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“Cicatrizes que entram para a história”: a comoção de servidores após ataque ao Congresso

Estrago patrimonial no prédio do Congresso Nacional, invadido na tarde deste domingo (8), por manifestantes bolsonaristas. É possível identificar objetos quebrados, cadeiras jogadas e vidros estilhaçados, além de extintores e mangueiras contra incêndio espalhadas pelo local.
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Por Cristiane Sampaio

Selvageria bolsonarista atingiu espaços, objetos antigos e obras de arte e chocou funcionários da Câmara e do Senado

Passados dois dias após os ataques que abalaram os prédios principais dos Três Poderes, em Brasília (DF), o clima entre servidores públicos do Congresso Nacional ainda é de desgosto e tristeza diante do ocorrido. Os milhares de trabalhadores que atuam nos prédios seguem contabilizando os prejuízos e lamentado o rastro de destruição que ganhou os holofotes e correu o mundo.

O cenário de guerra deixado pelo grupo de bolsonaristas comoveu, por exemplo, o recém-aposentado Alan Silva, que deixou as funções no final de 2022, depois de dez anos à frente do Museu do Senado e após quatro décadas como funcionário público da instituição. Ele diz lamentar profundamente a destruição de móveis, gravuras, pinturas, tapeçarias, vidraças com elementos históricos e outros bens atacados pelos terroristas.

“A própria fachada do prédio é assinada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, então, o palácio em si já é uma obra de arte que foi depredada com pedras, paus e quebra-quebra. Foram depositados trabalho e amor na dedicação pra conservação desse material todo que está zelado pelo Museu do Senado. Eu assisti pela TV estarrecido com o que estava vendo.”

A barbárie que assombrou o país atingiu diferentes objetos históricos e obras de artes da Câmara dos Deputados e do Senado, um patrimônio de valor quase incalculável. Ainda não se sabe ao certo o tamanho do prejuízo, mas somente neste último a estimativa é de que sejam necessários entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões para a reparação dos danos, sendo mais de R$ 1 milhão apenas para a troca das vidraças.

Marcas

O impacto da ação dos extremistas impressiona os servidores em cada detalhe dos rastros deixados pelo caminho. Alan Silva cita a preocupação com móveis de quase 200 anos de vida que vieram do Palácio Conde dos Arcos e do Palácio Monroe, respectivamente a primeira e a segunda sedes do Senado, ambas localizadas no Rio de Janeiro (RJ).

“Por sorte, não havia documentos que pudessem ter sido estragados, porque com documento a perda é ainda maior. O Museu do Senado conta a história do Senado. Então, todo esse evento entra pra nossa história, e as cicatrizes deixadas nas gravuras, na tapeçaria, no mobiliário, nas pinturas vão fazer parte da nossa história. Parte da nossa narrativa ao contar a trajetória do Senado Federal vai conter agora essas marcas de uma invasão, de uma dilapidação do nosso patrimônio artístico e cultural.”

Depois que a polícia começou, na segunda (9) pela manhã, a identificar a existência de eventuais bombas deixadas nos prédios e fazer a coleta de digitais dos invasores, um grupo do museu entrou em ação para identificar de forma preliminar os principais danos e contabilizar os estragos para começar a planejar o processo de recuperação do patrimônio. Quando soube dos ataques, Silva se voluntariou para ir até a sede do Legislativo verificar os prejuízos.

O aposentado afirma que o Museu do Senado tem um laboratório próprio e conta com colaboradores que irão auxiliar na restauração dos bens. Ele acredita no sucesso do trabalho a ser desempenhado pelos especialistas, mas pontua que alguns sinais tendam a permanecer.


Vidros estilhaçados e obras de arte desmanteladas são algumas das cenas de horror criadas pelos bolsonaristas / Pedro França/Agência Senado

“Quando você pega uma linha dentro de uma tapeçaria e rasga com uma faca, por exemplo, você vai fazer uma emenda. Quando se quebra um mobiliário de madeira e vai restaurar, a fissura pode até ser ocultada, mas o móvel fica mais fragilizado. Qualquer interferência de restauração é agressiva. Nós procuramos fazer interferências mais sutis, que são a conservação. A restauração é o último passo, quando o dano está feito. E, pra recuperar pelo menos a dignidade ou a forma da peça, você entra com um processo cuidadoso de recuperação, mas é impossível uma recuperação que não deixe marcas”, explica.

Câmara dos Deputados

Na Câmara, a selvageria dos ataques espantou a servidora pública Patrícia Nogueira, que está passando férias fora do país e se viu atônita ao tomar conhecimento das invasões. Além de desempenhar funções de apoio ao trabalho dos parlamentares, ela atua como guia em visitas cívicas promovidas pelo Congresso e destinadas a turistas interessados em conhecer as instalações do Poder Legislativo e suas obras de arte.

Por conta disso, a servidora tem familiaridade com os diferentes pontos do imóvel e sua história, na qual ela mergulhou ainda desde 2002, quando começou a trabalhar no espaço. Abalada diante do caos criado pelos terroristas nos prédios que compõem o Palácio do Congresso, ela chegou a compartilhar a tristeza nas redes sociais.


Patrícia Nogueira durante tour guiado para jovens estudantes que visitavam o Congresso Nacional em julho de 2022: “Eu me sentia meio ‘guardiã’ daquilo tudo” / Arquivo pessoal

“Conheço cada milímetro daqueles edifícios, cada peça do acervo da Câmara e do Senado, cada um dos presentes protocolares saqueados pelos terroristas. Estou arrasada. Não acreditei quando a minha irmã me ligou pra dizer o que havia acontecido em Brasília. Parecia um pesadelo. É como se tivessem entrado na minha própria casa e vandalizado meus próprios bens”, desabafou.

Assim como os demais servidores ouvidos pela reportagem, Patrícia destaca o zelo e o afeto que os funcionários do Legislativo nutrem pelo espaço, que é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan): “Eu me sentia meio ‘guardiã’ daquilo tudo, tanto que nunca me cansei de fotografar e declarar meu amor e admiração por este monumento de Niemeyer, que sempre julguei o mais espetacular de todos (e ele também)”.

Sentimento semelhante manifesta Ana Karine Nogueira, concursada que também atua na Casa há pouco mais de 20 anos. “O servidor da Câmara, principalmente o que trabalha há mais tempo ali, tem uma ligação afetiva muito grande com o local. Eu tenho por diversos fatores. Cresci com meu tio, que vivenciava a política nos bastidores lá desde a época da ditadura. Eu estudei muito pra estar lá, conheci meu marido lá, gosto do trabalho que realizo e, apesar dos pesares, acho que dou uma contribuição pra sociedade. Então, esse episódio todo me trouxe várias revoltas.”


Tapete do São Verde, espaço dos mais emblemáticos da Câmara dos Deputados, foi alagado e danificado / Jefferson Rudy/Agência Senado

Ana Karine conta que, quando as primeiras imagens da destruição verificada no último domingo (8) começaram a circular, o sentimento entre os servidores era de indignação, manifestada de forma veemente em diferentes grupos de WhatsApp. Ela diz jamais ter visto algo desse porte.

“Era muita gente revoltada lamentando. Eu, por exemplo, me senti ultrajada como cidadã, como servidora pública, como brasiliense. Depois de tudo isso veio a tristeza. De madrugada acordei algumas vezes e me vinham aqueles flashes de vídeos que eu tinha assistido. Chorei também. É como se tivessem feito isso na minha casa. Foi horrível. Aqui em casa o domingo foi um dia de luto. Sabe como eu me sinto agora, depois disso? Me sinto como se estivesse de ressaca.”

O vandalismo dos terroristas pró-Bolsonaro também consternou a servidora Adriana Jannuzzi, que se viu preocupada diante dos danos causados à estrutura fornecida a pessoas com deficiência que frequentam o local. Tendo estado à frente da Coordenação de Acessibilidade da Câmara ao longo de 18 anos, ela lamentou ao Brasil de Fato a depredação, por exemplo, da maquete tátil do prédio. O material é voltado ao uso de pessoas cegas que queiram entender como são as formas arquitetônicas do Congresso Nacional.A miniatura foi inaugurada em 2008 e após um exímio trabalho desenvolvido por servidores.


Depredada pelos extremistas, maquete tátil havia sido construída com objetivo de promover a inclusão de visitantes com deficiência visual / Divulgação

Uma outra maquete, esta voltada ao público em geral, sofreu danos ainda maiores.


Destruição de maquete ajuda a ilustrar cenário de caos criado por extremistas apoiadores de Bolsonaro / Jefferson Rudy/Agência Senado

“O que dá tristeza é a gente ter tanto trabalho pra preservar a Câmara, fazer isso com carinho, com cuidado pra manter um aspecto bonito pro visitante, e depois se deparar com tudo isso. Eu chorei tanto que me acabei de chorar. Fiquei muito arrasada. Invadiram o lugar onde a gente trabalha todo dia e onde damos o nosso melhor pras coisas funcionarem. Isso é um horror”, desabafa Jannuzzi.


Miniatura do prédio dirigida ao público em geral já passa por primeiras medidas de restauração feitas por especialistas após ataque / Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Previsibilidade

Ana Karine afirma que a tristeza se amplia quando ela associa o ocorrido no domingo a episódios anteriores visualizados pelas pessoas que trabalham ou transitam pelo Congresso. A servidora narra que há cerca de um mês, por conta de uma manifestação golpista que interditou uma das entradas da Câmara, viveu momentos de tensão por ter tido dificuldade para atravessar a portaria e receber o lanche que pediu por um aplicativo.

“Havia poucos manifestantes, um número pequeno, mas eles eram agressivos. Foi em um dia em que eles até agrediram dois parlamentares e alguns servidores, e o policial legislativo não me deixou pegar meu Ifood porque ele falou ‘é perigoso. Eles estão agressivos’, até que eu insisti e ele foi me escoltando.”

Para a servidora, o incidente de domingo demonstra a inoperância das forças de segurança, especialmente as do governo do Distrito Federal, diante do caos previamente anunciado. “Os atos poderiam ter sido previstos, e não deveriam ter sido desprezados a capacidade e a maldade dos extremistas. Até eu, que não sou envolvida com esses grupos extremistas, já sabia que haveria essa manifestação porque isso estava circulando em grupos de WhatsApp, então, não era novidade pra ninguém. As coisas estavam se construindo pra chegar a esse ponto, e isso me deixa muito triste.”

Edição: Nicolau Soares

Fonte: Brasil de Fato

Manifestação em defesa da democracia acontece nesta segunda (9) na cidade do Rio

Movimentos populares e sindicais realizam manifestação no município do Rio de Janeiro em defesa da democracia nesta segunda-feira (9). Ato está marcado para às 18h, na Praça da Cinelândia, no centro da capital fluminense. 

Segundo as organizações que convocaram o protesto, manifestação é para repudiar as ações terroristas que ocorreram no último domingo (8) nas sedes dos Três Poderes, em Brasília.

:: Movimentos vão às ruas nesta segunda em defesa da democracia; confira locais e horários ::

“Registrar o mais veemente repúdio aos atos de vandalismo e criminosos praticados no dia de hoje [8] em Brasília, atendando contra a democracia e a sede dos Três Poderes da República”, destaca a convocatória que ressalta que os movimentos populares e sindicatos passam a adotar “estado de mobilização permanente em defesa da democracia, do governo legitimamente eleito e contra o golpismo”.


Bolsonarista acompanha movimento da PM e do Exército na desarticulação de acampamento em Brasília (DF) / CARL DE SOUZA / AFP

Até o início da tarde desta segunda-feira (9), quase 60 cidades confirmaram atos em repúdio ao atentado terrorista. No Rio Janeiro, a Frente Brasil Popular, a Frente Povo Sem Medo, o Fórum das Centrais Sindicais, a Frente pelos Direitos e Liberdades Democráticas, a Coalizão Negra Por Direitos e a Convergência Negra organizam a manifestação.
Fonte: Brasil de Fato Rio de Janeiro

 

Movimentos sindicais e populares convocam atos contra o terrorismo; confira locais e horários

Contra o terrorismo e em defesa do Estado Democrático de Direito, as organizações sindicais e populares que integram as Frentes Brasil Popular, a Frente Povo Sem Medo, o Fórum das Centrais Sindicais, a Coalizão Negra Por Direitos e a Convergência Negra, além de núcleos do Partido dos Trabalhadores (PT), convocam manifestações em todo o país e no exterior nesta segunda-feira, 9.

Os atos são em defesa da democracia, das instituições, da soberania do voto popular e contra o vandalismo criminoso praticados na sede dos três poderes da República neste domingo, 8, em Brasília.

Os golpistas, que são contra o resultado das eleições de 2022 com a vitória do presidente Lula, invadiram e vandalizaram os prédios do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).

O ministro do STF, Alexandre de Moraes, determinou o afastamento do governador do Distrito Federal (DF), Ibaneis Rocha, por 90 dias.

 

Confira locais e horários dos atos no Brasil e no exterior:

 

No Brasil

AMAPÁ

 🚩Macapá

17:00 – Praça Veiga do Cabral

 

AMAZONAS

 🚩Manaus

17:00 – Largo de São Sebastião

 

ALAGOAS

 🚩Maceió

16:00 – Praça Centenário

 

BAHIA

 🚩Salvador

15:00 – Caminhada do Campo Grande até a Praça Castro Alves

 

DISTRITO FEDERAL

🚩Brasília

17:00 – Praça do Buriti

 

CEARÁ

 🚩Fortaleza

16:00 – Esquina da Avenida da Universidade com 13 de maio

 17:13 – Esquina da Antônio Sales com a Rui Barbosa

 

 🚩Maracanaú

17:13 – Esquina da Antonio Sales com a Rui Barbosa

 

ESPÍRITO SANTO

 🚩Vitória

16:00 – Universidade Federal do Espírito Santo

 

GOIÁS

 🚩Goiânia

18:00 – Praça Universitária

 

MINAS GERAIS

 🚩Belo Horizonte

18:00 – Praça Sete de Setembro

 🚩Teófilo Otoni

18:00 – Praça Tiradentes (Centro)

 🚩Lavras

18:00 – Praça Dr. Augusto Silva (Centro)

 🚩Uberlândia

18:00 – Praça Ismene Mendes (Praça Tubal Vilela)

🚩Divinópolis

17:00 – Rua São Paulo (C/Rua Primeiro de Junho)

 🚩Montes Claros

18:00 – Praça Dr. Carlos Versiani (Centro)

 🚩Poço de Caldas

18:00 – Praça do Coreto (Praça Pedro Sanches – Centro)

 🚩Alfenas

18:00 – Antiga rodoviária (Praça Emílio da Silveira)

 

RIO GRANDE DO NORTE

 🚩Natal

17:00 – Em frente ao Midway

 

RIO GRANDE DO SUL

 🚩Porto Alegre

18:00 – Esquina Democrática

 🚩Pelotas

18:00 – Chafariz da 7 de setembro / Esquina Democrática

🚩Rio Grande

18:00 – Largo Dr. Pio

 🚩Santa Maria

18:00 – Praça da Locomotiva

 🚩Santa Cruz do Sul

18:00 – Praça da Bandeira

 

RIO DE JANEIRO

 🚩Rio de Janeiro

18:00 – Cinelândia

 

PARÁ

 🚩Belém

18:00 – Mercado de São Brás

 

PARAÍBA

 🚩João Pessoa

14:00 – Sindicato dos Bancários

 18:00 – Busto do Tamandaré

 

PARANÁ

 🚩Curitiba

18:00 – Praça Santos Andrade

 

PERNAMBUCO

 🚩Recife

16:00 – Praça do Derby

 

SANTA CATARINA

 🚩Florianópolis

18:00 – Largo da Alfândega

 

SÃO PAULO

 🚩São Paulo

18:00 – MASP

 🚩Campinas

17:00 – Largo do Rosário

 

TOCANTINS

 🚩Palmas

17:00 – Parque dos Povos Indígenas

 

No Exterior

09/01 🇩🇪 Berlim – em frente a Embaixada Brasileira em Berlim. 16h (horário local)

09/01 🇩🇪 Frankfurt – em frente o Consulado Brasileiro, Honsaallee 32A, 15h às 19h (horário local) Organização: QuilomboAlle

09/01 🇦🇷 Buenos Aires – Embajada de Brasil en Buenos Aires, Cerrito 1350, 18h. (horário local)

09/01 🇪🇸 Barcelona – Concentração Font de Camaletes, Las RAMBLAS. 19h (horário local)

09/01 🇪🇸 Madrid – Plaza de Las Cortes, 19h

09/01 🇺🇸 Nova York – Union Square. 5pm (horário local).

09/01 🇺🇸 Boston – na frente do Consulado Brasileiro. 6pm (horário local).

09/01 🇲🇽 Cidade do México – Centro Cultural Brasil- México, Calle Arquimedes 98, Polanco, Miguel Hidalgo, 11550. 6pm (horário local).

09/01 🇮🇹 Roma– Piazza di Paquino. 16h(horário local).

09/01 🇬🇧 Londres – em frente a Embaixada do Brasil em Londres, 6pm (horário local)

09/01 🇨🇭 Zurich – em frente ao Consulado Brasileiro. 15h (horário local)

10/01 🇨🇦 Montreal – Consulado Geral do Brasil em Mmontreal. 17h30 (horário local)

11/01 🇵🇹 Lisboa – local e horário a definir.

Nota de repúdio

O Partido dos Trabalhadores de Paris emitiu nota de repúdio aos atos antidemocráticos deste domingo em Brasília. Confira abaixo:

PT de Paris convoca ato de repúdio à violência criminosa promovida por bolsonaristas em Brasília

Diante das cenas de barbárie acontecidas neste domingo (8) em Brasília, o núcleo do PT em Paris convoca brasileiros e franceses para um ato em defesa da democracia e contra os atos terroristas promovidos por bolsonaristas.

“Repudio, com a máxima energia, os atos de vandalismo que aconteceram em Brasília e que só puderam acontecer com a anuência e o apoio das forças policiais do Distrito Federal. Este foi claramente um ato terrorista, com intenções golpistas, mas o espírito democrático do Brasil resiste e esses criminosos serão responsabilizados pelos seus crimes”, afirma Esdras Ribeiro, coordenador do diretório do PT em Paris.

Fonte: PT

 

Dino reage a atos antidemocráticos em SP: “extremistas não vão mandar no Brasil”

Brasília – Entrevista coletiva com o overnador do Maranhão, Flávio Dino (Valter Campanato/Agência Brasil

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse neste sábado (7) nas redes sociais que a pasta está mobilizada para atuar diante de atos antidemocráticos, como os registrados em São Paulo na noite dessa sexta-feira (6).

“Desde cedo, eu e os diretores gerais da PF e da PRF estamos em diálogo e definindo novas providências sobre atos antidemocráticos que podem configurar crimes federais. Vamos manter a sociedade informada. Pequenos grupos extremistas não vão mandar no Brasil”, afirmou.

Na noite de ontem (6), vídeos publicados nas redes sociais mostraram uma mobilização de pessoas interrompendo o trânsito na via de acesso ao Aeroporto de Congonhas, em São Paulo.

Leia também: “Síndico” do Alvorada com Bolsonaro é pastor e atuava como agente de turismo durante expediente

Nas imagens, as pessoas se identificam como parte de grupos que não aceitam o resultado das eleições presidenciais de outubro passado e pedem a saída do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em uma das carreatas, um bolsonarista agrediu uma mulher que tentava defender uma idosa, também atacada por um fanático.

Na postagem, Flávio Dino citou o registro de atos políticos em outras localidades “inclusive com absurdas agressões” e pediu que pessoas agredidas procurem delegacias para o registro das ocorrências – se possível, com imagens.

“Reiteramos que liberdade de expressão não abrange agressões físicas, sabotagens violentas, golpismo político”, afirmou.

:: Como psicanalistas e psicólogos analisam os atos antidemocráticos diante dos quartéis ::

“Depois do registro da ocorrência policial, sugiro o envio ao Ministério Público que, certamente, vai atuar contra arruaceiros nas suas cidades“, disse Dino. “Sobre crimes federais, estamos tomando todas as providências, inclusive na manhã deste sábado”, completou.

Ainda por meio do Twitter, o ministro informou que, desde cedo, está em contato com os diretores-gerais da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal para definir providências sobre o que chamou de “atos antidemocráticos que podem configurar crimes federais”.

Com Agência Brasil e Revista Fórum

Fonte: Brasil de Fato

(7/1/23)

Desarmamento e combate a feminicídio serão prioridades no Ministério da Justiça

A partir do dia 1º de janeiro, dentre as prioridades do Ministério da Justiça estarão a redução do armamento da população, o combate ao feminicídio, à violência policial e aos crimes de ódio. É o que pontua o próximo titular da pasta, Flávio Dino (PSB), em recente entrevista concedida para o jornal O Estado de S. Paulo. O ex-governador do Maranhão e senador eleito em 2022 com cerca de 2,2 milhões de votos disse, ainda, ver elementos de terrorismo nos episódios de violência promovidos por bolsonaristas em Brasília no início da semana e declínio do que chamou de “partidarização indevida da força policial”.

Flávio Dino explicou que um mecanismo para estabelecer as prioridades da nova gestão será a divisão entre os estados da verba do Fundo Nacional de Segurança Pública. “Vamos alinhar os critérios de acordo com as metas. Não posso interferir nas prioridades dos governadores, independência total. Agora, na partilha dos recursos do Fundo Nacional nós temos metas nacionais a cumprir com, por exemplo, combate ao armamentismo, apoio às vítimas de crimes violentos, combate a feminicídio, combate a crimes de ódio. Esses são pontos que passarão a ser valorados. Estados que implantam câmera ou não implantam câmera nos uniformes dos policiais a gente vai valorar. A gente acredita que é importante combater a violência policial. Ninguém é obrigado a fazer, mas quem fizer a gente vai valorar mais. Essa é a ideia geral”, afirmou para o Estadão. Ele também revelou a criação da Secretaria de Acesso à Justiça, dedicada especialmente ao combate ao racismo e ao feminicídio.

Caráter terrorista

Sobre os atos antidemocráticos promovidos por grupos bolsonaristas em Brasília na segunda-feira (12), Flávio Dino afirmou haver a possibilidade de caráter terrorista, pois enxerga crimes com intuito político. “Essa é a fronteira que demarca a fronteira de terrorismo e de crimes contra o estado democrático de direito. Na medida que ali havia sim intuito político evidente, é um enquadramento possível. Tanto na lei do terrorismo quanto no capítulo do Código Penal sobre crimes contra o estado democrático de direito”. O ex-governador maranhense, porém, destacou que a confirmação dessa tese não depende do ministro e sim do delegado que vai conduzir os inquéritos e do Ministério Público.

Politização das polícias

O aparelhamento e a partidarização indevida das polícias, em especial da Polícia Rodoviária Federal (PRF), durante o governo Bolsonaro, também estará na pauta do Ministério da Justiça a partir do mês que vem. E o caminho, segundo Flávio Dino, não passar por uma canetada. “Não se supera com um momento mágico de repactuação”, disse. “Supera com uma agenda de trabalho. ‘Olha, a agenda é essa aqui e nós vamos caminhar por aqui’. Quem quiser vir, ótimo, é seu dever. E quem não quiser cumprir seu dever? Seguiremos o que a lei manda. Um servidor público não pode escolher a qual governo ele serve.” O futuro titular da pasta disse, ainda, já ver declínio na politização da PRF. “Progressivamente, há uma acomodação. A pessoa teve a sua opção eleitoral, legítima, mas não está mais de modo expressivo militando, brigando por essa opção. Temos fatores objetivos. Lula foi diplomado, não houve grandes atos de massa, o Bolsonaro sem capacidade de reação, as badernas e arruaças acabaram afastando pessoas.”

Reunião do grupo de transição do Ministério da Justiça (Isaac Amorim/MJSP)

Polícias Estaduais

O comportamento das polícias estaduais, apesar de fora da gerência direta do governo federal, também terão atenção da próxima gestão do Ministério da Justiça. “Entre o ministro da Justiça e as polícias tem o governador e o secretário de segurança. Jamais, no âmbito do SUSP vai ter ideia de subtrair a autoridade do governador ou de um secretário. Isso deu errado. Uma das razões das dificuldades de melhoria da segurança foi essa atitude de plantar motim em polícia como a gente viu no Ceará. Havia claramente uma sabotagem contra o governador. Como contornar isso? Prestigiando a autoridade dos governadores. Esse é o caminho. Não vai ter um diálogo nosso direto com as polícias estaduais porque não nos cabe.”

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Fonte: Rede Brasil Atual