Neste domingo, ao celebrar a festa de São Francisco de Assis, o papa Francisco quis ir à colina de onde, há mais de 800 anos, partiu o movimento franciscano. Ali, ele assinou uma encíclica, dirigida a todos os seres humanos. Na carta Todos somos irmãos e irmãs, o papa deixa claro que a vocação fundamental das Igrejas e comunidades cristãs é “reunir na unidade todos os filhos e filhas de Deus, espalhados pelo mundo” Cf. Jo 11, 52).
Desde o século XIII até hoje, Francisco de Assis tem sempre impressionado crentes e não crentes porque, em seu modo de ser e de viver, encarnou, de modo radical, o evangelho de Jesus. Naquela época, na qual a Igreja se tinha tornado um poder ao lado de outros, em uma sociedade profundamente desigual e injusta. Francisco revelou que o evangelho não é apenas religioso. É um modo de viver em oposição aos valores de um mundo sem amor. Para Francisco, o evangelho significou encontrar Cristo nas pessoas mais pobres e testemunhar o amor divino a toda humanidade, independentemente de raça, de cultura ou religião. Chamou de irmãos e irmãs até os animais e os elementos da natureza.
Ao propor um encontro com economistas jovens sobre a economia de Francisco e Clara, o papa deixa claro que considera Francisco um criador de energias e processos dinâmicos influenciadores e preparadores da construção de formas novas de viver, conviver, crer e organizar a sociedade.
Desde que São Francisco constituiu o seu movimento leigo, exigiu de todos os membros um voto: não possuir nem portar nenhum tipo de armas. A história conta que esta opção franciscana provocou nos séculos seguintes certa crise de falta de combatentes em algumas regiões da Europa. Hoje, o Brasil se transforma em uma pátria armada, como diz Gregório Duvivier.
O santo de Assis é também referência de novo estilo de convivência na sociedade e nas Igrejas. Foi a partir de São Francisco que as ordens religiosas aprenderam a fazer capítulos, reuniões nas quais a comunidade assume a cabeça, (caput), a direção comum e tem a autoridade máxima. Os ministérios se tornam realmente serviços e de caráter sempre temporário e não mais vitalícios como nas ordens antigas. Daí vem a noção de sinodalidade, caminhar juntos. Na linha do santo de Assis, o papa Francisco insiste que esta deve ser a forma normal da Igreja e escolhe a sinodalidade como assunto do próximo sínodo que, cada vez mais, passa a ser não só dos bispos, mas de toda a Igreja. Na realidade de nossas dioceses e paróquias, ainda são muitos os bispos e padres que não sabem bem do que se trata. Comportam-se mais como representantes de uma instituição sagrada do que como testemunhas da boa notícia de que Deus inspira para o mundo inteiro um novo modo de ser. Em sua época, São Francisco teve muita dificuldade de ser compreendido por seus próprios irmãos e, em determinado momento de sua vida, foi considerado por muitos como um santo, mas irreal e de certa forma superado. Como nunca ocorreu a nenhum outro papa, atualmente, oposições e ataques ao papa Francisco surgem claramente em meio à própria hierarquia romana e em meio ao clero católico.
Em sua mensagem à assembleia geral da ONU, por ocasião do 75º aniversário das Nações Unidas, o papa Francisco insistiu em nortear como a humanidade pode organizar a vida após esta pandemia. Sua mensagem retoma muito da mensagem de São Francisco ao insistir que somente a partir do cuidado com os mais pobres e vulneráveis se pode construir um futuro digno para a terra. Ao contrário do governante brasileiro que negou a destruição da Amazônia, o papa denunciou o descumprimento dos acordos com relação à Ecologia e pediu proteção para a Terra, casa comum da humanidade e para a vida de todos os seus habitantes.
Eu vivo em tempos sombrios […] Que tempos são esses em que falar de
flores é quase um crime, pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
(Bertolt Brecht: Aos que virão depois de nós. 1947)
Assumo publicamente: saí do armário. Não foi assim de repente, da noite pro dia, mas devagarzinho, com idas e vindas. Começou na infância quando fiquei enfeitiçado por uma biba no bairro de Aparecida, em Manaus. Mas agora, na velhice, surpreendentemente, um caso tornou definitiva e sem volta a saída do armário: a morte nos últimos dias de milhares de pássaros no Novo México (EUA). Mais de um milhão, calcula a bióloga Martha Desmond em entrevista à BBC:
– “É devastador. Acho que nunca vi nada tão horrível na minha vida”.
Cenas apocalípticas aparecem no vídeo postado pelo jornalista A. Fischer do Sun News. Uma chuva de aves caiu do céu. Ruas, trilhas, veredas e jardins ficaram atapetados por cadáveres de passarinhos, muitos deles com órgãos internos expostos. Alguns foram recolhidos e enviados à Universidade de New México para exames toxicológicos. Os cientistas criaram um banco de dados para pesquisar as causas até hoje desconhecidas, relacionadas talvez a secas recentes ou à frente fria que atingiu a região na semana passada ou ainda à fumaça dos incêndios florestais na Califórnia, que podem ter atingido os pulmões das aves.
No Brasil, a mídia ignorou a tragédia considerada “menor” diante do coronavírus, que já matou quase 140 mil brasileiros. Numa visão antropocêntrica, se alega – para afirmar uma superioridade – que gente é gente, bicho é bicho. E se fosse para noticiar morte de animais, a prioridade seriam as vítimas de incêndios florestais na Amazônia e no Pantanal. Por isso, uma crônica sobre o número alarmante de andorinhas mortas nos Estados Unidos exige uma justificativa de tal escolha, como fez Gabriel García Márquez, ao expor a relação de bichos com bicha.
Maricón
Na crônica jornalística “Cómo sufrimos las flores” (9/12/1981), o escritor colombiano relatou em sua coluna uma reunião com amigos na qual um deles, que era biólogo, dissertou sobre a alma das plantas que, dentro de casa, passam a fazer parte do núcleo familiar, sofrem com as brigas de casais e podem até morrer aterrorizadas, o que já foi constatado com o uso do galvanômetro – um aparelho que mede a intensidade da corrente elétrica e que, em contato com uma planta, revela suas reações e seus sentimentos mais íntimos.
O escritor afirma aquilo que os índios Guarani já sabem há milênios, fruto da observação e da convivência com bichos e plantas: as flores são gente, elas falam, reagem diante da felicidade, do prazer e da agressão.
– “O centro nervoso das plantas localiza-se na textura das raízes que se dilatam e se contraem como os músculos do coração humano. Além disso, têm memória: são capazes de acumular impressões e de retê-las por longo tempo. Podemos imaginar, portanto, quais recordações históricas armazena uma sequoia, essa árvore fabulosa que chega a crescer até 150 metros e pode viver até três mil anos” – escreveu García Márquez, Gabo para os íntimos.
Ele relata que pesquisadores injetaram em várias plantas forte dose de álcool e, no dia seguinte, elas estavam de ressaca do porre homérico, apresentando quadro de uma “embriaguez triste”. Estudos indicam que a música também interfere no crescimento de seres do reino vegetal – disse seu amigo biólogo na mencionada reunião. No entanto, nem todos os presentes se comoveram com a sensibilidade das plantas e o genocídio das florestas. Dias depois, o escritor recebe telefonema de outro amigo que lhe perguntou qual era o tema da sua próxima crônica.
– Estoy escribiendo sobre el sufrimiento de las plantas y las flores – le contesté. Mi amigo, con una alarma cierta, exclamó:
– Ah, carajo! ¿No te estarás volviendo maricón?
A osga e a bichice
O tal amigo de Garcia Márquez recriminava a crônica sobre flores naquele dezembro de 1981, quando os jornais noticiavam o massacre de mais de 900 camponeses em El Salvador, o golpe de estado na Polônia, ataques de Israel a Bagdá e os ensaios atômicos dos Estados Unidos. Nesse contexto, falar de flores, além de ser “quase um crime”, comprometia a virilidade do autor.
– Florzinha, passarinho, isso é coisa de gayzinho, se levar um couro muda de comportamento – afirmaria também de forma preconceituosa um capitão, desviando o assunto do depósito de 89 mil reais na conta de sua esposa. Tal preconceito, porém, acaba sendo um reconhecimento, ainda que involuntário, da sensibilidade de quem é capaz de compreender o lugar das plantas e bichos no ecossistema e seu papel na reprodução da espécie humana.
Ah! Já ia me esquecendo: e a biba que enfeitiçou minha infância? Foi assim. Em casa, no Beco da Bosta, bairro de Aparecida, todo mundo dormia em rede, uma colada na outra, parecia barco de recreio lotado. De noite, eu ficava olhando a bibinha, que durante o dia ficava escondida, camuflada e à noite passava se requebrando, se exibindo, ameaçando cair na minha rede. Foi namoro à primeira vista.
A biba – o outro nome que damos à osga ou lagartixa – subia na parede compartilhada com a casa vizinha da dona Zulmira e andava na superfície do telhado de zinco de cabeça pra baixo, em busca de insetos, sem cair. Proeza extraordinária. Ela me olhava com os olhinhos carregados de ternura. Foi assim que minha atração por bibas se estendeu agora aos pássaros, que em todas as culturas simbolizam a paz. Por isso, nos quadros de René Magritte, eles encarnam a humanidade, como no autorretrato “A Clarividência” em que o artista belga pinta um pássaro, usando um ovo como modelo. Lá reside o futuro.
Canário na mina
Até hoje não resisto à agonia do mundo animal, que está no olhar do quati sedento correndo do fogo, no jacaré esturricado ou na dor da onça com as patas queimadas no incêndio do Pantanal. Quem morre com eles é a nossa humanidade. Nas minas de carvão do Reino Unido – me contou um dia o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro – os mineiros tinham o costume, até 1986, de levar com eles para dentro dos socavões um canário em uma gaiola. O bichinho, muito mais sensível que os humanos aos gases tóxicos acumulados dentro dos túneis, começa a agonizar quando o ar fica envenenado. Sua morte é um sinal para os mineiros, um “aviso” de que devem evacuar as galerias. O grito “Canary in the coal mine” virou um sinal de perigo iminente.
A metáfora do canário tem sido empregada por diferentes pesquisadores para discutir o papel da humanidade na extinção de animais, considerada como presságio de desastres ecológicos. Agora, os canários estão morrendo massivamente, nesse socavão que se transformou o planeta e não temos para onde fugir. Este dado concreto me leva a assumir e cultivar o meu lado feminino naquilo que tem de delicado, mas também de forte com a lembrança da figura materna, que protege a fragilidade da cria. Parece que me estoy volviendo maricón, com muito orgulho. Não mudo nem que “leve um couro”. Sim, os pássaros de New México merecem uma crônica, ainda que modesta, neste Diário do Amazonas. Eles somos nós. Nós somos eles.
P.S. Agradeço à doutora em filosofia Déborah Danowski o envio, via tweeter, da notícia sobre os pássaros de New Mexico, tema tão relevante e dramático quanto o incêndio no Pantanal que carbonizou as plantações dos índios Guató, ocasionando a perda de 83% do seu território. Ambos estão intimamente relacionados.
Nesses últimos tempos, quem acompanha as notícias sobre o Brasil pode pensar que houve alguma transformação na orientação dos grandes meios de comunicação. Mesmo as grandes redes de televisão que sempre apoiaram a extrema-direita, agora criticam o presidente e dizem: Basta! De fato, o que acontece é que eles estão, astutamente, tentando descer do barco que eles mesmos patrocinaram e que, agora, afunda. Pronunciam-se contra o Bolsonero. No entanto, continuam, ardorosamente, a defender o ministro da Economia, responsável pelas medidas que, literalmente, levam milhões de pessoas ao risco de morrer, vítimas do descuido com a pandemia do Covid 19 e do vírus da miséria e da fome. E isso ocorre no Brasil, como em outros países, como mesmo no centro do Império norte-americano.
É neste contexto que, neste sábado, dia 11 de julho, anualmente, a ONU celebra “o dia da população mundial”. Esta data foi implementada em 1989, pelo Conselho do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, para chamar atenção para as questões relacionadas com a população mundial. O dia da população mundial deve nos ajudar a viver melhor em um planeta no qual, a cada ano, a população humana cresce e os bens da terra, como água, ar e alimentação, se mostram limitados, afetados pela ação humana e sob ameaça de se tornar insuficientes.
Atualmente, grande parte da humanidade concorda com o papa Francisco que que o desafio mais urgente para a população da Terra é sobreviver ao sistema capitalista. Em nome do deus dinheiro, esse modo de organizar as relações sociais e econômicas aprofunda as desigualdades sociais, provoca desemprego e destrói a natureza. Conforme dados recentes, cinco milionários brasileiros detêm uma riqueza equivalente à metade de toda a população brasileira (Carta Capital, 27/06/ 2018).
A humanidade precisa mudar a cultura com a qual se relaciona entre si e com o planeta que habita. Somente uma organização social que se preocupe com todos os seres humanos e busque a igualdade e a justiça é ecologicamente sustentável e socialmente justificável.
Hoje, a maioria das pessoas vive em cidades. Já se contam em milhares as metrópoles com mais de um milhão de habitantes. Já somam 23, as cidades com mais de dez milhões de habitantes. São Paulo já ultrapassou vinte milhões. Nessas sociedades, ao menos aparentemente, o ideal humano é a máxima liberdade de cada um e com o mínimo de orientação. O liberalismo é um regime econômico, mas é também cultural. Cada um faz o que quer e vive como quiser. Muitas pessoas optam pela cidade grande justamente por causa do anonimato. Ninguém se mete na vida de ninguém. Através da internet e do celular, estamos sempre mais juntos e ao mesmo tempo, cada vez mais sozinhos. Isso é tido como liberdade. Todos lamentam muito que haja fome e miséria no mundo, mas ninguém renuncia a nada para resolver este problema. De acordo com os cientistas, o planeta Terra teria todas as condições de alimentar e sustentar até onze bilhões de pessoas. No entanto, como dizia o Mahatma Gandhi: “O mundo tem o suficiente para saciar as necessidades de todos os seres humanos, mas não basta para a ganância e a ambição dos ricos”.
Nesse contexto, filósofos judeus como Emmanuel Mounier e Martin Buber, baseados na fé bíblica, insistiram no valor da alteridade. Propõem que se aprofunde a importância do outro. Devemos aceitar que dependemos uns dos outros e aprender a viver a partir do outro. Também as filosofias de povos africanos como o Ubuntu dos zulus e o Bem-viver dos povos indígenas nos propõem outro estilo de convivência humana. De acordo com esses horizontes de vida, o bem-comum e a preocupação com o outro se tornam centro da vida e garantem a convivência baseada na justiça e na paz. Para consolidar a sustentabilidade do planeta, também os animais e a natureza precisam e merecem ser tratados com respeito e não apenas como mercadoria ou mero objeto para o uso humano. Dietrich Bonhoeffer, teólogo luterano, assassinado por Hittler na Alemanha nazista, afirmava: “O Cristo está em mim para você e está em você para mim. Em mim, ele é fraco para mim mesmo e é forte para você. Em você, ele é fraco para você e é forte para mim”.
Para as comunidades cristãs, a palavra “participação social” é a que traduz o termo grego: Koinonia, que, nas Igrejas, se tornou “comunhão”. Criar a comunhão é um projeto divino. O termo Igreja foi inspirado nas assembleias de cidadãos do mundo grego antigo. Paulo trouxe o termo Igreja para as comunidades cristãs para educá-las à participação de todos e como um ensaio do que o Espírito Divino propõe para o mundo todo. Hoje isso se traduz por cidadania, direito e dever de todos/as. Paulo escreveu à comunidade cristã de Corinto: “Através de Jesus Cristo, Deus nos chamou à comunhão, ou seja à plena participação social” (1 Cor 1, 9).
Foco do projeto será o empoderamento de pequenos produtores para o manejo sustentável de terras. A iniciativa atuará em sete municípios de Sergipe e, depois, pretende replicar os resultados para todo o semiárido brasileiro.
Não somos pobres de jeito nenhum. Nosso semiárido é riquíssimo e, por isso, temos que valorizá-lo”, afirmou o diretor do departamento de combate à desertificação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Francisco Campello, no lançamento do projeto Manejo de uso sustentável de terras do semiárido do Nordeste brasileiro, na última sexta-feira, 11, em Aracaju.
Com o objetivo de fortalecer a estrutura de governo para o manejo de terras e institucionalizar isso nas políticas públicas, o projeto é resultado de parceria do Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD) com o MMA, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o governo do Estado de Sergipe, o IBAMA, o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e outros parceiros locais.
O lançamento do projeto contou com a participação de Francisco Campello; do governador de Sergipe, Jackson Barreto; do coordenador do Sistema ONU e representante residente do PNUD no Brasil, Niky Fabiancic, entre outras autoridades locais.
“O projeto visa atuar nas pessoas”, explicou Campello na cerimônia. “Quando tiram a caatinga e colocam o pasto, isso traz pobreza, não leva ao desenvolvimento, pois leva o solo à desertificação”.
A iniciativa atuará em sete municípios de Sergipe e, depois, pretende replicar os resultados para todo o semiárido brasileiro, que engloba os nove estados do Nordeste, além de Minas Gerais e do Espírito Santo. Além das obras físicas, o projeto contempla ações de conscientização, educação e capacitação das pessoas para reforçar o vínculo entre a degradação da terra e suas consequências diretas para o homem.
“O projeto foi pensado para otimizar e coordenar os programas e políticas existentes, revertendo a degradação da terra em um estado que contém 74,2% de área susceptível à desertificação”, declarou Fabiancic.
O governador de Sergipe, por sua vez, ressaltou que o estado tem grande responsabilidade com esse projeto, uma vez que servirá como piloto e modelo para a implementação da iniciativa em outras localidades.
Projeto Dom Távora
Na mesma ocasião, foi lançado oficialmente o projeto Dom Távora – Negócios Rurais para pequenos produtores, desenvolvido pelo PNUD em parceria com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o governo do Estado de Sergipe, com duração prevista de três anos.
O projeto visa empoderar 15 municípios de Sergipe, selecionados como prioritários pelo governo estadual, por apresentarem baixo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). A iniciativa atuará diretamente junto a pequenos produtores, ajudando na recuperação do solo e das nascentes das terras.
Para Fabiancic, “a estratégia desse projeto visa assegurar a sustentabilidade dos investimentos produtivos que serão realizados pelo governo de Sergipe e os parceiros envolvidos”.
O representante do PNUD também lembrou que não é possível superar a pobreza sem aumentar as capacidades da população para, assim, colaborar para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
No tesouro da sabedoria bíblica, e mais precisamente do Evangelho, aprendemos que “A boca fala do que está cheio o coração” (“Ex abundantia enim cordis os loquitur” (Mt 12, 34). Não é em vão que um dos procedimentos dentre os mais usados no esforço de compreensão de um perfil consiste em rastrear-lhe os ditos mais frequentes. Que tal adotarmos tal critério ao esforço de compreensão do perfil do Papa Francisco, nesses quase dez meses de seu ministério? Neste caso, ainda temos a nosso favor o fato de tratar-se de alguém cujas palavras não costumam discrepar de suas práticas, e a quem podemos aplicar uma feliz afirmação do Papa Paulo VI, em sua também Exortação Apostólica “Evangelii Nuntiandi”, de 1975: “Os homens de hoje ouvem mais as testemunhas do que os mestres, e, se também escutam os mestres, é porque eles são testemunhas.” (EN, n. 41).
A esse propósito, em uma de suas homilias, em 14 de abril de 2013, inspirando-se em Francisco de Assis, que exortava seus irmãos a que “preguem o Evangelho, e, se necessário, também com palavras”, alerta, com propriedade, o próprio Papa Francisco: “A incoerência, por parte de pastores e fiéis, entre o que dizem e o que fazem, entre discurso e modo de viver mina a credibilidade da Igreja.” (cf. http://www.vatican.va/holy_father/francesco/homilies/2013/documents/papa-francesco_20130414_omelia-basilica-san-paolo_en.html)
Cônscios também das limitações – o conhecimento de algo ou de alguém, bem o sabemos, é sempre uma aproximação -, tentemos aplicar o critério do “universo vocabular”, das “palavras-geradoras” (Paulo Freire) ao caso do Papa Francisco. Convém. desde já, prevenir que se trata, aqui, antes que de uma pesquisa acadêmica convencional, de um exercício de rememoração baseada em frequentes acompanhamentos de suas homilias, discursos, entrevistas e recente exortação apostólica “Evangelii Gaudium”.
Bispo de Roma – Desde sua primeira autoapresentação, preferiu apresentar-se como “bispo de Roma”, a apresentar-se como papa: “Irmãos e Irmãs, boa noite. Vocês sabem que o dever do conclave era dar um bispo a Roma, e parece que os meus irmãos cardeais foram buscá-lo quase no fim do mundo. Mas, eis-me aqui.” Não lhe bastasse a escolha do nome Francisco, recupera uma saudável tradição, ao tempo em que rompe com uma outra tradição eclesiástica mais inspirada no poder e na pompa.
Alegria – Eis uma palavra-chave do/no universo vocabular do Papa Francisco: “Não sejam nunca homens e mulheres tristes. Um cristão não pode ser assim!” (cf. http://www.aforismario.it/papa-francesco.htm) Recorrentemente por ele pronunciada, ora como verbo, ora como substantivo, ora como adjetivo, ora como advérbio… Tanto nas homilias quanto em sua recente Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, ele se mostra incisivo no emprego desta expressão, que dá título, aliás, ao seu primeiro grande escrito – “A alegria do Evangelho”, na qual são várias as passagens em que situa e sublinha a importância da alegria na vida dos cristãos: “A alegria do Evangelho que enche a vida dos discípulos é uma alegria missionária.” (EG, n. 21). Dirigindo-se às famílias reunidas na Praça São Pedro, em Roma, o Papa Franciso retoma o tema da alegria. Após lembrar os diversos tipos de fardos que a vida nos apresenta, e a partir da Palavra de Jesus – “Vinde a mim todos vós que estais oprimidos e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei para que a vossa alegria seja completa”, o Papa exorta as famílias a confiarem na promessa de Jesus – “para que vossa alegria seja completa” (cf. http://www.youtube.com/watch?v=rymr4Oerkj4)
Aproximar-se dos outros – O princípio da relacionalidade é vital na pregação. Mais do que mera diretriz, ela caracteriza fortemente suas práticas pastorais. Há que se aproximar do povo. Apelo reiterado, com insistência, inclusive pela sua pedagogia do exemplo, como tem ficado bem evidenciada sua postura no meio das multidões, seja por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, no Rio, seja nas grandes manifestações massivas na Praça São Pedro, em Roma. Urge sair em busca das ovelhas perdidas. Acercar-se delas, deixar-se impregnar pelo seu cheiro. “Aquele que isola sua consciência da caminhada do povo de Deus não conhece a alegria do Espírito Santo que sustenta a esperança.” (cf. http://aforismi.meglio.it/aforismi-di.htm?n=Papa+Francesco). Em outra ocasião, o Papa Francisco segue incisivo: “Não podemos construir pontes entre os homens, esquecendo-nos de Deus. Mas também vale o contrário: não podemos viver verdadeiros laços com Deus, ignorando os outros.” (cf. http://www.aforismario.it/papa-francesco.htm)
Uma Igreja pobre para os pobres – Eis um desejo que o ouvimos expressar com certa frequência: “Como queria uma Igreja pobre e para os pobres. Para isto me chamo Francisco: como Francisco, homem da pobreza, homem de paz. Homem que ama e cuida da Criação, enquanto nós hoje não temos uma relação tão boa com a Criação.” (http://www.studenti.it/foto/news/le-frasi-piu-belle-di-papa-francesco/siamo-con-te-papa-francesco.php)
Não tenham medo – Deixar-nos surpreender por Deus, que também nos chama à novidade, à abertura ao novo. “Sair de nós mesmos e sair também do recinto do jardim de nossas convicções consideradas imutáveis, se estas correm o risco de tornar-se um obstáculo, de se fecharem ao horizonte que é Deus.” Ainda sobre este ponto: “As nossas certezas pode tornar-se um muro, um cárcere que aprisiona o Espírito Santo.” (cf, http://aforismi.meglio.it/aforismi-di.htm?n=Papa+Francesco ).
“Em saída missionária” – “Só permanecemos fiéis ao Senhor, se sairmos de nós mesmos. Paradoxalmente, só permanecemos fiéis, se mudarmos. Não permanecemos fiéis como tradicionalistas, como fundamentalistas, ao pé da letra. A fidelidade é sempre uma mudança, um florescimento, um crescimento.”
Ternura – “Não tenham medo da ternura.”
A força da misericórdia – É bastante recorrente sua ênfase na misericórdia de Deus. Inclusive em sua recente Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”. Como ele insiste nisto: “Deus nunca se cansa de nos perdoar. Nós é que nos cansamos de buscar o seu perdão.” (EG, n. 3).
Sair em busca das periferias existenciais – A evangelização, conquanto conte com nossa generosidade, é obra de Deus, e nosso dever é priorizar o anúncio do Evangelho junto às pessoas que não conhecem a Jesus. Daí a necessidade de sair ao encontro das pessoas mais distantes, mais afastadas, evitando a tentação de enjaular o Espírito Santo no templo ou no conforto de seu próprio recinto, razão por que diz o Papa Francisco: “prefiro mil vezes uma Igreja acidentada a uma Igreja enferma” (por conta da atmosfera viciada do seu fechamento). (cf. http://www.ihu.unisinos.br/noticias/519413-prefiro-mil-vezes-uma-igreja-acidentada-a-uma-igreja-enferma-diz-francisco-aos-bispos-argentinos).
A humildade é necessária para a fecundidade – Esta constitui uma de suas marcas de notável referência, fazendo jus ao nome que escolheu para o seu ministério: Francisco. Despindo-se de toda pompa, e empenhando-se em medidas de despojamento também para o papado, ele ousa apresentar-se, não como um rei ou como uma pessoa acima das outras, ou mesmo alguém “infalível”. Prefere apresentar-se como “um pecador”, como afirmou, aludindo a que se confessava a cada quinze dias, atitude que recomenda a padres e bispos, e a sim próprio, pois “o papa também é um pecador.” (cf. http://www.corriere.it/cronache/13_novembre_20/papa-sono-peccatore-ogni-15-giorni-mi-confesso-c938a962-51d4-11e3-a289-85e6614cf366.shtml).
Vez por outra, dele escutamos, quando se dirige à multidão: “Não olhem para mim, olhem para Jesus.” Do mesmo modo, estamos a ler ou a ouvi-lo dirigir-se aos demais ministros, alertando-os de que os sacramentos são gestos do Senhor, não devem ser confundidos com “territórios de conquista de padres ou bispos.”
Na Igreja, antes que o papa, o Povo de Deus é referência primeira – Por ter a Igreja uma marca espiritual antes que política, “É o santo Povo de Deus, com suas virtudes e seus pecados que está no centro, não o papa. Cristo é o centro.” (cf, http://www.aforismario.it/papa-francesco.htm)
Conversão – Toda a Igreja, a começar do papado, é chamada a converter-se, incessantemente: “Visto que eu sou chamado a pôr em prática o que eu prego aos outros, eu devo também pensar na conversão do papado.” (EG, n. 32).
“Abramos a porta ao Espírito, deixemo-nos guiar por Ele. Deixemos que a ação contínua de Deus nos torne homens e mulheres novos, animados pelo amor de Deus que o Espírito Santo nos dá.” (cf. http://www.aforismario.it/papa-francesco.htm).
Uma só família humana. Comida para todos! – É tocante perceber a importância que Papa Francisco atribui às coisas simles do dia-a-dia, como as refeições. Como não impactar-se com o sua habitual saudação, a cada “Angelus”, na Praça São Pedro, dirigida ao despedir-se dos peregrinos e peregrinas: “Bom dia e bom almoço!” Em sua recente Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, não poupa palavras duras ao sistema responsável por profundas desigualdades que violam os direitos humanos: “Os direitos humanos não são apenas violados pelo terrorismo, pela repressão ou pelo assassinato, mas também por estruturas econômicas injustas que criam grandes desigualdades.” (http://www.gruppolaico.it/2013/01/01/francesco/ ).
Por uma cultura do trabalho humanizador – Há no universo vocabular do Papa Francisco – na verdade, desde os temos de Cardeal Bergoglio – um empenho na luta por uma saudável cultura do trabalho, que rompe com a lógica do Capitalismo, da sociedade de consumo, o que o levou, certa vez, numa entrevista, a sustenta que “Junto com uma cultura de trabalho deve haver uma cultura do lazer como algo gratificante. (…) as pessoas que trabalham deve ter um tempo de espairecimento, para estarem com suas famílias, para se divertirem, ler, ouvir música, praticar um esporte.” Em tal contexto, conclui, “o trabalho acaba desumanizando as pessoas.” (http://www.nytimes.com/2013/04/27/us/pope-francis-has-a-few-words-in-support-of-leisure.html?_r=0)
É o Espírito quem suscita a diversidade e a unidade – Impactante constatar, da parte do Papa Francisco, sua consciência da importância da diversidade, da pluralidade como dom do Espírito Santo, ao mesmo tempo que reconhece que, só por meio d´Ele, podemos tecer unidade. “É o Espírito Santo quem faz a harmonia na Igreja.” “Entreguemo-nos nas mãos de Deus como uma criança põe sua mão na mão do seu pai.” (cf. http://www.pinterest.com/goodnewsmin/pope-francis-quotes/)
Rezar é abrir a porta ao Senhor – Nos enfrentamentos do mal, que está fora mas também dentro de nós, nos servimos da Oração, pela força da qual abrimos a porta ao Senhor, para que Ele entre e nos ajude a lutar contra o mal. Não ficamos sozinhos, nessa luta. Diferentemente, quando não rezamos, estamos fechando a porta ao Senhor.
O cuidado com a Criação – Eis outra inquietação frequente em suas intervenções: “.” Cuidar do criado, todo homem, toda mulher, com um olhar de ternura e de amor, é abrir o horizonte da esperança, é fazer uma abertura de luz em meio a tantas nuvens, é carregar o calor da esperança.” (cf. http://www.aforismario.it/papa-francesco.htm)
“Ser santo não é um privilégio de poucos, mas uma vocação para cada um.” – Foi assim, por meio de twitter, que o Papa Francisco postou esta frase, no dia 21 de novembro de 2013 (cf. http://www.pinterest.com/goodnewsmin/pope-francis-quotes/)
Eis alguns elementos para se ter um espectro possível do perfil do Papa Francisco, a partir de ditos e escritos seus, desde um olhar entre outros possíveis. Outros, outras por certo fariam outras escolhas, elegeriam outros elementos. Contentemo-nos com um aperitivo no esforço de conhecer facetas do Bispo de Roma, em seu propósito de impulsionar mudanças na Igreja Católica Romana.
Num texto datado de 1882, um mestre da comunidade dos Himalaias (próximo ao planalto tibetano) escreveu que “a natureza uniu todas as partes do seu Império por meio de fios sutis de simpatia magnética, e há uma relação mútua até mesmo entre uma estrela e um homem”.
Quem traz esse texto à tona é Carlos Cardoso Aveline, em seu livro “A Vida Secreta da Natureza” (ed. Bodigaya, 156 págs), procurando destacar a essência da percepção ecológica da vida.
Tudo, absolutamente tudo que está ao nosso redor, ligados à nossa vida, tem uma íntima relação com a natureza. Não por acaso, “no universo e na natureza tudo tem a ver com tudo em todos os momentos e em todas as circunstâncias”, disseram os físicos Niels Bohr (1885-1962) e Werner Heisenberg (1901-1976).
Somos parte do universo, feitos do mesmo pó cósmico que se originou com a explosão das grandes estrelas vermelhas. Nossa relação com as estrelas é ainda maior, afinal, são elas que auxiliam o processo de conversão do hidrogênio em hélio e, da combinação entre esses gases efluem o oxigênio, o carbono, o nitrogênio, o fósforo e o potássio.
Sem essa rica combinação, não seriam possíveis os aminoácidos (essenciais para a produção de mais de 50 mil proteínas e mais de 15 mil enzimas, incluindo as enzimas digestivas), indispensáveis à vida. Por isso há uma especial relação entre uma estrela e um homem, conforme mencionado.
Fato inexorável é que a grande comunidade da vida une todos os seres numa mesma relação, abrigados numa mesma Casa (Eco), do grego (oikos) que, em conjunto com logos, (logia, cujo significado é ciência), fez surgir o termo Ecologia, empregado pela primeira vez em 1866, pelo biólogo Ernest Haeckel (1834-1919).
Das bactérias aos seres humanos há em todos o mesmo código genético de base, os mesmos aminoácidos e as mesmas bases fosfatadas, diferenciando apenas as combinações destes elementos.
Somos, assim, parte da biodiversidade e não é com muito esforço que se pode concluir que nosso corpo é um ecossistema, afinal, abrigamos, dentro de nós, mais ou menos 71% de água (a mesma porcentagem que há no Planeta Terra); nossa taxa de salinização do sangue (3,4%) é a mesma dos mares. Simplesmente, 60% do nosso corpo é oxigênio. Há dentro de cada um de nós mais de 100 trilhões de células compartilhando átomos com tudo o que está ao nosso redor. Certamente, essa é uma clara percepção ecológica da vida.
Habitamos uma Terra que se formou em sua origem de matéria cósmica, composta basicamente de silício, oxigênio, alumínio e ferro. Essa relação homem-seres vivos-natureza-Terra-vida é tão intensa que até mesmo em ambientes inóspitos é possível encontrar sinais de vida, como nas profundezas oceânicas de mais de três quilometros, aonde a luz solar não chega e a pressão é extrema; ou nas crateras de vulcões com temperaturas assustadoras; ou ainda, em regiões com alta radiação, nos diz Henrique Lins de Barros, em “Biodiversidade” (ed. Fiocruz, 94 págs).
Assim, com as coisas da natureza a vida vai evoluindo, moldando-se e se afirmando, sempre num processo de contínuo aperfeiçoamento, pois a natureza, tal como a própria vida, dia a dia nos apresenta uma novidade, basta olharmos com atenção para isso.
Leonardo Boff, reiterando a relação vida-natureza, comenta que sem os elementos da natureza, da qual o ser humano é parte e parcela, sem os vírus, as bactérias, os micro-organismos, o código genético, os elementos químicos primordiais, ele (ser humano) não existiria.
Somos filhos e filhas de Gaya (a Mãe Terra) que nos abriga. A percepção ecológica da vida humana, bem como a percepção da vida ecológica, se reflete por toda parte, em todos os cantos, em todo momento, quer seja numa simples gota d´água ou na queda de uma cachoeira, nos ventos que produzem energia, num grão de areia que junto ao cactus é capaz de embelezar a aridez escaldante do deserto, na massa de ar, nas folhas verdes, na chuva que faz florir, no lírio que floresce no lodo, na multiplicidade da vida aquática, no afinadíssimo canto dos pássaros, nas abelhas que polinizam as flores nos dando o alimento, nos fitoplânctons que produzem o oxigênio que respiramos. Isso tudo é a abundante riqueza ecológica que perfaz a essência da vida, que embeleza, sobremaneira, a magia do viver.
Carl Sagan (1934-1996) certa vez afirmou que “há seres que deslizam, rastejam, flutuam, planam, nadam, escavam, caminham, galopam ou apenas ficam imóveis e crescem verticalmente durante séculos. Alguns pesam 100 toneladas, mais a maioria é menor que um bilionésimo de grama. Há organismos capazes de enxergar sob luz infravermelha ou ultravioleta; e há seres cegos que percebem o ambiente envolvendo-se num campo elétrico. Alguns armazenam luz solar e ar; alguns são plácidos comedores de pastagens; outros caçam sua presa com garras, dentes e venenos neurológicos. Alguns vivem uma hora e, alguns, um milênio”.
Assim é a vida no seio do sistema ecológico, e é assim que ocorre a percepção ecológica da vida.