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Consciência a gente vê por aqui

No meio a um mundo em que prevalece frequentemente a aceitação acrítica de visões disseminadas pelos setores de poder

Prosseguimos numa tarefa miúda de voltar o olhar, a atenção, a ação e o sentimento, para a responsabilidade pessoal pela vida e pelas consequências dos nossos atos

A compreensão é libertadora, e esse é o nosso foco

“Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho ou sozinha. As pessoas se libertam umas às outras em comunidade, mediadas pelo mundo” (Paulo Freire)

Poucas palavras. Atenção ao sentimento. Foco nas emoções, naquilo que nos une como humanidade.

Discursos frequentemente escondem o afã de dominação. A visão se restabelece na brevidade de uma palavra, uma imagem, um som, uma canção, um abraço, um aperto de mão, um olhar.

Poesia é a preferência, por ir direto ao ponto

Criar mais do que consumir

Estes são alguns dos nossos valores norteadores

Aqui é um lugar para respirar.

Somos criaturas efêmeras. Que valha cada instante, cada segundo, todos os momentos!

Encadernemos a nossa vida no dia a dia, ano após ano, até nos apossarmos da totalidade da nossa experiência!

Restabelecer a humanidade

Pode ser restabelecida a humanidade?

A democracia foi restabelecida.

Foi um passo importante.

Restabelecer a humanidade é o passo seguinte

Será tão difícil assim?

Nada é impossível quando percebemos que somos uma unidade.

Humanidade

Human idade

É tarefa para o dia a dia.

Hora de trabalhar

Cantar

Criar

Construir

Abraçar

Confiar

Acreditar

Mas acreditar de verdade

Oração

Ação

Arte e cultura

Educação

Justiça

Segue a lista.

Inventividade e rebeldia no labor artístico: Incidência na Educação Física.

A despeito de ainda reinar certa insensibilidade, em considerável parcela da população, em relação à força transformadora das Artes, múltiplos são os sinais emblemáticos do potencial criativo e mobilizador das Artes, em suas diferentes manifestações. Com efeito, são copiosos os exemplos da força revolucionária das Artes, ao longo dos séculos e em  todos os espaços. A este respeito, vale a pena conferir a aula proferida pela professora Profª Arlenice Almeida da Silva, acerca da perspectiva Estética trabalhada pelo jovem György Lukács (cf. https://www.youtube.com/watch?v=w17h96CLjqE).

Nela, podemos perceber a singularidade do jovem Lukács em sua análise da Estética, das Artes. Para ele, a obra artística comporta certa autonomia, tanto em relação ao seu produtor, quanto a seu receptor…

Constitui parte integrante do processo de humanização o exercício indispensável das Artes, tanto em sua dimensão produtiva, quanto em sua dimensão receptiva (passiva). Com seres humanos, somos constantemente instados/vocacionados a exercitar, de algum modo, a produção e a fruição das Artes. Ainda que alguns humanos se sintam extraordinariamente tocados por algum tipo de Arte,  em verdade,  todos os humanos nos sentimos, de algum modo motivados a ensaiar, seja como produtor, seja como receptor ou simultaneamente pelas duas vias, algum tipo de manifestação artística, sob pena de não nos tornarmos protagonistas do processo de humanização.

As Artes, em geral, têm incidência, direta ou indireta, em nossa qualidade de vida, nas diferentes atividades  do quotidiano e em nosso processo formativo contínuo: desde o ambiente familiar, passando pelos espaços escolares, pelo ambiente de trabalho, nas atividades recreativas, na contemplação da Mãe-Natureza…

Nestas  linhas, sublinhamos particularmente a incidências do labor artístico na Educação Física. Inicialmente, cuidamos de trazer à tona a título de ilustração o potencial humanizador de diferentes Artes, ressaltando especialmente sua força  inventiva e propulsora  de rebeldia. Num segundo momento, ensaiamos realçar sua incidência especificamente na Educação Física.

Artes, inventividade, encantamento e rebeldia

Tendo em vista o público jovem constituir os destinatários especiais desta reflexão, entendemos didático iniciarmos ilustrando vários campos do  dia-a-dia nos quais a Arte se faz presente. De fato, tal é a presença das Artes em nosso quotidiano que nem chegamos a percebê-la suficientemente, em suas mais diferentes manifestações. Da arquitetura à música; da Literatura  à Pintura,  à Escultura, ao Teatro ao Desenho à Fotografia, ao Cinema, à Dança, às mais variadas formas de artesanato (no barros, na palha, no tecido, no ferro, na  madeira,  no vidro, nos materiais reciclados…). Independentemente de nossa eventual insensibilidade, temos  que reconhecer a relevância das Artes em nossa  processo de humanização. Sem as Artes, tendemos ao embrutecimento, à barbárie. Sirvam-nos de exemplo tantas atitudes que observamos em nossa sociedade, recheadas  de insensibilidade e obscurantismo… Basta ver a que nível a Política cultural vem sendo relegada,  após o Golpe de 2016, especialmente, a partir de 2018.

Estamos, pois, mergulhados no campo da Estética, que, ao lado de tantos outros, é uma das expressões do processo de humanização. Deste, além da Estética (portanto, do campo artístico, fazem parte diferentes   dimensões: Cósmica, social, econômica, política, cultural, a implicarem, por sua vez, distintos saberes e relações do quotidiano, relações sociais de gênero, de etnia, geracionais, de espacialidade, de referência à Mãe-Terra, ao sagrado, etc.  Como antes mencionado, nas linhas que seguem, nos detemos apenas nas relações estéticas, por meio das  Artes.

As Artes, por conseguintes, constituem o campo da Estética, por meio do  qual exercitamos a experiência do Belo, seja enquanto apreciadores, seja enquanto produtores. Graças à fluição do Belo, e, portanto, das Artes, recobramos o sentido mais pleno da existência.

As Artes nos encantam, nos reanimam a existência, ao tempo em que nos propiciam e exercício da  criatividade, das  inventividade. É também por meio das Artes que, à medida que descobrimos coisas novas, novos  horizontes, nos sentimos igualmente interpelados e uma melhor exercício  de nossa visão de mundo, de sociedade e de seres humanos instados a constantes mudanças em busca de plenitude. E daí também resulta um sentimento de rebeldia perante as atrocidades que desfiguram o Belo, contribuindo para um processo de desumanização.

A incidência das Artes na Educação Física

Entre as inúmeras  manifestações das Artes em nossa existência, elas também incidem na concepção e prática da cultura do corpo, também chamada de Educação Física. E isto se dá em vários modos, tanto positivo quanto negativamente. A Educação Física pode ser entendida como uma expressão – dentre outras – do processo de humanização, também inspirado nas Artes, a incidir no exercício bio-Psico-Social, de modo conectado com  outras dimensões.

É assim que, no plano estritamente biológico, a Educação Física se mostra eficaz  – especialmente quando inspirada pelas Artes – na manutenção e desenvolvimento não apenas da  saúde, como também de todo processo humano.  Há dimensão biológica conecta-se o desenvolvimento psíquico à medida que proporciona condições mais  favoráveis  à manutenção e aprimoramento da saúde mental, o que alude ao conhecido  “Mens Sana in corpore  sano”.

Tanto a dimensão biológica quanto a dimensão psíquica precisam  não apenas de interagirem entre si , mas também guardam estreita conexão com o social, o mundo circundante, sem o qual se inviabilizam tanto o desenvolvimento biológico quanto psíquico. A dimensão social remete diretamente as condições de sociabilidade em que se vive. Por ex., numa sociedade marcada pelos valores capitalistas, neo-liberais, observa-se a tendência  dominante a uma cisão entre o biológico, o psíquico e o social, de tal modo que o comportamento dominante passa a  ser o de  uma super-estimação do biológico (do corpo desconectado das outras  dimensões), em detrimento da unidade das três  dimensões. Na prática, isto traduz a  ideologia dominante de super exaltação das qualidades   estritamente  biológicas, com pretensão a expressar o Belo, ainda que em duvidosas condições de insanidade psicossocial.

Torna-se, por conseguinte, desafiador lidar com a cultura do corpo, de modo saudável e estético, exercitando-se estas dimensões para além da concepção mercantilista ou de mero valor de troca. Neste sentido, tão vazia se apresenta a estética do corpo, na concepção mercantilista que tradições teóricas longínquas, a exemplo do que se percebe inclusive no discurso platônico de Timeu, em que se sustenta a relação entre saúde corporal e saúde mental, pode se constatar uma deterioração do processo de humanização.

 

João Pessoa, 8 de setembro de 2022.

Alvorada em João Pessoa

Levemente tocados pela aurora

Os meus olhos se abrem: é madrugada!

Ouço o canto dos pássaros em revoada

Meditando, minha alma rememora

Os sinais que me chegam lá de fora

Sinto o vento nas folhas do arvoredo

A saudar o irmão Sol radiante, ledo

Salmodio o Senhor que ouve os gritos

Dos que guardam esperança, embora aflitos

Semeando o amanhã, vencendo o medo

 

Aplicando o ouvido, escuto bem

Não tão longe de casa, a passarada

A rolinha que arrulha, isolada

Beija-flor, pintassilgo e o vem-vem

Ouço ainda e imagino, mais além

Pelos galhos pulando, enfeita, adorna

Lá na matam o ferreiro, de bigorna

Malha um canto estridente e portentoso

E com a fauna partilha um alto gozo

Pra seu ninho voando à pressas torna

 

Manaíra (João Pessoa – PB), dezembro de 2002

 

(Extraído do Livro “FIOS DO COTIDIANO”. João Pessoa: Edições Buscas, 2002, p.11)

A vida como obra de arte

O dia já começou

Quando começa o dia?

Quando eu me levanto e começo a decidir.

Isto sim, isto não

O que quero fazer ou não fazer?

Aonde quero ir ou não ir.

Muitos pensamentos afluem

Como rios vindos de toda a parte

O desgosto de ver a baixaria instalada no governo federal.

A perspectiva de uma obra de arte em construção

É o que fica em mim quando crio.

Eixos

Há dias em que apenas posso registrar o essencial

O fundamental

Aquilo em que a vida consiste

O pertencimento que dá uma sensação de segurança e paz

Acolhimento

A identidade que redescubro quando escuto outras pessoas

O passado que finalmente passa e se vai

Vêm a plenitude da vida

A ascensão do dia a dia

A subida que me aproxima do sublime

Somente esta vivência intensa e plena

Pode me dar a força para permanecer de pé

E prosseguir na caminhada

Subindo, sempre a subir

Escutar com o coração, falar com o coração,

Repõe a minha humanidade

A vida não pode ser cancelada

A vida não é cancelada

Não existe algo tal como o cancelamento da vida

O que há é uma potenciação que joga o passado para atrás

Quanto mais nos empenhamos em intensificar os nossos elos com o presente

Criar, amar, construir coletivamente, fazer o bem, partilhar

Desfrutar da vida como um dom divino

Eis o que deve cada vez mais demandar o nosso esforço, centramento, ação e atenção.