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Três pardaizinhos

Hoje de manhã, vi três passarinhos em cima de uma grade na frente de um prédio. Eu estava esperando um meu amigo, e via os passarinhos de pé sobre o metal cinza. Isto me deu muita alegria. Eram três pardaizinhos.

O dia foi passando. Fui para uma reunião nas Livrarias Paulinas. Escutei uns relatos muito interessantes, um, sobre uma reunião em Lisboa, em outubro de 2012, da qual participaram alguns membros do grupo Kairós-Nós Também Somos Igreja.

O relato da colega que participou desta reunião, nos fez ver o quanto a luta pela justiça social foi valorizada por grupos cristãos europeus. Via os rostos dos participantes. O velho amigo a quem fora apanhar pela manhã. Outros rostos, já familiares. Vários companheiros e companheiras de Kairós.

O relato do Pastor Luciano de Sousa, sobre o Congresso Continental de Teologia, ocorrido em São Leopoldo, RS, também em outubro de 2012. Sentia-me de uma maneira bastante atípica. Menos expectativas. Mais atenção. Menos diálogo interno, mais escuta. Parecia que a vida tinha chegado ao presente.

O dia continuou passando. O regresso a casa. A Praça dos Três Poderes. A avenida Beira Rio. A chegada em Tambaú. A descida do velho amigo. A entrada em casa. O cajueiro. De tarde, outras ocupações. Alguns aborrecimentos, oriundos de choque de opiniões ou pontos de vista no seio de um dos movimentos a que pertenço.

Já de noite, a lembrança dos passarinhos não me abandona. É como se o dia tivesse recomeçado desde esse ponto. Vejo três pardaizinhos em cima da grade do prédio onde mora um velho amigo. Como três passarinhos podem me dar tanta alegria. A vida é verdadeiramente admirável. Simplicidade.

Poente

Às vezes não tens algo especial para partilhar. As coisas do dia a dia. Acordar, escutar o som dos grilos deixando lugar para a cantoria da passarada logo de manhã. Partilhar com as irmãs e irmãos da caminhada teu novo livro, o relato sempre em construção, do teu regresso pela poesia e pela literatura. Agora o sol já se foi, já se tingiram de cores as nuvens do lado do poente. A noite vem aí, e estas lembranças vão contigo, caminhante.

Quando o astro se mostra então crescente a outra lua crescendo vai também

Tão distintas embora sejam as duas
Em comum alguns pontos eu diviso
E me explico de modo bem conciso
Me refiro, por certo, a duas luas
Que ao vidente se mostram sempre nuas
Cor, formato distintos elas têm
Mas, de uma o brilho vai além
Inspirando feitiço loucamente
Quando o astro se mostra, então crescente
A outra lua vai crescendo também

In: A serviço da vida com liberdade (João Pessoa: Edições Buscas, 2009), p. 131