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Continuação

Às vezes os dias terminam antes do tempo. Quando isto acontece, então fica o ontem e o amanhã. Do ontem, vêm muitas lembranças e vivências. A viagem da qual acabas de regressar. O sertão paraibano. Santa Luzia. Sousa. A estrada no meio aos morros verdejantes. Os mandacarus. A praça de Sousa, os jogos, os vendedores de comidas típicas. A igreja de Acauã. A árvore com um sorriso no ronco. As fotos. As pegadas dos dinossauros. Do hoje, este hoje que parece ter terminado antes de que a noite tenha chegado, fica o que?

As andadas pelas ruas da cidade, indo e vindo até e da universidade. As estudantes de saúde mental comunitária.  A conversa com um velho e muito querido amigo. As recordações do encontro com os terapeutas comunitários em Santa Luzia. A soneca na maca do hospital. Os entardeceres destes dias que parecem como aquarelas diluídas no tempo. E agora que a noite vem chegando, o tempo parece querer passar por debaixo de si mesmo. Como se quisesse pular um dia. O tempo brinca, a vida brinca, brincamos nós, humanos, a brincar de eternos.

O amanhã parece querer se mostrar como um amanhecer ainda não amanhecido. Umas flores na beira do caminho. As vacas. Os povoados na beira do caminho. A fé que te alimenta. A família a passeio. A recordação viva dos teus tempos de estudante, a te misturar com as pessoas do meio popular, em busca de uma sociologia a serviço das classes trabalhadoras. Como se o tempo tivesse dado um jeito de frutificar sonhos adiados, continuados, prosseguidos, florescidos. As palavras de Adalberto Barreto chegando no meio do círculo. A roda continua. O tempo prossegue e segues tú também, andarilho do tempo.