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Aspectos da obra de José Comblin

Não poderia escrever sobre alguns aspectos da obra de José Comblin de uma maneira teórica ou conceitual. Não que menospreze este tipo de reflexão, ao contrário. Ela é muito preciosa e necessária, mas tem o seu lugar. Aqui prefiro, no entanto, apresentar alguns fragmentos do seu pensamento, colhidos em algumas das suas obras, de maneira a reter, para mim mesmo e para os leitores e leitoras, alguns traços dos que se me figuram mais originais, da obra deste ser tão singular, que deixou marcas indeléveis na minha existência.
Estas marcas ou traços, poderiam ser resumidos assim: A mensagem de Jesus é simples. O amor é o centro da vida. A vida é uma peregrinação. Todos e todas podem ser profetas, desde que se disponham a ser palavra de Deus. A indistinção na obra de Comblin entre o sagrado e o cotidiano, é para mim talvez a tônica mais forte. Quebra a cisão entre o espiritual ou o religioso e a vida do dia a dia. A vida como tal, é obra de Deus, e se assim a vivermos, ela será e é, uma vida consagrada.
Não importa se a pessoa seja ordenada ou não, ou mesmo se pertença a esta ou àquela religião. Importa se vive a serviço do amor, que é Deus mesmo. E isto implica em viver mergulhados/as na cotidianidade da vida. Rompe com a casta sacerdotal como monopolizadora do sagrado. Quebra com a privatização ou o exclusivismo do cristianismo como a única religião verdadeira. Restaura a sacralidade da vida da pessoa, como uma re-condução do ser para si mesmo, como uma ruptura do intelectualismo de uma casta ou estamento especializados, para harmonizar a vida na sua unidade de intuição, amor e razão ou consciência, e ação.
Obviamente, o que aqui destaco da obra de José Comblin, são aspectos que resultam significativos desde os meus próprios valores e desde a minha própria trajetória existencial e visão de mundo. Outras pessoas, certamente, verão outras coisas. Algo que também creio que deva ficar bem claro, é que tenho a nítida impressão que Comblin diz muito mais do que nós somos capazes de ler. A sua palavra excede em muito o que está escrito. A certeza que podemos ter, é que é um ser inspirado, e que essa inspiração nos oferece uma referência segura para que cada um, cada uma de nós, possa se encontrar consigo mesmo. Esse encontro conosco mesmos é o caminho de Jesus, o encontro da Jerusalém interior. Longe de encontrarmos nos escritos de Comblin receitas ou verdades definitivas, o que neles podemos encontrar, sim, são alusões a uma verdade da qual fazemos parte, que nos contém, nos ilumina e nos guia.
Agora gostaria de me referir a dois trechos de autoria de Comblin que me chamaram a atenção, e que tem o denominador comum de oferecerem subsídios para que a pessoa se oriente em direção às suas próprias metas, caminhado com esperança, e se conduzindo em direção à realização do seu próprio projeto de vida. São eles um parágrafo de A força da palavra, e outros de O caminho. Ensaio sobre o seguimento de Jesus. “O que é um ser humano no sentido completo da palavra? Não é somente um ser dotado de órgãos e de faculdades: inteligência, vontade, sensibilidade, etc. A soma dessas faculdades não faz um ser humano vivo e ativo. O que faz um ser humano é um projeto de vida, uma obra imaginada por si e prosseguida pacientemente com constância, inteligência e até teimosia. O que faz um ser humano é uma ilusão, uma utopia que persegue durante a vida toda, uma história de fracassos e êxitos na caminhada para os fins que ele/a mesmo/a definiu…” (p.37).
Resgato aqui a palavra projeto, a noção de projeto. Existir é ir em direção a uma meta. Passemos agora ao segundo dos livros mencionados de Comblin. O autor explora o tema da esperança do peregrino, da vida como peregrinação: “Há uma esperança para o dia de hoje, outras para a semana, para o mês, para o ano, para um período da vida, para a vida inteira e para além desta vida –ou seja, para a vida eterna” (p. 68) Outra vez a noção de direção, de esforço orientado a um fim. Qual é esse fim? O fim da vida é ser mais, não ter mais.
A “imagem da peregrinação ajuda a entender o sentido da vida. Pois, para a maioria, a peregrinação não é feita caminhando nas estradas materiais. A caminhada é interior: a pessoa vai buscar no próprio coração o seu verdadeiro ser. Por meio das experiências da vida vai se aproximando pouco a pouco da sua verdade, de uma realização mais completa de si. Pode-se realizar também a mudança, o amadurecimento de si mesmo/a na vida ordinária. A imagem da peregrinação ilumina essa busca até o próprio coração. A esperança parece mais abstrata, mas realiza a mesma transformação: como o peregrino, o discípulo vai abandonando o seu passado, reconhecendo no presente a porta que abre para o futuro, torna-se aberto à etapa seguinte da vida. No final, ele consegue conhecer-se melhor naquilo que era o objeto da sua esperança ao iniciar a caminhada. A nova Jerusalém se encontrará finalmente dentro do coração”. (pp. 68-69)
Salienta Comblin que a caminhada nunca é solitária.
Foto: Pe. José Comblin
 
 
 
 

¿Cómo puede transformarse un proyecto de prensa libre en un instrumento de liberación?

Si además de informar, suscitamos dudas, activando la memoria resiliente de las personas y comunidades, estaremos contribuyendo para que las personas recuperen la confianza em sí mismas, en su capacidad de ver el mundo desde perspectivas propias, en vez de dejarse manipular desde afuera.

Esta revista tiene esta intencionalidad. En vez de meramente replicar o combatir los actos contrarios a los derechos humanos, sociales y laborales, las agresiones al arte, la cultura y la educación, abrimos espacio para el refuerzo de la confianza que nos capacite para restablecer el imperio de la democracia, la constitución y la justicia social.

En vez de esperar soluciones macro, de arriba hacia abajo, apostamos en los esfuerzos micro, apenas perceptibles, pero cuya fuerza transformadora es gigantesca. Así se genera fuerza humanizante. Así se revaloriza la historia, la memoria las identidades y la conciencia.

Así rehacemos la esperanza de que el Brasil y América Latina vuelvan a seguir los caminos de la civilización. La vida humana no puede, no debe y no va a estar al servicio del capital, ni del Estado ni de las instituciones. Vamos a restablecer el orden natural de las cosas, desde perspectivas diversas y múltiples. Es un trabajo de hormigas, que en realidad estamos continuando más que empezando.

Fim de ano

Tempo de olhar para trás e para cá

Instante de valorizar o presente

Vir para o mais próximo, o fato de estar vivo

A respiração

Essa cor em que posso me aninhar

O amarelo que me acolhe

Tempo de reunir as forças, valorizar o feito

Habitar o momento como a maior riqueza

Saber que temos nas nossas mãos o poder de refazer a vida

Saborear os frutos do agir

Os afetos construídos

A auto-estima em permanente reconstrução

Mais um dia é todo dia

Projetar como a semente

Um futuro feito de ternura e afeto

Confiar vencendo o medo

Perspectivas

A leitura de alguns textos, a escuta de algumas observações e frases, têm a virtude de mobilizar vários sentimentos e percepções*

A sensação de consolo e alívio diante de um panorama que tende a ser mostrado como sem saída, numa perspectiva catastrofista, desde as esferas do poder e desde a mídia venal.

A certeza de que há leituras da realidade em profundidade, com fundamentação histórica e científica e (o que me parece crucial nos dias de hoje e sempre) com impecabilidade ética.

Em circunstâncias de crise (e em algum sentido toda circunstância é crítica) a pressão para encontrar uma saída pode levar a esquecer caminhos imprescindíveis. O recurso à história. A visão integradora. A necessária interseção de pontos de vista e perspectivas superadoras de megalomanias salvacionistas. A projeção de horizontes positivos que dependem, no entanto, de árdua e laboriosa ação pessoal e coletiva.

A perspectiva do vivido aconselha paciência tanto quanto ação integrada e integradora. Isto é: trabalhar para se construir a cada instante como sujeito com as feições que a trajetória pessoal configura. Preservação da memória como reservatório seguro daquilo que não morre. Consciência de que a identidade é a única fortaleza segura que habilita o jogo da sobrevivência com o tom da esperança. Ou seja: como coexistir com as situações adversas potenciando ao nosso favor a pressão desumanizadora.

Isto exige uma humildade que nos aproxima da totalidade. Diferentemente do atual cenário em que se tritura a individualidade tanto quanto a comunidade para conformar massas amorfas manipuláveis, a ação libertadora demanda uma atenção contínua a esmerada para as esferas mais sutis da existência.

O cuidado tanto conosco mesmos/as como com relação às outras pessoas, vistas como criação de Deus e merecedoras de todo respeito. O cultivo cotidiano do olhar artístico e poético nas suas diversas manifestações, como maneira de nos resguardarmos da despersonalização que tentam nos impor. Refiro-me aqui a essa capacidade humana de ver e ir além do imediato. Projetar a vida para um além feito por nós mesmos/as, o lugar dos sonhos pessoais e coletivos.

*Refiro-me aqui e agora ao texto de Alder Calado publicado na edição de hoje. Mas a minha observação recolhe também algumas outras leituras da realidade que tenho tido a oportunidade de conhecer (Ramón P. Muñoz Soler, Graciela Maturo, Fritjof Capra, Karel Kosik, Anais Nin, Herbert Read)

 

Doenças

Por Viviane Mosé

Muitas doenças que as pessoas têm são poemas presos
abscessos tumores nódulos pedras são palavras
calcificadas
poemas sem vazão
mesmo cravos pretos espinhas cabelo encravado
prisão de ventre poderia um dia ter sido poema
pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra presa
palavra boa é palavra líquida
escorrendo em estado de lágrima
lágrima é dor derretida
dor endurecida é tumor
lágrima é alegria derretida
alegria endurecida é tumor
lágrima é raiva derretida
raiva endurecida é tumor
lágrima é pessoa derretida
pessoa endurecida é tumor
tempo endurecido é tumor
tempo derretido é poema
palavra suor é melhor do que palavra cravo
que é melhor do que palavra catarro
que é melhor do que palavra bílis
que é melhor do que palavra ferida
que é melhor do que palavra nódulo
que nem chega perto da palavra tumores internos
palavra lágrima é melhor
palavra é melhor
é melhor poema

 

Um jeito de celebrar Puebla (III CELAM, MÉXICO, 1979): anotações sobre a realização da I Jornada Comunitária, abrindo a IX Semana Teológica  Pe. José Comblin

Realizou-se, anteontem, dia 11 de agosto, a I Jornada Comunitária, animada pelo Grupo Kairós, um dos grupos organizadores das Semanas Teológicas Pe. José Comblin, agora em sua nona edição, que tem como tema “Nas trilhas de Puebla, com Jesus, Francisco e José”.

Como em outras precedentes, a IX Semana Teológica Pe. José Comblin (STPJC), desdobra-se para além de uma semana: estende-se por meses. Neste ano, de agosto a outrubro. Compõe-se, primeiramente, das Jornadas Comunitárias (no campo e nas periferias urbanas), culminando com a Sessão de Encerramento, prevista para o dia 05 de outubro vindouro, conforme vem sendo divulgado, nesses últimos dias, inclusive por meio do”site” teologianordeste.net, contendo também o “folder” da IX STPJC.

As notas que seguem, focam apenas a realização, neste último domingo, da I Jornada Comunitária, realizada no bairro Castelo Branco, mais precisamente na Capela Ecumência da UFPB, em João Pessoa – PB. Cada Jornada Comunitária é coordenada por um dos grupos organizadores do mesmo evento. No caso da I JC, coube ao Grupo Kairós organizar e animar, de forma mais direta, com a participação de membros de outros grupos, tais como o CEBI, o MTC, a Fraternidade  Esperança… Cuidamos, em seguida, de fornecer os traços principais desta I Jornada Comunitária.

Prevista para iniciar-se às 08:30, bem mais cedo já se achavam por lá alguns membros do Kairós e de outros grupos, para os preparativos do local (cenário, materiais de apoio, serviço de som, roteiro da celebração, etc.). A Capela Ecumênica da UFPB é rodeada de bosques preciosos da Mata Atlântica,  oferecendo uma paisagem rica em biodiversidade. As pessoas iam chegando e cumprimentando-se, nesse clima, animado por músicas bem selecionadas, inclusive com tomadas de fotos feitas por Andrea. Por volta das 09 horas, foi dado início à celebração.

Tocaram a Aparecida (Cida) expressar pelo Grupo as palavras de acolhimento e a coordenação dos trabalhos. Em suas palavras iniciais, deu as boas-vindas a todas, a todos, e após entregar a(o)_s participantes as folhas do roteiro da celebração. Em seguida, cuidou de relembrar o sentido da IX STPJC deste ano, em que estamos celebrando os 40 anos da Conferência Episcopal Latino- Americana, realizada em Puebla ( México), em 1979.

Dando continuidade,  foi lida a introdução do que está contido no folder acerca do legado de Pe. Comblin, sua contribuição inclusive, como assessor, de bispos participantes da III CELAM, em Puebla, bem como as profundas afinidades suas com as atitudes proféticas do Papa Francisco, como se estivessem em permanente diálogo implícito.

Tivemos, em continuidade, o início da celebração da Palavra, com o convite a entoarmos o cântico “ É missão de todos nós”, do qual fazem parte estrofes emblemáticas tais como:

“ O Deus que me criou, me quis e consagrou

Para anunciar o Seu amor”

           É missão de todos nós:

Deus chama e quer ouvir a sua voz

Eu sou como chuva em terra seca

P’ra saciar, fazer brotar

Eu vivo para amar e pra servir

Eu sou, sou profeta da verdade

Canto a justiça, o amor e a liberdade.”

 Em seguida, as pessoas participantes foram convidadas a entoar o canto de aclamação ao Evangelho, tendo sido escolhido o cântico:

“Toda Palavra de vida é Palavra de Deus

Toda ação de liberdade é a divindade agindo entre nós”.

Consultados sobre quem gostaria de fazer a leitura do Evangelho a Irmã Maria Besen da Fraternidade Esperança, prontificou-se a fazer a leitura o que, pela tocante afinidade com a temática de Puebla, foi escolhida a passagem de Lucas,  (leitura da do Domingo anterior), à qual se seguiram densas reflexões compartilhadas, dentre as quais Elias Cândido do Nascimento (membro do Kairós e do MTC) sublinhou a profunda atualidade da leitura, tomando em consideração a extrema ganância dos poderosos de hoje de acumular riquezas desmedidas, contribuindo diretamente para o aumento das gritantes desiguadades sociais, ambiente parecido com o contexto sócio-histórico da III Conferência realizada em Puebla, há quarenta anos. E assim, várias outras pessoas também expressaram suas reflexões inspiradas pelo Espírito do Ressuscitado.

Concluíindo esse momento, foi recitado o Salmo, de forma dialogada, por todos.

O momento seguinte consistiu numa leitura mais extensa de trechos-chave do Documento Final de Puebla. Este texto era um dos três propostos para a reflexão nas Jornadas Comunitárias. Os outros dois são: um texto escrito pelo Pe. José Combiln, fazendo uma avaliação da III Conferência Episcopal Latino-Americana, em Puebla, enquanto o terceiro texto corresponde a trechos da Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, do Papa Francisco, sublinhando a relevância e urgência de nos abrirmos, como Igreja, a uma “Igreja em saída”.

Conforme a escolha do Grupo, cuidamos de focar no Texto n. 1, o que traz passagens relevantes do Documento Final de Puebla. Com a contribuição espontânea das pessoas participantes, foi iniciada a leitura, começando pelo que o Documento chama de “feições dos pobres de nosso continente, ou seja a descrição dos rostos de nossa gente mais sofrida e merecedora de nossa ação pastoral prioritária. Com efeito, o trecho que se situa entre os números 31 e 39 do mesmo Documento se apresenta emblemático. Aí se fala, por exemplo, das feições de nossas crianças: antes mesmo de nascerem, já se vêem alvo de injustiça, pela penúria de suas mães e da família. Após o nascimento, seguem seu cotidiano “severino” – de abandono, de violência sofrida, de ausência de políticas públicas a seu favor, etc. Rostos de indígenas marginalizados, explorados pela ganância do sistema capitalista e seus representantes, de olhos grandes para seus territórios, seus bens, suas riquezas, agredindo a Mãe-Terra para a exploração de minérios destinados à exportação. Feições de comunidades quilombolas ou de povos afroamericanos mergulhados nas mais graves mazelas do mesmo sistema: desemprego, sub-emprego, baixíssimos índices de qualidade de vida. Feições de camponeses, vítimas contumazes da fúria dos grandes proprietários e latifundiários, acobertados pela cumplicidade do Estado. Feições de operários submetidos às mais cruéis agruras das leis trabalhistas vigentes nos diversos países do continente. Feições de pessoas idosas, desrespeitadas em sua dignidade e em seus direitos.

Eis um trecho que despertou uma sucessão de comentários pelos presentes.  Rolando expressou seu sentimento de indignação, sublinhando a contundência daquele Documento que lhe soava tão atual e tão próximo das atrocidades de hoje. Maria Oliveira Ferreira, por seu turno, também manifestou sua indignação, diante de realidade tão cruel, mas também tão atual, e até de certa forma agravada, no atual contexto. Lúcia, igualmente, contribuiu, compartilhando seu sentimento de revolta contra tal situação, que infelizmente perdura. Glória, em várias ocasiões, lembrava que tais crueldades por vezes se faziam até  em nome do Cristianismo, como acontece no presente. Nos números seguintes dos trechos selecionados, a leitura prosseguiu. Consoante à temática geral da III CELAM – “A Evangelização no presente e no futuro da América Latina” , mereceram destaque  as profundas e crescentes desigualdades sociais e respectivos fatores, incidindo seja no plano econômico, seja na esfera política, seja no terreno cultural. Também, foi realçada a participação dos leigos e das leigas como agentes mais diretos do processo de transformação, inclusive na esfera política. No correr da leitura, aqui ali, percebia-se certo hiato ou incongruência nas falas dos próprios bispos signatários do texto, o que chamou a  atenção dos presentes. Em intervenções de outros participantes – mulheres e homens -, buscou-se interpretar tais discrepâncias, a partir da compreensão de que, como toda Igreja, também a nossa é fortemente plural. Mesmo reunidos na mesma Igreja, e animados pela mesma fé, há, contudo, diferentes posicionamentos, refletindo o lugar social de tais membros, o que nos ajuda a entender a Igreja como um grande guarda-chuva a abrigar diferentes (às vezes, até antagônicos) posicionamentos de classe, de visões de mundo, de sociedade, o que se reflete com frequência nos docuemetnos oficiais da Igreja, em especial em documentos assinados por participantes de sínodos, de conferências episcopais e foros semelhantes.

Ao final de cada texto proposto a cada Jornada Comunitária, constavam duas perguntas, destinadas a ajudar o debate em pequenos grupos. Foram lidas, com a contribuição de algumas pessoas, na discussão.

Antes do convite à Oração do Pai Nosso,  algumas pessoas houveram por bem compartilhar mais informações e convites. Um desses convites foi feito pela Irmã  Sílvia, da Fraternidade Esperança, no sentido de informar e convidar os presentes para a celebração, na segunda-feira, dia 12, na Comunidade Laranjeira, no Bairro José Américo, onde viveu Dom Fragoso o período final de seu percurso existencial entre nós. Aí está sendo organizada a celebração que dá início aos festejos e comemoração do centenário de Dom Fragoso.

Conforme o roteiro da celebração, a coordenadora dos trabalhos convida a todos e todas à oração do Pai Nosso, sugerindo a versão conhecida e cantada do “Pai Nosso dos Mártires”.

Foi solicitada e acolhida a sugestão de convidarmos a Elias e a Marinete, para nos darem a bênção final, o que foi aceito pelo venerando casal. Após a bênção, e por sugestão de Elias, entoamos juntos, acompanhados da interpretação de Clara Nunes, o belíssimo “Canto das Três Raças”:

“Ninguém ouviu

Um soluçar de dor

No canto do Brasil

Um lamento triste

Sempre ecoou

Desde que o índio guerreiro

Foi pro cativeiro

E de lá cantou

Negro entoou

Um canto de revolta pelos ares

No Quilombo dos Palmares

Onde se refugiou

Fora a luta dos Inconfidentes

Pela quebra das correntes

Nada adiantou

E de guerra em paz

De paz em guerra

Todo o povo dessa terra

Quando pode cantar

Canta de dor

E ecoa noite e dia

É ensurdecedor

Ai, mas que agonia

O canto do trabalhador

Esse canto que devia

Ser um canto de alegria

Soa apenas

Como um soluçar de dor”.

Nossa I Jornada Comunitária foi encerrada festivamente, com muita partilha, alegria e animação. O casal Elia –Marinete nos trouxe um saboroso bolo, enquanto outras pessoas nos brindaram com mais doces, salgadinhos e bebida, sempre em conversas animadas, a escutarmos notícias e experiências do dia-a-dia, inclusive no campo dos estudos, a exemplo das partilhadas por Júlia e outras pessoas. Saímos todos, todas, mais renovados e encorajados a seguirmos em saída, a continuar nossa missão no meio do povo dos pobres, mantendo viva nossa esperança e nossa confiança no Deus da Vida e da Liberdade.

João Pessoa/ Olinda, 13 de agosto de 2019

Foto: Pe. José Comblin

Mensagem do Papa Francisco

“Ângelus,” dia 18.08.2019

Caros irmãos e irmãs, bom dia!

Na página do Evangelho de hoje, Jesus adverte os discípulos de que o momento de decisão. Sua vinda ao mundo, de fato, coincide com o tempo das escolhas decisivas: não se pode adiar a opção pelo Evangelho. E para fazer melhor compreender este seu pedido, ele se vale da imagem do fogo que Ele próprio veio trazer sobre a terra. Ele diz assim: “Vim atear fogo à terra, e como gostaria de que o fogo já estivesse aceso!” Estas palavras têm a finalidade de ajudar os discípulos a abandonarem toda atitude de preguiça, de apatia, de indiferença e de fechamento para acolher o fogo do amor de Deus. Aquele amor que, como lembra São Paulo, “foi derramado em nosso coração, por meio do Espírito Santo”, porque é o Espírito Santo quem nos faz amar a Deus e nos faz amar ao próximo. É o Espírito Santo que todos trazemos dentro de nós.

Jesus revela a seus amigos, e também a nós, Seu desejo mais ardente: trazer sobre a terra o fogo do amor do Pai, que acende a vida e mediante o qual o homem se salva. Jesus nos chama a difundir no mundo este fogo, graças ao qual seremos reconhecidos como Seus verdadeiros discípulos. O fogo do amor, aceso por Cristo no mundo, por meio do Espírito Santo, é um fogo sem limite, é um fogo universal. Isto se tem visto desde os primeiros tempos do Cristianismo: o testemunho do Evangelho se propagou como um incêndio benéfico superando toda divisão entre os indivíduos, categorias sociais, povos e nações. O testemunho do Evangelho queima, queima toda forma de particularismo e mantém aberta a caridade para com todos, com preferência pelos mais pobres e excluídos.

A adesão ao fogo do amor que Jesus trouxe à terra, envolve toda nossa existência e requer a adoração a Deus e ainda uma disponibilidade para servir o próximo. Adoração a Deus e disponibilidade para servir o próximo. O primeiro pedido, adorar a Deus, quer dizer também aprender a oração da adoração, que costumamos esquecer. Eis por que convido a todos a descobrirem a beleza da oração de adoração e exercitá-la com frequência. Em seguida, a segunda – disponibilidade para servir o próximo. Penso, com admiração, em muitas comunidades e grupos de jovens que, inclusive durante o verão, dedicam-se a este serviço em favor de enfermos, pobres, pessoas com deficiência. Para vivermos segundo o espírito do Evangelho, é preciso que, frente às novas necessidades que se sucedem no mundo, sejamos discípulos de Cristo, de modo que saibamos responder com novas iniciativas de caridade. E assim, com a adoração a Deus e o serviço ao próximo, os dois sempre juntos – amar a Deus e servir o próximo – o Evangelho se manifesta verdadeiramente como o fogo que salva, que muda o mundo, a partir da mudança do coração cada um.

Nesta perspectiva, também se compreende a outra afirmação de Jesus, narrada na passagem de hoje, que à primeira vista pode ser desconcertante: “Vocês pensam que eu vim trazer paz à terra? Não, eu lhes digo, vim trazer a divisão.” Ele veio separar pelo fogo. Separar o quê? O bem do mal, o justo do injusto. Neste sentido é que veio dividir, a pôr em crise – mas de maneira salutar – a vida de Seus discípulos, dissipando as fáceis ilusões de muitos que creem poder associar vida cristã e mundanismo, vida cristã e compromisso de toda sorte, práticas religiosas e atitudes contra o próximo. Associar – como pensam alguns – a verdadeira religiosidade e práticas supersticiosas: quanta gente que se diz cristã procura adivinhos e adivinhas para ler a mão! E isto é superstição, não é coisa de Deus. Trata-se de não vivermos hipocritamente, mas de estarmos dispostos a pagar o preço de escolhas coerentes – esta é a atitude que todos deveríamos buscar na vida: coerência – pagar o preço de sermos coerentes com o Evangelho. Coerência com o Evangelho. Porque é com confessar-se cristão, mas é preciso sobretudo sermos cristãos nas situações concretas, testemunhando o Evangelho que é essencialmente amor por Deus e pelos irmãos.

Que Maria Santíssima nos ajude a nos deixar purificar o coração pelo fogo trazido por Jesus, a fim de propagá-lo através de nossa vida, mediante escolhas decisivas e corajosas.

Trad.: AJFC

Digitação: EAFC

Refazer a vida

O que eu recebi em troca do que cri ter perdido, que não era nada, não têm preço.

Tive a vida devolvida, dia após dia, todo instante, de maneira incessante.

Lembro de ter partilhado com os/as cursistas do curso de formação em Terapia Comunitária Integrativa em Crateús/CE que o modo de eu estar aqui tem a ver com a minha história de vida.

Encontro-me tendo que encontrar formas de chegar aqui, que me divertem. É como ter voltado e  continuar voltando a toda hora a um lugar novo, sempre.

Esta descoberta, ao ser partilhada com as pessoas que me ouviam e com quem fui criando laços de afeto durante o curso, é para mim um tesouro. Não têm preço.

O meu agradecimento também é inapreciável. Levo comigo o sentimento e a presença de quem me acompanhou nesta caminhada.

Sigo adiante, neste instante sempre renovado. Profundamente agradecido a Deus, minha família, meus amigos/as, e todas as pessoas em quem me vi espelhado ao longo da vida.

Minha releitura neste momento, é de um tal jeito, que me vejo lido escrito em quase tudo que vou vendo vivendo. Isto também não têm preço.

E que eu esteja a escrever estas coisas hoje, precisamente hoje, neste dia em que eu recordo um momento bastante difícil da minha vida, uma situação de grave perigo, não é por acaso.

A vida volta e continua a voltar, sem cessar, depois de cada vez que pareceu perdida. Compreendo as palavras de Jesus, que prometeu a vida eterna se vivêssemos de acordo com os seus ensinamentos, assentados/as no amor.

Creio que foi esse amor prévio e atual, que me manteve com vida, nesta renovação constante de que agora dou testemunho.

¿Por qué luchar?

En las manifestaciones del día 31 de marzo pasado, había mucha alegría.

Yo no sé si venceremos. No sé si conseguiremos bloquear el intento de destitución ilegítima de la presidenta Dilma Rousseff, orquestado por un legislativo corrupto, una prensa venal al servicio de la manipulación y la explotación, y un poder judicial realmente acobardado, o, peor, envalentonado. Todavía no sé bien.

Se agrega a esto, una masa desinformada, que piensa lo que le ordenan pensar. Fascismo, racismo, discriminación contra los pobres y los indios. Machismo. La escoria de la sociedad levantada contra la inclusión social, contra la distribución de renta, contra la universalización de la cultura, la educación y la ciudadanía.

El Brasil de la esclavitud levantado contra la población que empezó a respirar, empezó a ser gente, a tener lugar de gente, en los gobieros nacionales del PT. Yo no sé si vamos a vencer o no, si será la reacción y la oligarquía, la plutocracia, la mediocracia, que irán a ganar el juego. La pulseada está dura.

Lo que sí sé, sin la menor sombra de duda, es que no se puede uno quedar quieto frente a esta situación. O nos sumamos a quienes, desde abajo, desde la base de la sociedad, siguen reclamando para que se respeten la Constitución y las leyes, los derechos sociales y la continuidad democrática, o entonces sí, habremos perdido, por omisión, por complicidad, por apatía.

Habremos perdido un lugar frente a nosotros mismos, a nuestra propia conciencia. En la vida, no siempre jugamos a ganador. Yo sé que en los años 1966-1973, no siempre fuimos a las calles con la expectativa de ganar, en Argentina. Eran las dictaduras que mataban estudiantes y obreros. Torturaban y hacían desaparecer personas.

No sé si teníamos la expectativa de ganar. Lo que sí sé, es lo mismo que sé ahora, tantos años después, ya en Brasil. No me puedo quedar en casa, de brazos cruzados, mientras el golpe avanza. Esto sí que no puede ser. Por eso me alegra que la gente salga a la calle, defendiendo un proyecto popular de país.

Esto me sana. La decencia sana. Lo que es noble, ennoblece. Estimula saberse parte de un pueblo en movimiento. La esperanza sana. Salimos de un cierto conformismo individualista, y nos sabemos más grandes. Respiramos mejor. La alegría sana. Esta alegría sana.