Doutor em sociologia (Universidade de São Paulo). Mestre em sociologia (IUPERJ). Licenciado em sociologia (Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, Argentina). Professor aposentado da UFPB. Terapeuta Comunitário Formador. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/
Doutor em sociologia (Universidade de São Paulo). Mestre em sociologia (IUPERJ). Licenciado em sociologia (Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, Argentina). Professor aposentado da UFPB. Terapeuta Comunitário Formador. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/
O Evangelho da liturgia hodierna fala-nos do vínculo entre o Senhor e cada um de nós (cf. Jo 10,27-30). Para isso, Jesus usa uma imagem terna, uma bela imagem, a do pastor que está com as ovelhas. E explica com três verbos: “Minhas ovelhas —diz Jesus— escutam a minha voz. Eu os conheço e eles me seguem ” (v. 27). Três verbos: ouvir, conhecer, seguir. Vejamos estes três verbos.
Primeiro as ovelhas ouvem a voz do pastor. A iniciativa sempre vem do Senhor; tudo parte da sua graça: é Ele que nos chama à comunhão com Ele. Mas esta comunhão nasce se nos abrimos à escuta; se permanecermos surdos, ele não poderá nos dar esta comunhão. Esteja aberto à escuta porque escutar significa disponibilidade, significa docilidade, significa tempo dedicado ao diálogo. Hoje somos dominados pelas palavras e pela pressa de sempre ter que dizer ou fazer alguma coisa. E mais, quantas vezes duas pessoas estão conversando e uma não espera que a outra termine o pensamento, corta no meio, responde… Mas se não deixa falar, não há escuta. Este é um mal do nosso tempo. Hoje somos dominados pelas palavras, pela pressa de sempre ter que dizer alguma coisa, temos medo do silêncio. Quanto custa ouvir? Ouça até o final deixar o outro se expressar, escutar-se na família, escutar-se na escola, escutar-se no trabalho e até na Igreja! Mas para o Senhor é preciso sobretudo escutar. Ele é a Palavra do Pai e o cristão é filho da escuta , chamado a viver com a Palavra de Deus à mão. Perguntemo-nos hoje se somos filhos da escuta, se encontramos tempo para a Palavra de Deus, se damos espaço e atenção aos irmãos. Se soubermos ouvir até que o outro possa se expressar até o fim, sem cortar sua fala. Quem ouve os outros sabe ouvir também o Senhor, e vice-versa. E ele experimenta uma coisa muito bonita, isto é, que o próprio Senhor ouve: ele nos ouve quando rezamos a ele, quando confiamos nele, quando o invocamos.
Ouvir Jesus torna-se assim o caminho para descobrir que Ele nos conhece. Este é o segundo verbo, que se refere ao bom pastor: Ele sabe para suas ovelhas. Mas isso não significa apenas que ele sabe muitas coisas sobre nós: conhecer no sentido bíblico também significa amar. Significa que o Senhor, enquanto nos “lê por dentro”, nos ama, não nos condena. Se o ouvimos, descobrimos isto, que o Senhor nos ama. A maneira de descobrir o amor do Senhor é escutá-lo. Então o relacionamento com Ele não será mais impessoal, frio ou de fachada. Jesus procura uma amizade calorosa, uma confiança, uma intimidade. Ele quer nos dar um conhecimento novo e maravilhoso: saber que somos sempre amados por Ele e, portanto, nunca deixados sozinhos. Estando com o bom pastor, vive-se a experiência de que fala o Salmo: “Ainda que eu passe por um vale escuro, não temerei mal algum, porque tu vais comigo” ( Sl .23.4). Acima de tudo no sofrimento, na fadiga, nas crises que são trevas: Ele nos sustenta passando por elas conosco. E assim, precisamente em situações difíceis, podemos descobrir que somos conhecidos e amados pelo Senhor. Perguntemo-nos então: deixo-me conhecer pelo Senhor? Abro espaço para ele na minha vida, trago para ele o que vivo? E, depois de tantas vezes em que experimentei a sua proximidade, a sua compaixão, a sua ternura, que ideia tenho do Senhor? O Senhor está perto, o Senhor é um bom pastor.
Finalmente, o terceiro verbo. As ovelhas que ouvem e sabem que são conhecidas seguem : ouvem, sentem-se conhecidas pelo Senhor e seguem o Senhor, que é o seu pastor. E quem segue a Cristo, o que faz? Vai aonde Ele vai, pelo mesmo caminho, na mesma direção. Vai à procura de quem está perdido (cf. Lc 15,4), interessa-se por quem está longe, leva a sério a situação de quem sofre, sabe chorar com quem chora, alcança estende a mão ao vizinho, carrega-o nos ombros. E eu? Deixo-me amar por Jesus e de me deixar amar, passo a amá-lo, a imitá-lo? Que a Santa Virgem nos ajude a escutar Cristo, a conhecê-lo cada vez mais e a segui-lo no caminho do serviço. Ouça, conheça-o e siga-o.
Em sua Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais, publicada esta semana, Francisco exorta a mídia a colocar a pessoa no centro e não os interesses de parte. O Papa enfatiza a importância da escuta para promover a boa comunicação em todos os níveis. Esta necessidade é ainda mais premente num tempo, marcado pela pandemia, em que aumenta a necessidade das pessoas de serem ouvidas.
“Temos dois ouvidos e uma boca, porque temos que ouvir mais e falar menos.” Esta famosa máxima atribuída ao historiador Plutarco ou ao filósofo Zenão de Cizio está bem ligada à Mensagem de Francisco para o Dia das Comunicações Sociais deste ano, publicada na segunda-feira passada, em memória de São Francisco de Sales, centrada na escuta. Um tema, este último, que o Pontífice indicou várias vezes como central para os profissionais da informação (e não só), mas que agora se torna ainda mais urgente, num momento marcado pela pandemia em que o distanciamento e isolamento social só aumentaram a necessidade de ouvir a si mesmo e os outros. Em suma, aumentou o “desejo sem limites de ser ouvido”, evocado pelo psiquiatra Eugenio Borgna já há vários anos. Escutar pede silêncio. Você não pode realmente ouvir se o ruído cobre a voz de quem está falando. Era 21 de abril de 2020, em pleno confinamento, quando o Papa disse na missa matutina na Santa Marta: “Neste tempo há tanto silêncio. O silêncio também pode ser ouvido. Que este silêncio, que é um pouco novo em nossos hábitos, nos ensine a escutar, nos faça crescer na capacidade de ouvir”. Uma capacidade, “uma arte”, diria Goethe, cuja necessidade continua sendo sentida.
A máxima citada no início, que remonta há mais de dois mil anos, sublinha como essa necessidade de dar espaço à escuta paciente, às vezes cansativa, do outro sempre acompanhou o caminho da humanidade. Primeiro escutar, depois falar. Isso vale muito mais para a escuta do Outro. Shema ‘Israel, “Escuta, Israel”: o início do primeiro mandamento da Torá, observa Francisco na Mensagem, “é repetido continuamente na Bíblia, a ponto de São Paulo afirmar que ‘a fé vem da escuta’ (Rm 10, 17). A iniciativa é de Deus que nos fala, ao qual respondemos escutando-o”. Escutar traz natural e inevitavelmente consigo o tema do encontro. Uma questão crucial na vida humana, que na era das redes sociais cada vez mais difundidas, da desintermediação digital e do avanço da inteligência artificial foi enriquecida com significados e desenvolvimentos particularmente complexos.
Então, o que os meios de comunicação, ou melhor, os operadores da informação, podem fazer para responder a esse “desafio” da escuta, num contexto tão fluido e sujeito a mudanças de direção rápidas e muitas vezes turbulentas? A “bússola” que Francisco oferece para se orientar é basicamente simples: a pessoa (palavra citada 6 vezes no documento). Se de fato na Mensagem do ano passado ele incentivou os jornalistas a irem conhecer as histórias das pessoas onde elas se encontram, a “desgastar as solas dos sapatos”, este ano ele enfatiza que “para oferecer uma informação sólida, equilibrada e completa é preciso ter escutado por muito tempo”. O Papa propõe uma espécie de terapia da escuta para curar os males da informação que ele mesmo denunciou várias vezes. Escutar não é bisbilhotar “instrumentalizando os outros para o nosso interesse”, adverte nesta Mensagem. Com sensibilidade jornalística observa que “para contar um acontecimento ou descrever uma realidade numa reportagem é essencial saber escutar, também disposto a mudar de ideia, a modificar as suas hipóteses iniciais”.
Experiências positivas não faltam. Dos programas de rádio que escutam o desconforto dos jovens aos jornais locais (a experiência na área é fundamental) que funcionam como um megafone para quem não tem voz e como “experiências sociais” no terreno da comunicação digital onde a criatividade encontra espaços inexplorados. Não menos significativo – como sublinhou o diretor-geral da União Europeia de Radiodifusão (EBU-UER), Noel Curran, em entrevista aos meios de comunicação vaticanos – é o protagonismo renovado do serviço público chamado, por natureza e estatuto, a ouvir as necessidades das pessoas e comunidades. Durante a pandemia, está convencido o responsável da UER, os meios de comunicação social “se tornaram um portal para a população”. A estes meios, como a cada um de nós (porque somos todos seres comunicadores), o Papa pede que voltemos a colocar a pessoa no centro e apostar na relação que começa sempre inclinando o ouvido do coração para nos aproximarmos daqueles que encontramos nos caminhos de nossa existência.
Tenho somado a minha voz à daquelas pessoas que resistiram e continuam resistindo ao regime instalado a partir do golpe de estado de 2016. A ação das forças contrárias à democracia, aos direitos humanos e à convivência civilizada, exacerbou o menosprezo à vida, dilacerando esse tecido mínimo de que está feito o dia a dia.
Hoje percebo que a mera crítica e a denúncia não bastam. São necessárias, mas não suficientes para refazer o que foi destruído. A reconstrução de um projeto de país includente, um país para todas e todos, demanda um esforço e uma soma de intenções e ações que ultrapassa os dualismos implantados.
No meu ponto de vista, se trata de recuperar um espaço de ação que vêm sendo minado tanto pelo poder quanto pelas tecnologias digitais e pelos meios de desinformação e manipulação. É o espaço da pessoa, o espaço da família, das relações cara a cara, do comunitário, do que somos capazes de fazer por nós mesmos/as.
Voltar o olhar e a atenção para o diálogo, a escuta de nós mesmos/as e dos demais. Ter a noção clara de que a vida é tão efêmera, tão incrivelmente delicada e complexa, que exige de nós toda a ternura, todo o cuidado, toda a amorosidade de que formos capazes.
Quando deixamos vago o espaço do nosso próprio ser, da nossa própria identidade, cedendo ao que nos é imposto, começamos a viver uma vida que não é mais nossa. É uma vida alheia implantada no nosso interior. Então eu vivo e ajo e penso e sinto e falo e faço como me é dito que devo, mas não sou eu.
É preciso estar atentos/as. Para não perder a vida não basta estarmos vivos/as. É preciso fazer nossa a vida que vivemos. A arte têm um papel primordial nesta apropriação, já que nos resgata do utilitarismo e da banalização, nos devolve a noção clara e precisa do valor de cada instante.
Doutor em sociologia (Universidade de São Paulo). Mestre em sociologia (IUPERJ). Licenciado em sociologia (Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, Argentina). Professor aposentado da UFPB. Terapeuta Comunitário Formador. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/
Doutor em sociologia (Universidade de São Paulo). Mestre em sociologia (IUPERJ). Licenciado em sociologia (Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, Argentina). Professor aposentado da UFPB. Terapeuta Comunitário Formador. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/