Em outros tempos, estudava também a estas horas. Agora são os ares de renovação do que ainda resta de democracia no Brasil, o que me faz vir aqui. O ataque deste domingo passado, aos prédios do STF, Palácio do Alvorada e Legislativo em Brasília, foram mais do que meros ataques a símbolos da república. O que foi praticado foi um ataque em tudo inaceitável, à população brasileira como um todo. O símbolo é a coisa.
Infelizmente para os neonazistas e as neonazistas, tudo foi filmado e a justiça está agindo. Tarde, mas firmemente. Digo tarde porque tudo isto começou a ser visto já em 2013. 2016 aprofundou a ruptura da ordem constitucional. Um golpe de estado. Em pleno século XX um golpe de estado. Um golpe de estado sucedido de uma eleição viciada da qual emergiu um insólito des-presidente. As hostes seguidoras do tal, agora começam a ser dispersadas. Muito tarde. Tudo tarde. Mas enfim, a sociedade começa a respirar melhor.
Vai ser uma dura tarefa reconstruir a democracia. Reconstruir o país. E a justiça ainda anda lenta demais para meu gosto. Não gosto de assumir a postura de quem está por cima das instituições. Ao contrário, como cidadão acolhido nesta terra, ajo muito mais por dever profissional e cívico, do que por qualquer outra motivação. Não entendi como é que o Judiciário não puniu a agressão de que foi objeto a Presidenta Dilma Rousseff durante o golpe parlamentário de 2016.
O torturador de Dilma Rousseff foi citado por quem logo depois viria a se tornar o pior presidente de toda a história do Brasil. Todo mundo viu. Era rede nacional de TV. Voto a voto, os e as golpistas cuspiram na nossa cara. Nunca engoli isso. Agressão covarde e canalha. Dilma não merecia isto. O Brasil não merecia isso. Mas veio pior ainda. Você deixa a ordem social ir pro espaço, tudo vai por agua abaixo.
Sem regras, normas e valores, inexiste a sociedade. E o estado que deveria ser o guardião da ordem, torna-se o contrário. O agente da destruição. Quando digo ordem, não é legitimando a desigualdade de uma sociedade injusta, baseada na exploração. Estou apontando a algo mais elementar. Algo que o presidente Lula levou em conta durante os seus dois governos anteriores, e novamente se propõe a fazer. Costurar um país desgarrado. Garantir o mínimo de uma existência digna para o conjunto da população.
O mundo deu muitas voltas desde 2013 até hoje. Papa Francisco. Os encontros de movimentos sociais com o vaticano. A revalorização da economia informal. As mudanças no mundo do trabalho. As redes sociais formando e deformando opiniões e atitudes. Como sociólogo formado em várias instituições de ensino superior, não posso simplesmente calar e fazer de conta. Tenho a obrigação de ao menos dizer a que vim.
A recuperação da democracia e a reconstrução social e nacional que o Presidente Lula encabeça, devem prosseguir. Julgar e punir a totalidade dos crimes cometidos contra a humanidade é imperioso. Se o Brasil ou uma parte dele fecharam os olhos para as violações de DDHH cometidas durante estes dez anos, a justiça tem a palavra. É hora de agir. Crime não punido deixa de ser crime. Torna-se norma. Normal. Não pode! Tortura é crime. Calúnia e difamação são crimes. Prisão ilegal é crime. E por aí vai. E não posso menos que dizer, a título de conclusão, que professor e professora também são gente. Há anos que não vemos uma melhora no nosso ordenado! Bom dia!
Foto: Émile Durkheim
Doutor em sociologia (Universidade de São Paulo). Mestre em sociologia (IUPERJ-Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro). Licenciado em sociologia (Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, Argentina). Professor aposentado da UFPB. Terapeuta Comunitário Formador. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Autor de “Max Weber: ciência e valores” (São Paulo: Cortez Editora). Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/