Arquivo da tag: corpo

Inventividade e rebeldia no labor artístico: Incidência na Educação Física.

A despeito de ainda reinar certa insensibilidade, em considerável parcela da população, em relação à força transformadora das Artes, múltiplos são os sinais emblemáticos do potencial criativo e mobilizador das Artes, em suas diferentes manifestações. Com efeito, são copiosos os exemplos da força revolucionária das Artes, ao longo dos séculos e em  todos os espaços. A este respeito, vale a pena conferir a aula proferida pela professora Profª Arlenice Almeida da Silva, acerca da perspectiva Estética trabalhada pelo jovem György Lukács (cf. https://www.youtube.com/watch?v=w17h96CLjqE).

Nela, podemos perceber a singularidade do jovem Lukács em sua análise da Estética, das Artes. Para ele, a obra artística comporta certa autonomia, tanto em relação ao seu produtor, quanto a seu receptor…

Constitui parte integrante do processo de humanização o exercício indispensável das Artes, tanto em sua dimensão produtiva, quanto em sua dimensão receptiva (passiva). Com seres humanos, somos constantemente instados/vocacionados a exercitar, de algum modo, a produção e a fruição das Artes. Ainda que alguns humanos se sintam extraordinariamente tocados por algum tipo de Arte,  em verdade,  todos os humanos nos sentimos, de algum modo motivados a ensaiar, seja como produtor, seja como receptor ou simultaneamente pelas duas vias, algum tipo de manifestação artística, sob pena de não nos tornarmos protagonistas do processo de humanização.

As Artes, em geral, têm incidência, direta ou indireta, em nossa qualidade de vida, nas diferentes atividades  do quotidiano e em nosso processo formativo contínuo: desde o ambiente familiar, passando pelos espaços escolares, pelo ambiente de trabalho, nas atividades recreativas, na contemplação da Mãe-Natureza…

Nestas  linhas, sublinhamos particularmente a incidências do labor artístico na Educação Física. Inicialmente, cuidamos de trazer à tona a título de ilustração o potencial humanizador de diferentes Artes, ressaltando especialmente sua força  inventiva e propulsora  de rebeldia. Num segundo momento, ensaiamos realçar sua incidência especificamente na Educação Física.

Artes, inventividade, encantamento e rebeldia

Tendo em vista o público jovem constituir os destinatários especiais desta reflexão, entendemos didático iniciarmos ilustrando vários campos do  dia-a-dia nos quais a Arte se faz presente. De fato, tal é a presença das Artes em nosso quotidiano que nem chegamos a percebê-la suficientemente, em suas mais diferentes manifestações. Da arquitetura à música; da Literatura  à Pintura,  à Escultura, ao Teatro ao Desenho à Fotografia, ao Cinema, à Dança, às mais variadas formas de artesanato (no barros, na palha, no tecido, no ferro, na  madeira,  no vidro, nos materiais reciclados…). Independentemente de nossa eventual insensibilidade, temos  que reconhecer a relevância das Artes em nossa  processo de humanização. Sem as Artes, tendemos ao embrutecimento, à barbárie. Sirvam-nos de exemplo tantas atitudes que observamos em nossa sociedade, recheadas  de insensibilidade e obscurantismo… Basta ver a que nível a Política cultural vem sendo relegada,  após o Golpe de 2016, especialmente, a partir de 2018.

Estamos, pois, mergulhados no campo da Estética, que, ao lado de tantos outros, é uma das expressões do processo de humanização. Deste, além da Estética (portanto, do campo artístico, fazem parte diferentes   dimensões: Cósmica, social, econômica, política, cultural, a implicarem, por sua vez, distintos saberes e relações do quotidiano, relações sociais de gênero, de etnia, geracionais, de espacialidade, de referência à Mãe-Terra, ao sagrado, etc.  Como antes mencionado, nas linhas que seguem, nos detemos apenas nas relações estéticas, por meio das  Artes.

As Artes, por conseguintes, constituem o campo da Estética, por meio do  qual exercitamos a experiência do Belo, seja enquanto apreciadores, seja enquanto produtores. Graças à fluição do Belo, e, portanto, das Artes, recobramos o sentido mais pleno da existência.

As Artes nos encantam, nos reanimam a existência, ao tempo em que nos propiciam e exercício da  criatividade, das  inventividade. É também por meio das Artes que, à medida que descobrimos coisas novas, novos  horizontes, nos sentimos igualmente interpelados e uma melhor exercício  de nossa visão de mundo, de sociedade e de seres humanos instados a constantes mudanças em busca de plenitude. E daí também resulta um sentimento de rebeldia perante as atrocidades que desfiguram o Belo, contribuindo para um processo de desumanização.

A incidência das Artes na Educação Física

Entre as inúmeras  manifestações das Artes em nossa existência, elas também incidem na concepção e prática da cultura do corpo, também chamada de Educação Física. E isto se dá em vários modos, tanto positivo quanto negativamente. A Educação Física pode ser entendida como uma expressão – dentre outras – do processo de humanização, também inspirado nas Artes, a incidir no exercício bio-Psico-Social, de modo conectado com  outras dimensões.

É assim que, no plano estritamente biológico, a Educação Física se mostra eficaz  – especialmente quando inspirada pelas Artes – na manutenção e desenvolvimento não apenas da  saúde, como também de todo processo humano.  Há dimensão biológica conecta-se o desenvolvimento psíquico à medida que proporciona condições mais  favoráveis  à manutenção e aprimoramento da saúde mental, o que alude ao conhecido  “Mens Sana in corpore  sano”.

Tanto a dimensão biológica quanto a dimensão psíquica precisam  não apenas de interagirem entre si , mas também guardam estreita conexão com o social, o mundo circundante, sem o qual se inviabilizam tanto o desenvolvimento biológico quanto psíquico. A dimensão social remete diretamente as condições de sociabilidade em que se vive. Por ex., numa sociedade marcada pelos valores capitalistas, neo-liberais, observa-se a tendência  dominante a uma cisão entre o biológico, o psíquico e o social, de tal modo que o comportamento dominante passa a  ser o de  uma super-estimação do biológico (do corpo desconectado das outras  dimensões), em detrimento da unidade das três  dimensões. Na prática, isto traduz a  ideologia dominante de super exaltação das qualidades   estritamente  biológicas, com pretensão a expressar o Belo, ainda que em duvidosas condições de insanidade psicossocial.

Torna-se, por conseguinte, desafiador lidar com a cultura do corpo, de modo saudável e estético, exercitando-se estas dimensões para além da concepção mercantilista ou de mero valor de troca. Neste sentido, tão vazia se apresenta a estética do corpo, na concepção mercantilista que tradições teóricas longínquas, a exemplo do que se percebe inclusive no discurso platônico de Timeu, em que se sustenta a relação entre saúde corporal e saúde mental, pode se constatar uma deterioração do processo de humanização.

 

João Pessoa, 8 de setembro de 2022.

Aqui ninguém é branco

"Aqui ninguém é branco", de Liv Sovik (clique na imagem para ampliar)

Aqui ninguém é branco chega às livrarias com o selo da Aeroplano. O lançamento no Rio de Janeiro será quinta feira, 4 de março de 2010, às 19h na Blooks Livraria (no cinema Arteplex, Praia de Botafogo 316, Tel. 21-2559-8776).

No prefácio Silviano Santiago afirma: “O talento e a originalidade da ensaísta Liv Sovik estão no fraseado. […] No tópico em questão, o da mestiçagem consensual do ser brasileiro, o fraseado sobre a branquitude é o milagre de Lázaro. Ressuscita o europeu marinheiro, colonizador, escravocrata, latifundiário, capitão de indústria, banqueiro, capitalista etc., com a intenção de falar de seu silêncio e da sua invisibilidade.”

Através do estudo de lugares-comuns na música popular brasileira, Aqui ninguém é branco propõe releituras do cosmopolitismo brasileiro, do corpo dançante como emblema da nação, da marca deixada pelos escravos e da ligação entre branco e negro no cotidiano. Discute as maneiras em que, na grande imprensa, o branco é valorizado e a experiência americana de relações raciais é tratada como ameaçadora e radicalmente diferente da brasileira.

No texto de quarta capa, Sueli Carneiro sustenta que Aqui ninguém é branco “oferece novas categorias analíticas para a compreensão da complexidade do presente e do futuro das relações raciais no Brasil.”

Heloisa Buarque de Hollanda revela que Liv é uma viajante por gosto e natureza, uma nômade que viaja e fica. “O que se percebe ao ler o texto de Liv é a curiosidade, o olhar, não de espanto, mas de troca, de interesse com forte dose afetiva.” Liv Sovik nasceu em Genebra, foi educada nos Estados Unidos, morou na Inglaterra, fez doutorado em São Paulo, trabalhou por meia década em Salvador e é professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Aqui ninguém é branco, de Liv Sovik, prefácio de Silviano Santiago, textos de capa de Heloisa Buarque de Hollanda e Sueli Carneiro.