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Na Europa, Lula aponta os desafios do mundo: desigualdade, clima e era digital

Lula diz que sua viagem ao continente busca mostrar, aos próprios brasileiros, que o mundo gosta do Brasil e que o país é fundamental na construção de uma nova geopolítica

Em uma fala que deixou emocionados todos os presentes, neste sábado (20), na Espanha, última etapa de sua viagem pela Europa, Lula convocou a esquerda mundial a se unir em busca de soluções para os três grandes desafios que enxerga para a humanidade: o fim da desigualdade, a preservação ambiental e a manutenção de relações trabalhistas justas em um mundo cada vez mais digitalizado. E ressaltou que, nesse debate, o Brasil certamente é um ator chave.

“Essa viagem que fiz pela Bélgica, Alemanha, França e Espanha é uma tentativa de provar, para o próprio povo brasileiro, que o mundo gosta do Brasil. Sou muito grato ao presidente Pedro Sánchez, que me recebeu, ao Macrón e ao Olaf Scholz, que me receberam, ao Parlamento Europeu, que me tratou com a maior dignidade. Porque não é o Lula que é importante, é o Brasil que é necessário ao mundo neste instante para discutir uma nova geopolítica”, disse, lembrando que o país já mostrou ser possível vencer a fome e preservar o meio ambiente, duas conquistas que estão sendo destruídas hoje por Jair Bolsonaro.

“O faminto está fragilizado, temos de estender a mão”

Lula falou em Madri, durante o evento Construindo o futuro: desafios e alianças populares, convocado pelo partido espanhol Podemos e que reuniu sindicatos, legendas e lideranças progressistas europeias. “Precisamos colocar a desigualdade no centro da nossa pauta”, defendeu. “Nós, que tomamos café, que almoçamos todo dia, que jantamos, temos a obrigação ética e moral de estendermos a mão para que essa gente tenha o direito de comer”, completou, lembrando que o planeta abriga 800 milhões de seres humanos que hoje não têm acesso à comida suficiente para viver com dignidade.

Para Lula, o combate à desigualdade deve ser encampado pela esquerda do mundo, uma vez que uma extrema-direita age de forma cada vez mais agressiva contra os mais pobres. “Trump ganhou as eleições nos Estados Unidos com uma frase simples: ‘América para os americanos’, ou seja, chega de latino, de africano, de muçulmano. A pobreza incomoda. Tanto que até entre famílias os mais pobres não são convidados para aniversários. Mas como é possível, num mundo que produz mais comida que consome, haver 800 milhões de pessoas sem ter o que comer? Essa tem que ser nossa bandeira. Porque o faminto não faz a revolução, o faminto está fragilizado. Nós é que temos de estender a mão para eles”, disse, antes de ser muito aplaudido (assista à integra do discurso no fim desta matéria).

 

“A Amazônia é brasileira, e sua riqueza deve ser compartilhada”

Segundo Lula, a desigualdade está fortemente relacionada com o outro grande problema da humanidade, que é a questão ambiental. “Meio ambiente não é só a questão da Amazônia. Precisamos discutir a questão das favelas, da coleta de água e esgoto, a despoluição dos rios e das praias. Muitas vezes, a gente só fica falando da Amazônia e não vê o cara ali morando numa palafita, fazendo as necessidades biológicas dele e os caranguejos comendo, e ele vai comer o caranguejo depois. Isso já foi escrito em 1946 por Josué de Castro, que em Geografia da fome descreveu exatamente o que ainda ocorre no século 21”, ressaltou.

O ex-presidente brasileiro, porém, não minimizou a importância da preservação das florestas, sobretudo da Amazônia, que, de pé, pode ser fonte de inúmeras descobertas científicas que beneficiem a população brasileira e mundial. “Na questão da Amazônia, a gente tem que deixar claro que a Amazônia é um território brasileiro, portanto o Brasil é soberano. Agora, a riqueza da biodiversidade tem que ser compartilhada com o mundo. Temos que compartilhar com o mundo a pesquisa. Não queremos transformar a Amazônia num santuário. O que queremos é explorar cientificamente a riqueza da biodiversidade para, dela, a gente ver se tira alguma coisa para dar ao povo brasileiro e ao povo do mundo”, defendeu.

E lembrou: “A questão ambiental não é mais um problema de ambientalistas, de um Partido Verde, de uma classe média sofisticada, intelectualizada. Não. É uma questão do povo do planeta Terra, nós só temos ele. Precisamos colocar a questão ambiental na ordem do dia. Não é possível mais pensar em desenvolvimento, em emprego, sem considerar a questão ambiental”.

 

“Convenceram as pessoas de que elas são pequenos empreendedores”

Como terceiro ponto que merece a atenção das forças progressistas de todo o mundo, Lula destacou o emprego na era digital.  “Noventa por cento da indústria de dados é dominada hoje pelos Estados Unidos e pela China. A indústria de dados, alguns dizem, será o que petróleo foi no século passado. Vocês jovens terão de discutir como será o mundo digital, o emprego na era digital. Cada coisinha que você está fazendo no seu celular está sendo guardado e isso vai valer dinheiro. E o povo do Brasil, da Espanha, o povo do mundo que não é chinês nem americano, precisa começar a pensar nisso”, alertou.

Para Lula, o avanço desse mercado digitalizado representa um desafio imenso aos sindicatos. “Se não pensarem nessa questão, os sindicatos vão perder o trem da história e as pessoas começarão a se perguntar para que serve um sindicato. Porque essas pessoas (empregadas no mundo digital) são trabalhadoras. E veja que as empresas, num primeiro momento, venceram a batalha porque conseguiram convencer as pessoas de que elas são ‘pequenos empreendedores’. Você está trabalhando em casa usando a sua água, a sua conta de luz, a sua mesa, gastando parte do seu dinheiro e trabalhando o dobro do que você trabalhava achando que você é pequeno ou pequena empreendedora”, analisou.

“Os Estados pobres precisam unir universidades, que é quem tem inteligência, a juventude, que é quem pode pensar no futuro, os empresários e os sindicatos para a gente pensar sobre isso. É urgente. Obviamente que o mundo não vai acabar por conta disso, mas a gente vai ficar refém de indústria que a gente não conhece, de empresário que a gente não conhece”, completou.

 

“Jovens, não desistam da política”

Por fim, Lula disse que a esquerda, que defende os interesses da classe trabalhadora e dos excluídos, precisa compreender por que o mundo assiste atualmente o avanço da extrema direita. “Temos de analisar o discurso deles e entender por que essa gente voltou a convencer uma parcela da sociedade. Por que a população deu a eleição ao Trump e não aos democratas, que tinham o símbolo de uma mulher concorrendo à Presidência? Qual foi a mentira que eles contaram? Qual foi a mentira que contaram aqui na Espanha e fez surgir o Vox, mais à direita que a direita? Qual é o problema que faz a França ter dois candidatos de extrema-direita? Como pode ter surgido o Bolsonaro no Brasil?”, indagou.

“Temos de analisar isso. Não deve ter sido erro apenas dele, deve ter sido erro nosso também. O que nós deixamos de fazer? É preciso que a gente comece a pensar nisso, para termos certeza de que vale a pena lutar. E a juventude, pelo amor de Deus, saibam que uma das coisas que está fazendo a extrema-direita crescer é a negação da política. Então, queria pedir: não desanimem”, concluiu.

Assista à íntegra da fala de Lula:

Fonte: PT

(20-11-2021)

O discreto charme da burguesia e o indiscreto miserê do povão

A majestosa mansão no Morumbi do antigo dono do Banco Santos. “E o corvo disse: nunca mais!

Poucos ainda se lembram de que Ary Toledo, hoje com 78 anos, se projetou como um talentoso compositor e intérprete da voga da chamada Moderna Música Popular Brasileira, inclusive emplacando um grande sucesso: “Pau de arara”, de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes.

Depois, descobriu um filão mais rentável e a ele, melancolicamente, se limitou: o das músicas pornográficas e escatológicas, que passou a gravar e também a interpretar no teatro (entremeadas com piadas obscenas, de extrema vulgaridade, apropriadas para meninos de 12 anos e adultos com cérebro equivalente).

Pasmem: um dia ele foi artista de verdade!

Uma das pérolas de quando Ary Toledo ainda era um artista de verdade: “O anúncio”, de César Roldão Vieira, que ele chegou a cantar, há cerca de meio século,  no saudoso Fino da Bossa.

A canção contrastava dois universos. O do camponês paupérrimo era apresentado nos trechos cantados, tendo versos como estes:


“No sertão a vida é triste,
minha gente sofre muito,
o que mais se tem no mundo é morte,
o que mais se tem na vida é morte,
mas, meu Deus do céu, sou homem,
não vou sair do meu Norte..

Quando eu era menino, tinha um cachorro
e uma beleza de canarinho.
Tudo passou, daqui a pouco eu morro
e é só tristeza no meu caminho… 

Eu só queria um boi, uma vaca magra
e um casebre para morar,
batendo a foice, facão, enxada,
ganhar da terra o que a terra dá!”

Ferreira ficou sem adega. Tadinho!

Já o dos ricaços do bairro paulistano onde morava a chamada elite quatrocentona, era retratado num anúncio de jornal, apenas lido no meio da canção:

“Compra-se casa, mansão ou palacete no Jardim América, com um mínimo de 17 quartos para criadagem e sala de estar, de jogar, de dançar, de fumar, de brilhar, salões de chá, café e chocolate, piscina, jardim de inverno e de outono, quintal onde se possa praticar esportes caseiros como hipismo, golfe, tênis e bola-ao-cesto, além de acomodações dignas para cães, gatos e onças de pequeno porte (de preferência com aquecimento interno). É desejável a existência de um pequeno pequeno aeroporto de dimensões internacionais…”.

A versão atualizada dessa música, meio século depois, é a notícia publicada na edição dominical da Folha de S. Paulo, segundo a qual existem na capital paulista 1.840 mansões com mais de 700 metros quadrados, cuja área total, equivalente a mais de dois parques Ibirapuera, seria suficiente para construir prédios populares capazes de abrigar 107,2 mil famílias, eliminando, de uma tacada só, quase um terço do déficit habitacional do município.

A segunda maior da lista, com 8.182 m² de área, pertence a Edemar Cid Ferreira, ex-controlador do Banco Santos, que sofreu intervenção do Banco Central em 2004 e teve sua falência decretada no ano seguinte.

A mansão do Faustão está na lista

Ele foi condenado a 21 anos de prisão, por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e gestão fraudulenta, tendo também respondido a processo na vara de Falências. Já esteve preso, mas o Supremo Tribunal Federal o colocou na rua e, no ano passado, a Justiça Federal decidiu anular toda a fase de interrogatório e a sentença do seu processo, que voltou à estaca zero

A Justiça de São Paulo determinou, em fevereiro de 2015, que sua mansão no Morumbi fosse levada a leilão pelo valor mínimo de R$ 116,5 milhões. Segundo o despacho, a mansão, cujo projeto arquitetônico foi assinado por Ruy Ohtake e conta com paisagismo de Burle Marx, tinha automação gerenciada por sistema eletrônico, incluindo controle remoto da sonorização, sistemas de vídeo, sistemas de iluminação e de segurança. Além disso, todos os ambientes eram climatizados por sistemas centrais de ar-condicionado.

Investidores perderam cerca de US$ 1 bilhão que aplicaram em bancos controlados por Ferreira ou ligados a ele.

Fausto Silva, o Faustão, também possui seu elefante branco, com 4.635 m², avaliado em R$ 22 milhões.

Clique aqui e ouça o áudio de O anúncio

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Papa Francisco diz não à desigualdade social que gera violência

Da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium
59. Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão. Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade. Isto não acontece apenas porque a desigualdade social provoca a reacção violenta de quantos são excluídos do sistema, mas porque o sistema social e económico é injusto na sua raiz. Assim como o bem tende a difundir-se, assim também o mal consentido, que é a injustiça, tende a expandir a sua força nociva e a minar, silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e social, por mais sólido que pareça. Se cada acção tem consequências, um mal embrenhado nas estruturas duma sociedade sempre contém um potencial de dissolução e de morte. É o mal cristalizado nas estruturas sociais injustas, a partir do qual não podemos esperar um futuro melhor. Estamos longe do chamado «fim da história», já que as condições dum desenvolvimento sustentável e pacífico ainda não estão adequadamente implantadas e realizadas.
60. Os mecanismos da economia actual promovem uma exacerbação do consumo, mas sabe-se que o consumismo desenfreado, aliado à desigualdade social, é duplamente daninho para o tecido social. Assim, mais cedo ou mais tarde, a desigualdade social gera uma violência que as corridas armamentistas não resolvem nem poderão resolver jamais. Servem apenas para tentar enganar aqueles que reclamam maior segurança, como se hoje não se soubesse que as armas e a repressão violenta, mais do que dar solução, criam novos e piores conflitos. Alguns comprazem-se simplesmente em culpar, dos próprios males, os pobres e os países pobres, com generalizações indevidas, e pretendem encontrar a solução numa «educação» que os tranquilize e transforme em seres domesticados e inofensivos. Isto torna-se ainda mais irritante, quando os excluídos vêem crescer este câncer social que é a corrupção profundamente radicada em muitos países – nos seus Governos, empresários e instituições – seja qual for a ideologia política dos governantes.

O programa social mais desconhecido do Brasil, o 'Bolsa Rico'

 

Imagem: Getty Images

Uma reportagem da BBC Brasil investigou o tema da desigualdade social promovida pela tributação e, veja só que novidade, descobriu que quem paga a conta do Brasil são os mais pobres.
O Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco Nacional) denúncia há décadas o problema e possui atualmente uma campanha, o Imposto Justo.
Jornais como o Brasil de Fato e outros meios independentes batem consistentemente nessa tecla há anos.
Mas vamos à BBC Brasil, que trouxe novamente o tema ao debate:
“(…) Reclamar dos impostos é hábito comum da elite brasileira. Mas uma comparação internacional mostra que a parcela mais abastada da população não paga tantos tributos assim. Estudos indicam que são justamente os mais pobres que mais contribuem para custear os serviços públicos no país.”
Dentro do G20 (grupo que reúne as 19 nações de maior economia do mundo mais a União Europeia), o Brasil só perde em “generosidade” com os mais ricos para a Arábia Saudita e a Rússia.
E o mais importante: apesar de a comparação internacional revelar que os brasileiros mais abastados pagam menos imposto de renda, a carga tributária brasileira – ou seja, a relação entre tudo que é arrecadado em tributos e a renda total do país (o PIB) – é mais alta do que a média.
Quem paga, então? “O que está por trás do tamanho da carga tributária brasileira é o grande volume de impostos indiretos, ou seja, tributos que incidem sobre produção e comercialização – que no fim das contas são repassados ao consumidor final.”
E mais: “Se por um lado os benefícios sociais e os gastos com saúde e educação públicas contribuem para a redução da desigualdade, o fato do poder público taxar proporcionalmente mais os pobres significa que ao arrecadar os tributos atua no sentido oposto, de concentrar renda.”
A solução, antiga: “Os quatro especialistas ouvidos pela BBC Brasil defenderam a redução dos impostos indiretos, que penalizam mais os pobres, e a elevação da taxação sobre renda, propriedade e herança.”
A matéria lembra ainda que, dos cerca de 200 milhões de residentes no Brasil, apenas 111.893 pessoas disseram ao Censo de 2010 receber mais de R$ 20 mil por mês.
Fernado Gaiger, um dos autores da pesquisa, afirma que, por conta desse número baixo, o mais importante seria reduzir as possibilidades de descontos no Imposto de Renda.
Hoje, por exemplo, é possível abater do imposto devido gastos privados com saúde e educação. Na prática, explicam os especialistas ouvidos pela BBC, isso significa que “o Estado está subsidiando serviços privados justamente para a parcela da população de maior renda, ou seja, que precisa menos”.
“É o bolsa rico”, diz Gaiger.
Para 2014, a previsão é de que a Receita Federal deixará de arrecadar R$ 35,2 bilhões por causas de descontos e isenções desse tipo. Para se ter uma ideia, os gastos federais previstos para a educação e a saúde neste ano são de R$ 113,6 bilhões.
E o tal “tamanho da carga tributária”? É um problema central, como repetem como papagaios os meios de comunicação neoliberais?
“O tamanho da carga é uma escolha da sociedade. Se as pessoas quiserem serviços públicos universais e benefícios sociais, o recolhimento de impostos terá que ser maior. Se quisermos que o educação e a saúde seja apenas privada, por exemplo, a carga poderá ser menor”, observa Samuel Pessoa, da FGV.
Para ele, a discussão mais importante “não é a redução da carga tributária”, mas “mudar sua estrutura e simplificá-la, para diminuir as desigualdades e reduzir os custos das empresas com burocracia”.
(Comente este texto também pelo Facebook, em http://on.fb.me/1eCDkdT)

O programa social mais desconhecido do Brasil, o 'Bolsa Rico'

Imagem: Getty Images

Uma reportagem da BBC Brasil investigou o tema da desigualdade social promovida pela tributação e, veja só que novidade, descobriu que quem paga a conta do Brasil são os mais pobres.
O Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco Nacional) denúncia há décadas o problema e possui atualmente uma campanha, o Imposto Justo.
Jornais como o Brasil de Fato e outros meios independentes batem consistentemente nessa tecla há anos.
Mas vamos à BBC Brasil, que trouxe novamente o tema ao debate:
“(…) Reclamar dos impostos é hábito comum da elite brasileira. Mas uma comparação internacional mostra que a parcela mais abastada da população não paga tantos tributos assim. Estudos indicam que são justamente os mais pobres que mais contribuem para custear os serviços públicos no país.”
Dentro do G20 (grupo que reúne as 19 nações de maior economia do mundo mais a União Europeia), o Brasil só perde em “generosidade” com os mais ricos para a Arábia Saudita e a Rússia.
E o mais importante: apesar de a comparação internacional revelar que os brasileiros mais abastados pagam menos imposto de renda, a carga tributária brasileira – ou seja, a relação entre tudo que é arrecadado em tributos e a renda total do país (o PIB) – é mais alta do que a média.
Quem paga, então? “O que está por trás do tamanho da carga tributária brasileira é o grande volume de impostos indiretos, ou seja, tributos que incidem sobre produção e comercialização – que no fim das contas são repassados ao consumidor final.”
E mais: “Se por um lado os benefícios sociais e os gastos com saúde e educação públicas contribuem para a redução da desigualdade, o fato do poder público taxar proporcionalmente mais os pobres significa que ao arrecadar os tributos atua no sentido oposto, de concentrar renda.”
A solução, antiga: “Os quatro especialistas ouvidos pela BBC Brasil defenderam a redução dos impostos indiretos, que penalizam mais os pobres, e a elevação da taxação sobre renda, propriedade e herança.”
A matéria lembra ainda que, dos cerca de 200 milhões de residentes no Brasil, apenas 111.893 pessoas disseram ao Censo de 2010 receber mais de R$ 20 mil por mês.
Fernado Gaiger, um dos autores da pesquisa, afirma que, por conta desse número baixo, o mais importante seria reduzir as possibilidades de descontos no Imposto de Renda.
Hoje, por exemplo, é possível abater do imposto devido gastos privados com saúde e educação. Na prática, explicam os especialistas ouvidos pela BBC, isso significa que “o Estado está subsidiando serviços privados justamente para a parcela da população de maior renda, ou seja, que precisa menos”.
“É o bolsa rico”, diz Gaiger.
Para 2014, a previsão é de que a Receita Federal deixará de arrecadar R$ 35,2 bilhões por causas de descontos e isenções desse tipo. Para se ter uma ideia, os gastos federais previstos para a educação e a saúde neste ano são de R$ 113,6 bilhões.
E o tal “tamanho da carga tributária”? É um problema central, como repetem como papagaios os meios de comunicação neoliberais?
“O tamanho da carga é uma escolha da sociedade. Se as pessoas quiserem serviços públicos universais e benefícios sociais, o recolhimento de impostos terá que ser maior. Se quisermos que o educação e a saúde seja apenas privada, por exemplo, a carga poderá ser menor”, observa Samuel Pessoa, da FGV.
Para ele, a discussão mais importante “não é a redução da carga tributária”, mas “mudar sua estrutura e simplificá-la, para diminuir as desigualdades e reduzir os custos das empresas com burocracia”.
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O programa social mais desconhecido do Brasil, o 'Bolsa Rico'

Imagem: Getty Images

Uma reportagem da BBC Brasil investigou o tema da desigualdade social promovida pela tributação e, veja só que novidade, descobriu que quem paga a conta do Brasil são os mais pobres.
O Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco Nacional) denúncia há décadas o problema e possui atualmente uma campanha, o Imposto Justo.
Jornais como o Brasil de Fato e outros meios independentes batem consistentemente nessa tecla há anos.
Mas vamos à BBC Brasil, que trouxe novamente o tema ao debate:
“(…) Reclamar dos impostos é hábito comum da elite brasileira. Mas uma comparação internacional mostra que a parcela mais abastada da população não paga tantos tributos assim. Estudos indicam que são justamente os mais pobres que mais contribuem para custear os serviços públicos no país.”
Dentro do G20 (grupo que reúne as 19 nações de maior economia do mundo mais a União Europeia), o Brasil só perde em “generosidade” com os mais ricos para a Arábia Saudita e a Rússia.
E o mais importante: apesar de a comparação internacional revelar que os brasileiros mais abastados pagam menos imposto de renda, a carga tributária brasileira – ou seja, a relação entre tudo que é arrecadado em tributos e a renda total do país (o PIB) – é mais alta do que a média.
Quem paga, então? “O que está por trás do tamanho da carga tributária brasileira é o grande volume de impostos indiretos, ou seja, tributos que incidem sobre produção e comercialização – que no fim das contas são repassados ao consumidor final.”
E mais: “Se por um lado os benefícios sociais e os gastos com saúde e educação públicas contribuem para a redução da desigualdade, o fato do poder público taxar proporcionalmente mais os pobres significa que ao arrecadar os tributos atua no sentido oposto, de concentrar renda.”
A solução, antiga: “Os quatro especialistas ouvidos pela BBC Brasil defenderam a redução dos impostos indiretos, que penalizam mais os pobres, e a elevação da taxação sobre renda, propriedade e herança.”
A matéria lembra ainda que, dos cerca de 200 milhões de residentes no Brasil, apenas 111.893 pessoas disseram ao Censo de 2010 receber mais de R$ 20 mil por mês.
Fernado Gaiger, um dos autores da pesquisa, afirma que, por conta desse número baixo, o mais importante seria reduzir as possibilidades de descontos no Imposto de Renda.
Hoje, por exemplo, é possível abater do imposto devido gastos privados com saúde e educação. Na prática, explicam os especialistas ouvidos pela BBC, isso significa que “o Estado está subsidiando serviços privados justamente para a parcela da população de maior renda, ou seja, que precisa menos”.
“É o bolsa rico”, diz Gaiger.
Para 2014, a previsão é de que a Receita Federal deixará de arrecadar R$ 35,2 bilhões por causas de descontos e isenções desse tipo. Para se ter uma ideia, os gastos federais previstos para a educação e a saúde neste ano são de R$ 113,6 bilhões.
E o tal “tamanho da carga tributária”? É um problema central, como repetem como papagaios os meios de comunicação neoliberais?
“O tamanho da carga é uma escolha da sociedade. Se as pessoas quiserem serviços públicos universais e benefícios sociais, o recolhimento de impostos terá que ser maior. Se quisermos que o educação e a saúde seja apenas privada, por exemplo, a carga poderá ser menor”, observa Samuel Pessoa, da FGV.
Para ele, a discussão mais importante “não é a redução da carga tributária”, mas “mudar sua estrutura e simplificá-la, para diminuir as desigualdades e reduzir os custos das empresas com burocracia”.
(Comente este texto também pelo Facebook, em http://on.fb.me/1eCDkdT)

É pura inveja branca

No início dos anos 90, durante o governo Collor, ocorreu o chamado “confisco”. 80% de todos os depósitos de ‘overnight’, de contas correntes ou de cadernetas de poupança que excedessem a 50 mil cruzados novos foram congelados por 18 meses, recebendo durante esse período uma rentabilidade equivalente à taxa de inflação mais 6% ao ano, em suma.

Isso quebrou boa parte das pessoas, incluindo algumas dezenas de pessoas da classe média que tinham algum trocado. Anos de trabalho perdidos.

Pouco mais de 20 anos depois, um sujeito que possui cerca de 250 mil reais poderia comprar um bom apartamento de dois quartos num bairro nobre, como a Tijuca. Daí pra baixo a regra é parecida — com 90 mil, um dois quartos com vaga em boa parte da zona norte e do subúrbio.

Aí veio a especulação imobiliária. A desregulamentação proposital do mercado quebrou os EUA, provocando um tsunami no mundo. No Brasil, o mesmo processo duplicou e, em alguns casos, triplicou o preço dos apartamentos em um espaço de dois anos.

Quem tinha tem ainda mais. Quem não tinha provavelmente nunca vai ter, a não ser que decida diminuir severamente seu padrão anterior — isso se chama ‘empobrecimento’ de boa parte da população, e não ‘humildade’. O ‘gap’ da desigualdade só aumenta, e em toda a América Latina e Caribe, aliviado apenas pelas políticas de transferência de rendas dirigidas ao andar debaixo e que, quase nunca, mexem na estrutura jurídica e política da sociedade.

Qual a diferença entre os dois processos, no bolso do cidadão médio?

O primeiro foi feito de forma atabalhoada. Deu no que deu. Já o segundo possui “segurança jurídica” — foi previamente pensado e, como não poderia deixar de ser, devidamente apoiado por gente como Eike Batista.

A direita de hoje é muito mais sofisticada do que a dos anos 1990 — e é isso o que os conservadores mais odeiam nos socialdemocratas. Pura inveja branca.

Política ambiental contemporânea: tirar do essencial para produzir o supérfluo e, se possível, lucrar com isso

Filme oficial do Ano Internacional das Florestas, data fixada pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

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HOMOFOBIA NÃO! Do combativo deputado federal Chico Alencar, do PSOL do Rio, via twitter: “Intolerantes com homoafetividade, em geral, o são também com negros e indígenas. E consideram a mulher inferior.”

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SÃO PAULO E O PADRÃO DE “CRESCIMENTO” DO BRASIL. Registro de Álvaro Fagundes, da Folha em Nova York:

“São Paulo é a sexta cidade com mais bilionários no mundo, superando cidades como Tóquio e Los Angeles, segundo a revista “Forbes”.

De acordo com o levantamento, São Paulo tem 21 bilionários (como Antônio Ermírio de Moraes e Abilio Diniz), que, juntos, acumulam um patrimônio de US$ 85 bilhões –mais que o dobro de todos os bens e serviços produzidos no Uruguai no ano passado, por exemplo.

Pelos critérios da revista, o Rio de Janeiro aparece a seguir, com três (entre eles Eike Batista, a pessoa mais rica do país), e Londres abriga dois bilionários brasileiros.

No ano passado, São Paulo aparecia com 14 bilionários no ranking da “Forbes”, com uma fortuna somada de US$ 58 bilhões.”

Leia na íntegra clicando aqui.

* * *
MÁXIMAS E MÍNIMAS. Quando a banda é larga demais, o santo desconfia.