Arquivo da tag: catolicismo

Catolicismo mofado

Por Fernando Altemeyer*
Andando por algumas cidades brasileiras é fácil encontrar jovens/adolescentes com uma espiritualidade doentia e alienante. Em certas dioceses e até com uma presumível cumplicidade de pastores brotam aos borbotões “escravos de Maria”, “cercos de Jericó”, “missas de cura e libertação” “marchas em roupas medievais”, “exorcismos descontrolados e líderes autoritários”.
Já se vê dezenas de jovens com correntes nos braços, nas pernas e amarrando cilício nas pernas e barriga para sangrar em “nome de Maria (sic)”. Meninas jovens de véu na cabeça nas missas, gente rezando terço fora de hora, plenos de tiques nervosos e exigindo receber a Eucaristia na boca, pois a mão não seria santa o suficiente.
Antropologia doente. Mente doente. Corpo adestrado. Há ainda os que seguem cegos a padres autoritários evidentemente narcisistas.
É a Igreja Feudal voltando com tudo e destroçando a pastoral da Igreja comunidade de comunidades. As orientações da CNBB nem sequer são conhecidas. A pastoral é desvinculada da Palavra de Deus.
Tudo fica reduzido a crendices e amuletos. E as Televisões católicas e livrarias católicas vendendo ainda mais amuletos, textos demagógicos, roupas e túnicas douradas e muito perfume e incenso grego caro e supérfluo. Há até exércitos com roupas exóticas em comunidades e igrejas.
Quando acordarmos da letargia, o estrago será profundo. Os fungos continuam em ação comendo o pão da vida e fazendo-o morrer. É preciso ver a doença e prevenir.
*O autor é teólogo leigo, possui graduação em Filosofia e em Teologia, mestrado em Teologia e Ciências da Religião pela Universidade Católica de Louvain-La-Neuve, na Bélgica, e doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC. Atualmente é professor e integra o Departamento de Ciência da Religião, da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-SP.

Pedro, o papa e nós

Na festa de São Pedro e São Paulo, a Igreja Católica lê o evangelho que diz “Tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16, 13- 19).

Como dizia o padre Comblin, muitos exegetas duvidam de que esse texto faça parte da redação original do evangelho de Mateus, o único que contém as palavras de Jesus a Pedro (embora os três sinóticos contem esse episódio da conversa de Jesus com os discípulos na região de Cesaréia de Filipe). De certa forma, isso pouco importa já que o texto nos foi transmitido desde antigamente como fazendo parte do evangelho e descobrimos nele uma palavra de Jesus para Pedro e para nós todos que querem.

Cresci ouvindo os pregadores dizerem que Jesus comparou Pedro com uma pedra firme, sólida, dura – a rocha sobre a qual a Igreja é construída. Só recentemente, descobri que o tipo de pedra que era chamada de petros na região da Palestina na época dos evangelhos, era uma espécie de pedra de sabão, com a qual as pessoas pobres faziam frequentemente grutas para se abrigarem. Então, se isso é verdade, Jesus teria dito que Simão Pedro deveria ser como uma dessas pedras – grutas de acolhimento dos pobres para se tornar como a rocha que é Jesus, “a pedra que os construtores rejeitaram e se tornou pedra angular” (Salmo 118), pedra única e fundamental sobre a qual a Igreja deve ser construída.

Isso muda muito a compreensão do ministério de Pedro e todo o ministério dos discípulos de Jesus. Jesus os compara com um lugar de acolhida aberta a todos e não com um rochedo seguro e duro. Ao mesmo tempo, Jesus dá a Pedro a capacidade de interpretar as Escrituras (dar-te-ei as chaves do reino dos céus), o discernimento dos projetos divinos, o cuidado de como esse projeto divino está se realizando no mundo. Isso nos confirma que o ministério não é apenas em função da própria Igreja e sim do projeto divino no mundo – na realidade social e política do mundo.

A tradição católica sempre leu isso como se referindo ao papa, já que acredita que o bispo de Roma é o sucessor de Pedro. Independentemente se se pode provar ou não essa materialidade da sucessão apostólica, embora só se saiba historicamente de bispos cristãos em Roma, a partir de Víctor, na época de Santo Irineu (metade do século II), a Igreja tem o direito de atribuir ao bispo de Roma essa responsabilidade da unidade de todas as Igrejas. E se se desvincula o papa da figura imperial assumida no decorrer dos tempos, todas as Igrejas históricas aceitariam que o bispo de Roma pudesse exercer um ministério de coordenação e unidade.

Graças a Deus, o papa Francisco tem retomado a doutrina do Concílio Vaticano II sobre a importância das Igrejas locais (Igreja é essencialmente local) e tem sempre se apresentado como bispo de Roma e coordenador do colégio apostólico. No clero, no meio dos bispos e de alguns movimentos leigos de direita (Opus Dei, Arautos do Evangelho, Comunhão e Libertação e outros), o papa Francisco tem enfrentado hostilidade e até oposição aberta e clara. De certo modo, isso não é ruim e o papa tem aceitado isso normalmente. Ao contrário dos anteriores, que não toleravam quaisquer diferenças, quanto mais dissidências.

Se olhamos a história do papado em Roma e vemos como o papa Francisco tem procurado mudar o jeito como o papa se apresenta (tirou todas as pompas e assumiu a simplicidade como seu modo de ser), compreendemos que não é fácil para os católicos tradicionais. Conta-se que um dos seus secretários (o mordomo da Casa Pontifícia) o censurou porque, em uma celebração importante (na entrada do Advento), ao contrário dos papas anteriores, esse papa entrou na Basilica de São Pedro, vestido de forma simples (o monsenhor dizia ironicamente: entrou vestido como pároco do interior do seu país lá no fim do mundo). E o monsenhor concluía: “Desse modo, aonde vamos chegar?”. E o papa lhe respondeu: “Se vocês me deixarem, ao evangelho de Jesus”.

Da dupla cegueira e da dupla cura (Ângelus de hoje)

Segue o breve e denso pronunciamento do Papa Francisco, por ocasião da hora do Ângelus (meio dia, horário de Roma):
“Caros irmãos e irmãs!
O Evangelho de hoje nos apresenta o episódio do cego de nascença, a quem Jesus dá a vida. A longa narrativa começa com um cego que começa a enxergar, e encerra-se – e isto é curioso – com os supostos videntes que continuam a permancer cegos na alma.
O milagre é contado por João em apenas dois versículos, porque o evangelista quer chamar a atenção, não para o milagre em si, mas para aquilo que se passa depois, sobre as discussões que suscita.
Quantas vezes uma boa obra, uma obra de caridade suscita discussões, porque há alguns que não querem enxergar a verdade.
O evangelista João quer chamar a atenção sobre isto que também acontece em nossos dias, quando se faz uma boa obra. O cego curado é interrogado, primeiro, pela multidão perplexa: viram o milagre e o interrogam. Depois, ele é interrogado pelos doutores da Lei. E estes também interrogam os pais dele. Enfim, o cego tem sua fé, e esta é a graça maior que Jesus lhe fez. Não só de vê-Lo, mas de conhecer a Jesus como a Luz do mundo.
Enquanto o cego se aproxima progressivamente da Luz, os doutores da Lei, ao contrário, cada vez mais mergulham em sua cegueira interior. Confinados em sua presunção, acreditam já possuír a luz, razão por que não se abem à verdade de Jesus. De tudo fazem para negar a evidência. Põem em dúvida a identidade do homem curado. Em seguida, negam a ação de Deus na cura, tomando como desculpa que Deus não opera em dia de sábado. Até chegam a duvidar de que aquele homem tivesse nascido cego. O fechamento deles à Luz torna-se agressiva, materializada na expulsão do homem curado, do templo.
Ao contrário disto, o caminho do cego constitui um percurso em etapas. Parte do conhecimento do nome de Jesus. Não O conhece. Dizia: “o homem que se chamava Jesus fez lama e a espalhou sobre meus olhos”. Em seguida, ante as insistentes perguntas dos doutores, o considera, primeiro, um profeta; depois, um homem perto de Deus. Após ser afastado do templo, expulso pela sociedade, Jesus o encontra de novo, e lhe abre os olhos, pela segunda vez, revelando-lhe sua própria identidade: “Eu sou o Messias”, assim lhe diz. A essa altura, aquele que era cego, exclama: “Eu creio, Senhor!” E se põe diante de Jesus.
Eis uma parte do Evangelho que faz ver o drama da cegueira interior de tanta gente. Inclusive a nossa, porque nós também temos, algumas vezes, momentos de cegueira interior. Por vezes, a nossa vida é semelhante àquela do cego que se abriu à Luz, que se abriu a Deus, que se abriu à Graça. Nâo raro, é um pouco como aquela dos doutores da Lei: do alto do nosso orgulho, julgamos os outros, até ao Senhor.
Hoje, somos convidados a abrir-nos à Luz de Cristo, para dar frutos em nossa vida, para eliminar comportamentos que não são cristãos. Todos somos cristãos, mas todos nós, todos, temos, algumas vezes, comportamentos que não são cristãos, comportamentos que são pecados, e disto devemos arrepender-nos. E a eliminar esses comportamentos para caminharmos decididamente no caminho da santidade, que tem origem no Batismo. No Batismo, somos iluminados, a fim de que, como lembra São Paulo, “possamos comportan-nos como filhos da luz, com humildade, paciência e misericórdia.” Esses doutores da Lei não tinham nem humildade, nem paciência nem misericórdia.
Hoje, eu lhes proponho: quando retornarem à sua casa, tomem o Evangelho de João, e leiam esse trecho do capítulo 9. É este. Vai fazer-lhes bem, porque assim, vocês verão esse caminho da cegueira à luz, e aquela outra estra cativa em direção a uma cegueira mais profunda. E perguntemo-nos: como é o nosso coração? Como é meu coração, como é seu coração, como é o nosso coração?
Eu tenho um coração aberto ou um coração fechado? Aberto ou fechado em relação a Deus? Aberto ou fechado em relação ao próximo? Sempre temos em nós algum tipo de fechamento vindo do pecado, vindo do erro. Não tenhamos medo! Não tenhamos medo! Abramo-nos à Luz do Senhor! Ele está sempre a nos esperar. Ele está sempre a nos esperar! Para fazer-nos ver melhor, para nos dar mais luz, para nos perdoar. Não esqueçam isto: Ele sempre está a nos esperar.
À virgem Maria confiemos o caminho quaresmal, para que também nós, como o cego curado com a graça de Cristo, possamos vir à Luz, caminhar mais adiante na Luz, e renascer para uma vida nova.”
Neste link, veja o pronunciamento:

José Comblin: Comunidad cristiana

“El Nuevo Testamento enfatiza también otro aspecto de la comunidad cristiana. Ella es una comunidad abierta. Todas las comunidades humanas tienden a cerrarse sobre sí mismas y a acentuar la separación entre ellas y el resto de la humanidad. Ellas insisten en sus señales de identificación. Con el pasar del tiempo van multiplicando un lenguaje propio que los demás no entienden, señales de reconocimiento, costumbres, estilo de convivencia, ritos, frases, etc.

Infelizmente, con el pasar de los tiempos, la Iglesia católica creó para sí misma un fortísimo sistema de identidad. Como herencia de la cristiandad, ella construyó una cultura casi completa. Ser católico pasó a ser sinónimo de revestirse de toda una cultura inmediatamente reconocible. Lo que hace reconocer a un católico no es la práctica del evangelio, sino toda una inmensa serie de señales exteriores. Cada año, la serie de señales de identificación aumenta –como si eso no llevara a una separación de la humanidad y a hacer más difícil la evangelización. Además de eso, los católicos en general tienen más orgullo de sus señales de identificación que del evangelio. Muestran sus señales de identidad como si pretendieran descubrir en ellos pruebas de superioridad, lo que los hace muy desagradables a los demás.

Sin embargo, para San Pablo, lo que distingue la comunidad cristiana es que ella se libera de todas las señales que la separan de los demás. La supresión de la circuncisión es un símbolo – significa que desaparecen todas las señales que asocian el mensaje de Cristo a una cultura. Ara Pablo no hay más griego o judío, esclavo o amo, hombre o mujer. La comunidad está abierta a todos. Esa apertura debe ser visible. Nadie puede sentirse excluído por causa de señales culturales.

A medida que la Iglesia se identifica con una cultura que no es la de los pobres, los excluye. Hay una gran diferencia entre la cultura de los pobres y la de los ricos. Éstos se niegan a ver esa distancia, pero todos saben que ella existe. Puede variar en los diferentes países, pero la cultura de los pobres es siempre diferente de la de los ricos. La cultura predominante en la Iglesia católica es la de los ricos –salvo excepciones, muy marginalizadas por la Iglesia. Se trata de cristianos, pero que no participan de los actos oficiales de la Iglesia. La participación de los pobres es insignificante en las misas y en otros actos religiosos que se desarrollan dentro de los templos. Aún puede haber alguna participación en las procesiones y en las romerías –dependiendo de la forma como son organizadas. Si los actos religiosos muestran señales evidentes de la cultura de los ricos, los pobres no participan.

Fue dicho que la Iglesia había hecho opción por los pobres, pero eso no ocurrió. Ella puede haber asumido la defensa de los pobres y hasta haber luchado por la liberación de ellos, pero aún así los pobres no se reconocieron en la cultura católica. Ellos aceptan entrar en pequeñas comunidades hechas de pobres – fuera de los templos y de la convivencia con los católicos ricos –, pero es muy raro que entren en una iglesia parroquial católica o en una capilla de barrio. La cultura existente no es la de ellos.

¿Es posible una comunidad cristiana vivir sin ninguna cultura? Claro que no. Pero la verdadera cultura cristiana debería ser la cultura de los pobres.”

José Comblin, O Caminho. Ensaio sobre o seguimento de Jesus (São Paulo, Ed. Paulus, 2004), pp. 203-204

Chile: Discutiendo la “Marcha por la Alegría”

Se programa en Santiago de Chile una llamada “Marcha por la Alegría de ser Católico”. El movimiento Cristianos en Misión ofrece los siguientes puntos de reflexión.

Sres. Directivos de la
MARCHA POR LA ALEGRIA
Presente.-

Reconocemos su buena voluntad en cuanto al encuentro que anuncian con gran despliegue publicitario- mediático para el 15-10-11 y por ello deseamos informarles que ha sido percibido por amplios sectores, laicales y religiosos, como que los organizadores tuvieran unas intenciones muy ajenas a lo que es propio de nuestra Iglesia en estado de Misión.

No creemos nosotros y nosotras que les anime algún espíritu de “Cruzada” agresiva que nuestros antepasados desencadenaran allá por el Siglo 12, no, no es posible pensarlo. Tampoco damos crédito a quienes están entendiendo que ustedes son lefebvrianos, aunque sin Lefebvre. Y que proyectan darle grandes aplausos al Pontífice de Roma y rendirle “culto a la personalidad”, pero ignorando la prédica Pontificia sobre justicia social, ecumenismo y otras: imposible, porque ustedes saben muy bien aquello del Deuteronomio 6,13 y de MT. 4-10 “Al señor tu Dios adorarás y solo a Él darás culto”.
Aunque hablan de “orgullo” y de actitudes un poquito prepotentes, frente a otros sectores, no desearíamos nosotros ni sospechar que se van a parecer a los “Heraldos”, que acaban de protagonizar un gran escándalo en el Obispado de Sucumbíos (Ecuador).

Ni se van a semejar a los “Cristeros” de la Historia de México; tampoco representan ustedes algún residuo de nuestra “Fiducia”, chilena de triste y no lejano recuerdo. No, no es posible: ustedes no son discípulos de aquella Parroquia, lamentablemente célebre en nuestros días y que un tiempo atrás escondió a algunos co-responsables del asesinato del General René Schneider. Así mismo queremos descartar que ustedes vayan a salir a las calles ejercitando la “Santa intolerancia”, ni la no santa. Esperamos que tampoco va a estar en su sentir que “Nacieron para caudillos, frente a muchos otros que no salen del montón”.

En todo lo anteriormente expuesto, pensamos, ustedes no van a caer.
En lo positivo: Esperaríamos que lean el Evangelio en la Plaza de Italia y donde deseen, que prediquen el Reino, con la llamada hermenéutica de nuestro tiempo y su realidad. Parte de esta situación real es que en nuestra tierra, una minoría se enriquece cada vez más, a costa de los más empobrecidos. Lean los evangelios, cartas de Pablo y sin falta la de Santiago; iluminen con ello, los abusos que se hacen contra los estudiantes, sus padres, los cesantes, las excluídas y los que solo tienen un salario injustamente mínimo

El Arzobispo de Santiago -don Ricardo Ezzati- el 18 de septiembre en el solemne Te Deum, denunció la “escandalosa” riqueza de unos pocos a costa del abuso de salarios injustos. ¿Ustedes también lo van a hacer?

Con esto último, que hemos llamado “en lo positivo puede crecer la ALEGRIA” (Fil.4,4).

Cristianos en Misión.

Septiembre – Octubre 2011