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Dia nacional da Memória pela Verdade e a Justiça

Tenho escrito já tanto sobre a ditadura e suas sequelas

A justiça feita ou ainda por fazer.

Não apenas o que o genocídio deixou como contas a pagar

Crimes a serem julgados e punidos

Mas ainda e apenas mais

O que sobrou para quem viveu o genocídio e sobreviveu

Valorizar a vida

Valorizar o estar vivo, viva.

O que me anima é a expectativa de saber

E espero estar sabendo mesmo

Que como Argentina aprendemos a ser mais do que partidos ou partidas

Fachadas.

Como despegar a memória do pesadelo que ficou colado na memória? É tarefa para o dia a dia.

Escrever faz parte desta tarefa

Refazer o sentido do viver.

Focar nesta transformação que é coletiva e pessoal

Comunitária

Dito isto mil vezes, direi tantas quantas for necessário

Até que o sol brilhe como há de brilhar

E já brilha por momentos.

Dia nacional da Memória pela Verdade e a Justiça.

Argentina, sim. Mas qual Argentina?

Qual Argentina?

A minha Argentina está de pé.

Eu não me dobrei. Enfrentei.

O meu lugar está intacto.

Obra publicada pela EDUEPB sobre a vida de Paulo Freire vence Concurso Internacional de Literatura

Por Severino Lopes

A Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB) obteve mais uma importante conquista. O livro “Paulo Freire: uma biografia em quadrinhos”, da escritora e historiadora paraibana Thuca Kércia Morais e do ilustrador Américo Filho, venceu o Concurso Internacional de Literatura 2023, promovido pela União Brasileira de Escritores, no Rio de Janeiro. A obra venceu o Prêmio Ziraldo, na categoria HQ.

Com foco na trajetória de vida da maior figura do pensamento sociopolítico e educacional brasileiro, a obra foi publicada em 2022 e fez parte do “Projeto Editorial 100 anos de Paulo Freire”, uma parceria da Editora da Universidade Estadual da Paraíba com a Editora A União. Esta foi a segunda conquista do projeto de comemoração do centenário de Paulo Freire lançado pela EDUEPB.

A editora já havia vencido o 8º Prêmio ABEU 2022, um dos maiores prêmios da literatura nacional e o maior prêmio do livro universitário do país. A conquista veio com a trilogia “Cartas a Paulo Freire: escritas por quem ousa esperançar”, enaltecendo a trajetória e o legado do educador e filósofo que revolucionou a educação. A EDUEPB venceu na categoria Ciências Humanas.

O diretor da EDUEPB, professor Cidoval Morais, comemorou mais esse objetivo. Ele classificou o prêmio como uma grande conquista editorial, fruto de uma aposta da editora no talento da professora Thuca Kércia e do ilustrador Américo Filho. “Para a EDUEPB, o prêmio Ziraldo, na categoria HQ, representa uma grande conquista editorial. Foi uma aposta, de um lado, no talento, na criatividade de uma professora ousada e de um ilustrador competente e paciente que foi Américo Filho. E de outro, num projeto, que continua em curso, de reafirmar Paulo Freire e sua obra”, comemorou

Cidoval lembrou que o livro foi produzido e publicado no contexto de um período crítico para a vida política, social e cultural do país, e fez parte do projeto da editora que comemorou o centenário do educador. “Ela integra os produtos do projeto de comemoração do centenário de Paulo Freire, que foi em 2021 e que também já teve uma premiação importante da literatura acadêmica, que foi o Prêmio Paulo Freire com a trilogia Cartas a Paulo Freire”, lembrou.

A historiadora paraibana Thuca Kércia Morais também comemorou a conquista. Ela ressaltou que a União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro é uma das mais tradicionais instituições da Literatura do Brasil. “Este concurso já está com várias edições, a cada ano ampliando as categorias e homenageando escritores reconhecidos. Eu me inscrevi na categoria HQ, que leva o nome de Ziraldo. A seleção é referente a 2023, e eles aceitavam livros do Último triênio, meu livro é de 2022”, contou.

“Paulo Freire: uma Biografia em Quadrinhos” é fruto de diversas leituras sobre a vida e a obra de Freire, e também de um desejo da autora de não deixar apagar a chama do prazer pelo conhecimento que esse grande educador fez e faz surgir entre aqueles que ele tocou.

A obra faz uma incursão pessoal pela trajetória de Freire, desde a sua infância no Recife, até desembocar no brilhantismo de seu legado que o consolidou como patrono da educação brasileira, iniciada desde a graduação da autora em História. “Uma Biografia em Quadrinhos” é fruto de diversas leituras sobre a vida e a obra do nordestino que marcou o seu nome na história por defender uma educação inclusiva e libertadora. O livro demonstra um Paulo Freire menino, nordestino, de origem simples, e que teve sonhos, brincou, sofreu e estudou.

Fonte: Universidade Estadual da Paraíba

(26 de janeiro de 2024)

Escrever.

Há dez anos tive uma complicação nas costas típica de quem trabalha em escritório, sentado, por longas horas. Entre os muitos médicos que consultei, lembro de um argentino que me aplicou a técnica da acupuntura e, durante as sessões, me dava valorosas dicas de saúde mental. Isso ajudaria no problema das costas.

Baño de mar. Escribir. Meditar. Estas fueron algunas de las recetas.

Eu nunca esqueci que ali estavam valiosas sugestões que eu deveria ter seguido com mais frequência, até mais do que as também valiosas receitas da ciência tradicional.

De lá pra cá, não tenho do que reclamar. Escrevi três livros, fruto de pesquisa acadêmica, e tomei alguns banhos de mar memoráveis. Quanto a meditar, não cumpri bem a promessa, mas nesse meio tempo descobri os escritos de Carl Gustav Jung, que acompanho até hoje.

Nos últimos anos não consegui mais escrever com tanta frequência. A vida me trouxe surpresas, como ela costuma fazer com todos nós, e mesmo a leitura – minha tão valorosa companheira – se tornou menos do que o desejável.

Meu amigo Rolando Lazarte, que há incontáveis anos nos acompanha no projeto desta revista, foi uma inspiração pela sua persistência em tentar colocar no papel – ou nas telas – o indizível. A árdua tarefa de escrever sobre a vida, tão complexa, é ao mesmo tempo uma válvula de escape e talvez a mais valorosa profissão.

Sem a escrita, estaríamos reduzidos ao mecânico, ao material. Com a escrita, transcendemos.

Lo sublime se vuelve cotidiano, mientras las palabras se estrechan en los callejones de la vida como quien busca las mejores frutas en un mercado de una hermosa mañana de sábado.

Vamos à escrita.

Publicar

Publicar não é qualquer coisa

Não é meramente despejar

Derramar letras de qualquer jeito

O texto há de ter alma e sentido

Tratar bem a quem nos lê

Tratar bem a quem publica

São artes

Aprendo a me tratar bem

Tratando bem quem me lê e quem publica

Neste caso são uma única e a mesma pessoa

Não me escondo

Dou a cara

Tenho várias e trato de que esta seja a mais essencial

A que melhor me faz

Presencial é outra coisa

Conviver é outra coisa

Menos fazer de conta

Mais carinho, mais abraço

Mais aconchego, mais sorrisos.

Não tenho tempo para fazer de conta

Conta estar vivo, gente

Isto é o que conta

Ter passado o que passei e estar aqui

De cara para o sol de onde venho

O sol que me ilumina e guia

A luz que procuro cada manhã e durante a noite

E faço aparecer quando escuto e me escuto

Quando escrevo e me escrevo e te escrevo

E leio e me leio e pagino e repagino folha a folha

Minha história viva.

Sentido de Consciência

Mês da comemoração do aniversário de Consciência. Sinto necessidade de partilhar alguns sentimentos que me acompanham quase desde o nascer desta revista.

Creio já ter dito alguma vez, que serei eternamente grato a Gustavo Barreto pelo espaço que deu aos meus escritos, desde o começo. Eu lutava então contra uma depressão e outras mazelas.

Ver o meu nome na revista me alegrava. Alimentava uma esperança. Algumas pessoas comentavam. Uma chegou a encadernar meus escritos e mos mandou por correio.

Assim nasceu meu livro Resurrección, em 2009. Assim eu ia vendo a luz de novo. Saindo e saindo e saindo mais uma vez.

Agora as revistas parecem não ter um lugar tão importante para algumas pessoas. Para aqueles e aquelas que nos aninhamos aqui, sim. Continuamos a fazer aqui a nossa casa. Uma casa aberta. Um espaço plural. Acolhedor.

Confiança se constrói dia a dia

Vim me tornar um assíduo colaborador desta revista em tempos em que com toda a minha alma, fazia todo tipo de tentativas por vir à tona.

Hoje, quase 23 anos depois, escrever continua a ser uma atividade vital para mim.

Enquanto pode ter quem escreva como um  meio para se mostrar, exibir erudição, dominar, etc, para mim esta nobre arte continua a ter uma única finalidade.

Ser mais eu cada vez. Ser mais pleno e feliz.

Ditas estas coisas, passo ao que me traz aqui agora. Como reconstruir a confiança? Confiança em mim mesmo, nas pessoas em volta, no futuro?

Saindo para a rua e vendo que não há ameaças. Ou que em aparecendo alguma, pode ser enfrentada.

Vendo quem está por perto e saber sem sombra de dúvidas, que é alguém que me quer bem. Alguém confiável.

Com estes simples passos, e mais alguns que fui dando pela mão da comunidade, fui recuperando a confiança.

Colocando os medos e as tensões para mais longe.

O lazer, a distração, o trabalho manual, a leitura e a música, são outras ferramentas de que me valho para manter esta sensação de prazer que é prima irmã da confiança.

A beleza tem o poder de ativar uma internação no que é eterno. Beleza há por toda a parte. Dentro e fora de nós.

Digo e repito para mim mesmo as minhas qualidades e conquistas. As minhas vitórias. Então sobrevêm uma sensação de pertencimento que alicerça o meu estar aqui.

Sem culpas.

Proyecto S

Escribir. Escrever. Ver. Venir

Escribir es mi proyecto. Es un proyecto antiguo y actual, y también comunitario. Es leer y compartir lo que se lee.

Es ser lo que se escribe. Si todo esto te pudiera llegar a sonar medio abstracto, puede ser porque estés pensado en ello. Si lo ves, verás que hay un lugar. Un espacio donde podemos ser. Un espacio donde somos. De este espacio nos van sacando despacito o a los empujones desde la infancia. Nos van poniendo a pensar en las tristezas de Cancha Rayada, como dice Cortázar. O en cuántas patas tienen las arañas.

Pero lo que importa es que se puede volver. Por eso es que volví. No sé si seguiré volviendo. No sé si esta revista seguirá existiendo. Depende de si a otras personas les importa lo suficiente como para ponerle el hombro. Lo que les quería decir y ya lo dije es esto del escribir como proyecto.

Me parece importante decirlo, porque hay veces que nos confundimos. No decimos lo que queremos decir. No sabemos si lo que escuchamos es lo que nos quieren decir. En vez de preguntar, por ahí reaccionamos. Esto le pasa a todo el mundo. La S me dice que puedo confiar. Escucho el sonido. Confianza se hace. Se conquista. Se construye. Escribir nos ayuda a ver y saber lo que queremos. Y lo que no queremos también.

Por que escrever? Para que escrever? Para que viver? Por que viver?

As perguntas abrem um espaço. Abre-se uma possibilidade. Nos dias de hoje age-se muitas vezes irrefletidamente. Alguém dá um comando e eu reajo. Aceito e acato. Ajo sem saber por que nem para que. Assim, a ação não é propriamente minha, muitas vezes.

A minha experiência de vida me ensinou que o que não escrevo se desvanece, desaparece, é como se não tivesse existido. Assim, escrevo constantemente. Desta maneira vou me construindo.

Escrever é ir pondo tijolo por tijolo, construindo espaços, fazendo a vida acontecer. É como desenhar, em certo sentido. Vou fazendo a minha cara. Faço as minhas raízes. Determino se o sol irá entrar ou não na minha casa.

O que se verifica muito frequentemente nos dias de hoje, é uma semi-existência, uma quase inexistência, um viver fronteiriço, que não pode se dizer que pertença propriamente ao sujeito. A pessoa está, mas não lhe pertencem os seus comandos. A rigor, ela não se pertence. Isto leva a uma irresponsabilidade, a uma desistência, um sem-sentido.

É de uma importância crucial que se volte à educação, entendida como o processo do vir a ser pessoa, um processo contínuo. Educação em casa, na família, e também na escola, no trabalho, na rua, na universidade, na cidade, onde for.

Sem educação libertadora, não há humanidade. Isto implica em consciência. E aqui chegamos às perguntas iniciais deste escrito. Escrevemos para viver. Para saber quem somos. Para encontrar e fazer sentidos. Para nos comunicar com o mundo em volta: gente e ambiente. Simples assim.

“A única anormalidade é a incapacidade de amar” (Anaïs Nin)

Duas frases. Duas imagens. É o suficiente. Encontrei Anaïs Nin em 1984: “Em busca de um homem sensível”. Agora retorno à escritora, em busca de algo que ela deixou aceso em mim.

Naquela época eu era professor na Escola de Sociologia e Politica de São Paulo. Lembro como se fosse agora. Ganhei o livro de presente de um meu aluno de então. Eram cursos noturnos.  Eu saía da casa onde morava no Brooklyn Velho, e lá começava este encontro. Encontro com gente que foi me fazendo gente. Risadas, sonhos, utopias.

Vinha eu de novo para a vida. Poesia é isto. Nascença. Nascer de novo, a toda hora. Assim reencontrei-me na arte. A arte de viver, tão necessária. Mas não fadigarei a quem esteja lendo. Quando a escritora diz que a única anormalidade é não amar, assino embaixo. Pode ser doído, doer amar. Mas não amar é não ser. É não ter-se tornado gente.

O Brasil está diante de uma encruzilhada, como então. Em 1984 era o processo de mobilização que acompanhou o fim do regime autoritário. Hoje é o fim de um outro regime direi mais do que autoritário, desumano.

Frases e sentimentos mobilizam. Uma palavra mobiliza, se for vivida. No diálogo com as minhas alunas e alunos, fui me inserindo em diversas linguagens, diversos mundos. Desfazendo o pretenso monopólio do saber acadêmico. Daí agora partilhar esta outra reflexão da autora, sobre o escrever. A ver se derrotamos o analfabetismo de vez.