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Nesta quarta (16) será lançado 'O Veneno está na Mesa II', novo filme de Silvio Tendler


O veneno está na mesa dos brasileiros, no país que mais consome agrotóxicos no mundo. Mas há alternativas viáveis de produção de alimentos saudáveis que respeitam a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores. É essa mensagem que o novo documentário do diretor Silvio Tendler, O Veneno está na Mesa II, quer passar. O filme será lançado na próxima quarta-feira (16), às 20h, no Teatro Casa Grande, no Leblon.
Segundo Valéria Carvalho, pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz, O Veneno está na Mesa II dá continuidade às reflexões proporcionadas pelo primeiro documentário e avança na desconstrução do mito, pautado pelos interesses do agronegócio, de que a utilização de venenos é a única via para garantir a alimentação na mesa da população.
“O uso de veneno, e toda proposta do modelo de desenvolvimento hegemônico, traz consequências graves e inaceitáveis para a saúde da população, no que diz respeito a todos os aspectos que constituem o conceito ampliado de saúde”, disse a pesquisadora. Ela destaca que a Fiocruz, que apoiou o filme, vem desenvolvendo diversas iniciativas relacionadas ao tema, e analisa que a produção da alimentação sem veneno é uma alternativa viável.
Silvio Tendler tem a mesma opinião. “A agroecologia é fundamental como forma de produção econômica, social e de desenvolvimento”, disse o diretor, que não vê sentido em se construir uma economia baseada na destruição da natureza. “Isso não é economia, isso é catástrofe”, ressaltou.
O primeiro filme seguiu um caminho alternativo de exibição através da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. A recepção foi surpreendente e o documentário foi visto por mais de um milhão de pessoas.
“O povo brasileiro não pode mais engolir essa história de que o agronegócio é a modernidade no campo. Ele gera câncer, trabalho escravo, e manda todo seu lucro para o exterior. Nós da Campanha assumimos como missão levar este filme a todos os cantos deste país, aos acampamentos, assentamentos, escolas, universidades, igrejas, e onde houver cidadãos e cidadãs preocupados com a saúde do povo e dispostos a lutar por um modelo de produção de alimentos saudáveis para o camponês e para o consumidor”, disse Alan Tygel, da coordenação nacional da campanha.
“Estamos no momento de descomemoração dos 50 anos do golpe, mas também de projeção dos próximos 50, 100 anos. O que nos interessa é discutir o passado para não repeti-lo. A gente fala do passado, mas está ancorado no futuro. Vamos poder colaborar com este debate e estou muito feliz por isso”, finalizou Tendler.
Serviço:
Quarta-feira, dia 16/04/2014
Local: Teatro Casa Grande – Afrânio de Melo Franco, 290 Leblon
Horário: 20h – Entrada gratuita
Após a exibição, haverá um debate com Sílvio Tendler, João Pedro Stédile e Luiz Cláudio Meirelles.
Veja mais informações aqui.

Stédile analisa o Plano Nacional de Agroecologia e a reforma agrária no Brasil

João Pedro Stédile, porta voz do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Foto: Brasil de Fato/Pablo Vergara

Durante a Caravana Agroecológica da Chapada do Apodi, no Rio Grande do Norte, realizada entre os dias 22 e 26 de outubro, conversamos com João Pedro Stédile, porta voz do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Na entrevista ele fala sobre o lançamento do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo), reforma agrária, a situação de Apodi com o projeto do perímetro irrigado e os protestos Brasil afora desde julho.
Segundo o economista, o plano Brasil Agroecológico nasceu de uma forte pressão da sociedade civil e, para não ser uma mera carta de intenções, é preciso lutar para sair do papel.
A presidenta Dilma acabou de lançar um Plano Nacional de Agroecologia. Em que contexto, e quais avanços e insuficiências ele traz?
O Plano Nacional de Agroecologia é resultado das pressões dos movimentos sociais e ambientalistas nos últimos dez anos, desde o primeiro mandato do governo Lula. Devagarzinho abrimos essas brechas, acho que o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) também nos ajudou, assim como alguns amigos dentro do Ministério do Meio Ambiente.
Foi construído de certa forma bastante democrático, e é resultado muito mais da pressão dos movimentos e dessa força social que o movimento de agroecologia gerou no país. Levou o governo brasileiro a se dar conta que faltava uma política pública, mas ainda é uma carta de intenções. Os movimentos sociais, o movimento camponês e ambientalista, vão ter que continuar fazendo muita pressão para transformar aquelas linhas de propostas políticas de fato em programas governamentais com recursos, planos, metas e liberação de pessoas.
No lançamento a presidenta anunciou cem decretos de desapropriação de terras para reforma agrária. Há muito tempo não era anunciado nada desse gênero, é uma iniciativa satisfatória ou vem muito aquém da demanda dos movimentos?
O governo Dilma ainda está em dívida com a reforma agrária, porque o agronegócio e os ruralistas são hegemônicos no Congresso, depois vem o judiciário e o governo Dilma. Os setores que apoiam a reforma agrária, a agroecologia e o meio ambiente são minoritários dentro desse governo. Isso se revelou também em outros temas, como o Código Florestal e a questão indígena, então o governo Dilma está em dívida com os povos do campo.
Naquela semana estávamos mobilizados em todo país, ocupamos diversos Incras (Instituo Nacional de XXX), e isso levou o governo envergonhado a fazer aquela promessa de até o final do ano desapropriar cem áreas. Vai dar no máximo cinco mil famílias, ou seja, é insignificante diante da pressão e demanda social que está reprimida: temos hoje no Brasil mais de 120 famílias acampadas.
O governo devia fazer um plano de emergência para em alguns meses resolver o problema de todas as famílias. Não adianta só ficar anunciando dois ou três decretos que podem servir para propaganda, mas não resolvem o problema social.
Em Apodi há uma situação bem complicada, é um dos maiores assentamentos do MST no Brasil. Como se encaixa essa questão local da Chapada do Apodi no cenário nacional em termos de modelo de desenvolvimento?
Apodi hoje é o exemplo emblemático de toda política agrária e agrícola do país, e em especial para o nordeste. Há um projeto do perímetro irrigado do DNOCS (Departamento Nacional de Combate a Seca), que está voltado única e exclusivamente para fazer obras e saiba Deus atender a que interesses.
São obras caríssimas com mais de R$ 200 milhões, que tem a pretensão de canalizar o rio de volta, ou seja, pegar a água do rio embaixo e bombear cem metros de volta para cima na Chapada. Só que ali já vivem mais de 600 famílias de pequenos agricultores que há décadas sobrevivem cultivando com a agricultura familiar e produtos sadios.
O DNOCS desapropriou 13 mil hectares, vai despejar essas 600 famílias para depois fazer o edital de licitação para entregar os lotes a pequenos, médios e grandes empresários aplicarem o monocultivo de frutas para exportação. É o absurdo dos absurdos, porque tecnicamente não tem sentido fazer uma irrigação morro acima.
É muito mais barato fazer a irrigação na planície, ou seja, barragem abaixo, manter essas famílias que estão na Chapada, aplicar com elas outras técnicas de irrigação com poços artesianos ou cisternas. E desenvolver a agricultura familiar, porque Apodi se transformou outra vez num paraíso da biodiversidade e da produção de alimentos sadios.
Tanto que é o melhor mel da região nordeste e a abelha é um termômetro para a natureza, por causa dessas características da biodiversidade e de não ter veneno. Se esse projeto de irrigação é efetuado, vamos entregar 13 mil hectares para o monocultivo de frutas com o uso intensivo de agrotóxicos, vai contaminar as águas, os solos e tudo para exportação. Vai alterar, inclusive, a economia do município porque essas empresas que vêm de fora não aplicam o dinheiro aqui e levam para fora.
É uma situação realmente vergonhosa e esdruxula, que só atende aos interesses de uma oligarquia rural aqui do Rio Grande do Norte que tem muita força política por causa do PMDB. Outra circunstância é que ainda no município há um acampamento com mais de mil famílias acampadas dentro de uma área de 2 mil hectares, que poderia ser aproveitada para reforma agrária e até agora não está.
Esperamos que esse processo de debate político de qual é o modelo de agricultura para o município ajude a assentar aquelas famílias que estão acampadas.
Estamos vivendo um momento de inquietações sociais nas ruas, só que muitas cartilhas utilizadas há anos para protestar não são bem vistas pelos jovens, como as bandeiras, sindicatos, partidos, etc. Como você avalia essa movimentação espontânea?
A luta de classes em qualquer sociedade e aqui no Brasil ocorre em ondas históricas. Há períodos que a classe trabalhadora toma a ofensiva e faz grandes mobilizações em torno do seu projeto e seus direitos. Há períodos de disputa e períodos de refluxo. Estamos vivendo um refluxo do movimento de massas, que vem desde as duas grandes derrotas que o movimento popular teve no Brasil: a derrota política em 1989 e a derrota do movimento sindical na grande greve dos petroleiros em 1995. De lá para cá há um dissenso, uma pasmaceira do movimento de massas.
O que assistimos nesse ano em junho e julho foi uma parcela da sociedade, a juventude, de forma espontânea e sobretudo indignada com as grandes obras da Copa, com a falta de transporte público, que foi às ruas. E é natural que seja assim, as primeiras mobilizações sempre são fruto de indignação e resultado de algum estopim que leva a juventude para a rua. Acredito que no próximo ano essas mobilizações voltarão às ruas, porém agora casadas com o movimento da classe trabalhadora.
Seja dos movimentos sociais organizados, seja do movimento estudantil, seja dos sindicatos, para então colocar em pauta não apenas um transporte público ou a educação, mas as reformas estruturais que o Brasil está precisando: começa pela reforma política e tende a desembocar numa constituinte para repactuar as forças políticas do país. Porque do jeito que está há um clima de indignação e o povo quer mudanças, mas não para trás para voltar aos tucanos, a direita.
Queremos mudanças no sentido de aprofundar as reformas necessárias no país, que levem a resolver esses problemas como os perímetros irrigados, a reforma agrária, o transporte público, educação de qualidade, ampliar as vagas nas universidades públicas para os jovens.

Sementes crioulas vão ajudar a melhorar a vida de muitas famílias

Reportagem do Globo Rural exibida em 06/03 mostra agricultores do sertão alagoano que produziram sementes crioulas para o Programa Brasil Sem Miséria, do Governo Federal.

Cerca de 40 toneladas de sementes crioulas de feijão e de milho, produzidas por mais de 80 agricultores, estão armazenadas para serem adquiridas pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), através do PAA – Programa de Aquisição de Alimentos, para serem distribuídas para famílias carentes da região cadastradas no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

No mês de março, técnicos da Conab visitarão as comunidades selecionadas para colher amostras das sementes e realizar testes de germinação. Somente após esta etapa terá início o processo de comercialização (previsto para abril).

Acesse a reportagem aqui.

Bases científicas para uma agricultura sustentável: novo livro de Miguel Altieri

Acaba de ser lançada a terceira edição do livro de Miguel Altieri, atualizada à luz do presente contexto de construção da Agroecologia no Brasil. Nessa reformatação, introduziu-se uma primeira seção que apresenta uma crítica à agricultura industrial elaborada sob o prisma agroecológico.

Nela são abordadas as inovações no regime sociotécnico dominante efetuadas nas últimas décadas, com o advento da transgenia em escala comercial e com a expansão das monoculturas voltadas à produção de agrocombustíveis. As segunda e terceira seções enfocam conceitos e métodos para o manejo dos agroecossistemas e correspondem aos conteúdos já apresentados nas edições anteriores.

Alguns dos capítulos publicados anteriormente foram substituídos por textos mais recentes do autor. A última seção contempla uma questão central no avanço da perspectiva agroecológica na sociedade: o reconhecimento e a promoção da agricultura familiar camponesa como a base social da agricultura sustentável.

O livro pode ser adquirido na AS-PTA (aspta@aspta.org.br ou 21-2253-8317) ou através do site da editora Expressão Popular.

Termina o Encontro de Diálogos e Convergências em Salvador

Mística de abertura do evento

Terminou nesta quinta, 29, o Encontro de Diálgos e Convergências, realizado entre 26 e 29 de setembro em Salvador. Partindo de experiências práticas, o encontro teve como objetivo discutir agroecologia, saúde e justiça ambiental, soberania alimentar, economia solidária e feminismo, buscando as convergências possíveis num horizonte de unificação das lutas sociais.

A construção do Diálogos e Convergências foi feita em conjunto por nove redes: Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), a Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA), a Rede Alerta contra o Deserto Verde (RADV), a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), o Fórum Brasileiro de Soberania e de Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN), a Marcha Mundial de Mulheres (MMM) e a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB).

Durante os quatro dias de encontro, foram relatadas e debatidas diversas experiências, sempre na perspectiva de denunciar a violência do capitalismo, exaltar a resistência das comunidades e apontar as alternativas de construção de outro modelo que vêm dando certo.

Riquieli Capitani apresentou a experiência do setor de comunicação do MST, relatando as estratégias do movimento para informar a sua base, a sociedade em geral, além de lutar contra a criminalização pela mídia convencional. Ao final de sua apresentação, ela mostrou a última edição da revista IstoÉ e afirmou: “Essa mídia não serve a nós”. O MST participou também das mesas sobre agroenergia, relatando o caso do Ceará, e sobre agrotóxicos, no caso da Chapada do Apodi.

Notícias, fotos, documentos e a carta final do encontro podem ser acessadas em www.dialogoseconvergencias.org

 

Poluentes agroecológicos?

Da redação

Na Índia, um senhor chamado Iyengara que estuda Vriksh Ayurveda, um sistema de medicina tradicional, está desenvolvendo um conceito de agricultura biológica sustentável e rentável. “Todos os resíduos poluentes são úteis e podemos converter a maioria deles em adubo orgânico”, afirma. “A antiga medicina indiana dá detalhes de processos de criação de adubo orgânico a partir de praticamente qualquer coisa. Assim como venenos como o mercúrio são usados na medicina tradicional indiana, os poluentes diluídos com outros materiais podem produzir um melhor fertilizante”.

“Nós temos o suficiente de fertilizantes orgânicos para algumas épocas de plantio”, argumenta. Acreditam que isso poderia “limpar” uma área rural da Índia – e o ambiente de Assam, estado indiano -, contaminada pelo uso de inseticidas, repelentes de pragas e adubos químicos altamente tóxicos. Ambientalistas argumentam que estes produtos estariam penetrando na cadeia alimentar e ameaçando a saúde de milhões de pessoas.

A reportagem é da BBC, leia aqui.