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ONU pede investigação de assassinato de mulher espancada em Ribeirão Preto

luanaA ONU Mulheres e o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) pediram investigação “imparcial e com perspectiva de gênero e raça” sobre o caso de Luana Reis, morta após espancamentos supostamente promovidos pela Polícia Militar no início de abril na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.

Leia abaixo a nota pública do Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas para América do Sul e da ONU Mulheres Brasil sobre o assassinato de Luana Reis.

“A ONU Mulheres Brasil e o Escritório Regional para América do Sul do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) solicitam ao poder público brasileiro a investigação imparcial e com perspectiva de gênero e raça, na elucidação das violências cometidas contra Luana Reis, morta após espancamentos supostamente perpetrados pela Polícia Militar, no início do mês de abril de 2016, na cidade de Ribeirão Preto (SP).

De acordo com o relato da própria vítima, antes do seu trágico falecimento, e de seus familiares, há fortes indícios das práticas de sexismo, racismo e lesbofobia nos acontecimentos que levaram à sua morte, em uma perversa violação de direitos que segue na contramão das garantias individuais e coletivas conquistadas pelas mulheres no Brasil e no mundo.

O ACNUDH e a ONU Mulheres enfatizam que o uso excessivo da força, bem como qualquer tipo de discriminação – seja por gênero, raça, etnia, orientação sexual ou de outra natureza, são inadmissíveis no exercício da função policial e devem ser erradicados das forças de ordem do Brasil. A Polícia Militar de São Paulo deve garantir que procedimentos violentos não sejam tolerados na instituição e assegurar um treinamento adequado de seus agentes, inclusive em matéria de direitos humanos.

A morte de Luana é um caso emblemático da prevalência e gravidade da violência racista, de gênero e lesbofóbica no Brasil. Segundo a Relatora Especial da ONU sobre questões de minorias, o número de afrodescendentes mortos em ações policiais é três vezes maior do registrado entre a população branca no estado de São Paulo.

A situação das mulheres afrodescendentes nesse contexto é de ainda maior vulnerabilidade. O Mapa da Violência (2015) revela a seletividade da violência, demonstrando que entre 2003 e 2013 as mortes violentas de mulheres negras aumentaram 54%, enquanto houve uma redução de 9,2% entre a população feminina branca.

São inaceitáveis quaisquer alegações para justificar as violências que vitimaram fatalmente Luana, as quais evidenciam a conivência e/ou a impunidade com agressores quer sejam agentes públicos ou indivíduos particulares. A responsabilização é condição primeira para a justiça e para a reparação às vítimas das violências de gênero, para a proteção de familiares em busca de direitos e para a construção de uma sociedade plural e equitativa.

Nesse sentido, a ONU Mulheres e o ACNUDH instam a aplicação das Diretrizes Nacionais sobre Feminicídio para Investigar, Processar e Julgar com Perspectiva de Gênero as Mortes Violentas de Mulheres, formuladas por ambas as instituições, em esforço integrado com o governo brasileiro, por meio do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos e do Ministério da Justiça.

As recomendações constantes do documento chamam a atenção para o fato de que as circunstâncias individuais, institucionais e estruturais devem ser levadas em consideração como elementos para entender o crime e, por conseguinte, para responder adequadamente às mortes violentas de mulheres pelo fato de serem mulheres, fazendo, pois, incidir a Lei do Feminicídio (nº 13.104/2015), que é um crime cometido em razão de menosprezo e discriminação à condição de mulher.

A ONU Mulheres e o ACNUDH fazem em conjunto este alerta público contra a misoginia dirigida às mulheres brasileiras, agravadas pelo fato de serem negras, indígenas, lésbicas, trans, pobres, rurais, jovens e/ou idosas e pedem à sociedade brasileira que se mantenha defensora implacável dos direitos das mulheres e que se posicione, de maneira obstinada e sistemática, contra todas as formas de violência contra todas as mulheres.

Por fim, solidarizam-se com os familiares e amigos de Luana e oferecem-lhes suas sinceras condolências por sua trágica morte.”

Amerigo Incalcaterra
Representante Regional para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos

Nadine Gasman
Representante da ONU Mulheres Brasil

* * *
Nota original em https://nacoesunidas.org/?p=101974

Contatos de imprensa: www.onu.org.br/imprensa

Fonte: Nações Unidas
https://nacoesunidas.org/onu-pede-investigacao-de-assassinato-de-mulher-espancada-em-ribeirao-preto/

Chacina da Baixada Fluminense: “quando chegarão a democracia e os direitos?

Por Paulo Vicente Cruz

Na noite de 31 de março de 2005, em dois municípios da Baixada Fluminense, 29 pessoas foram mortas por aqueles que têm como dever garantir o direito fundamental à vida. Policiais Militares à paisana circularam em automóveis pelas ruas de Queimados e Nova Iguaçu e atiraram indiscriminadamente em pessoas.

No dia 31 de março de 2016, onze anos depois, familiares e amigos marcharam em memória das vítimas dessa tragédia e pediram paz, como fazem todos os anos. Suas vozes somam-se a muitas que pedem pelo fim de violações de direitos nas periferias e comunidades.

Infelizmente a Chacina da Baixada não foi uma exceção. É um dos casos que integram o longo e triste histórico de homicídios cometidos por agentes do Estado no Rio de Janeiro. No ano de 2005, a polícia – em serviço – matou 1098 pessoas no estado. Só na Baixada Fluminense ocorreram 217 homicídios decorrentes de intervenção policial.* Os assassinatos ocorridos na Chacina da Baixada reforçam o que se tem repetidamente denunciado: mata-se muito em nosso país e a polícia em serviço ou fora dele é responsável por parcela significativa dessas mortes.

No momento em que discussões sobre a democracia tomam o debate nacional, uma das faixas levadas por familiares durante a caminhada nos provoca para a reflexão sobre uma importante e negligenciada dimensão da realidade brasileira:

“A ditadura não acabou nas comunidades e periferias. Quando chegará a democracia e com ela a garantia de direitos?”.

As falas de mães das vítimas da Baixada não nos deixam esquecer da violação cotidiana do direito à vida nas periferias de nossas cidades. A caminhada por elas organizada, além de representar a luta para preservação dos nomes de seus entes queridos, é manifestação da luta de quem não admite que assassinatos se tornem eventos rotineiros. Trata-se da mobilização de quem deseja respeito a seus direitos, paz e a não repetição de ocorrências similares. “Direitos não se pedem de joelhos. Conquistam-se de pé”, dizia outro cartaz levado pelas famílias. É por isso que ao lado de mães, irmãos e amigos das pessoas que perderam suas vidas na Baixada, marcharam também mães de vítimas de outros assassinatos cometidos por policiais.

Cada uma das pessoas que teve suas vidas interrompidas há onze anos continuam a ser lembradas. Passamos pelos locais em que foram mortas. Neles, seus nomes foram citados. Por elas gritamos “presente”. Por elas e por outras vítimas, uma rede de solidariedade segue de pé.

* Relatório Você Matou Meu Filho: Homicídios cometidos pela Polícia Militar na Cidade do Rio de Janeiro.

Fonte: Anistia Internacional
https://anistia.org.br/chacina-da-baixada-fluminense-11-anos-de-impunidade/

UNICEF: Comitê de Prevenção de Homicídios na adolescência é criado no Ceará

O comitê será responsável pelo levantamento de informações sobre as trajetórias pessoais de adolescentes vítimas e autores de assassinatos. O objetivo é obter informações para a criação de políticas públicas capazes de prevenir e dar resposta aos homicídios na adolescência.

Foi lançado nesta sexta-feira (11), em Fortaleza, o Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência. A iniciativa da Assembleia Legislativa do Estado conta com o apoio do governo do Estado do Ceará e a coordenação técnica do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

O comitê será responsável pelo levantamento de informações sobre as trajetórias pessoais de adolescentes vítimas e autores de assassinatos. O objetivo é obter informações para a criação de políticas públicas capazes de prevenir e dar resposta aos homicídios na adolescência.

Serão realizadas pesquisas de campo e audiências públicas e a elaboração de um relatório com propostas de intervenção que será entregue ao Governo do Estado. O comitê foi criado a partir da assinatura do protocolo de intenções pelo presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, Zezinho Albuquerque, pela vice-governadora Izolda Cela e pelo representante do UNICEF no Brasil, Gary Stahl. Presidido pelo deputado estadual Ivo Gomes, o Comitê terá como relator o deputado Renato Roseno.

Embora os índices de homicídios tenham caído nos últimos meses no Estado, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), o Ceará é o terceiro Estado no Brasil com o mais alto Índice de Homicídios na Adolescência (7,7), depois de Alagoas (8,82) e Bahia (8,59). No Estado, a taxa de homicídios de adolescentes é de 60/100 mil, mais que o dobro da média brasileira (29/100 mil).

Fortaleza lidera o ranking das capitais brasileiras com maior Índice de Homicídios na Adolescência (IHA). A cidade de Fortaleza tem o maior IHA entre as capitais (9,9), seguida de Maceió (9,4) e Salvador (8,3).

Fonte: Nações Unidas – Brasil
http://nacoesunidas.org/unicef-comite-de-prevencao-de-homicidios-na-adolescencia-e-criado-no-ceara/

Contra violência de mulheres e meninas, ONU ilumina o mundo de laranja

Campanha de 16 dias de ativismo contra a violência de gênero começou ontem. Apesar da tendência de avanço nas leis, agressão contra mulheres segue em todos os países do mundo.

No Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher ontem e começo da campanha dos 16 dias de ativismo contra a violência de gênero, a ONU estreia iniciativa que convida a iluminarem o mundo de laranja, cor escolhida para simbolizar a igualdade entre homens e mulheres.

No Brasil, participantes da Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência, realizada nesta quarta-feira (18), refletiram essa cor nas ruas de Brasília. O Palácio do Planalto também recebeu a iluminação especial para abraçar esta causa.

De acordo com a ONU Mulheres, houve progresso nas leis relacionadas à violência contra a mulher nas últimas décadas: 125 países apresentam leis contra assédio sexual e 119 contra violência doméstica; no entanto, apenas 52 apresentam na legislação algo específico contra o estupro conjugal.

A agência das Nações Unidas destacou que a violência contra mulheres e meninas continua em todos os países do mundo.

A ONU Mulheres anunciou que durante os 16 dias de ativismo, a diretora-executiva da agência, Phumzile Mlambo-Ngcuka, fará visitas aos três continentes destacando a necessidade urgente de gerar esforços para se dirigir à violência pandêmica em todas as esferas e em todos os setores da sociedade, durante eventos de alto nível em diferentes países, incluindo o Brasil.

Fonte: Nações Unidas – Brasil
http://nacoesunidas.org/onu-ilumina-mundo-de-laranja-como-contra-a-violencia-de-mulheres-e-meninas/

Universidade brasileira adere a iniciativa da ONU pelo fim de mortes de crianças e mulheres até 2030

Núcleo Educacional de Tecnologia Social e Economia Solidária da UNIFESP é a primeira instituição brasileira a se comprometer com o programa ‘Cada Mulher, Cada Criança’. Iniciativa do secretário-geral da ONU quer enfrentar os principais desafios de saúde enfrentados pelas mulheres e crianças em todo o mundo – e busca outros parceiros no Brasil que queiram se envolver na causa.

A iniciativa ‘Cada Mulher, Cada Criança’ lançou em setembro a Estratégia Global para a Saúde de Mulheres, Crianças e Adolescentes. Promovida pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o evento de lançamento reuniu mais de 500 representantes de governos, das Nações Unidas, do setor privado, da sociedade civil e da juventude. Mais de 100 organizações e 40 países estabeleceram o compromisso de investir em saúde e impedir mortes evitáveis de crianças, adolescentes e mulheres até 2030.

O Núcleo Educacional de Tecnologia Social e Economia Solidária (NETES), programa de extensão da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), foi a primeira instituição brasileira a firmar compromisso com o programa ‘Cada Mulher, Cada Criança’, que está aberto a parcerias.

Entre os compromissos assumidos pela UNIFESP com o programa estão difundir e construir um banco de dados, informações e inovações em tecnologias sociais existentes no Brasil que sejam replicáveis na área da saúde, da qualidade de vida e da sustentabilidade. Com isso, o grupo quer criar um mecanismo de difusão dessas tecnologias de baixo custo e alta relevância social; promover um ambiente virtual de aprendizagem para difusão de tecnologias sociais para crianças e jovens; e promover empreendimentos e ações de intervenção em comunidades com grande vulnerabilidade social, econômica e ambiental no Vale do Paraíba e com replicabilidade em outras regiões similares do Brasil.

O Núcleo também se comprometeu com a ONU a criar uma rede de jovens com formação em economia solidária e tecnologia social; realizar um levantamento e a consolidação de dados que proporcionem o melhor planejamento e desenvolvimento de políticas de melhoria de vida; e criar e difundir tecnologias sociais – de baixo custo – para a melhoria de condições sanitárias em comunidades vulneráveis do Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo.

Segundo os autores da iniciativa, uma das primeiras na América Latina, o público-alvo das ações do compromisso firmado são prioritariamente jovens e mulheres com alta vulnerabilidade econômica, social e ambiental, além de estarem previstas ações diretas e indiretas com crianças.

O projeto ‘Cada Mulher, Cada Criança’, promovido pelo escritório do secretário-geral da ONU e diversos parceiros, é um movimento internacional que fortalece a ação de governos, setor privado e sociedade civil para superar os desafios na área da saúde e no cuidado às mulheres e crianças, com atuação desde 2010. A iniciativa é potencializada pela Estratégia Global para a Saúde das Mulheres, Crianças e Adolescentes, responsável por adquirir financiamento para a causa, analisar políticas e desenvolver serviços para as mulheres e crianças mais vulneráveis.

No evento de inauguração, o chefe da ONU listou as prioridades do movimento. “Primeiro, sobrevivência. Nós queremos acabar com as mortes de crianças e mulheres por doenças que podem ser prevenidas, até 2030. Segundo, queremos garantir que todas as mulheres, crianças e adolescentes prosperem. Terceiro, nos comprometemos a transformar o mundo em um lugar em que mulheres, crianças e adolescentes vivam”, afirmou Ban Ki-moon.

Fonte: Nações Unidas – Brasil
http://nacoesunidas.org/onu-universidade-brasileira-adere-iniciativa-onu-fim-de-mortes-de-criancas-e-mulheres-ate-2030/

‘Resposta da Europa à crise de migrantes não está funcionando’, afirma especialista da ONU

O relator especial da ONU para os Direitos Humanos dos Migrantes, François Crépeau, defendeu a abertura das fronteiras e insistiu que blindá-las não impedirá a chegada de migrantes e requerentes de asilo provenientes de países em conflito.

A União Europeia deveria estabelecer uma política de migração baseada nos direitos humanos, coerente e abrangente que transforme a mobilidade em sua principal trunfo, defendeu nesta terça-feira (25) um especialista da ONU. Em sua opinião, essa é a única forma na qual os países da comunidade europeia recuperarão suas fronteiras, enfrentarão de forma eficaz o tráfico de pessoas e empoderarão os migrantes.

O relator especial da ONU para os Direitos Humanos do Migrantes, François Crépeau, destacou que a política da União Europeia e de seus Estados-membros não está funcionando e lembrou que a migração é uma realidade que não irá desaparecer.

“Construir cercas, usar gás lacrimogênio e outras formas de violência contra migrantes e requerentes de asilo, detenção, suprimir acesso a itens básicos como abrigo, alimentação ou água ou usar linguagem ameaçadora ou discurso de ódio não parará os migrantes que tentam vir para a Europa”, adicionou.

Ele lembrou que a soberania territorial é uma questão de controle de fronteira, de conhecer quem entra e quem deixa o país e jamais esteve relacionada à blindagem de fronteiras para a migração. “Fronteiras democráticas são porosas por natureza. Fornecer aos migrantes e requerentes de asilo soluções de mobilidade legais e seguras irá garantir este controle”, sublinhou.

Crépeau também mencionou a necessidade urgente de criar um programa de reassentamento para os refugiados sírios e eritreus, que permitiria a proteção de entre 1,5 a 2 milhões pessoas nos próximos cinco anos, bem como impactaria o mercado dos traficantes de pessoas e permitiria uma melhor preparação dos países receptores.

A distribuição de vistos e regularização da situação laboral também permitiria a melhor adequação de migrantes e requerentes de asilo ao mercado de trabalho e, consequentemente, sua integração à sociedade.

Parabenizando os passos positivos dados pela União Europeia para resgatar migrantes e requerentes de asilo, Crépeau afirmou ser irresponsável salvá-los para logo deixá-los à mercê de novas violações.

Ele também mostrou sua preocupação com a linguagem depreciativa usada para rejeitar a legitimidade dos requerentes de asilo e migrantes e alimentar um sentimento xenófobo. “Migrantes são seres humanos com direitos. Ao desumanizar outros, nós mesmos nos desumanizamos”, concluiu.

Fonte: Nações Unidas – Brasil
http://nacoesunidas.org/resposta-da-europa-a-crise-de-migrantes-nao-esta-funcionando-afirma-especialista-da-onu/