A ONU é que pede: o governo do Bahrein deve liberar imediata e incondicionalmente o defensor dos direitos humanos Nabeel Rajab, garantindo a todos neste país os direitos à liberdade de opinião e expressão sem temer a detenção arbitrária.
Rajab está preso desde junho de 2016 por ter publicado no Twitter, em 2015, informações sobre os ataques aéreos da Arábia Saudita no Iêmen, bem como sobre casos de tortura no interior da Prisão de Jaén, no Bahrein.
Um desses ‘tweets’ dizia o seguinte: “Temos o direito de dizer não à guerra no Iêmen e devemos lutar pela paz e segurança, mas não pelo derramamento de sangue em Sanaa”.
No último dia de 2018, o mais alto tribunal do Bahrein confirmou a condenação de Rajab e a sentença de cinco anos de prisão sob acusação de “espalhar notícias falsas e rumores em tempo de guerra”, “insultar países estrangeiros” e “insultar publicamente o Ministério do Interior”.
O Grupo de Trabalho de Detenção Arbitrária da ONU declarou no ano passado que a detenção de Rajab era arbitrária.
A decisão do tribunal coloca em foco – afirma a ONU – uma contínua supressão dos críticos do governo no Bahrein por meio de prisões e detenções arbitrárias, proibições de viagens, assédio, ameaças, revogação de cidadania e outros meios.
Houve inúmeros relatos de defensores de direitos humanos, ativistas políticos, jornalistas e figuras da oposição sendo alvos por conta do exercício de seus direitos à liberdade de expressão, reunião pacífica e associação.
O relatório do secretário-geral da ONU sobre represálias, datado de setembro de 2018, destacou vários casos específicos em que ativistas da sociedade civil e suas famílias no Bahrein sofreram represálias por buscarem se envolver com os mecanismos de direitos humanos da ONU, incluindo o Conselho de Direitos Humanos.
Em alguns dos casos, os ativistas foram acusados de crimes relacionados ao terrorismo apenas pelo fato de colaborarem com a ONU.
A prisão, detenção e prisão de indivíduos pelo exercício de seus direitos humanos fundamentais viola as obrigações do Bahrein no âmbito do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, que o país ratificou. “Pedimos ao governo do Bahrein que pare de criminalizar as vozes dissidentes”, disse o comunicado da ONU em Genebra.
A Corte de Segurança dos Emirados Árabes Unidos confirmou, também no último dia de 2018, uma sentença de 10 anos de prisão e 1 milhão de dirham (cerca de 272 mil dólares) contra o renomado defensor dos direitos humanos Ahmed Mansoor.
Mansoor foi inicialmente condenado em maio de 2018 sob a acusação de usar as redes sociais para “publicar informações falsas que prejudicam a unidade nacional e a reputação do país”. Ele postou informações, também no Twitter, que criticavam o governo.
Como o Tribunal de Segurança do Estado é o mais alto tribunal dos EAU, ele não pode mais apelar.
“Preocupa-nos que a condenação de Mansoor e a severa sentença estejam relacionadas ao exercício do direito à liberdade de expressão e opinião. Instamos o governo dos EAU a libertar imediata e incondicionalmente Mansoor e garantir que os indivíduos não sejam penalizados por expressarem opiniões críticas em relação ao governo ou seus aliados”, disse o escritório da ONU que trata dos direitos humanos, no mesmo comunicado.
Sabe quantos países que condenam as violações de direitos na Venezuela estão preocupados com os casos acima?
Isso mesmo. Nenhum. O petróleo, por lá, está garantido.
Mortes e relatos de uso excessivo da força no Iêmen, Bahrein e Síria condenados pela alta comissária da ONU para os Direitos Humanos. Por Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos deplorou nesta terça-feira 22, em Genebra, a atuação das forças de segurança perante os protestos pró-democráticos no Iêmen, Bahrein e Síria.
Em comunicado, a alta comissária para os Direitos Humanos, Navi Pillay, disse estar alarmada com o estado de emergência em vigor no Iêmen, além dos confrontos armados que causaram dezenas de mortos. Ela pediu uma investigação independente a relatos de assassinatos alegadamente perpetrados por atiradores, na semana passada.
Deportação
Pillay citou a decisão governamental do Iêmen, em deportar dois jornalistas da cadeia de televisão árabe Al Jazeera, lembrando da responsabilidade dos governos pela proteção dos direitos fundamentais dos cidadãos, incluindo em momentos de instabilidade.
Informações sobre o desaparecimento de entre 50 a 100 manifestantes no Bahrein, na semana passada, foram consideradas “preocupantes” pela alta comissária.
Ameaças
Navi Pillay deplorou igualmente a prisão e ameaças contra várias pessoas após terem prestado declarações à imprensa. De acordo com o comunicado, as vítimas dizem ter sido alvo de represálias, incluindo o corte de linhas telefônicas.
Na Síria, Navi Pillay condenou a resposta dada pelas forças de segurança na cidade de Daraa, no sul. Segundo refere, foi usado gás lacrimogêneo e munições reais contra manifestantes em várias ocasiões durante o fim de semana. Os relatos apontam para morte de pelo menos sete pessoas.
No seu pronunciamento, Navi Pillay condena o uso excessivo de força, lembrando que é uma violação do direito internacional, que prevê responsabilidade criminal aos seus autores.
Mais uma vez um jogador do Flamengo se meteu em confusão nesta semana. Willians, que é titular do time, estava com amigos no restaurante Rei do Bacalhau, na rodovia Washington Luiz, em Duque de Caxias, quando começou um tumulto envolvendo sua noiva.
O jogador foi arrastado para fora do estabelecimento por volta das 4h da madrugada por um segurança, que lhe deu uma gravata. Seus amigos reagiram e começou uma confusão. O volante tentou apartar a briga e pedia calma, em vão. Ninguém ficou ferido e não foi registrada ocorrência policial.
Antes, Adriano (atacante), Bruno (goleiro), Léo Moura (meia) e Vágner Love (atacante) já haviam entrado em polêmicas envolvendo mulheres e amigos suspeitos de fazer parte do tráfico de drogas (o que não era novidade). As investigações devem ser feitas, até porque os jogadores do Flamengo não estão acima (nem abaixo) da lei.
É preciso pensar além dos preconceitos. Contextualizar esta questão.
Fatores culturais
Os jogadores de futebol possuem, quase sempre, duas características socioeconômicas idênticas. Eram pobres e agora são ricos. Estamos falando, portanto, das condições sociais e econômicas. Em termos sociais: moravam em áreas pobres, com pouco acesso a cultura, educação e saúde, por exemplo. Em termos econômicos: eram pobres. Sem grana.
Com isso, sem que a maioria das pessoas perceba, naturaliza-se uma terceira característica: todos ficaram ricos muito rapidamente. Se em suas infâncias viveram em um contexto de violência social, com vinte e poucos anos vivem em uma situação de tranquilidade econômica. Essa passagem é, em si, uma forma de violência cultural.
Como lidar com essa questão? As famílias destes jogadores, se desestruturadas, não puderam dar condições para que o futuro profissional coloque os valores humanistas acima de valores condenáveis pela sociedade.
É o caso do goleiro Bruno, que declarou ser normal, na visão dele, bater em mulher. Bruno é uma referência hoje, daí a reação da imprensa. Mas iguais a Bruno existem milhares de homens, Brasil afora, que nunca tiveram melhor referência e, por isso, fazem tal juízo.
A violência contra as mulheres não é um problema do goleiro do Flamengo: trata-se de um problema nacional. A imprensa popular prefere julgar Bruno, o ser humano, em vez de utilizar sua frase infeliz para ampliar o debate sobre o papel das mulheres na nossa sociedade. É uma opção clara, moralista, que não ajuda em nada. Em nada mesmo.
Nem sequer Patricia Amorim, que é uma mulher forte e segura de si, aceitou o clima dos últimos dias. A presidente do Flamengo afirmou que foi exagerada a reação da imprensa. “Todas as coisas que aconteceram devem ser divulgadas, porque são jogadores, são referência. Mas existe um exagero sem dúvida nenhuma”.
“Não temos como proibir que eles voltem ao lugar de onde vieram”, completa Michel Assef Filho, advogado do clube. “Já perdi muitos amigos na criminalidade, mas nunca usei drogas. Não vou deixar minhas origens e minhas raízes”, reafirmou Vágner Love.
Questão de classe
Aqui encontramos também o preconceito de classe, claro. Esse existe, está vivo e qualquer jornalista sério sabe disso. Ainda persiste a apresentação da favela como um lugar do crime é estampada nos jornais, em descrições racistas como “Morro da Chatuba: refúgio de bandidos expulsos das favelas da Zona Sul” (Veja Rio, mar/2010).
A ligação de jogadores de futebol com o tráfico deve ser investigada, reafirmo. Muitas vezes, pode até ser legal (frequentavam o mesmo espaço, por exemplo), mas os jogadores precisam entender que não fortalece suas comunidades. Não é por meio da liderança do tráfico de drogas que o Rio de Janeiro se tornará menos violento, isso está claro.
A grande hipocrisia, no entanto, está em sugerir que são os jogadores de futebol (e, principalmente, do Flamengo) os maiores incentivadores do tráfico no Rio, como está parecendo pela leitura das revistas semanais. Conforme apontou Renato Prata Biar, em artigo recente, os atores Marcelo Anthony e Fábio Assunção também se envolveram com drogas e com traficantes de drogas. “No entanto, o tratamento que receberam foi do tipo que é dispensado às pessoas doentes, com problemas psicológicos, que precisavam de ajuda, carinho e compreensão”, anota o articulista. Vagner Love, Adriano e os demais jogadores do Flamengo nunca foram pegos usando drogas, é bom destacar. E também são humanos.
Além disso, todos sabem muito bem que a Zona Sul está repleta de “drogados”, pessoas que fazem uso de drogas ilícitas, abastecendo amplamente as redes de narcotráfico na cidade. Recomendo fortemente a leitura do artigo de Renato Prata Biar, na edição online do Fazendo Media (clique aqui).
O que falta, na verdade – para os atores da Globo, por exemplo, mas principalmente para os jovens jogadores – é orientação. De fato, na falta da família, é urgente que o clube, que na maior parte das vezes pega o garoto com 12, 13 anos, se responsabilize pelo crescimento intelectual do jogador, de seu aperfeiçoamento cultural e de aconselhamento financeiro. Registrando que, evidentemente, este é um problema que começa com a ausência deste diálogo no próprio ensino fundamental.
Exatamente por não serem heróis, os profissionais do mais importante esporte nacional precisam desse apoio, sem o qual continuarão a serem explorados de modo irresponsável pela imprensa.
* * * GOLAÇO DO CORINTHIANS
No início da semana, a diretoria do Corinthians assina acordo de cooperação com o programa “Começar de Novo”. O projeto, do Poder Judiciário, capacitará detentos e egressos do sistema penitenciário para inserção no mercado de trabalho.
No Parque São Jorge, adolescentes em conflito com a lei, detentos e egressos poderão usar as dependências alvinegras para a prática esportiva. O acordo foi selado em parceria com o Conselho Nacional de Justiça, com o Tribunal de Justiça de São Paulo e com a Fundação Casa.
* * * WOODS, ASTRO DO… PÔQUER?
Veja que curioso: o jogador de golfe Tiger Woods, astro mundial recentemente envolvido em problemas pessoais por conta de um caso de infidelidade conjugal, recusou uma oferta de US$ 75 milhões (R$ 134 milhões) por cinco anos para se tornar jogador profissional de pôquer.
Woods não aceitou a oferta para se tornar garoto-propaganda do site Paddy Power, de acordo com o jornal espanhol Marca. É bom lembrar que, após os problemas acima descritos, Woods perdeu grande parte de seus patrocinadores.
A empresa de telecomunicações norte-americana AT&T, antiga patrocinadora, não irá mais estampar sua marca na bolsa de golfe do desportista, quando este voltar ao Masters. Ele poderia usar a logomarca da Nike, sua fornecedora de material esportivo, mas estampará apenas a sigla TW, em alusão ao seu nome. A empresa de consultoria tecnológica Accenture e a Procter & Gamble, fabricante da Gillette, também deram fim ao contrato com o golfista.
* * * FÓRMULA 1: CURIOSIDADE ÁRABE
Fernando Alonso foi o grande vencedor do GP de Bahrein, com o tempo de 01h39. Felipe Massa ficou em segundo, a 16s, e Lewis Hamilton chegou em terceiro, a 23s. A próxima etapa será em Melbourne, dia 28.
Bahrein é um pequeno estado insular do Golfo Pérsico, com fronteiras marítimas com o Irã (nordeste), Qatar (leste) e Arábia Saudita (sudoeste). Antiga colônia inglesa, sua capital é Manama.
Trata-se de uma monarquia absolutista, com um primeiro-ministro e um gabinete integralmente apontados pelo Monarca. O atual primeiro-ministro (que é o mesmo desde 1971), bem como a totalidade do gabinete, são da família real.
Da Venezuela, onde há eleições reconhecidas pela União Europeia e referendos consultivos, a imprensa adora falar mal, chamar de ditadura, essas coisas. Já no Bahrein pode.
* * * BRASIL NO SUL-AMERICANO
Do Globo.com: Juliana Veloso comandou o Brasil no primeiro dia dos saltos ornamentais dos Jogos Sul-Americanos de Medellín. Ela conquistou a prata no trampolim de 1m, e Milena Canto ficou com o bronze na prova. O Brasil levou outras duas medalhas, com Ian Matos no trampolim de 3m, e com ele e Rui Marinho no de 3m sincronizado.
Esta coluna dá os parabéns pela conquista.
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Pela Taça Rio, o Vasco perdeu para o tradicional Olaria e deu chances para que o América chegue ao segundo lugar do grupo B. Apenas dois se classificam para as semifinais da Taça Rio.
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Jornalista, 40, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis em https://amzn.to/3ce8Y6h). Acesse o currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/0384762289295308.