Arquivo da tag: CPT

O potencial transformador do exercício interconectivo, da memória, das ações e no compromisso, entre nossas organizações de base

Registramos nossa satisfação em constatar, mesmo em uma conjuntura tenebrosa e de refluxo, as ações desenvolvidas por nossas organizações de base, em especial, pelos movimentos sociais populares, nas correntezas subterrâneas. Vibramos com diferentes iniciativas que vêm sendo assumidas por várias dessas organizações. Nestes tempos de crise sanitária (além de tantas outras), vimos como várias destas organizações de base – entre elas, o MST, a CPT, e outras – se portaram solidárias às vítimas da fome, por meio de fornecimento de cestas básicas distribuídas nas favelas e a outras comunidades do Brasil.

Enche-nos, também de alegria, acompanhar as ações de vários segmentos de nossa sociedade civil, a exemplo dos coletivos feministas, dos movimentos negros, dos movimentos indígenas, entre outros. Trata-se, em verdade, de um esforço importante, especialmente para a manutenção e o crescimento destas organizações de base. A despeito destas constatações, perguntamo-nos: um movimento social popular, qualquer que ele seja, cumpre satisfatoriamente sua pauta organizativa, formativa, e de mobilização, apenas desenvolvendo “ad intra”, isto é, ações internas, por mais que isto também seja importante? O propósito das linhas que seguem, é o de problematizar nossas organizações de base, em especial os movimentos sociais populares que lidam com uma pauta alternativa de ações contra o atual modo de produção, de consumo, e de gestão societal. Neste sentido, tratamos, inicialmente, de explicitar o que entendemos por exercício interconectivo da memória, das ações e dos compromissos de nossas organizações de base. Em seguida, passamos a questionar nossos movimentos sociais populares, quando desenvolvem uma agenda respeitável de iniciativas, voltadas para o interno desta organização. Mais adiante, buscamos recuperar a experiência da experiência da “Delegação”, muito presente em nossas organizações de base, entre os anos 60, 70 e 80. Concluímos estas linhas, chamando a atenção de nossas organizações de base, no sentido de buscarem potencializar suas tarefas organizativas, formativas, e de lutas, de maneira conectiva, isto é, de modo a se associarem, em suas diversas instâncias, marcando presença nos encontros e nas lutas dos nossos parceiros e aliados.

Por um exercício conectivo da memória, das ações e dos compromissos dos movimentos sociais populares

Tem sido uma praxe a sensação de que, a cada movimento social popular, basta desenvolver uma agenda de atividades organizativas, formativas e de lutas, apenas ao interno desta organização. Não negamos a importância do desenvolvimento destas ações. Por outro lado, avaliamos serem insuficientes estas ações, à medida que não se faz claro o entendimento de que as mudanças sociais almejadas – principalmente nossa luta de superação da barbárie capitalista -, não se faz apenas pela ação de um movimento social popular, por mais organizado e avançado que seja. Tem que ser obra do conjunto de nossas organizações de base, sem o que nossa luta por uma nova sociedade permanecerá muito a quem do que desejamos.

Ao longo da história, temos conhecimento de diversas mudanças sociais, na idade antiga, na idade média, na idade moderna e sobretudo na idade contemporânea. Todas estas grandes mudanças sociais, em especial as experiências revolucionárias – a da Revolução Francesa, a da Comuna de Paris, a Revolução Russa, a Revolução Chinesa, a Revolução Cubana, entre outras – só se deram, graças ao protagonismo dos movimentos sociais populares, entre outras organizações de base. Com efeito, estas forças se mostram essenciais, indispensáveis a todo processo que se queira revolucionário. Neste sentido, entendemos importante o esforço organizativo, formativo, e de mobilização, desenvolvido por cada umas destas organizações de base, ao mesmo tempo em que avaliamos insuficiente quando tais atividades não se fazem de forma associada, conjugada, tornando bem mais forte sua organização, além de permitir uma ação de maior potencial transformador.

De fato, observamos o esforço hercúleo em várias de nossas organizações de base. Tomemos o caso dos movimentos feministas, como ilustração. Sabemos das conquistas relevantes que vêm sendo feitas pelos movimentos feministas (marcha mundial das mulheres, marcha das margaridas, entre outros). Por outro lado, lamentamos, não apenas em relação ao movimentos feministas, como também aos movimentos negros, movimentos indígenas, movimentos camponeses, movimentos operários, certa teimosia em atuarem isoladamente. Daí resulta um lamentável desperdício, se atuassem de forma orgânica, certamente colheríamos resultados mais promissores. O isolamento de um movimento popular constitui, sob vários aspectos, um equívoco, por mais que reconheçamos os frutos de sua luta. Por exemplo, em um movimento de natureza etnica-indigina, quilombola, cigano…, há não raramente a tendência a um desenvolvimento isolado, voltado apenas para os interesses do movimento. Sucede que, assim agindo, o próprio movimento padece de alguns equívocos. Por exemplo, a luta ao interno dos movimentos negros, quando e se realizada em função dos interesses exclusivos deste movimento resulta enfraquecido, por várias razões:

  • Como não entender que, em um movimento negro, os participantes e as partipipantes, além de serem negros, pode ser também camponeses/camponesas, operarias/operarios, indentificados com a população lgbtqia+, pode ser formado por jovens, por adultos, por pessoas idosas, pode ser formado por pessoas de diferentes regiões. Cada uma dessas dimensões, quando não devidamente tomada em conta quanto ao seu significado, quanto ao seu limite e potencialidades, acaba não recolhendo as lições mais potencializadoras de avanços para o próprio movimento.

 

A prática da Delegação como fator conectivo em e das organizações de base e suas respectivas instâncias organizativas

 

A experiência da Delegação constitui uma marca relevante dos processos revolucionários mais reconhecidos, a exemplo do caso da Comuna de Paris. O princípio da Delegação consiste, como se sabe, na eleição democrática de pessoas, no caso delegados e delegados, cuja missão é de relatar com fidelidade os processo deliberativos tomados pela base, junto a outras instâncias organizativas desta força. O princípio da Delegação (assim como o princípio da alternância de cargos e funções, entre outros) constitui uma marca de nossas experiências organizativas, no final dos anos 70 e 80. Naquela conjuntura, coincidindo com o surgimento de novas forças populares, dentre as quais o Movimento Pró-PT (1979), A CUT (1984), o Movimento do MST (1984-85), além de grupos pastorais progressistas, correspondem a sujeitos históricos que experimentaram, em seus processos organizativos, o princípio da Delegação, este se distingue do princípio de meros representantes, pelo fato de que enquanto os representantes assumem um compromisso meramente formal de  “representarem” suas bases organizadas, com frequência não correspondem às tarefas de que foram incubidos. Os delegados, as delegadas, por outro lado, assumem o compromisso formal e material de serem fiéis portadores das decisões tomadas pela base nas ocasiões de participação orgânicas, o princípio da organização cumpriu um papel decisivo naquela conjuntura, a despeitos de suas lacunas.

Naquela conjuntura, estas forças que surgiram, tinham uma avaliação extremamente crítica em relação ao papel do Estado, entendendo-o como componente essencial do modo de produção capitalista e da organização de toda a sociedade de classe, à medida que as classes dominantes de ontem e de hoje sempre se valeram e se valem do Estado ao lado do seu mercado, o mercado capitalista para imporem de suas políticas econômicas, de tal modo que sem a figura de seu Estado não teriam sucesso em suas políticas econômicas, já que o mercado sozinho não dá conta da implementação de tais políticas.

A medida, contudo, que a maioria destas forças que rodeiam aquela conjuntura dos anos 80, se deixaram fascinar pelo processo eleitoral e pelos sucessos eleitorais alcançados, passaram também a desprezar ou a subestimar o mecanismo da delegação, passando a substituí-lo pelo mecanismo da mera representação formal. O resultado não tardou a aparecer: estas forças iam envolvendo-se progressivamente na engrenagem da máquina estatal, de sorte que passaram a ser coadjuvantes do próprio sistema que diziam combater.

Como se percebe, a experiência da delegação desempenha um papel fundamental sob vários aspectos da consciência de classe e do compromisso dos protagonistas sociais – das organizações de base, dos movimentos populares e pastorais sociais – como meios principais de transformação social. Uma vez abandonado ou mitigado estes caminhos, as classes dominantes e dirigentes passam a exercer influência decisiva sob estas mesmas forças populares, de tal modo que, mesmo ascendendo a relevantes espaços estatais ou governamentais, inclusive o espaço da presidência da república, passam a ser administradores do próprio sistema que dizem combater.

 

Quais exemplos ilustrativos poderíamos rememorar, para comprovarmos a eficácia transformadora do princípio da Delegação?

Alguns exemplos bastam para comprovarem sua eficácia transformadora. Um primeiro exemplo é a consciência da força conectiva da Delegação. Os núcleos, as células, os círculos de cultura, as pequenas comunidades ou algo semelhante, não se limitam a reunir-se de forma isolada. Com certeza, não bastando a mera criação destes espaços nucleares, estes precisam ser continuamente alimentados, por meio de reuniões regulares e outros encontros. A diferença de beneficiar o princípio da Delegação consiste em conter o isolamento destes núcleos, celulas ou círculos de cultura ou que outro nome tenham, no sentido de induzi-los, a uma ligação orgânica não apenas a outros núcleos, como também diferentes instâncias organizativas, em âmbito municipal, estadual, nacional (sem esquecer a necessidade da organização também do âmbito internacional),

Os delegados/delegadas constituem preciosos elementos de conexão, no sentido de entender-se que as transformações buscadas e desejadas não se fazem apenas com a boa organização de um núcleo ou mesmos de vários núcleos mantidos isoladamente, mas como sua conexão com outras instâncias. Portanto, trata-se de se entender que os processos revolucionários comportam múltiplos sujeitos com o mesmo projeto de sociedade, alternativo ao capitalismo e a toda sociedade de classes.

 

João Pessoa, 18 de julho de 2022.

Palavras de Ir. Tonny sobre conquista da Fazenda Antas, em Sapé, Paraíba

Mensagem da Irmã Tonny, Religiosa Franciscana, hoje vivendo na Holanda, grande lutadora da causa dos pobre, em especial dos camponeses e camponesas, junto a quem trabalhou várias décadas na Paraíba, na CPT e outros espaços eclesiais, e que hoje saúda os Trabalhadores e Trabalhadoras da Comunidade de Antas, município de Sapé – PB, pela sua brava conquista:
“Querido Povo da Fazenda Antas, Elizabeth Teixeira, CPT e…todos que ajudaram para esta vitória poder acontecer. (Eu no meio, também, penso agora, me lembrando do começo desta Luta, aí)…
Parabéns gente com esta vitória no Supremo Tribunal!
Antes de tudo meus pensamentos vão para àquelas/àqueles no meio do povo que iniciaram esta Luta braba e ainda estão PRESENTES ATIVAMENTE nela!
Parabéns de coração para todos e… continuem com amor mútuo, pois é agora que a Caminhada precisa de grande esforço e coragem para se criar, aí, ‘Terra Fertil’ por Vida melhor para a Comunidade toda!
Mas antes de tudo, dançam, brincam, festejam a alegria desta vitória. Eu, de coração, vibro juntos com todos vocês.
Quem sabe, pode se celebrar este momento de maneira mais especial e organizado, no dia 02 de abril, dia que faz 52 anos que João Pedro Teixeira tombou, nesta Luta que ele tinha começado nos anos cinquenta, conversando pacientimente com os companheiros dàquele tempo, exatamente neste lugar!
E… aliais, qual foi a data que Sandoval foi assassinado na Luta por esta Terra?
Acredito que todos os lutadores, que deram sua vida e seu sángue pela libertação das terras para o Povo, estão presentes em tudo que vocês juntos celebram e fazem em cada momento desta Caminhada tão importante.
O fato que a terra aonde começaram os primeiros passos da Luta, agora é livre para o Povo, tem um significado todo especial ao meu ver.
Como é importante que Elizabeth Teixeira, esposa de João Pedro, ainda, ao completar 89 anos, na próxima semana, pode presenciar esta vitória: mais uma gotinha na Reforma Agrária, que ela não para de defender.
Pois, é Caminhando que continua se fazendo A História do Povo de Deus.
É como Maria Romão de Mucatu, num dia de um passo positivo na luta, falou: “A gente luta, luta e sofre; passa por uns vinte sofrimentos, para de repente ter uma pequena vitória, que faz esquecer todo o sofrimento. E é isso que faz a gente continuar nesta Caminhada.”
É com estas palavras e com muito mais pensamentos e sentimentos ainda, que me sinto fazer parte desta História do Povo de Deus à Caminho.
E repito: “PARABÉNS PARA TODOS VOCÊS” !!!
Recebam abraços com tudo de bem de
Tonny.
Mais informações sobre o Memorial das Ligas Camponesas: http://www.ligascamponesas.org.br/?p=75

Comissão Pastoral da Terra sofre mais uma tentativa de intimidação na Amazônia

A Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou nota nesta segunda-feira (10) afirmando que “vê com muita apreensão” o arrombamento e invasão da sede da CPT, em Boca do Acre (AM). A equipe, que se situa no sul do Amazonas, por questões de proximidade geográfica e social é vinculada à CPT Acre. Confira a nota:
“No domingo, 02 de fevereiro, por uma janela arrombada a sede foi invadida. E uma desordem geral foi promovida, com documentos rasgados, materiais jogados ao chão e pisados pelos invasores. Nada foi levado, nem impressora, nem computadores, nem máquina fotográfica.
A sensação que se tem é que este é simplesmente mais um aviso, uma forma de intimidação à CPT, que tem denunciado irregularidades, sobretudo, em relação a planos de manejo florestal e ação de fazendeiros e madeireiros no estado do Acre e sul do Amazonas.
De novembro de 2011 a janeiro de 2013, a sede da CPT Regional Acre, em Rio Branco, já fora invadida por seis vezes. Valores, materiais e documentos haviam sido retirados do local. Em janeiro de 2013, as invasões aconteceram em dias consecutivos, madrugada de 21 e 22 de janeiro. Na última, somente documentos foram levados. Apesar de terem sido registrados Boletins de Ocorrência junto à polícia em cada uma das vezes, nada foi elucidado ate hoje.
Além das invasões da sede, a CPT recebeu, em 2012, ligações com ameaças aos agentes Maria Darlene Braga Martins, coordenadora na região e Cosme Capistano da Silva, da equipe de Boca do Acre, nas quais se dizia: “morreu gente no Pará e na Rondônia. (Em referência às mortes do casal José Cláudio e Maria do Espírito Santo, no Pará, e Dinho, em Rondônia). Agora vai ser no Amazonas e no Acre”.
A Coordenação Nacional repudia veementemente estas tentativas de intimidação contra seus agentes, e exige dos poderes constituídos a elucidação destes crimes. Ao mesmo tempo, expressa sua mais profunda e irrestrita solidariedade aos membros da equipe de Boca Acre e aos demais agentes do regional Acre, lembrando que, nada, nem ninguém nos poderá afastar de estar sempre ao lado dos mais pobres, dos que sofrem quotidianamente a injustiça. Tomando os devidos cuidados, como nos alerta o evangelho: “sejam prudentes, como as serpentes e simples, como as pombas” (Mt 10,16).
Goiânia, 10 de janeiro de 2014.
A Coordenação Nacional da CPT”
Saiba mais clicando aqui.

Nota pública: Pistolagem e criminalização de lideranças no Cone Sul de Rondônia

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Rondônia e organizações sociais divulgaram nota pública pedindo a libertação do presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Vilhena, Udo Wahlbrink, e outras lideranças, acusadas por confrontos durante ocupação de pequenos agricultores nas terras da Associação Água Viva. A Nota denuncia, ainda, ameaças de morte a Udo por parte de um grupo de extermínio.

Confira a Nota:

Os representantes das Associações de Pequenos Agricultores, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Comissão Pastoral da Terra de Rondônia, e abaixo assinantes, deploramos a atuação parcial da justiça na chamada Operação Gaia I, com a prisão efetuada o dia 05 de Março de 2012, do presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Vilhena (RO) e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STTR-FETAGRO) Sr. Udo Wahlbrink , assim como Sr. Roberto Ferreira Pinto, vereador de Chupinguaia, Diorande Dias Montalvão, agricultor da Associação Água Viva, de Chupinguaia, também detidos, além da expedição de mandato de segurança contra o Sr. Pedro Arrigo, Presidente da Associação Nossa Senhora Aparecida.

Estes fatos representam uma criminalização dos pequenos agricultores, tratados como terroristas, quando, na realidade, estes vêm atuando em legítima defesa denunciando roubos, incêndios criminosos de moradias e de lavouras, destruição de casas e de pontes, disparos, ameaças e intimidações, e expulsões de suas posses. Sem que providências fossem tomadas.

Por este motivo, e por defender o direito dos posseiros da região diante da atuação parcial da justiça, já que ele estava sofrendo graves e reiteradas ameaças de morte por parte de um grupo de extermínio atuante na região, denunciadas na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e na Ouvidoria Agrária Nacional sem que nenhuma providência fosse tomada pelas autoridades, pedimos:

– A liberdade imediata de Udo Wahlbrink e de todos os detidos na operação.

– Providências contra os acusados de atos de pistolagem, tentativas de homicídio, incêndios, furtos, ameaças e intimidações contra os grupos de posseiros.

– O respeito e regularização de posse de todos os pequenos agricultores que moram e trabalham na terra há anos.

– Urgência na resolução dos processos judiciais do INCRA, de retomada de terras abandonadas com Contratos de Alienação de Terras Públicas para reforma agrária.

Vilhena, 07 de março de 2012.

Seguem 35 assinaturas de representantes de 11 associações de agricultores de Vilhena, Fetagro, e CPT RO.

Assassinatos no Pará: Brasil é processado na OEA por omissão

A família e as entidades apresentaram aos governos e ao Judiciário um conjunto de propostas para suspender o processo. Por Leonardo Wexell Severo, de Rondon do Pará (PA), para o Brasil de Fato.

Diante da omissão do governo do Pará em garantir a segurança de Dezinho, quando ainda estava vivo e ameaçado de morte, e a demora da Justiça em punir os assassinos, sua família, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Justiça Global entraram com um processo na Organização dos Estados Americanos (OEA) contra o Estado brasileiro.

Processado pela OEA, o Estado brasileiro propôs um acordo. A família e as entidades apresentaram então aos governos e ao Judiciário um conjunto de propostas para suspender o processo. Entre elas o pagamento de indenização para a família de Dezinho, a construção de um centro de informática na Vila Galvão, a ampliação da sede do sindicato – incluindo um centro de qualificação profissional para trabalhadores rurais e urbanos, a construção de poços artesianos nos Projetos de Assentamento Nova Vitória, José Dutra da Costa e Água Branca, e a retomada de terras públicas no município para o assentamento de famílias sem terra.

O acordo previa ainda a obrigação do governo do Pará e do governo federal em construir um memorial em homenagem a Dezinho e, que, em sua inauguração, teriam que fazer um pedido de desculpa formal aos seus familiares.

Pedido de desculpa

Em nome do governo brasileiro, Maria Ivonete Barbosa Tamboril, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, fez um caloroso pronunciamento no encerramento do evento do dia 26, na Praça da Paz, onde, além da desculpa formal, sublinhou a importância de orquestrar ações conjuntas no âmbito federal para acabar com a impunidade. Um pouco antes, em nome da superintendência do Incra, Ruberval Lopes da Silva havia anunciado a liberação de cerca de R$ 2 milhões em linhas de crédito para os assentamentos e a construção de moradias.

O coordenador regional do Programa Terra Legal, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Castanheira Alves, anunciou a varredura nas glebas públicas ao lado do Ministério Público Federal, além da liberação dos Contratos de Concessão de Uso (CCU), documentos que dão segurança jurídica aos assentados – por meio do título provisório de posse – e estabelecem obrigações.

Em contrapartida, um representante do governo estadual caiu no ridículo ao declarar do alto do palanque – de onde escafedeu-se rapidamente – que a família de Dezinho receberia insignificantes R$ 40 mil como “indenização”, além de R$ 765,00 mensais como pensão vitalícia. E que o Memorial do líder assassinado seria erguido em Marabá, a cerca de 130 quilômetros de Rondon, quem sabe para não importunar os próceres tucanos locais, bastante vinculados ao rastro de sangue.

Quase 40 mil pessoas vivem ameaçadas por pistoleiros na Amazônia

A violência é generalizada principalmente nos estados do Pará, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso. Por Vanessa Brito – Portal Amazônia.

Os crimes de pistolagem na Amazônia apresentaram avanço considerável no último ano. A violência é generalizada principalmente nos estados do Pará, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso. As localidades apresentaram maiores índices de crimes praticados por “jagunços”, contratados por grandes proprietários de terra e madeireiros para ameaçar trabalhadores rurais e ribeirinhos em áreas de conflitos e proteção ambiental. Em 2011, os nove estados da Amazônia acumularam um total de 39.865 vítimas de crimes do tipo.

A situação é denunciada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade vinculada à Igreja Católica. Segundo levantamento divulgado esta semana, a instabilidade em áreas de conflitos por terra e água registrou aumento significativo em estados como o Mato Grosso, onde o índice de crimes saltou de 900 no ano passado para 2.275 este ano, um crescimento de 152%. Por outro lado, no Amazonas, a CPT apontou diminuição no número de crimes. Em 2010, 3.625 pessoas haviam sido vítimas de pistoleiros. O número caiu para 1.350 até setembro de 2011.

O Pará ainda apresenta zonas de instabilidade. No ano passado, o estado registrou um total de 23.510 crimes. Este ano o número de vítimas de pistoleiros chegou a 28.945. Considerada uma das maiores áreas de conflitos entre fazendeiros, madeireiros e ambientalistas na Amazônia, a região também registrou a maior quantidade de assassinatos de janeiro a setembro, um total de 9. Entre as vítimas, pessoas ligadas ao movimento de reforma agrária, como José Cláudio e Maria do Espírito Santo da Silva, assassinados a tiros na zona rural de Nova Ipixuna, sudeste do Pará. A morte dos ambientalistas mobilizou autoridades governamentais para envio de tropas da Força Nacional para as áreas de conflito.

A CPT alega que a intervenção federal após os primeiros assassinatos registrados não foi suficiente para inibir a ação dos grileiros, proprietários de terra e outros. A violência se evidencia no aumento no número de pessoas vivendo sob a pressão de pistoleiros em todo o País. Este número cresceu de 38.555 pessoas, em 2010, para 45.595, em 2011. Um aumento de 18,2%. Na região Norte, destaca-se ainda o crescimento de vítimas sob risco de pistoleiros no estado de Rondônia, que apresentou uma das maiores variações. A localidade contabilizou um total de 325 pessoas vítimas de pistolagem em 2010, contra 3.670 este ano, um crescimento de 1029,2%.

Assassinatos

A Comissão Pastoral da Terra também divulgou lista atualizada com a quantidade de líderes, ambientalistas, agricultores e ribeirinhos vítimas fatais da violência em conflitos por terra na zona rural na região amazônica em 2011. O levantamento destaca os estados do Pará, Rondônia e Amazonas com registro de 11, 2 e uma morte, respectivamente. O Amazonas registrou a morte do líder camponês Adelino Ramos, 57 anos, conhecido como “Dinho”, no município de Vista Alegre do Abunã, em Rondônia. Adelino morava no assentamento Programa de Assentamento Florestal (PAF) do Curuquetê, no município de Lábrea, distante 701 quilômetros de Manaus. Ele foi assassinado, em maio deste ano, após emboscada de pistoleiros.

A morte das lideranças de movimentos sociais reacenderam as discussões sobre a vulnerabilidade na defesa de áreas rurais e florestais em risco de degradação ambiental. A coordenadora da CPT no Amazonas, Auriedia Marques, chegou afirmar que agricultores residentes em comunidades localizadas nos municípios de Itacoatiara, Apuí, Lábrea, Novo Airão, Santo Antônio do Iça e Tefé estão entre as principais vítimas de ameaças de morte e sob a pressão de pistoleiros. Ela também afirmou que, em muitos casos, os jagunços têm o apoio da própria Polícia para a prática dos crimes e que a impunidade aumenta a sensação de insegurança e até mesmo a fuga de produtores rurais para outros estados.