buscam direitos e lutam pela biodiversidade

Por Gustavo Barreto, de Belém

O Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu estiveram nesta edição amazônica do Fórum Social Mundial. A proposta é reunir uma rede de trabalhadoras rurais extrativistas do Tocantins, Pará, Piauí e Maranhão, estados localizados no norte e nordeste do Brasil. A entidade possui mais de 15 anos e é composta por mulheres que vêm transformando seu dia-a-dia em um movimento por direitos.

As principais bandeiras são a luta pelos babaçuais, pela terra, pela valorização do extrativismo e pela dignidade de ser mulher. “As quebradeiras de coco babaçu ganham força política ao se descobrirem como sujeito coletivo a partir da própria atividade produtiva que desenvolvem, sempre realizada em rodas de conversa, em grupos de amizade e em parcerias por laços de família, padrio e vizinhança”, afirmam as lideranças em documento de divulgação.

No Brasil, mais de 18 milhões de hectares são cobertos por florestas secundárias de palmeiras de babaçu. Apesar disso, nas regiões onde o extrativismo se desenvolve como atividade econômico, é cada vez mais a intensa a ação devastadora dos grandes empreendimentos privados.

Além de ameaçarem a sobrevivência de 300 mil extrativistas de babaçu, estes empreendimentos vêm causando a destruição de matas, da biodiversidade e dos povos tradicionais da floresta amazônica. “Para o nosso movimento, preservar os babaçuais significa preservar a vida”, afirmam as quebradeiras.

Preservação da floresta e a propriedade de terra dão início às atividades do Fórum

Por Mariana Borgerth, de Belém

Um dia inteiro dedicado a discutir a Pan-Amazônia marcou o primeiro dia de atividades do Fórum (quarta 28). Líderes de movimentos sociais estão em Belém para falar sobre a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento que não destrua os recursos naturais da floresta.

“É importante que o Fórum seja em Belém não apenas pela cidade, mas devido à importância da região. É preciso chamar atenção para a necessidade de observar e construir novos sistemas de desenvolvimento que privilegiem o coletivo, que se utiliza dos recursos sem devastar. Essa é uma causa urgente”, afirma Matheus Otterllo, representante do Fórum da Amazônia Oriental.

Para ele a questão das hidroelétricas é fundamental e defende que o Brasil precisa valorizar alternativas ao sistema hidroelétrico, que prejudica não só a fauna e a flora local, mas afasta a população ribeirinha e anula a sua história e a sua cultura.
O termo Pan-Amazônia faz referência à área total de floresta e se encontra não só no Brasil mas em outros oito países da América Latina: Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Guiana, Guiana Francesa e Suriname.

Para representar a população indígena latina desses locais está presente também o representante da Coordenação Indígena dos Andes, Miguel Palacín, que defendeu que para haver preservação é preciso que os países da América Latina continuem se aproximando, mas que isso aconteça não só economicamente, e sim socialmente. Para ele é necessário que se estabeleçam novas políticas de caráter horizontal, que combatam a militarização dos estados e as ações de petroleiras em território de Floresta.

Quilombolas presentes
Além dos indígenas, também estão presentes em Belém movimentos quilombolas de diversas partes do Brasil. Eles defendem o seu direito ao território e afirmam que são capazes de defender o território de floresta, porque assim como os indígenas utilizam os recursos naturais da terra apenas para subsistência e defendem as áreas florestadas.

Daniel Souza é representante do movimento quilombola no estado do Pará, que possui cerca de 320 comunidades, porém apenas 94 foram reconhecidas pelo governo até o ano de 2006. Souza se queixa, inclusive, que desde então o processo está estagnado.

Os debates sobre a Pan-Amazônia começam hoje (28) e vão acontecer durante todo o evento. Quinta-feira (29) e sexta-feira (30) o debate será na Universidade Federal Rural da Amazônia.

Mais de 1000 indígenas reunidos em Belém
“Viemos dizer para o mundo sobre a necessidade de preservar a floresta”. Segundo Paulo Mendes, da região do Alto Solimões, essa é a principal razão que levou a comitiva dos mais de mil índios brasileiros a se reunirem no Fórum Social de Belém (PA).

O que desejam os índios é que eles passem a ser vistos e respeitados como aliados na preservação da florestas. Os indígenas começaram a chegar antes mesmo do início do Fórum e estão alojados na escola pública Mario Barbosa.

Neste local, as diferentes tribos estão passando por um verdadeiro intercâmbio cultural. Mas o mais interessante é que isso vem acontecendo entre as tribos. Ticunas, Witota, Cambeba, Yanomamis, Wai Wai e muitas outras etnias estão compartilhando o mesmo espaço, trocando conhecimento e reafirmando que quando se fala em cultura indígena não se está falando sobre uma grande massa homogênea.

Um dos grandes marcos dessa comemoração são as festas que acontecem à noite dentro da escola, organizadas pelos próprios indígenas. Cada grupo trata de apresentar as manifestações culturais de sua tribo e compartilhar com os seus “parentes” – outro indígena ainda que de etnia diferente.

As festas estão acontecendo dentro da escola, destinadas aos grupos indígenas. Nesta quarta feira (28), acontece um evento especial para o público: a “Festa das Alianças”. A comemoração está marcada para as 20 horas, na tenda Pan Amazônia, na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA).

Lançado estudo sobre devastação no Mato Grosso durante Fórum Social Mundial

Por Mariana Borgerth, de Belém (PA), para a Revista Consciência.Net

Devastação no sul do estado, crescimento do desmatamento no norte e comprometimento das nascentes do Rio Xingu. Estes foram alguns dos problemas descritos no relatório da organização não governamental Greenpeace, lançado nesta quinta-feira (29), sobre o uso da terra no Mato Grosso.

Através dessa pesquisa foi possível identificar as principais aéreas de expansão e consolidação da pecuária nas áreas de Floresta amazônica na região. O objetivo da organização é lançar um panorama sobre cada estado que possui área de floresta Amazônica até o final do ano. Segundo a organização, o estado foi escolhido por possuir a segunda maior produção de gado do país e por apresentar o maior índice de desmatamento acumulado.

De acordo com o estudo um dos maiores preocupaçoes no Mato Grosso é o rio Xingu. O curso do rio está protegido porque se encontra dentro da área do parque indígena do Xingu. O grande problema está nas nascentes, que acabam tendo mananciais destruídos, alterando assim o equilíbrio ecológico, já que muita espécies de peixes precisam ir ate as nascentes para poderem se reproduzir.

Além disso, chamou atenção dos pesquisadores uma nova área de expansão do desmatamento no noroeste do estado. Foram identificadas ações predatórias de madeira, seguida de queimada e desmatamento.

Concluiu-se também que o nível de devastaçao acompanha a expansao de rodovias. Existe uma grande quantiodade de estradas nao-oficiais, ou seja, que nao aparecem nos mapas oficiais do Departamento Nacional de Infra-extrutura e Transporte (DNIT), o que segundo, a instituiçao possibilita propriedades cada vez maiores.

O que o Greenpeace está propondo com esses estudos é que sejam estabelecidas açoes políticas para a preservaçao. O Greenpeace defende o projeto “desmatamento zero”, que pretende até 2015 conseguir que não se desmate, mas não explicaram como isso funcionaria em relação, por exemplo, ao pequeno produtor. Além eles também defendem a valorização da floresta em pé para que não incentivar o desmatamento e o redirecionamento dos investimentos para outras produções.

A investigação foi realizada a partir de imagens de satélites, que fotografaram e mapearam as atividades no estado ao longo de um ano e sobrevôos em determinadas regiões do Mato Grosso.

Gado e Amazônia

Entre 2000 e 2007 foram desmatado mais de 150 mil quilômetros quadrados de floresta, o que equivale a uma área maior que a do estado do Acre.

Segundo o Greenpeace, a expansão da pecuária na Amazônia, foi motivada por diversos motivos, entre eles o baixo custo para adquirir terras de mata nativa, a questao da febre aftosa, que atingiu o Paraguai e prejudicou os produtores do centro-oeste. Essas condiçoes levaram o Brasil a
possuir o maior rebanho comercial do mundo, cerca 190 milhoes de animais.

Além disso, desde 2003, quando aconteceu um salto na exportação se tornou o maior exportador de carne e ganhou relevância na exportação de derivados como por exemplo, couro. Durante o processo, grandes grupos vêm conseguido fortalecimento no mercado internacional, entre eles o frigorífico JBS, que se tornou uma das maiores produtoras e comerciantes do mundo.

Indígenas dão início à campanha de proteção à floresta, mas autoridades não comparecem

Por Mariana Borgerth, para o Consciência.Net, de Belém

Era grande o clima de insatisfação entre os indígenas brasileiros nesta quinta feira, devido a ausência do presidente da Fundação Nacional do Indio (FUNAI), Marcio Meira, e de representantes do governo durante o lançamento da campanha pela preservação da floresta e da cultura indígena.

O lançamento aconteceu na quarta (28) na tenda dos povos indígenas do Fórum Social Mundial e segundo os organizadores, todas as autoridades envolvidas haviam sido convidadas, mas apenas estiveram presente um representante ministério público federal e o chefe de gabinete da FUNAI, que não participou das discussões alegando que não havia recebido um convite formal. Informação que foi negada pelos indígenas.

Para o vice-coordenador das Organizações Indígenas Brasileiras (COIAB), Marcos Apurinã, a ausência representa um desinteresse por parte da FUNAI:

“O Fórum é uma oportunidade única, devido a possibilidade de falar com a população indígena que costuma permanecer nas aldeias. Estamos muito preocupados neste momento com os impactos de grandes obras, como o caso da hidroelétrica do rio Madeira, que afeta diretamente várias comunidades indígenas. Precisamos falar sobre isso”, afirmou Apurinã.

O cacique de uma aldeia localizada no alto Solimoes, Joselino Gaspar Farias, afirmou que era fundamental a presença de representantes do estado para avançar as discussões.

“Não muda em nada se ficarmos discutindo apenas entre nós, precisamos falar sobre como vamos resolver os problemas atuais dos indígenas, como a invasão de madeireiras, pescadores e grileiros. Queremos participar da preservaçao da floresta. Depois do que aocnteceu, muitos voltariam para casa antes mesmo do final do Fórum” – afirmou Farias, que demorou mais de quinze dias para chegar até Belém.

Ainda estão agendadas outras duas reuniões ao longo do Fórum. A partir desses encontros será produzido um documento, que deverá ser entregue as autoridades.

Consciência.Net presente no FSM Amazônia 2009

A Revista Consciência.Net está com uma rede de colaboradores no Fórum Social Mundial e já começa a publicar a partir desta sexta (30), até o final do mês de fevereiro, as reportagens produzidas durante o FSM Amazônia 2009.

Como a quantidade de atividades interessantes é enorme, estaremos publicando pouco a pouco, ao longo do mês, um resumo das nossas impressões – até porque a infra em Belém não é lá das melhores.

Destaque para os textos da nova colaboradora Mariana Borgerth sobre a luta dos povos indígenas da região, a questão do desmatamento e o que os povos brasileiros e indígenas têm feito, bem como a visita à Ilha de Marajó – supostamente um “lugar paradisíaco” -, feita pelo repórter Gustavo Barreto, expondo a sofrida situação do povo local por conta da alta concentração fundiária.

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