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Irmão do deputado Ronaldo Caiado (DEM/GO) escraviza trabalhadores no TO

Da Agência Estado via CPT Nacional

O Grupo Móvel de Fiscalização do Ministério do Trabalho, na companhia de uma procuradora do Trabalho, autuou a Fazenda Santa Mônica, no município de Natividade, ao sul do Estado de Tocantins, de propriedade de Emival Ramos Caiado, irmão do deputado federal e líder do DEM, Ronaldo Caiado. Na fazenda foram encontrados 26 trabalhadores, que, embora registrados, estavam submetidos ao chamado trabalho degradante: permaneciam no meio do mato consertando a cerca, sem disporem de água potável, sem equipamento de proteção individual e dormindo em um acampamento precário.

Por exigência dos auditores fiscais do trabalho, os contratos de todos os empregados foram rescindidos com o pagamento de indenização a cada empregado, calculada com base no tempo de serviço deles, que não superou os três meses. Foram pagos em torno de R$ 100 mil em dinheiro vivo. Coube a outro Caiado, o advogado Breno, irmão de Emival, levar o dinheiro ao hotel Serra Verde, no município de Campos Belos (GO), onde os fiscais do trabalho estavam sediados.

O Grupo Móvel fiscalizou outras seis fazendas na região descobrindo, na Fazenda Olho D”Água, em Montes Claros de Goiás, dois menores de idade trabalhando em carvoaria, conforme consta do registro feito pelos auditores fiscais cuja cópia foi entregue ao presidente do Conselho Tutelar da cidade, Gregório Batista dos Passos Neto.

Emival Caiado alega que “a legislação nacional não está de acordo com os costumes locais. Nas cidades grandes se tem um padrão de comportamento, uma relação em termos de acomodação que é diferenciada”, diz. “No nosso caso encontraram todos os empregados registrados, mas tinham umas pessoas consertando uma cerca de arame muito longe da sede e estas pessoas, como é de hábito delas, estavam acampadas no mato. Eles falaram que aquilo não era uma acomodação condigna e decente. Era um acampamento, mas é o usual na região”, argumentou.

Na crítica à fiscalização, Breno e Emival apegaram-se na história dos menores que os fiscais disseram estar trabalhando ilegalmente em carvoaria. Na explicação dos dois, os menores são filhos de um trabalhador que prepara o carvão e estariam “em férias na fazenda e tinham ido levar água para o pai” quando a fiscalização chegou. No relatório dos auditores consta que as crianças estavam há mais tempo na fazenda, apresentavam marcas de fuligem, ferimentos e queimaduras típicas do trabalho neste setor.

STF nega mandado de segurança a ruralistas e mantém reserva no Pará

Operações "boi pirata" do Ibama tenta restringir pecuária na região amazônica (Foto: Ibama/Divulgação)
Operações "boi pirata" do Ibama tenta restringir pecuária na região amazônica (Foto: Ibama/Divulgação)

Por Anselmo Massad e João Peres, da Rede Brasil Atual

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quarta-feira (17/2) negar o mandado de segurança apresentado por ruralistas do Pará que queriam anular a criação da Estação Ecológica da Terra do Meio. O decreto da Presidência da República de fevereiro de 2005, que abrange parte dos municípios de Altamira e São Felix do Xingu, era contestado pela Associação dos Agricultores da Colônia Fernando Velasco.

A criação da reserva fez parte das medidas tomadas como reflexo do assassinato da missionária Dorothy Stang. em Anapu. A intenção, à época, era reduzir os focos de disputa agrária na região central paraense e garantir preservação ambiental para uma das áreas com maior índice de desmatamento do país. Embora os números estejam em queda, o Pará ainda concentra a maior taxa de derrubada.

Mas os produtores entenderam que o decreto violava a Constituição no que diz respeito aos direitos de propriedade, uma vez que muitas das pessoas teriam de deixar o local. Na ação, alguns dos argumentos eram que a criação da Estação Ecológica havia sido realizada sem os devidos estudos e atendia aos interesses de organizações internacionais que visam lucrar com a exploração da Amazônia, gerando insegurança para os agricultores.

A decisão do Supremo foi comemorada pela Comissão Pastoral da Terra do Pará (CPT-PA), que considera a medida em acordo com a legislação fundiária no país. “É um passo importante a decisão do STF, bem como a criação de reservas ambientais na Amazônia como alternativa para a preservação”, sustenta José Batista Afonso, advogado e membro da CPT-PA. “A criação dessas reservas é resultado da luta de muitos anos por parte de movimentos sociais e ambientalistas, de indígenas e de toda a população da região”, comemora.

A votação por unanimidade em plenário apenas segue a recomendação da Procuradoria Geral da República e reafirma decisão anterior do relator do caso. Em 2005, o ministro Carlos Ayres Britto negou medida cautelar apresentada pela Associação Colônia Fernando Velasco. Uma das questões apontadas pelo ministro era que a crítica dos produtores à rapidez do governo federal em adotar tais medidas era descabida, já que a pressa é mais do que justificável em se tratando de preservação e proteção ambiental.

Ayres Britto pontuou também que muitos dos “proprietários lesados” não tinham sequer a real posse da terra e, como reconhecia a própria associação que moveu o processo, muitos se moveram à região para ocupar espaços vazios gerados pela expansão da fronteira agrícola.

As reservas representam, na visão da CPT, um caminho para impor barreiras a uma das várias frentes ruralistas em direção à Amazônia. “Isso não significa floresta intocada, mas a continuidade de uma economia que há séculos é movimentada por atividades extrativistas que garantam a subsistência e até algum lucro para famílias da região”, analisa Batista Afonso. Entre os produtos retirados de maneira não predatória que chegam a mercados de outras partes do país estão frutos como o açaí, cupuaçu e a andiroba.

Processo lento e tenso

Algumas das irregularidades nas reservas da Terra do Meio foram detectadas pelo Ministério Público Federal, que processou empresários por grilagem e danos ambientais. Na Estação Ecológica e em outras áreas do centro paraense, o processo de formação de cinturões de proteção é tenso e lento.

Ao longo dos últimos anos, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tem feito operações na região em busca do chamado “boi pirata”, o gado criado em áreas de desmatamento, e que depois de apreendido é repassado aos programas de assistência social. Uma decisão de 2007 da Justiça Federal do Pará determinou que fosse desocupada, na Terra do Meio, uma propriedade grilada de cinco milhões de hectares, a maior área ocupada ilegalmente no país, ocupando inclusive reservas florestais da região de maneira ilegal.

Ao longo de todo esse tempo, o Ministério Público Federal lançou alertas ao Ibama para que tomasse muito cuidado para não pagar indenização a grileiros que se passassem por proprietários legítimos no processo de desocupação. Mas, para Afonso, faltam recursos para a entidade e o Instituto Chico Mendes de Preservação Ambiental após a definição dessas áreas. “Comunidades relatam falta de apoio e fiscalização para impedir a volta de madeireiros e de grileiros à região”, acusa.