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Proyecto S

Escribir. Escrever. Ver. Venir

Escribir es mi proyecto. Es un proyecto antiguo y actual, y también comunitario. Es leer y compartir lo que se lee.

Es ser lo que se escribe. Si todo esto te pudiera llegar a sonar medio abstracto, puede ser porque estés pensado en ello. Si lo ves, verás que hay un lugar. Un espacio donde podemos ser. Un espacio donde somos. De este espacio nos van sacando despacito o a los empujones desde la infancia. Nos van poniendo a pensar en las tristezas de Cancha Rayada, como dice Cortázar. O en cuántas patas tienen las arañas.

Pero lo que importa es que se puede volver. Por eso es que volví. No sé si seguiré volviendo. No sé si esta revista seguirá existiendo. Depende de si a otras personas les importa lo suficiente como para ponerle el hombro. Lo que les quería decir y ya lo dije es esto del escribir como proyecto.

Me parece importante decirlo, porque hay veces que nos confundimos. No decimos lo que queremos decir. No sabemos si lo que escuchamos es lo que nos quieren decir. En vez de preguntar, por ahí reaccionamos. Esto le pasa a todo el mundo. La S me dice que puedo confiar. Escucho el sonido. Confianza se hace. Se conquista. Se construye. Escribir nos ayuda a ver y saber lo que queremos. Y lo que no queremos también.

Por que escrever? Para que escrever? Para que viver? Por que viver?

As perguntas abrem um espaço. Abre-se uma possibilidade. Nos dias de hoje age-se muitas vezes irrefletidamente. Alguém dá um comando e eu reajo. Aceito e acato. Ajo sem saber por que nem para que. Assim, a ação não é propriamente minha, muitas vezes.

A minha experiência de vida me ensinou que o que não escrevo se desvanece, desaparece, é como se não tivesse existido. Assim, escrevo constantemente. Desta maneira vou me construindo.

Escrever é ir pondo tijolo por tijolo, construindo espaços, fazendo a vida acontecer. É como desenhar, em certo sentido. Vou fazendo a minha cara. Faço as minhas raízes. Determino se o sol irá entrar ou não na minha casa.

O que se verifica muito frequentemente nos dias de hoje, é uma semi-existência, uma quase inexistência, um viver fronteiriço, que não pode se dizer que pertença propriamente ao sujeito. A pessoa está, mas não lhe pertencem os seus comandos. A rigor, ela não se pertence. Isto leva a uma irresponsabilidade, a uma desistência, um sem-sentido.

É de uma importância crucial que se volte à educação, entendida como o processo do vir a ser pessoa, um processo contínuo. Educação em casa, na família, e também na escola, no trabalho, na rua, na universidade, na cidade, onde for.

Sem educação libertadora, não há humanidade. Isto implica em consciência. E aqui chegamos às perguntas iniciais deste escrito. Escrevemos para viver. Para saber quem somos. Para encontrar e fazer sentidos. Para nos comunicar com o mundo em volta: gente e ambiente. Simples assim.

“A única anormalidade é a incapacidade de amar” (Anaïs Nin)

Duas frases. Duas imagens. É o suficiente. Encontrei Anaïs Nin em 1984: “Em busca de um homem sensível”. Agora retorno à escritora, em busca de algo que ela deixou aceso em mim.

Naquela época eu era professor na Escola de Sociologia e Politica de São Paulo. Lembro como se fosse agora. Ganhei o livro de presente de um meu aluno de então. Eram cursos noturnos.  Eu saía da casa onde morava no Brooklyn Velho, e lá começava este encontro. Encontro com gente que foi me fazendo gente. Risadas, sonhos, utopias.

Vinha eu de novo para a vida. Poesia é isto. Nascença. Nascer de novo, a toda hora. Assim reencontrei-me na arte. A arte de viver, tão necessária. Mas não fadigarei a quem esteja lendo. Quando a escritora diz que a única anormalidade é não amar, assino embaixo. Pode ser doído, doer amar. Mas não amar é não ser. É não ter-se tornado gente.

O Brasil está diante de uma encruzilhada, como então. Em 1984 era o processo de mobilização que acompanhou o fim do regime autoritário. Hoje é o fim de um outro regime direi mais do que autoritário, desumano.

Frases e sentimentos mobilizam. Uma palavra mobiliza, se for vivida. No diálogo com as minhas alunas e alunos, fui me inserindo em diversas linguagens, diversos mundos. Desfazendo o pretenso monopólio do saber acadêmico. Daí agora partilhar esta outra reflexão da autora, sobre o escrever. A ver se derrotamos o analfabetismo de vez.

Escrever é ser

Este exercício cotidiano de vir para a folha é uma experiência que em si mesma, têm muitas significações. Em primeiro lugar, é um exercício de esperança. A edição irá ao ar no dia seguinte. Portanto, há uma parte minha que se projeta para um tempo além deste momento.

Em seguida, recupero também memórias da minha juventude, em que jornais e revistas faziam parte do meu mundo. A vida acontecia muito ali, nessas páginas. Por outro lado, era e é um modo de participar da vida das pessoas que nos leem. Isto tem tido e continua a ter um sentido muito especial para mim.

Sempre senti necessidade de me sentir parte. Fazer parte. Estar incluído. Agora vejo que consegui. Esta revista é um modo muito apropriado para fazer parte do mundo. Percebo como continuo a ter um tom coloquial, como em todas as minhas publicações.

Meus livros e artigos não são diferentes. Consegui ser eu mesmo o tempo todo. Sou cada vez mais o que escrevo.

Adélia Prado: Antes do nome

Antes do nome

Não me importa a palavra, esta corriqueira.

Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o ‘do’, o ‘aliás’,
o ‘o’, o ‘porém’ e o ‘que’, esta incompreensível
muleta que me apoia.

Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é o Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.

Em momentos de graça, infrequentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.

Identidade

Escrevo. Gosto de escrever. Escrevo como quem vêm para o que lhe é próprio. Meu lugar é numa folha em que escrevo e leio, e também no mundo lá fora e aqui dentro. Não me preocupa repetir. Não escrevo para dizer algo novo, necessariamente, mas apenas para estar no meu lugar. Quando estou aqui, passado e presente se juntam, todos os dias se tornam um só.
Tudo que li e vivi e escrevi ficam sendo uma única coisa, uma única substância que sou eu mesmo. Se desfaz a dissociação entre o que faço e o que sou. Sou o que faço. O que faço é isso, vir para a folha, estar na folha.
Fazer aqui meus sonhos reais. Nascer de novo. Ficar belo e radiante. Comunidade que dissolve a distância. A solidão torna-se plena pois aqui estão todos meus seres queridos. Não há frustrações, pois tudo que desejo se torna realidade.
Aqui sou o mago que detêm as guerras e bloqueia a injustiça. Aqui não há impunidade nem imunidade. Apenas humanidade. Humanidade em busca de si mesma, em incessante vai vem, e onde recolho de cada pessoa que encontro, alguma faísca que trago para mim. Perco a vã expectativa de perfeição que me afasta de mim mesmo tanto quanto das demais pessoas. Admiro o arco-íris que espreita no meio das nuvens cinza.