Evento aberto a todas as pessoas e entidades que defendem a paz ocorre às 10h, na Praça da Paz, em Foz do Iguaçu (PR), onde vivia o líder do PT assassinado. TvPT transmite o ato ao vivo
Marcado para as 10h, na Praça da Paz, o objetivo do evento é, além de homenagear Marcelo e sua trajetória em defesa de um país mais justo e igual, pregar a paz e a realização de eleições democráticas, livres de qualquer tipo de violência política.
Não se trata de um evento partidário nem restrito a qualquer religião. Todos as pessoas e entidades que defendem a democracia e são a favor da paz são bem-vindos.
E aqueles que não estarão em Foz do Iguaçu poderão acompanhar tudo pela TvPT (vídeo abaixo).
Organize um ato em sua cidade
Atos do mesmo tipo estão sendo organizados em outras cidades, com alguns eventos já confirmados.
Nesta quinta (14), completa-se um ano do assassinato da vereadora do Psol-RJ e do motorista Anderson Gomes. Pelo menos 25 cidades organizam homenagens
Ao menos 15 cidades em outros países também fazem atos nesta quinta para cobrar justiça e respostas
Às vésperas do dia 14 de março, data que marca o primeiro ano do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (Psol) e de Anderson Gomes, que dirigia o carro em que foram emboscados, diversos movimentos sociais convocam atos, vigílias e debates pelo país para homenageá-la e exigir justiça e respostas quanto aos mandantes do crime.
Sob a pergunta que ainda não foi respondida, “quem mandou matar Marielle?” e com o mote “Marielle Vive”, as manifestações ocorrerão em pelo menos 25 cidades brasileiras, para reafirmar as bandeiras da vereadora que representava a luta de negros, mulheres, populações periféricas e LGBTs. Desde o dia 8, quando a resistência e a luta pelas causas das mulheres foram celebradas no Dia Internacional da Mulher, marcado fortemente pela repúdio aos retrocessos sociais representados pelo presidente Jair Bolsonaro, movimentos por várias partes do mundo vêm prestando homenagem ao legado de Marielle.
Neste dia 14, cerca de 15 cidades no exterior organizam atos, entre elas, Melbourne, na Austrália; Buenos Aires, na Argentina; Madri, na Espanha e Washington, nos Estados Unidos. Clique aqui para conferir as homenagens fora do país.
O Psol organiza ainda para o dia 18 uma sessão solene no plenário da Câmara dos Deputados em homenagem a Marielle e Anderson. Em suas redes sociais, a deputada Talíria Petrone (Psol-RJ) justificou a importância das manifestações diante da falta de respostas após um ano do crime. “A importante descoberta dos que apertaram o gatilho nesse crime político não vai nos tirar das ruas no dia 14. O Estado – com sangue nas mãos – tem que responder que grupos estão por trás dessa execução”, afirmou a parlamentar.
No Rio de Janeiro, cidade de Marielle, o ato está marcado para as 16h, na Cinelândia, na região central.Em São Paulo, na capital, a manifestação ocorre a partir das 17h, na Praça Oswaldo Cruz, próxima à Avenida Paulista. Em Manaus, a homenagem será realizada às 17h, na Casa das Artes, no Largo São Sebastião. Na cidade de Fortaleza, o ato ocorre a partir das 17h, na Praça Gentilândia, em Benfica. Já em Porto Alegre, está programado para começar às 17h, na Esquina Democrática, no centro histórico.
O município de Itaberaba, na Bahia, também fará uma homenagem, a partir das 8h, na antiga rodoviária. Em Pouso Alegre (MG), o ato ocorre às 17h30, em frente à Catedral.
Para conferir os demais locais que realizarão atos, clique aqui.
Fonte: Rede Brasil Atual
Na primeira denúncia anônima que apontou o PM reformado Ronnie Lessa como o executor, há a informação de que o sargento reformado teria recebido R$ 200 mil para matar a vereadora. Resta saber de quem
A prisão dos executores do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro MarielleFranco (Psol) e do motorista Anderson Gomes, efetuada na terça-feira (12), trouxe à luz do dia uma complexa teia de relações criminosas na qual se entrelaçam diversos casos que marcaram a segurança pública do Rio de Janeiro nas últimas décadas. Apontados, respectivamente, como o homem que disparou contra as vítimas e como o motorista do carro utilizado no crime, o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa e o ex-policial Élcio Vieira de Queiroz têm um histórico no qual se misturam referências a assassinatos de autoridades, chacinas e relações com a contravenção e as milícias.
Com ficha limpa, inúmeras gratificações salariais por “atos de bravura” e até mesmo uma moção de louvor recebida em 1998 na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) por sua “eficiência e brilhantismo em serviço”, Ronnie Lessa deixou a PM em 2009 após perder a perna esquerda em um atentado a bomba jamais esclarecido. Apesar de ficha limpa, o sargento reformado é citado no inquérito policial que levou a sua prisão como “matador de aluguel” e “atirador reconhecido por sua precisão e frieza”.
Nos últimos anos, segundo as investigações, Lessa teria se tornado um membro destacado do chamado Escritório do Crime, grupo de ex-policiais e matadores de aluguel que presta “serviços” às milícias que hoje controlam parte da cidade do Rio de Janeiro. O inquérito aponta que Lessa atuava de forma próxima ao ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, fundador e chefe do Escritório do Crime e considerado foragido desde o início do ano. Nóbrega, por sua vez, sempre teve excelente trânsito entre alguns setores da política e chegou a conseguir emprego para a mãe e a mulher no gabinete do então deputado estadual – e hoje senador – Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
Também apontado como integrante, embora menos “graduado”, do Escritório do Crime, Élcio Vieira de Queiroz é outro que mostra a ligação do grupo com a política, pois é filiado ao DEM e teria cogitado até mesmo uma candidatura a vereador nas últimas eleições. Antes de ser expulso da Polícia Militar em 2011 em consequência de suas ligações com o jogo do bicho e a máfia dos caça-níqueis, o motorista do carro que conduziu Lessa ao fatal encontro com Marielle e Anderson atuou como adido (funcionário cedido) da PM junto à Polícia Civil, período em que se aproximou dos caciques da contravenção.
Cavalos Corredores
Mas a teia de relações criminosas não para por aí. Egresso do Exército, Ronnie Lessa chegou à PM do Rio em 1992 para trabalhar no batalhão de Rocha Miranda (9º BPM) e, segundo as investigações, com algumas semanas de serviço já era reconhecido nos relatórios de seus superiores como “homem valoroso em ações no terreno” e “policial positivamente operacional”. Antes dos 25 anos já havia recebido diversas vezes gratificações salariais por “atos de bravura”, batizadas pela população na época de “gratificação faroeste”, com as quais o governo de Leonel Brizola (PDT) agraciava policiais que faziam confrontos diretos com traficantes.
Muito elogiado, Lessa fez o curso de Operações Especiais da PM, mas, ainda assim, preferiu continuar no batalhão de Rocha Miranda do que ir para o Bope. Detalhe: seu comandante direto no 9º BPM era o então capitão Cláudio Luiz Silva de Oliveira, condenado a 36 anos de prisão por ser o mentor do assassinato da juíza federal Patrícia Aciolli, que julgava ações contra policiais, em 2011.
Embora ainda soldado, Lessa teve ascensão meteórica no “ranking interno” dos companheiros de farda e logo passou a fazer parte do grupo, paralelo à PM, conhecido como Cavalos Corredores, especializado em execuções e atentados. Os Cavalos Corredores são tristemente conhecidos mundialmente como executores em 1993 da Chacina de Vigário Geral, quando 21 moradores da comunidade foram brutal e aleatoriamente assassinados em represália a traficantes que, na véspera, haviam matado quatro policiais. Não há registro, no entanto, de que Lessa tenha participado da chacina.
Em 2000, Lessa, segundo as investigações, passou a trabalhar paralelamente na segurança do contraventor Rogério Andrade, sobrinho do lendário bicheiro Castor de Andrade, falecido em 1997. Na época, coincidente com a multiplicação das máquinas caça-níqueis em todo o Rio de Janeiro, Rogério travava uma sangrenta guerra com Fernando Ignácio (genro de Castor) pelo espólio e território deixados pelo tio.
Nove anos depois, já considerado um dos auxiliares mais próximos a Rogério, Lessa foi vítima de um atentado a bomba no qual perdeu uma das pernas. O mesmo tipo de explosivo seria utilizado no atentado que em abril de 2010 mandou o carro de Rogério pelos ares, mas acabou matando por engano seu filho Diogo, de apenas 17 anos. Lessa, segundo o inquérito, teria sido dispensado pelo sobrinho de Castor logo depois. Alguns anos mais tarde, já reformado pela PM, o ex-sargento se aproximaria de Adriano Magalhães da Nóbrega e do Escritório do Crime.
Quem mandou matar?
As relações de Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz com bandidos, milicianos e políticos reforçam a pergunta que faz toda a sociedade brasileira: quem mandou matar Marielle Franco? Após a estranha declaração do então delegado responsável pelas investigações na Delegacia de Homicídios, Giniton Lages, de que até então tudo indica que o crime teria sido decidido pelos próprios executores, espera-se que estes possam dar mais informações.
Mas, se isso acontecer, não será nos próximos dias. Nesta sexta-feira (15), quando, acompanhados de seus advogados, foram levados para depor na DH, tanto Lessa quanto Queiroz optaram por se manter em silêncio e só prestar declarações em juízo. Eles, no entanto, não apresentaram álibis para o dia do crime e permanecem presos em Bangu 1, aguardando transferência para um presídio federal.
Apesar do silêncio, as investigações apontam um forte indício de que a morte de Marielle tenha sido encomendada. Em outubro do ano passado, alguns meses após o crime, Lessa, que tem salário de cerca de R$ 7 mil, fez um depósito de R$ 100 mil em espécie na própria conta, em imagem flagrada pelas câmeras da agência bancária. O depósito foi classificado como suspeito pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e o dinheiro posteriormente investido na compra de uma lancha. Na primeira denúncia anônima que apontou Lessa como o executor de Marielle, feita à DH no mesmo mês de outubro, consta a informação de que o sargento reformado teria recebido R$ 200 mil para matar a vereadora. Resta saber de quem.
A enorme propagação de manifestações e atos políticos no Brasil e no mundo, na data em que se completou um ano do assassinato da Marielle Franco, nesta quinta-feira (14), se deu por características muito especiais da luta da vereadora do Psol no Rio de Janeiro. Na opinião do sociólogo Laymert Garcia dos Santos, há “uma novidade muito grande no que Marielle encarna”.
A novidade é algo que as pessoas e militâncias, no Brasil e no exterior, começam só agora a entender, como que intuitivamente: o significado de Marielle é que ela representa todas as lutas.
“Ela representa a luta de gênero, a luta de classe, a luta de raça e por direitos humanos. E ela faz isso de uma maneira muito própria, que vai além de militância, porque, ao mesmo tempo em que são opções políticas que ela fez, ela encarna isso, cada uma dessas facetas, no próprio modo de existência dela”, diz Laymert.
É paradoxal que o Brasil tenha precisado da morte de Marielle para que houvesse uma reação como a vista no dia 14. “É paradoxal porque indica, de certa maneira, a letargia e o atraso da consciência no Brasil.”
Quando o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou que “ninguém conhecia quem era Marielle antes de ela ser assassinada”, ele tentou reduzi-la a uma dimensão mínima. “Para ele, Marielle era uma líder comunitária de merda, e ‘matável‘ por milicianos. Matável no sentido que Giorgio Agamben fala: uma vida nua que pode ser ‘matada‘ sem consequência”.
Mas, como mostra a realidade, o filho do presidente da República se enganou, as consequências são reais e a reação, impressionante. “E a tendência é só crescer. A luta dela, em vez de acabar com a morte, se multiplicou.”
Laymert falou à RBA.
Qual o significado da repercussão do aniversário da morte de Marielle Franco no Brasil e no mundo?
Marielle traz uma novidade muito grande no que ela encarna: ela representa a luta de gênero, a luta de classe, a luta de raça e por direitos humanos. E ela faz isso de uma maneira muito própria, que vai muito além de militância, porque, ao mesmo tempo em que são opções políticas que ela fez, ela encarna isso, cada uma dessas facetas, no próprio modo de existência dela. Acho que foi por isso que comoveu de maneira tão forte, com a sua morte, não só no Brasil. Mesmo quem não a conhecia, quando conheceu quem ela era, de uma maneira ou de outra, foi tocado por alguma faceta dessas lutas. E essa faceta contamina as outras facetas de luta. Ela é uma espécie de emblema da sinergia dessas lutas. Por isso teve um alcance internacional tão forte, que só tende a crescer.
Mesmo assim, essa reverberação mundial não é surpreendente?
É completamente surpreendente, tanto mais porque não se conhecia a luta dela internacionalmente. Quando as pessoas ficam conhecendo o que ela encarna, o que encarnava, o que era ela com a luta dela, entendem que extrapola o Brasil, que a luta é muito maior do que uma luta só no Brasil. Ela (e sua luta) é totalmente brasileira, mas é internacional ao mesmo tempo. A repercussão foi enorme por causa desse amálgama. Ela é um emblema, e um emblema de que isso é possível. É um emblema de que é possível essa sinergia de lutas, num modo de vida, num modo de existência.
O contraponto disso é quando Eduardo Bolsonaro, recentemente, falou que “ninguém conhecia quem era Marielle antes de ela ser assassinada”, tentando reduzi-la a uma dimensão mínima, como se dissesse que “ela ficou conhecida porque deram mídia para ela”. Ele mostra a incompreensão da dimensão do que é isso que estou falando. Porque, para ele, Marielle era uma líder comunitária de merda, e “matável”. Matável por milicianos, no sentido que Giorgio Agamben fala: uma vida nua que pode ser “matada” sem consequência.
E acontece que, justamente pelo modo como ela encarnava todas essas lutas, essa vida que era “matável” se tornou um emblema da sinergia de lutas e ganhou essa dimensão. E a tendência é só crescer. A luta dela, em vez de acabar com a morte, se multiplicou.
Não é paradoxal que o Brasil, depois de todo o processo pelo qual passou de 2015 e 16 para cá, tenha precisado de uma morte como a dela para que houvesse uma reação desse nível?
É paradoxal porque indica, de certa maneira, a letargia e o atraso da consciência no Brasil. O atraso e a maneira como se concebe tudo isso fragmentado, como opções políticas apenas, e não como modos de existência. E, como opções fragmentadas, ou você briga por classe, ou por raça, ou você briga no feminismo, ou por gênero LGBT etc. E não se entende que tem uma ligação profunda entre todas essas lutas. Foi preciso que alguém encarnasse isso para as pessoas começarem a se tocar.
Segundo o jornal The New York Times, o assassinato de Marielle acabou por provocar uma “urgência de vida ou morte nos movimentos de direitos que ela adotou”. Isso tem a ver com sua análise?
Acho que tem, sim, no sentido de ter um despertar. Porque o limite foi ultrapassado, mas o limite que foi ultrapassado foi o limite do intolerável. Enquanto essas lutas estavam todas divididas em caixas, o limite do intolerável não tinha sido ultrapassado. Com a morte dela, as pessoas começaram a se tocar de que não podiam mais tolerar o intolerável.
A morte mostrou como a extrema-direita reagiu, comemorando uma execução, e por outro lado despertou esse sentimento de se ter ultrapassado o limite. Mas é porque era essa figura que era emblemática, e as pessoas nem sabiam que existia isso, esse feixe de lutas que podia ser exercido dessa maneira. Você vê que passou um ano e só cresceu, de lá para cá, a coisa toda de Marielle.
A repercussão internacional ajudou a chegar aos suspeitos?
Acho que a pressão internacional foi forte e vai aumentar. Uma representante da ONU (Birgit Gerstenberg, representante para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos) já indicou isso, que é preciso encontrar os mandantes. Essa historinha de que só apontar os executores satisfaz… Não satisfez e não vai satisfazer. A pressão só vai aumentar. E essa versão que tentaram apresentar, de que foi um crime de ódio e ponto, não colou. É importante a pressão internacional, não só porque mostra o efeito no mundo desse processo, mas porque reforça também internamente essa repercussão.
Acha que vai se chegar aos mandantes?
Eu acho que precisa chegar aos mandantes. Porque enquanto não se chegar a eles essa história não terminou. A pressão precisa ser muito forte para se chegar aos mandantes, sejam eles quem forem.
Atos e eventos clamando pela vida, pela democracia, pela esperança e pela utopia de um mundo sem violência se alastraram por incontáveis cidades do país, Europa e Estados Unidos
Em manifestação na região da Avenida Paulista, em São Paulo, nesta quinta-feira (14), data do primeiro aniversário da morte da vereadora carioca do Psol Marielle Franco, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, destacou que “a morte de Marielle foi por um crime político”. “Ela foi morta pelo que representava, pelo que representa. Uma mulher negra que veio da favela, que ousou ocupar os espaços do poder, ocupar a política. Enfrentou os grandes interesses e pagou com a vida por isso.”
O ex-candidato à presidência da República pelo Psol lembrou que o assassinato da ativista e vereadora completou um ano sem que se soubesse quem foram os mandantes do crime. “Se descobriu há poucos dias os suspeitos do assassinato. Esperamos ter a confirmação disso, mas não basta saber quem apertou o gatilho. É preciso saber quem mandou matar Marielle”, disse. “É isso que este ato aqui em São Paulo e manifestações em todo o Brasil estão querendo saber.”
Boulos lembrou que o ato de São Paulo “foi liderado por mulheres negras”. “Marielle, presente. Anderson, presente. Esse é o recado desse dia 14 de março”, completou.
O padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, saudou a “coragem dos que enfrentam os poderosos e nunca ficam do lado dos que pisam nos pobres”. “Se o Deus em que acreditamos é o Deus da Bíblia, que se identifica com os oprimidos, a imagem de Deus é uma mulher negra”, disse.
O religioso clamou para que a população defenda os oprimidos, como fazia a vereadora. “Defendam aqueles que são exterminados pelo preconceito e pela violência. Marielle está viva, Anderson (o motorista da vereadora, também morto em 14 de março de 2018) está vivo, junto com todos os que lutam.”
Atos e eventos clamando pela vida, pela democracia e pela justiça, pela esperança e pela utopia de um mundo sem violência se alastraram por incontáveis cidades do Brasil e do mundo. Os eventos acontecem não apenas na data do crime, mas se estendem até a semana que vem, em várias cidades do planeta.
Nesta quarta, Rio de Janeiro, Brasília, Campo Grande, João Pessoa, Natal, São Bernardo, Aracaju, Fortaleza, Belo Horizonte, São Paulo, Bauru, Porto Alegre, Pelotas (RS), Manaus e outras cidades brasileiras sediaram eventos nos quais milhares de pessoas exigiam saber quem mandou matar a ativista e parlamentar, proclamaram que “Marielle Vive”, propuseram “amanhecer com Marielle”, pediram justiça, paz e liberdade.
No mundo, cidades como Buenos Aires, Berlim, Amsterdã, Genebra, Bolonha, Madri, Melbourne, Londres, Nova York, Boston, Los Angeles, Montreal, Ottawa e Montevidéu realizaram manifestações.
A viúva de Marielle, Mônica Benício, é protagonista de um seminário na Universidade de Princeton, em New Jersey, nos Estados Unidos, ao lado da já lendária ativista negra norte-americana Angela Davis. O evento, “Feministas negras ao redor das Américas: um tributo à ativista política Marielle Franco”, é realizado entre esta quinta e sexta-feira (15).
“Hoje estou nos Estados Unidos para uma agenda com a Angela Davis. Uma inspiração minha e da Marielle. Será muito difícil estar no Rio amanhã (hoje). Na verdade é uma tentativa de ser menos doloroso (se é que é possível…)”, escreveu Mônica no Facebook. “As notícias de ontem, sobre as prisões dos executores, um ano após o crime, nos traz a certeza de que estamos no caminho na luta por justiça. Mas não basta a prisão dos mercenários. O verdadeiro assassino é aquele que mandou matar minha companheira.”
O deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ), padrinho político da vereadora, afirmou no Facebook: “Marielle nunca andou só, por isso ela é e sempre será essa potência. Ela sempre será gigante. É isso que os escravocratas nostálgicos com suas chibatas imaginárias não aceitam”.
Nas redes sociais, diversas lideranças políticas se manifestaram. O ex-deputado federal Jean Wyllys, que se elegeu pelo Psol do Rio de Janeiro e abdicou do mandato devido às ameaças de morte, contou pelo Facebook que recebeu a notícia da execução da Marielle por telefone, que lhe foi anunciada por seu assessor, Bruno Bimbi: “‘Jean, mataram Marielle’. Seguiu-se um silêncio entre nós dois que pareceu tão grande quanto a distância que nos separava: ele estava no Rio e eu em Brasília. Perguntei incrédulo e meio tonto: ‘Como assim mataram Marielle, Bruno? Que loucura é essa?’”.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) repetiu o coro que tomou conta das manifestações pelo Brasil e pelo mundo: “O Brasil precisa saber. Nós queremos saber. Quem mandou matar Marielle Franco?”.
Próximo à data que marca um ano do assassinato de Marielle Franco, dois suspeitos pela execução da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes, foram presos na manhã desta terça-feira (12).
O policial militar reformado Ronnie Lessa, de 48 anos, e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, de 46 anos, foram detidos por uma força tarefa da Operação Buraco do Lume, composta por policiais da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro e por promotores do Ministério Público. A investigação do Ministério Público e da Polícia Civil aponta que os policiais são responsáveis pelo crime.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Monica Benício, companheira de Marielle, conta que soube da prisão dos suspeitos na madrugada, ao receber a ligação de uma das promotoras.
“Considero um passo muito importante na investigação. Parabenizo as promotoras, sobretudo, e a DH (Delegacia de Homicídios). Mas não podemos esquecer que daqui há dois dias completamos um ano da execução. [Precisou de] Um ano para ter essa resposta, que tinha que ser respondida há muito tempo”, pontua Monica.
A viúva da vereadora afirma ainda que o resultado da investigação não é suficiente. “Não podemos esquecer que a resposta mais importante ainda não nos foi dada: Quem mandou matar Marielle e qual a motivação desse crime? Mais importante do que termos ratos mercenários serem responsabilizados pelo que fizeram, é a questão urgente e necessária, que é saber quem foi que mandou matar Marielle”, enfatiza Benício.
Segundo a denúncia das promotoras Simone Sibilio e Leticia Emile, assinada pelo juiz substituto do 4º Tribunal do Júri Gustavo Kalil, Lessa teria sido responsável pelos disparos enquanto Queiroz seria o motorista do Cobalt prata que perseguiu o carro da vereadora. Como a investigação aponta que o crime foi meticulosamente planejado ao longo de 3 meses, a operação também está apreendendo documentos, celulares, computadores, armas dos suspeitos. Há indícios de que Lessa monitorava eventos que a vereadora participa através de um celular “bucha”.
Sobre a continuidade das investigações para identificar o mandante da execução, Monica espera que não demore tanto quanto as primeiras respostas oficiais que foram dadas no dia de hoje. “Sinceramente, espero que não tenhamos que aguardar mais um ano para chegar a essa resposta. Mas não podemos deixar de olhar que finalmente algo concreto está acontecendo a respeito dessas investigações, isso tem que ser ressaltado”.
Legado
No último 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, Marielle Franco foi homenageada por milhares de mulheres em atos por todos os estados do país. Mulher negra, periférica e lésbica, Marielle se tornou um grande símbolo de resistência contra todas as formas de opressão.
Para Monica, Marielle é um símbolo de referência e inspiração, “para que sigamos na resistência e na luta”.
“De forma positiva, podemos compreender que a noite do 14 de março não pode ser vista só como uma noite de barbárie e violência, mais uma noite onde podemos ressignificar a esperança. Ressignificar a resistência”, disse.
“Marielle se tornou um símbolo de resistência uma vez que vemos a imagem dela sendo replicada pelo mundo inteiro, que se indignou com a violência, mas que também reconheceu o trabalho dela enquanto defensora dos direitos humanos, e não só o trabalho dela, mas o que ela representava. O que ela simbolizava, que é uma construção coletiva muito maior do que a própria imagem dela”, ressalta Monica.
Mobilizações em todos os estados do país estão sendo articuladas para o próximo 14 de março, data que marca um ano da execução da vereadora.