Arquivo da tag: flotilha

Para a corte e seus bobos, Brasil seria “cachorrinho ranheta do 3º Mundo”

O reaça-mor da Veja, Reinaldo Azevedo, finalmente encontrou quem pense exatamente igual a ele sobre o Governo Lula: uma articulista do Wall Street Journal chamada Mary Anastasia O’Grady.

Triunfalmente, deu-se ao trabalho de traduzir, publicar e comentar no seu blogue o artigo dessa Anastasia que não é nenhuma princesa, está mais para serviçal da Corte. O motivo de seu júbilo, RA trombeteou logo no título: ela, supostamente, “arrasa com a política externa de Lula”.

As pessimamente traçadas linhas de A dança de Lula com os déspotas, da Anastasia sem nobreza, não passam de descarado lobby israelense contra a posição brasileira de resistir à imposição de sanções contra o Irã.

Israel quer porque quer abortar o programa nuclear iraniano, na suposição de que servirá para fabricar bombas atômicas.

ONU, EUA e países subservientes às paranóias israelenses se desmoralizam ao punirem apenas o Irã.

Pois, enquanto o mundo não colocar sob o mais rígido controle o arsenal nuclear de Israel, nação responsável pelos recentes massacre de palestinos (2008/09) e chacina de pacifistas (2010), não pode exigir nada de país nenhum.

A pior ameaça à humanidade, o governo mais bestial em relação a outras nações e outros povos, é exatamente o israelense, em razão de suas reações apocalípticas a qualquer agressão sofrida e da sua absoluta amoralidade, a ponto de haver oferecido ármas nucleares para a África do Sul no auge do apartheid.

O artigo da pistoleira de aluguel que tanto excitou RA diz:

“O mais recente exemplo de como o Brasil ainda não está pronto para figurar no horário nobre dos círculos internacionais se deu na semana passada, quando votou contra as sanções ao Irã no Conselho de Segurança da ONU. A Turquia foi a única parceira do Brasil neste constrangedor exercício. Mas a Turquia pode ao menos usar como desculpa suas raízes muçulmanas. Lula está levando a reputação do Brasil para o brejo só para a sua satisfação política pessoal”.

Para bom entendedor, fica evidente que este é o único motivo para a peça propagandística ter sido redigida e veiculada no house organ do parasitismo financeiro, não o fato de Lula “defender e exaltar (…) alguns dos mais notórios violadores dos direitos humanos do planeta”.

Se Ahmadinejad se dedicasse apenas a exterminar oposicionistas e homossexuais, não lançando ameaças (meramente retóricas, por enquanto) contra Israel, o estado judeu não daria a mínima para essas matanças – abomináveis, sem dúvida, mas cuja escala foi muitíssimo inferior à do último pogrom israelense sobre Gaza.

É sempre bom lembrar: de uma tacada só Israel varreu 1.434 palestinos da face da Terra, enquanto os executados por denunciarem fraude eleitoral no Irã seriam, no máximo, 70.

Choca-me ver um jornalista brasileiro, por pior que seja, repercutindo panfletos estrangeiros contra o presidente e o ministro das Relações Exteriores do Brasil – o primeiro tratado como “um político esperto que veio das massas mas ama o poder e o luxo” e o segundo, como “um intelectual notoriamente antiestadunidense e anticapitalista”.

Pior ainda é o tratamento dado ao próprio Brasil, que a Anastasia publicista apresenta como “um país ressentido, um cachorrinho ranheta do 3º Mundo”.

Israel vai investigar a si próprio e as conclusões serão censuradas

Seria cômico, se não fosse trágico.

Ao admitirem desfecho farsesco para o caso do ataque à flotilha de ajuda humanitária a Gaza, a Organização das Nações Unidas e os países mais influentes do mundo, EUA à frente, acabam de jogar no lixo mais uma oportunidade de impor aos piratas israelenses o respeito pelo Direito internacional.

Num episódio inquestionável, claríssimo, gritante de chacina em alto mar, cometida por militares israelenses armados até os dentes contra civis de várias nacionalidades que se defendiam com estilingues, não só deixaram de aplicar sanções imediatas ao brutal agressor — o que havia, ainda, para se averiguar? –, como abdicaram até mesmo de uma investigação internacional do episódio.

Os homicidas determinaram que só seriam investigados por seus pares, e esta aberração jurídica e moral foi aceita pelos poderosos do planeta!

Para completar a pantomima, os magnânimos carrascos admitiram que dois estrangeiros integrem a comissão especial constituída para tentar, em vão, salvar as aparências.

Então, serão cinco os investigadores: três israelenses, o prêmio Nobel da Paz David Trimble – um dos articuladores do acordo de paz na Irlanda do Norte de 1998 – e o promotor militar aposentado canadense Ken Watkin.

Podemos até admitir que façam honestamente seu trabalho.

No entanto, está antecipadamente vetada a apresentação ao público e à comunidade internacional de qualquer conclusão que “possa causar dano substancial à segurança nacional [de Israel…], as relações internacionais, o bem-estar ou a privacidade de qualquer indivíduo ou os métodos operacionais confidenciais de entidades autorizadas”.

Ou seja, esses homens de reputação, para fazerem jus à dita cuja, deverão concluir o óbvio ululante:

  • que Israel agiu com bestialidade extrema, ao abordar em alto mar embarcações de outro país;
  • ao invadi-las da forma mais truculenta;
  • ao assassinar nove civis e ferir muitos outros;
  • ao sequestrar os sobreviventes, rebocando-os ao seu território;
  • ao roubar equipamentos que portavam;
  • ao mantê-los em cativeiro sem nenhuma autoridade para tanto;
  • e, finalmente, ao despachá-los para onde decidiram ao invés de soltá-los para ir aonde quisessem.

No entanto, tudo isso ficará em segredo, assim como o nome dos culpados por esses crimes.

E, como todos sabemos da dificuldade em disciplinar Israel, tal relatório (com as partes inócuas divulgadas e o que realmente importa mantido em segredo) vai produzir efeito nenhum, já que nem cobranças da opinião pública haverá.

Afinal, sequer o contundente Relatório Goldstone teve as consequências que se impunham, embora haja concluído e informado ao mundo que Israel perpetrou massacres dantescos em Gaza, na virada de 2008 para 2009.

Depois desta, a ONU também deixou de existir. Só falta enterrarem.

A Liga das Nações acabou por ter sido impotente para conter Hitler.

A ONU acabou por ter sido impotente para conter Israel.

Simples assim.

Israel mata. E a ONU pune o Irã por pretender matar…

O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas deverá votar nos próximos dias um novo pacote de sanções ao Irã por estar, SUPOSTAMENTE, pretendendo desenvolver armas nucleares.

Israel não só possui, COMPROVADAMENTE, armas nucleares, como até se dispôs a fornecê-las à África do Sul, no auge do apartheid. O estado teocrático iraniano representa mesmo uma grande ameaça… para sua população, já que executa seres humanos por serem homossexuais, por participarem de manifestações pacíficas de protesto e outras insignificâncias que o mundo civilizado nem sequer considera crimes. Mas, não tem mostrado a mesma agressividade em relação às demais nações, salvo nas palavras que o vento leva.

Já Israel é useiro e vezeiro em cometer genocídios e atrocidades contra os outros povos, desrespeitando sistematicamente o Direito internacional, como comprova a incursão pirata da semana passada.

Retórica à parte, não há elementos que nos permitam concluir que o Irã pretenda mesmo jogar uma bomba atômica em Israel.

Da história das últimas décadas se pode concluir, sem sombra de dúvida, que Israel responderá a qualquer ataque de maior envergadura que sofra lançando quantas bombas atômicas tiver contra o inimigo. Sua norma é sempre reagir com força desmesurada, não só como retaliação, mas também para intimidá-lo e traumatizá-lo ao máximo.

Então, cabem as perguntas:

  • qual desses países, a partir de sua prática concreta, tem-se demonstrado uma ameaça maior para o resto do mundo?
  • que sentido faz punir o Irã por uma bomba que ainda nem fabricou, depois de não punir Israel pelas bombas que possui há décadas, sem controle internacional de nenhuma espécie?
  • No fundo, só há um motivo: o de que os EUA vetam qualquer resolução do Conselho de Segurança da ONU contra Israel, enquanto o Irã não conta com um protetor que lhe garanta a impunidade.

    Ou seja, o Direito não possui nenhuma força. E a força tem todos os direitos.

    Xeque a Obama

    Em tempos de Copa do Mundo, o resultado do último confronto entre Israel e pacifistas foi uma goleada. O estado judeu atacou de forma destrambelhada a flotilha de ajuda humanitária a Gaza e ficou com a defesa tão exposta que os adversários marcaram gols à vontade.
    O mundo inteiro já chegou a conclusões definitivas:

    • Israel cometeu óbvios crimes ao abordar o comboio em águas internacionais, ao assassinar pelo menos nove estrangeiros no curso de uma ação ilegal, ao agredir vários outros, ao sequestrar os sobreviventes, ao mantê-los presos por alguns dias e ao despachá-los para onde não optaram por ir;
    • o bloqueio do Gueto de Gaza (em tudo e por tudo semelhante ao Gueto de Varsóvia…) é criminoso e aberrante, devendo ser levantado o quanto antes.

    A alegação de que os assassinos israelenses estariam exercendo legítima defesa, ao encherem de balas vítimas que não portavam armas de fogo, é risível.

    Nem que a flotilha tivesse invadido seu território faria sentido, pois o emprego desmedido de força salta aos olhos.

    Em alto mar, então, nem há o que discutir. Os coitados tinham todo direito de reagir ao ataque de piratas; e estes, nenhum de acrescentar uma atrocidade a uma ilegalidade.

    Houve quem levantasse uma questão cabível: o que Israel fez foi uma ação pirata ou um ato de guerra?

    Como a embarcação atacada tinha bandeira turca, formalmente o segundo enquadramento é o mais correto.

    Mas, como se tratava de uma missão humanitária internacional, a agressão de Israel se deu contra o mundo civilizado como um todo, e não especificamente contra a Turquia. Considero que andou certo o governo turco ao não levar o episódio às últimas consequências, declarando guerra a Israel, como poderia ter feito.

    Agora, o estado judeu, também de forma risível, nega-se a aceitar a participação de outras nações ou organismos na investigação do episódio.

    Pretende fazê-la sozinho, com o propósito de acobertamento, claro. A Turquia está certíssima em interpretar tal atitude como uma admissão de culpa.

    Pelos mesmos motivos expostos acima, o país formalmente agredido tem todo direito formal de liderar as investigações. O pleito da Turquia procede.

    Mas, como o ataque se deu em águas internacionais e a vítima foi uma missão humanitária integrada por cidadãos de vários países, a investigação deveria competir mesmo é à ONU.

    Continua valendo o que eu afirmei na semana passada:

    “Respaldado no poder econômico e de mídia de judeus do mundo inteiro, Israel aplica, há décadas, a lei do mais forte.

    “A ONU terá de agir da mesma maneira, se quiser ser respeitada: fazendo valer a força maior de que teoricamente dispõe.

    “Para começar, exigindo o imediato levantamento do bloqueio israelense a Gaza.

    “Depois, impondo a rigorosa apuração desse episódio de pirataria em alto mar, seguida da não menos rigorosa punição dos responsáveis.”

    Não tenho dúvidas de que um relatório elaborado pela ONU condenará Israel de forma tão enfática quanto o fez o de Richard Goldstone, sobre o genocídio praticado contra os palestinos de Gaza na virada de 2008 para 2009.

    Nem de que será aprovado, como sempre, por esmagadora maioria.

    Mas, produzir efeitos concretos é outra história.

    Como assinalou o colunista Jânio de Freitas, em dia inspirado (A cara e a alma):

    “Se há mais de quatro décadas nenhuma das tantas e diferentes tentativas de pacificação da área prosperou, (…) é bastante lógico que o fundamento do problema esteja em um fator influente sobre toda a área ou sobre partes decisivas dela.

    “Tal fator existe. Tem cara e tem alma. Sua cara é o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, uma cara cínica, apta a adotar ares de seriedade e de cumprimento compungido do dever, quando põe em prática os atos mais abjetos. Sua alma é de testa de ferro, de guarda-costas matador, de agente duplo, de traficante.

    “Tais características do Conselho de Segurança ativam-se a cada vez que um dos seus cinco integrantes permanentes [EUA, Rússia, França, Inglaterra e China] invoca o direito de veto a uma resolução proposta por um dos 15 membros…

    “(…) Dominante, há mais de 40 anos a direita belicista de Israel não precisa pensar em conter suas ambições territoriais e de dominação; nem em possíveis fórmulas de convívios sem beligerância na região, respeito aos acordos internacionais sobre práticas toleradas e crimes de guerra, violações de direitos, respeito a fronteiras e a águas internacionais.

    “Israel é uma população dividida em relação ao que o país faz, mas é um país de mãos livres para fazer o que quiser. E faz, implícita e explicitamente autorizado pela assegurada cobertura da maior potência mundial”.

    Então, em última análise, é Barack Obama quem decidirá se Israel vai ou não continuar cometendo impunemente as piores truculências.

    Obama terá de optar entre suas conveniências políticas domésticas, num país em que o apoio dos judeus ricos e da mídia que eles controlam decide eleições, e o respeito à Justiça e ao Direito nas relações internacionais. Nem mais, nem menos.

    Temo que ainda não seja desta vez que os EUA dirão: “Sim, nós podemos… ser justos“.

    Gaza: a escalada da insanidade

    Os folhetins, o cinema e a TV nos acostumaram a observar os complexos dramas das pessoas, povos e nações a partir de uma ótica simplista: heróis-vilãos-vítimas.

    Ou, simplificando mais ainda, a acreditarmos que quem causa sofrimento às vítimas são os bandidos e quem as defende, os mocinhos.

    No fundo, trata-se do velho e obtuso maniqueísmo, a que os pensadores marxistas contrapuseram a dialética: Bem e Mal não existem como instâncias metafísicas que, desde os píncaros do paraíso celestial ou das profundezas do inferno, teleguiam a práxis humana, mas sim como resultado das decisões e ações adotadas pelos homens em cada situação.

    No primeiro caso, alguns encarnam o Bem absoluto e o Mal absoluto, sem nuances: os mocinhos são sempre mocinhos e os bandidos, eternamente bandidos.

    Na análise marxista, os papéis vão sendo assumidos a cada instante, de forma que o mocinho de ontem poderá ser o bandido de hoje, e vice-versa.

    A esquerda mundial até hoje não se recuperou do pesadelo stalinista, que, como Isaac Deutscher bem assinalou, foi um amálgama do pensamento sofisticado dos revolucionários europeus com a religiosidade primitiva da Santa Mãe Rússia.

    E a História, infelizmente, favoreceu essa perda de densidade crítica por parte da esquerda. O nazifascismo parecia mesmo encarnar o Mal absoluto, colocando os que o combatiam na condição de cruzados do Bem absoluto.

    Veio a guerra fria e a estreiteza de visão se consolidou definitivamente, de ambos os lados. A política mundial se tornou um mero western daqueles tempos em que os mocinhos se vestiam sempre de branco e os bandidos só usavam trajes negros.

    A questão no Oriente Médio é muito mais complexa.

    Em primeiro lugar, temos um povo (o judeu) milenarmente perseguido, não só devido à maldade intrínseca dos poderosos de todos os tempos, mas também a uma certa vocação para o martírio: nunca quis misturar-se aos outros povos e conviver harmoniosamente com eles, fazendo, pelo contrário, questão de preservar sua identidade cultural/religiosa e de ostentá-la aos olhos de todos.

    Então, mais do que a outros povos, fazia-lhe imensa falta um território próprio. Constituindo uma colônia minoritária em outros países e segregando-se rigidamente dos naturais desses países, neles despertava previsível hostilidade.

    Ademais, os judeus eram invejados pelos gênios da cultura e da ciência que produziam (Marx, Freud, Einstein e tantos outros) e por seu êxito nas finanças, além de despertarem a hostilidade dos governos pela participação marcante que tinham em movimentos libertários/revolucionários.

    É sintomático, aliás, que a esquerda hoje esqueça ou omita a importantíssima contribuição do Bund (União Judaica Trabalhista da Lituânia, Polônia e Rússia) para a gestação do movimento revolucionário russo, no início do século passado.

    HOLOCAUSTO – Ao buscar um inimigo comum contra o qual unir a nação alemã, Hitler não precisou pensar muito: os judeus eram a opção óbvia.

    Finda a II Guerra Mundial, a indignação que o Holocausto provocou na consciência civilizada fez com que a idéia do lar judaico passasse a ser vista com simpatia generalizada.

    Foi quando os judeus cometeram seu maior erro de todos os tempos: aceitando a liderança espúria de fundamentalistas religiosos/terroristas sanguinários, implantaram seu estado nacional numa região em que se chocariam necessariamente com outros fundamentalistas religiosos/terroristas sanguinários.

    A Inglaterra, império decadente, bem que tentou impedir, em vão. E as pombas desnorteadas, judeus imbuídos dos melhores ideais, acabaram aderindo em massa ao projeto sinistro dos falcões.

    Então, uma das experiências socialistas mais avançadas que a humanidade conheceu, a dos kibutzim (comunidades coletivas voluntárias israelenses), acabou sendo tentada num país que logo viraria bunker – e, melancolicamente, foi definhando, até quase nada diferir hoje em dia das cooperativas dos países capitalistas.

    As nações árabes só não exterminaram até agora o estado judeu porque jamais o enfrentaram juntas e disciplinadas, sob um verdadeiro comando militar. Mesmo quando vários exércitos combateram Israel, atuaram praticamente como unidades independentes, em função das querelas e disputas de poder entre os reis, sheiks, sultões, califas, emires, etc., de países cuja organização política e social ainda é feudal.

    Os israelenses, por enquanto, têm compensado sua inferioridade numérica com a superioridade de seus quadros e equipamentos militares, bem como com a repulsiva prática de promover massacres intimidatórios, reagindo de forma desproporcional e freqüentemente genocida aos ataques que sofre.

    Os movimentos fundamentalistas/terroristas árabes agem como provocadores: sabem que jamais conseguirão enfrentar de igual para igual Israel, mas atraem retaliações contra seus povos, na esperança de que isto acabe trazendo as nações para o campo de batalha. Querem ser o estopim de uma guerra santa e não hesitam em sacrificar os seus em nome dos desígnios de Alá.

    Os governantes feudais árabes, entretanto, têm mais medo de serem desalojados dos seus tronos do que ódio por Israel. Sabem que o despertar das massas contra o inimigo nacional pode derivar para levantes revolucionários em seus países. Preferem preservar o status quo, ao preço de fecharem os olhos a atrocidades como as cometidas contra os palestinos em Gaza.

    Não se trata de nenhum filme de mocinho-e-bandido, pois só há vilãos entre os atores políticos; ninguém que mereça nossa simpatia e apoio.

    Quanto às vítimas, estas sim são indiscutíveis: os civis que, nas últimas seis décadas, têm sido abatidos como moscas, devido à cegueira e (sejamos francos) imoralidade monstruosa desses atores políticos.

    No fundo, a solução sensata seria o estabelecimento dos judeus noutro território qualquer – quantos países paupérrimos não lhes cederiam terras e autonomia administrativa, em troca de recursos e cooperação para seu desenvolvimento?

    Mas não é a sensatez que rege o mundo e sim, como Edgar Allan Poe destacou, o horror e a fatalidade.

    Então, os Hamas da vida continuarão ensejando carnificinas e os israelenses seguirão massacrando os vizinhos, trucidando seus velhos, mulheres e crianças, até que surja um novo Lawrence da Arábia e consiga levar à vitória a guerra santa sonhada pelos fundamentalistas/terroristas árabes.

    O que temos no Oriente Médio é uma tragédia: os acontecimentos marcham insensivelmente para o pior desfecho e nada podemos fazer, exceto atenuar, tanto quanto possível, os banhos de sangue.

    ESCREVI ESTE ARTIGO (“A Tragédia do Oriente Médio”) EM JANEIRO DE 2009, NA ESTEIRA DOS MASSACRES QUE ISRAEL PERPETRARA NA FAIXA DE GAZA.

    PERMANECE, INFELIZMENTE, ATUALÍSSIMO.

    OS ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS NOS REVELAM, P. EX., QUE O BLOQUEIO DE GAZA SÓ FUNCIONOU PORQUE O EGITO COLABOROU COM ISRAEL NESSE INTENTO DESUMANO.

    AGORA, FINALMENTE, SE DISPÔS A REVER SUA POSIÇÃO DE CONSIDERAR O HAMAS PIOR INIMIGO AINDA DO QUE O ESTADO JUDEU.

    QUANTO A ISRAEL, FICAMOS SABENDO QUE SE TORNA, CADA VEZ MAIS, UM MONSTRO DE FRANKENSTEIN: AS ILUSÕES DE OUTRORA VÃO CEDENDO LUGAR À DURA REALIDADE DE QUE OS JUDEUS SOFISTICADOS NÃO QUEREM NELE RESIDIR, DAÍ O CRESCENTE AFLUXO DE JUDEUS MAIS PRIMITIVOS (E, PORTANTO, IMPIEDOSOS) PARA QUEM COMPENSA TROCAR A POBREZA NA QUAL VIVIAM PELOS RISCOS DE SE ESTABELECEREM NUMA ZONA DE CONFLITO.

    ESSES NOVOS CONTINGENTES SÃO PREDOMINANTEMENTE DE FANÁTICOS RELIGIOSOS — E, COMO TAIS, TENDENTES A APOIAR QUAISQUER SOLUÇÕES DE FORÇA CONTRA OS PALESTINOS.

    ELES AUMENTAM MÊS A MÊS SUA ASCENDÊNCIA NA POLÍTICA E NO EXÉRCITO ISRAELENSES. E QUEREM MESMO QUE SURJAM CONFRONTOS COMO O ATUAL, PARA FECHAREM TODAS AS PORTAS AO DIÁLOGO CIVILIZADO, CONSOLIDANDO A OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO USURPADO AOS PALESTINOS.

    DAÍ A HIPÓTESE, COGITADA POR ALGUNS ANALISTAS, DE QUE O MASSACRE DA FLOTILHA DE AJUDA HUMANITÁRIA EM ÁGUAS INTERNACIONAIS NÃO TENHA SIDO UM FESTIVAL DE ERROS E ABUSOS, MAS SIM UMA PROVOCAÇÃO DELIBERADA, URDIDA PELOS FALCÕES ISRAELENSES PARA AFASTAREM AINDA MAIS QUALQUER POSSIBILIDADE DE SOLUÇÃO NEGOCIADA.

    IDEM O RECENTE ANÚNCIO DE NOVAS OCUPAÇÕES NO EXATO INSTANTE EM QUE OS ESTADOS UNIDOS EMPENHAVAM-SE EM BUSCAR UM ACORDO, O QUAL IMPLICARIA, PELO CONTRÁRIO, DEVOLUÇÃO DE TERRA AOS PALESTINOS.

    MANTENHO MINHA ANÁLISE: O QUE ESTAMOS VENDO SÃO EVOLUÇÕES NO SENTIDO DE UMA ENORME TRAGÉDIA QUE NINGUÉM ESTÁ CONSEGUINDO EVITAR.

    OS JUDEUS SÓ CONSEGUIRÃO PERMANECER EM ISRAEL SE CHEGAREM A ALGUMA FORMA DE ENTENDIMENTO COM OS LEGÍTIMOS PROPRIETÁRIOS DAQUELAS TERRAS.

    NO LONGO PRAZO, A ALTERNATIVA PARA ELES É: COEXISTÊNCIA PACÍFICA OU EXPULSÃO (EVENTUALMENTE EXTERMÍNIO).

    MAS, APROFUNDANDO SUA INTRANSIGÊNCIA, CONTRIBUEM INSENSIVELMENTE PARA ESSE DESFECHO.

    MAIS DIA, MENOS DIA, OS POVOS ÁRABES SE UNIRÃO E VÃO ALCANÇAR A VITÓRIA. SE OS JUDEUS NÃO RECUAREM DE SUA LOUCURA BELICISTA, ACABARÃO COLHENDO O QUE ESTÃO PLANTANDO.

    NO ENTANTO, NÃO VEJO MOTIVO NENHUM PARA NOS REGOZIJARMOS COM BANHOS DE SANGUE.

    FICO ENOJADO AO VER CIDADÃOS ANTEGOZANDO DESDE JÁ O DIA EM QUE TAL “CANCRO” SERÁ “EXTIRPADO”. QUEM GOSTA TANTO ASSIM DE VER PESSOAS MORRENDO, POR QUE NÃO VAI MATÁ-LAS PESSOALMENTE?

    CONTINUAREI LAMENTANDO QUE SEJAM O HORROR E A FATALIDADE A REGEREM OS DESTINOS DO MUNDO, ENQUANTO O CAPITALISMO, JÁ PUTREFATO E CADA VEZ MAIS DESTRUTIVO EM SEUS ESTERTORES, NÃO CEDER FINALMENTE LUGAR À COOPERAÇÃO E SOLIDARIEDADE ENTRE OS HOMENS.