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Hierarquia dos anjos

Por João Batista da Silva*

1.

Rogo a Deus que me conceda

Lucidez e inspiração

Pra transmitir aos leitores

Com a devida precisão

Informações sobre os anjos

Cada qual com sua missão.

 

À hierarquia angelical

Quero referir-me então

E informar como é feita

Sua classificação

E informar de cada classe

Sua atribuição.

 

Na escala hierárquica

Dos seres celestiais

Existem os SERAFINS,

São anjos especiais

De ordem mais elevada

Nos âmbitos universais

 

2

Os QUERUBINS fazem parte

De outra categoria,

São guardiões permanentes

Da luz que nos alumia

E das estrelas que brilham,

Seja de noite ou de dia.

 

Uma outra categoria

Pelo nosso Deus criada,

São os TRONOS que mantêm

Toda a terra vigiada

Por esses seres celestes

Protegida e preservada.

 

Uma outra categoria

Então são as DOMINAÇÕES

Criadas por nosso Deus

Que lhes deu as instruções

Pra governar outros anjos

E dar-lhes orientações

 

3

VIRTUDES são outros seres

Da esfera angelical

Que receberam de Deus

A incumbência, afinal,

De nos mandar as porções

De energia divinal.

 

Mais uma categoria

Chamada de POTESTADES

Executa a missão

Numa coletividade

E transmite a consciência…

Para toda a humanidade.

 

Existem os PRINCIPADOS

Que exercem suas funções

E zelam pelas cidades,

São, de fato, guardiões

Das empresas e negócios,

Dos países e nações.

 

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Uma outra categoria

São os chamados ARCANJOS,

Levam de Deus as mensagens

E a função desses anjos

Que auxiliam os humanos

Pra evitarem desarranjos

 

Anjos, portanto, são seres

Os quais nosso Criador,

Na sua onipotência,

No seu infinito amor

Para nos orientar

Com muito carinho criou.

 

Na Escritura Sagrada

Nas mais diversas passagens

Faz referência aos anjos

Portadores de mensagens

Numa comunicação

De Deus à humanidade.

 

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A atuação dos anjos,

De forma inequivocada,

Ocorre, efetivamente

Dividida em três jornadas

Conforme as literaturas

Que já foram pulicadas.

 

Uma primeira jornada

Ocorre na idade antiga

Com uma comunicação

Amistosa e muito amiga,

Para que a humanidade

O equilíbrio consiga.

 

Na terra, em concretude

Uma segunda jornada

Ocorre na Idade Média

Quando em meio às cruzadas,

A aparição de anjos

Foi por santos comprovada.

 

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Uma terceira jornada

Tem a concretização

Quando atualmente os anjos

Na terra entram em ação

Para ajudar os humanos

Na complexa transição.

 

O Dom Manuel Pestana

Bispo de Anápolis, Goiás

Da Ordem de Santa Cruz,

Vejam a afirmação que faz

Sobre as aparições

Dos seres angelicais.

 

Sobre a aparição de anjos

Vejamos sua afirmação:

” Sempre caem no domínio

Da mera alucinação”

Estão presentes, porém

Descarta qualquer visão.

 

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Desde que nascemos temos

Nosso anjo protetor

Que canaliza energias

Para o nosso interior

E a luz forte que brilha,

Fagulhas de Deus amor.

 

No Antigo Testamento

Podemos ver com certeza

Que os anjos são retratados

Com requintes de beleza,

Cobertos de pele branca

Que simboliza pureza.

 

Se apresenta nas imagens

Com semblante de ternura

Seja por meio de estátuas

Ou estampas em moldura,

Portando halos e asas

De acordo com a cultura.

 

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Os anjos se apresentam

Aos humanos fisicamente

Com visualizações,

Por vezes ocultamente

Com palavras oralizadas,

Pronunciadas claramente.

 

A cultura da Babilônia

Que ninguém a discrimina

E a cultura da Pérsia

Nos afirmam e nos ensinam

Que os anjos são mensageiros,

Trazem mensagens divinas.

 

Ao transmitirem mensagens,

Os anjos, com muito amor,

Usam a mesma linguagem

Do seu interlocutor,

Falam em qualquer idioma

O anjo comunicador.

 

Em outras situações

Não ocorre oralidade

Dá-se a comunicação

Pela sincronicidade

Pois, a presença dos anjos

É uma realidade.

*O autor é pedagogo e professor graduado na UFPB. Aposentado, exerceu suas atividades profissionais na rede pública de ensino do município de João Pessoa. É poeta e cordelista com diversos títulos publicados

POEMA PARA UMA MÃE OMISSA, por João Batista da Silva

Se uma mãe simplesmente limita-se a parir
E não vê o caminho que deve seguir
Pra levar o filho a evoluir,
Junto ao seu rebento pode sucumbir,
Nos mares revoltos pode imergir.

Se uma mãe, coitada, não tem a coragem
De fazer, no filho, a devida podagem,
Será limitada a sua viçagem,
O calor não dá vez à suave aragem,
Corroem-se os trapos de sua bagagem.

Se uma mãe farta o filho apenas de pão,
No entanto falha na educação,
Ao filho dá “sim”, nunca dar-lhe um “não”
Sem nunca fazer-lhe uma correção,
Conduz seu rebento a uma vida de cão.

Seu filho é um galho que apenas brotou,
Mas na fotossíntese a planta falhou,
O seu colorido logo desbotou;
A mãe, sem carícia, nunca lhe afagou,
Seu rebento, o galho rápido secou.

À maternidade, a razão pondera:
Ser mãe não restringe-se a um ato que gera…,
Carinho de mãe, sempre o filho espera
E se nesse processo o pai não coopera
Verá o seu filho tornar-se uma fera.

Se uma mãe envolvida em tantos “amores”,
Empenhada sempre nos muitos labores,
Não transmite ao filho os devidos valores
Nem o encoraja a superar temores,
Entre espinhos pode não colher as flores.

Uma mãe autêntica, com o filho caminha
Pra não transformá-lo em planta daninha
Na qual o passarinho nunca se aninha.
Se não ocorrer podagem na vinha
A pobre videira aos poucos definha.

Se uma mãe não cultiva nenhum valor ético,
O seu filho pode tornar-se um ser cético.
Será que existe um fator genético
Que faz de um filho um homem maléfico
E no submundo um sujeito eclético?

Mas ainda há tempo para corrigir
As falhas humanas e fazer fluir
Energia boa para evoluir
A humanidade e fazer surgir
No jardim da vida brotos a florir.

Vida em primeiro lugar

No Grito dos Excluídos
O trabalhador reclama
Da estrutura brasileira
Que é cruel e desumana.
Sem terra pra cultivar,
Só lhe resta enfrentar
A violência urbana

Com as terras concentradas
Nas mãos de uma minoria,
O camponês não exerce
A sua cidadania,
Vai para a cidade grande,
Sua vida não se expande,
Sofre na periferia

A concentração de terras
No Brasil gera sequelas,
Para o camponês migrante
Não se abrem as janelas.
Sem emprego e habitação
Sua única solução
É residir nas favelas.

Se o povo não lutar
A reforma agrária emperra,
Tende a se perpetuar
A concentração de terra,
Só com a mesa abastecida
Dignifica-se a vida
E a paz suplanta a guerra

Neste gigante país
Há mais de quinhentos anos
O sistema fundiário
Ao camponês só traz danos.
Ao latifúndio, opulência,
E aumento da violência
Nos grandes centros urbanos

As pequenas propriedades
Do território rural
Emprega, evidentemente,
Um grande percentual…,
Mas de setenta por cento
Produz o nosso alimento
Para o consumo local

Um tal de agronegócio
Que está sendo propalado
Traz benefício maior
Pra quem já é abastado.
Produtos pra exportação
No âmbito desta Nação
Tem efeito limitado.

Só a vinte e cinco por cento
Da população rural,
O tal do agronegócio
Garante emprego afinal.
A pequena propriedade
Na empregabilidade
Tem maior percentual

Nas terras ricas e férteis
Deste país tropical,
Trinta milhões de pessoas
Vivem na zona rural,
No entanto, a concentração
De terras nesta Nação
Representa um grande mal.

A estrutura fundiária
Expulsa gente do campo
No qual se vê grandes áreas
Cercadas de arame e grampo,
Nas enormes extensões
Não existem plantações,
Só à luz do pirilampo

Com a terra concentrada
A situação é precária
Trabalhadores do campo
Seja em qualquer faixa etária
À pátria declaram amor
E expressa o seu clamor
Por reforma fundiária

Mãe Terra tão generosa,
Sagrado seja o teu ventre
No qual a fertilidade
Faz germinar a semente
Que se transforma em rebento
E se constitui alimento
Pra vida de tanta gente

Mãe Terra gigante e fértil
De cabedal tão diverso
Degradado pelo homem
Que se mostra tão perverso.
Agressões à Natureza
Fazem surgir a Incerteza
Vindas de um falso progresso.

Levantemos a bandeira
De um profetismo exigente
Que conclama a sociedade
Pra que haja vida decente,
Se não, a Pátria se ferra
Com “tanta gente sem terra
E tanta terra sem gente”.

Patriotismo e civismo
Não são valores banais,
São traduzidos na luta
Pelos direitos iguais
Para evitar que a Nação
Aos poucos fique na mão
De grupos transnacionais.

Fazer com que nossa terra
Se pareça com o céu,
Essa é nossa utopia,
Esse é nosso papel,
Não uma terra ressequida,
Mas uma terra prometida
“Onde corre leite e mel”

O trabalhador precisa
Se organizar com firmeza
A fim de poder manter
A chama da luta acesa,
Contrapor-se à estrutura
Para que a agricultura
Possa encher de pão a mesa.

O sonho do trabalhador
É a mesa abastecida
Com os frutos recolhidos
Da Terra bela e florida
Neste pedaço de fundo
De solo rico e fecundo
Que faz brotar Margarida

A classe trabalhadora
Do Brasil não é otária,
Portanto, tem consciência
Da situação precária
Em que vive o camponês,
E clama com altivez
Por reforma fundiária.

A nossa sociedade
Vai se conscientizar
Do valor da agricultura
De cunho familiar,
Cuja sua produção
Não é para exportação
É pra nos alimentar

O verdadeiro cristão
Tem responsabilidade
De combater, irmanado,
Toda essa desigualdade.
A Terra mal repartida
É uma agressão à vida
E à nossa dignidade

Por meio do plebiscito
Busquemos dignidade,
Façamos que haja no campo
Justiça e muita equidade.
O objetivo é um só,
Garantir na lei maior
O limite da propriedade.

“Onde estão nossos direitos?”
A pergunta está no ar,
Vale a pena construir
Um projeto popular.
Para o Brasil evoluir
É preciso garantir
Vida em primeiro lugar.

Autor: João Batista da Silva
João Pessoa – Paraíba