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Bloco Se Benze que Dá! na Maré (RJ)

Convite do pessoal do bloco da Maré, no Rio:

Querid@s companheir@s, batuqueir@s, foliões e afins, convidamos a tod@s vocês para o nosso primeiro desfile desse ano!

SÁBADO, DIA 26/02
Concentração às 15h, no Museu da Maré (Av. Guilherme Maxwell, 26, em frente ao SESI – passarela 7 da Av. Brasil)
Saída do bloco às 16h na direção da Nova Holanda

Confira a letra do samba no nosso blog: http://www.blocosebenzequeda.com/

Saudações,

Se benze que dá!”

Bloco Se Benze que Dá! na Maré (RJ)

Convite do pessoal do bloco da Maré, no Rio:

Querid@s companheir@s, batuqueir@s, foliões e afins, convidamos a tod@s vocês para o nosso primeiro desfile desse ano!

SÁBADO, DIA 26/02
Concentração às 15h, no Museu da Maré (Av. Guilherme Maxwell, 26, em frente ao SESI – passarela 7 da Av. Brasil)
Saída do bloco às 16h na direção da Nova Holanda

Confira a letra do samba no nosso blog: http://www.blocosebenzequeda.com/

Saudações,

Se benze que dá!”

Cineclube CineolhO apresenta a sessão ‘Delírio de Carnaval’ em Niterói (RJ)

Assim como o futebol, o Carnaval é uma parte constitutiva essencial do imaginário brasileiro. Curiosamente, no entanto, são dois fenômenos que o cinema brasileiro de ficção poucas vezes conseguiu filmar com a intensidade de sentimento que os fenômenos congregam.

Uma das exceções certamente esta no filme A Lira do Delírio, onde Walter Lima Jr. incorpora à própria estrutura e forma do filme uma tamanha liberdade que acabou transformando a experiência de realizá-lo, assim como a de assistí-lo, em algo próximo do êxtase e da perda de sentidos típicos da folia momesca. Triste e alegre, como o Carnaval, o filme marca ainda a última atuação de Anecy Rocha, falecida ainda antes da montagem ser concluída, e que reluz com especial brilho na tela.

Sinopse

A Lira do Delírio – Direção de Walter Lima Junior – ficção – 105mim – 1978
Os participantes do bloco de carnaval Lira do Delírio se cruzam num cabaré da Lapa carioca, onde o filho de uma dançarina é seqüestrado. Para descobrir o assassino e as razões do crime, ela conta com a ajuda de um repórter policial, que ao mesmo tempo também investiga um homicídio contra um homossexual.

Data – dia 26 de fevereiro às 16h
Local – auditório do MAC de Niterói

Acesse aqui o cartaz em PDF.

Apoio
Divisão de Arte Educação do MAC de Niterói
Programadora Brasil
Campus Avançado

Carnaval, desengano

No melhor filme brasileiro de todos os tempos, Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha, uma sequência inesquecível é a do acerto de contas entre o poeta Paulo Martins (Jardel Filho) e o político direitista Porfirio Diaz (Paulo Autran), após o primeiro haver produzido um programa de TV sobre a trajetória oportunista e entreguista do segundo.
Diaz recrimina Martins por haver traído a antiga amizade em nome da “baixa linguagem dos interesses políticos”.

Martins joga-lhe na cara o sangue que a direita derramou, dos estudantes, dos operários, dos camponeses. E lança a frase antológica:

“As nossas carnes, as vidas, tudo, vocês venderam tudo, as nossas esperanças, o nosso coração, o nosso amor, tudo! Vocês venderam tudo!”

Foi o que me ocorreu ao ler que a escola campeã do carnaval paulista, a Rosas de Ouro, desfilou sem samba-enredo. O que se viu e ouviu no sambódromo foi uma peça promocional dos chocolates Cacau Show.

Se os jurados fossem verdadeiros carnavalescos, dariam zero em todos os quesitos, rebaixando a escola que consumou a traição suprema às tradições populares.

Como não o fizeram, fica estabelecido que os sambas-enredos, doravante, não serão mais tarefa de verdadeiros compositores, mas sim de mercenários a soldo dos departamentos de criação das agências de publicidade.

Vocês venderam tudo.

Outros carnavais

Não sou propriamente um carnavalesco, mas houve músicas relacionadas a esse tema que me marcaram bastante, ao longo dos tempos.
Eis aquelas cujos links (para vocês baixarem os discos que as contêm, na versão de seu principal intérprete) conseguir localizar. Para não entediar os leitores, cito só o trecho mais significativo de cada uma delas.

“Era uma canção, um só cordão
E uma vontade
De tomar a mão
De cada irmão pela cidade

No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança”
(Chico Buarque, “Sonho de um Carnaval”)

“Não saia do meu lado
Segure o meu pierrot molhado
E vamos embolar ladeira abaixo
Acho que a chuva ajuda a gente a viver
Venha, veja, deixa, beija, seja
O que Deus quiser
A gente se embala, se embola, se embola
Só pára na porta da igreja
A gente se olha, se beija, se molha
De chuva, suor e cerveja”
(Caetano Veloso, “Chuva, Suor e Cerveja”)

“O Rancho do Novo Dia
O Cordão da Liberdade
E o Bloco da Mocidade
Vão sair no carnaval
É preciso ir à rua
Esperar pela passagem
É preciso ter coragem
E aplaudir o pessoal”
(Gilberto Gil, “Ensaio Geral”)

“Todo morro entendeu quando o Zelão chorou
Ninguém riu, ninguém brincou, e era Carnaval
No fogo de um barracão
Só se cozinha ilusão
Restos que a feira deixou
E ainda é pouco só
Mas assim mesmo o Zelão
Dizia sempre a sorrir
Que um pobre ajuda outro pobre até melhorar
(Sérgio Ricardo, “Zelão”)

“João bebeu
Toda cachaça da cidade
Bateu com força
Em todo bumbo que ele via
Gastou seu bolso
Mas sambou desesperado
Comeu confete
Serpentina
E a fantasia…

Levou um tombo
Bem no meio da avenida
Desconfiado
Que outro gole não bebia
Dormiu no tombo
E foi pisado pela escola
Morreu de samba
De cachaça e de folia…”
(Erasmo e Roberto Carlos, “Cachaça Mecânica”)

“Foi bom te ver outra vez
Está fazendo um ano
Foi no carnaval que passou
Eu sou aquele pierrô
Que te abraçou e te beijou meu amor
Na mesma máscara negra
Que esconde o teu rosto
Eu quero matar a saudade
Vou beijar-te agora
Não me leve a mal
Hoje é carnaval”
(Zé Ketti/Pereira mattos, “Máscara Negra”)

“Somos cantores
Cantamos as flores
Cantamos amores
Trazemos também
A notícia da grande alegria que vem
Pra durar mais que um dia
E ficar como antigas cantigas
Que não morrem
Que não passam jamais
Como passam sempre os carnavais”
(Gil, Torquato e Vandré, “Rancho da Rosa Encarnada”)

“Vesti minha tristeza
Com a fantasia da alegria
e com ela eu caí no carnaval
E fui com toda gente para a avenida
Cantar a vida com a doce ilusão do carnaval
Oi minha namorada, a liberdade,
Linda Colombina de quem era um pobre Pierrot”
(Sérgio Ricardo, “Fantasia da Alegria”)

“Atrás do trio elétrico
Só não vai quem já morreu
Quem já botou pra rachar
Aprendeu que é do outro lado
Do lado de lá do lado
Que é lado lado, de lá”
(Caetano Veloso, “Atrás do Trio Elétrico”)

“Mas é carnaval, não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal, deixa a festa acabar,
deixa o barco correr, deixa o dia raiar
que hoje eu sou da maneira que você me quer
O que você pedir eu lhe dou, seja você quem for
Seja o que Deus quiser”
(Chico Buarque, “Noite dos Mascarados”)

Festa da igualdade, da loucura e do prazer

“A Estação Primeira de Mangueira
passa em ruas largas

Passa por debaixo da
avenida Presidente Vargas”

(Caetano Veloso, “Enquanto Seu Lobo
Não Vem”
, 1968 – a imagem é de 1967)

A origem do carnaval perde-se na poeira dos tempos. Há quem tente remontá-la ao culto agrário praticado por povos que existiram 10 mil anos antes de Cristo: homens e mulheres mascarados, com corpos pintados e cobertos de peles ou plumas, saíam em bandos e invadiam as casas, fazendo terríveis algazarras.

Outros autores lembram as festas alegres do paganismo, como a de Ísis e a do Boi Ápis, entre os egípcios, e as bacanais, lupercais e saturnais dos romanos.

Suetônio, historiador da Roma antiga, refere-se às saturnais como “desenfreada libertinagem, cínica palhaçada”. E diz que, durante esse período “todos pareciam enlouquecer”. Armavam-se grandes mesas à frente das casas para senhores e escravos comerem à vontade, sem distinções. E os escravos tinham o direito de dizer verdades a seus donos, ridicularizá-los, fazer o que quisessem.

A componente libidinosa do carnaval é inegável em todos os textos antigos. Sabe-se, p. ex., que o termo carnaval deriva do latim carrum novalis, deignação de um tipo de carro alegórico da Grécia e Roma antigas. Dezenas de pessoas mascaradas caminhavam a seu lado e ele trazia no bojo “mulheres nuas e homens que cantavam canções impudicas”.

A Idade Média, com a rígida tutela religiosa sobre a vida social, não poderia trazer acréscimos significativos ao carnaval. Mas, pelo menos, não conseguiu extinguir esses festejos, que continuaram existindo como um contraponto à monótona existência dos feudos.

Contam alguns textos, inclusive, que os padres, depois de pregarem em vão contra o carnaval, acabavam convidando os fiéis a concentrarem as comemorações na praça da igreja, para que tal logradouro não ficasse desvalorizado…

A Renascença viria libertar os europeus da sensação de culpa que a religião procurava insistentemente associar ao prazer e à alegria. Os distantes e etéreos paraísos prometidos nos púlpitos, bem como as dantescas descrições do inferno que esperava os pecadores, tornaram-se insuficientes para afastar o povo da folia. A grande festa pagã renascia em todo o seu esplendor.

O medonho entrudo português – Para nós interessa, sobretudo, o carnaval português, conhecido como entrudo. Até fins do século 19, o nosso carnaval teria as mesmas características do “medonho entrudo português, porco e brutal”, a que se refere uma historiadora, assim descrevendo-o: “pelas ruas de Lisboa, generalizava-se uma verdadeira luta em que as armas eram os ovos de gema, ou suas cascas contendo farinha ou gesso, cartuchos de pó de goma, cabaças de cera com águas de cheiro, tremoços, tubos de vidro ou de cartão para soprar com violência, milho e feijão que se despejam aos alqueires sobre as cabeças dos transeuntes…”

A pesquisadora Eneida, em sua História do Carnaval Carioca, relaciona diversos casos para comprovar que, a exemplo do que ocorria na Roma de Suetônio, o carnaval aqui também se constituía no único período em que os escravos desfrutavam de uma certa liberdade. E conclui: “Parece que uma das características do carnaval é dar aos escravos de qualquer época o direito de criticar e zombar de seus senhores”.

Os limites da democracia, entretanto, sempre foram muito exíguos no Brasil, então houve também medidas caracteristicamente discricionárias. Em 1857, o chefe de polícia do Rio de Janeiro lançou um edital proibindo “o jogo do entrudo dentro do município. Qualquer pessoa que o jogar incorrerá na pena de 4$ a 12$ e não tendo com que satisfazer, sofrerá oito dias de cadeia, caso o seu senhor não o mande castigar no calabouço com cem açoites”. Ou seja, multa para os brancos proprietários, xilindró e chicotadas para os escravos. A relatividade vem de longe…

A agressividade igualmente se evidencia em todos os textos da época. Sabe-se, p. ex., que o único objeto de divertimento do carnaval brasileiro era o limão de cheiro, uma imitação de laranja, com invólucro de cera e água fétida por dentro.

O pintor e engenheiro Jean-Baptiste Debret, que aqui veio com a Missão Artística Francesa em 1818, ficou estarrecido com a selvageria explícita: “Vi jovens negociantes ingleses passearem, com orgulho e arrogância, acompanhados por um negro vendedor de limões cujo tabuleiro esvaziavam pouco a pouco, jogando os limões às ventas de pessoas que nem sequer conheciam”.

Episódios deste tipo o marcaram tanto que um de seus desenhos mais famosos, Cena de Carnaval, mostra uma negra atacada na rua por um crioulo de cartola, que lhe esfrega no rosto um bocado de goma, enquanto o outro negro ensopa o primeiro com água de uma longa seringa.

Apenas no final daquele século a agressividade foi se atenuando e as bisnagas passaram a conter, ao invés de água suja, líquidos menos repugnantes, como vinagre, groselha e vinho; idem os limões de cheiro, cujas águas fétidas e até urina foram trocadas por inofensivos perfumes.

Zé Pereira! Bum, bum, bum! – O personagem mais característico do carnaval brasileiro surgiu em meados do século 19 e logo se tornou uma instituição popular. Trata-se do Zé Pereira, calcado na figura do sapateiro José Nogueira de Azevedo Pereira.

Português de nascimento, ele um dia entretinha-se com outros patrícios, recordando as romarias, estúrdias e estrondos da pátria distante. A saudade era tanta que eles resolveram sair à rua, ao som de zabumbas e tambores alugados às pressas, para fazer uma passeata pela cidade.

Foi um enorme sucesso, logo copiado por dezenas de grupos semelhantes, fazendo com que o Zé Pereira se transformasse num personagem mística, identificado com o próprio carnaval (“E viva o Zé Pereira/ Pois que a ninguém faz mal/ E viva a bebedeira/ Nos dias de carnaval”).

Para a historiadora Eneida, o Zé Pereira “foi essencialmente o carnaval do pobre. Tão fácil, no meio da miséria reinante, sair à rua com bumbos e tambores, uma camisa qualquer, uma calça de qualquer espécie e fazer barulho, alegrar com um ritmo efusivo as ruas e os bairros!”.

Seu desaparecimento, no começo do século passado, é indício de que o carnaval perdia espontaneidade, tornando-se festa opulenta e regulamentada, sem espaço para os improvisos populares.

Mas, a alma do Zé Pereira sobrevive nos blocos dos sujos, que insistem em se formar sem ensaios e mensalidades, para existir num momento e viver intensamente esse momento, na melhor tradição do carnaval.

Samba e umbigada – Até o início do século passado samba e carnaval tiveram trajetórias distintas, que foram convergindo no sentido de uma perfeita complementação.

O samba remonta à chegada no Brasil de escravos negros, que logo foram introduzindo seus ritmos, danças, cantigas, costumes e crenças. Assim, após o trabalho exaustivo (ou nos raros dias de folga), eles dançavam e batucavam com seus instrumentos rudes, nos terrenos das fazendas, engenhos e canaviais. Alegria sofrida, ritmo de quem esforçava-se por esquecer a tristeza, as privações e os maus tratos.

O batuque tipicamente africano foi caindo em desuso com o desaparecimento dos nativos daquele continente. Uma variação abrasileirada espalhou-se por todo o País, já com a denominação de samba. E, na zona rural, o encontro de culturas deu origem a uma derivação pitoresca, os chamados sambas sertanejos, em que homens e mulheres participavam da roda cantando em coro, ao som de instrumentos de percussão e da viola de arame.

Segundo um cronista da época, “os dançadores formam roda e, ao compasso de uma viola, move-se o dançador do centro, avança e bate com a barriga de outro da roda, uma pessoa de outro sexo. Não se pode imaginar uma dança mais lasciva do que esta, razão por que tem muitos inimigos, principalmente entre os padres”.

Lenço no pescoço – A fase heróica do samba foi a da pernada carioca, diversão a que se entregavam os remanescentes dos inúmeros grupos de capoeiristas existentes no Rio de Janeiro em fins do século 19.

Tratava-se de uma batucada braba, na base da pernada e cabeçada, regada com doses cavalares de cachaça (“Samba de negro/ Não se pode frequentá/ Só tem cachaça/ Pra gente se embriagá”).

Os conflitos eram corriqueiros e a presença da polícia, também, dando origem a verdadeiras batalhas campais, em que instrumentos musicais serviam como armas e algumas cabeças acabavam sempre rachadas (“Tava num samba/ Lá no Sarguero/ Veio a polícia/ Me jogou no tintureiro”).

O samba era tido como coisa de pretos, malandros e marginais. A posse de um violão ou qualquer outro instrumento de samba bastava como prova de que o indivíduo era vadio e merecia ser preso. E a brutalidade da polícia tinha resposta à altura por parte dos bambas. Mortes ocorriam de lado a lado.

Foi a época do tipo celebrizado por Wilson Batista, com seu andar gingado, chapéu tombado, olhar dormente, fala cheia de gírias, lenço de seda no pescoço (para proteger-se das navalhadas), camisa listrada, calças largas (boca-de-sino) ou balão (bombacha) caídas sobre os sapatos de bico fino com salto carrapeta (mais tarde, tamancos) e, evidentemente, a inseparável navalha.

Os versos do sambista da Lapa o descreve admiravelmente: “Meu chapéu de lado/ Tamanco arrastando/ Lenço no pescoço/ Navalha no bolso/ Eu passo gingando/ Provoco desafio/ Eu tenho orgulho de ser vadio”.

Trata-se de uma figura que, como o verdadeiro carnaval, sairia de cena entre as décadas de 1930 e 1940.

O Pinto e os índios – O carnaval era uma pedra no sapato dos autoritários de todos os matizes. Os chefes de polícia, desde meados do século 19, lançaram uma interminável série de editais, ora proibindo, ora regulamentando os festejos.

No carnaval carioca de 1888, entre as muitas determinações draconianas, figurava a de que, “sem a autorização do Chefe de Polícia, não podem aparecer críticas, principalmente ao Governo”.

Episódios anedóticos ocorreram aos montes. Um delegado carioca chamado Alfredo Pinto, p. ex., notabilizou-se pela perseguição aos foliões. Em 1909, tentou proibir as passeatas e o Zé Pereira, sendo obrigado a voltar atrás por causa dos protestos da população e da imprensa.

Furioso, voltou à carga proibindo as fantasias de índio, sob a alegação de que os tacapes poderiam ser utilizados como armas. Os blocos contra-atacaram com refrões provocativos que difundiram por toda a cidade, tipo “Eu vou beber/ Eu vou me embriagar/ Eu vou sair de índio/ Pra polícia me pegar”. Em outros, houve até alusões picarescas ao sobrenome do delegado…

Domesticação e turistização – Nem a polícia do terrível Filinto Müller, durante a ditadura getulista, conseguiu pôr fim aos festejos de Momo. De repente, entretanto, o povo perdeu seu carnaval, que virou um próspero negócio para as escolas de samba e foi alçado a item prioritário da promoção do turismo.

Comemorações rigorosamente planejadas substituíram as iniciativas espontâneas do povão. Os foliões se tornaram passivos espectadores dos suntuosos e multicoloridos desfiles. Sambistas passaram a competir encarniçadamente por classificações espúrias.

Enfim, a festa do congraçamento cedeu lugar à disputa calculista. O que a polícia não conseguiu com seus cassetetes, conseguiram os negociantes com seus talões de cheque.

Como explicar essa transição negativa? Dizer que, com a industrialização, fecharam-se os espaços para a desordem remanescente da sociedade rural? Que o carnaval morreu ao se institucionalizar? Que nosso povo já não tem humor nem revolta? Explicações podem ser alinhavadas às dezenas. Mas, nenhuma servirá como consolo.

O certo é que uma genuína explosão de vida se tornou ritual de repetição. E o povo se conformou em não inventar mais seus festejos nem improvisar seus itinerários, recebendo como contrapartida lugares confortáveis nas arquibancadas dos sambódromos e o direito à licenciosidade em salões sufocantes.

Enfim, foi expulso das ruas e não se dispõe mais a lutar mais por elas.

Obs: versão condensada de um texto escrito em 1980, para a edição de carnaval da revista Fiesta.