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Via Campesina realiza campanha contra agrotóxicos

Via Campesina realiza campanha contra agrotóxicos“Precisamos conscientizar a população sobre os efeitos dos agrotóxicos”. Texto base de artigo de Vanessa Ramos na pagina do MST.

Os prejuízos causados à saúde com a utilização exagerada de agrotóxicos ainda são desconhecidos pela maioria da população e pouco discutidos pela sociedade. Por isso, mais de 20 entidades lançaram a Campanha Nacional contra o uso dos agrotóxicos.

A iniciativa teve como início o seminário contra o uso dos agrotóxicos, organizado pela Via Campesina, em parceria com a Fiocruz e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, realizado em setembro, na ENFF. Na atividade os participantes fizeram um estudo sobre os impactos dos agrotóxicos na economia agrícola nacional, na saúde pública e no ambiente.

A partir dessas discussões, a campanha tirou como eixos de atuação informar a sociedade sobre os efeitos da utilização desse “agroveneno” e apresentar uma nova proposta para a agricultura.

Roseli de Sousa, da direção nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e da Via Campesina, afirma que a meta da campanha é “denunciar esse modelo de produção agrícola, as causas desse veneno e alertar sobre quantas pessoas hoje estão doentes, sobretudo, com câncer, em função do uso desses venenos”.

A seguir, leia a entrevista concedida à Pagina do MST.

Como você avalia o seminário contra o uso dos agrotóxicos?

O seminário dos agrotóxicos foi um grande passo contra o uso exagerado de venenos na agricultura brasileira. O Brasil já é campeão em consumo de venenos, em consumo de agrotóxicos. Isso gera grandes danos à saúde da população. Nesse momento, em que há grandes avanços do agronegócio, o seminário foi de extrema importância, já que o veneno é parte desse modelo de desenvolvimento de agricultura. Além disso, conseguimos reunir quase 30 entidades e organizações de diversos setores da sociedade. Isso é um grande avanço na tentativa de conscientização contra esse modelo agrícola.

Quem são os maiores prejudicados pelo o uso do agrotóxico na agricultura brasileira?

Quem produz como os camponeses, os agricultores, os assentados sofrem um efeito maior porque está em contato direto com o veneno. Mas também a população em geral, que consome um produto que não é de boa qualidade, é o maior prejudicado. Assim, as doenças aumentam e aparecem cada vez mais. E quem lucra com isso tudo, sem dúvida, são as empresas.

Quais os objetivos da campanha?

O grande objetivo da nossa articulação contra o agrotóxico e do seminário em si é conseguir traçar um plano, uma estratégia de combate a esse modelo agrícola e ao grande uso de veneno no Brasil. A partir disso, essas articulação vai resultar na campanha nacional contra o agrotóxico no Brasil.

Como será realizada?

A nossa campanha terá dois eixos. O primeiro tem como meta denunciar esse modelo de produção agrícola, as causas desse veneno e alertar sobre quantas pessoas hoje estão doentes, sobretudo, com câncer, em função do uso desses venenos, além de como é que esse veneno tem sido uma das formas do agronegócio ganhar dinheiro. O que as empresas lucram vendendo o veneno é muito grande. Dessa forma, um dos eixos da campanha será a denúncia desse modelo.

E o segundo eixo da campanha?

Vamos anunciar o que queremos para a sociedade, dentro de um outro projeto de desenvolvimento para a agricultura. Assim, devemos almejar um desenvolvimento baseado na agroecologia, na agricultura saudável, na produção de alimentos para toda a população. Baseado também numa outra sociedade com outros tipos de valores, que valorize uma educação e uma saúde diferente. Certamente, a nossa campanha terá esses dois eixos: denúncia contra o modelo agronegócio e anúncio de qual sociedade nós queremos para o futuro.

Quais setores da sociedade podem se somar nessa luta?

Nós já temos engajados nessa luta os movimentos sociais da Via Campesina, centrais sindicais, setores das universidades, médicos, organizações não governamentais (ONGs). Tivemos também a presença muito importante da atriz Priscila Camargo no seminário. Ela representou os artistas e se colocou à disposição para ajudar a fazer esse grande debate no meio dos artistas.

Temos também o apoio da Fiocruz, sobretudo da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fiocruz. Passaram pelo seminário diversos pensadores e professores, que nos ajudaram e que estão se engajando nesse debate. Nós queremos convidar não só esses, mas todos os setores da sociedade para fazer parte desse grande debate, dessa grande conscientização para de fato darmos um outro rumo para a nossa agricultura brasileira.

Como a sociedade pode se informar sobre o tema dos agrotóxicos e participar da campanha?

Em breve, nós teremos um site e um blog no ar. Os interessados também podem procurar nossos veículos de comunicação de apoio, como o Brasil de Fato, que vai elaborar matérias específicas sobre o tema, além dos movimentos sociais ligados à Via Campesina. Nos seus espaços de trabalho, de militância e de atuação, devem procurar informações sobre as causas dos venenos e ajudar nessa grande conscientização.

O dia 16 de outubro é o Dia Internacional dos Alimentos. É um dia também em que a gente quer fazer debates e ações contra esse modelo e a favor da produção saudável. Certamente, terão outros meios que, logo assim que a gente estruturar melhor a campanha, vai estar à disposição de toda a sociedade a fim de se somar a esse grande debate.

Quais serão as ações a serem realizadas no Dia Internacional dos Alimentos?

É tradição da Via Campesina Brasil e Internacional fazer grandes debates em torno dos alimentos saudáveis no dia 16 de outubro. Os estados e os movimentos nas suas regiões devem promover debates e ações. Vamos fazer também 5º Congresso da Coordenação Latino Americana de Organizações do Campo (CLOC), no Equador. Por isso, o dia 16 vai ser um dia de grande debate em toda a América Latina.

Qual a nossa tarefa para o próximo período?

Fica a grande tarefa de entender de fato quem são os grandes prejudicados com o uso de agrotóxico. Enquanto as empresas como a Bayer, a Monsanto, a Syngenta, além de outras, ganham tanto dinheiro, a população está condenada a morrer por doenças adquiridas em função do uso dos agrotóxicos. Neste contexto, o seminário representou passos que devem ser continuados.

Cada indivíduo desse país precisa fazer a sua parte. Cada um de nós precisa ajudar a desconstruir esse modelo de produção agrícola e construir outro modelo de sociedade, baseado na agroecologia, baseado na vida humana. Nós queremos uma agricultura camponesa que preserve os recursos naturais e que resgate as práticas camponesas de cultivo, que está comprometida hoje com o bem estar de quem produz e de quem consome o alimento. Nós só vamos ter um outro modelo de sociedade se conseguirmos fazer a Reforma Agrária.

Freio à internacionalização de terras começa a surtir efeitos no Brasil

Agência Pulsar

Já se verificam efeitos do limite imposto pela Advocacia Geral da União à compra de terras por empresas estrangeiras. Segundo informações veiculadas pela imprensa comercial, diversos investimentos estrangeiros que previam compra de terra no Brasil já estão sendo desfeitos.

Um caso citado é no Paraná, onde a empresa STCP queria gastar 3,2 bilhões de dólares comprando terras para fazer florestas planejadas. Na prática, a empresa multinacional queria fazer monoculturas de eucalipto para produção de celulose em 180 mil hectares. Na Bahia, empresas que iam comprar 150 mil hectares para eucalipto e 190 mil para cana de açúcar também suspenderam os investimentos. Contudo a suspensão não quer dizer que eles tenham desistido. Os próprios executivos comentam que tentarão achar outros meios de realizar estes projetos.

Esses dados podem demonstrar que políticas de terra menos liberalizantes têm a capacidade de frear o modelo de produção insustentável e excludente do eucalipto, cana, soja e outras monoculturas de grande interesse do capital internacional.

Atingidos por barragens aumentam produção de alimentos saudáveis

Recentemente, os agricultores atingidos pelas barragens da bacia do Rio Uruguai, organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), começaram a implantar experiências de um novo método de produção de alimentos na região, que estão chamando de Produção Camponesa de Alimentos Saudáveis (PCAS). As três primeiras foram implantadas, através de mutirões, nos reassentamentos de Laranjeira, em Capão Alto (SC); São Sebastião, em Esmeralda (RS); e Primeira Conquista, em Barracão (RS) e foram inauguradas no final de julho.

Esta tecnologia social tem como base o programa “Produção Agroecológica Integrada e Sustentável – PAIS”. A experiência consiste em construir um galinheiro que é rodeado por uma horta de canteiros circulares, de uma estufa e de um pomar com cerca de 150 mudas frutíferas, além de um sistema de irrigação.

O objetivo dessa experiência é, além de fortalecer a organização dos camponeses, produzir alimentos saudáveis para a subsistência das famílias e a geração de renda através da venda do excedente da produção. A aplicação desta técnica reduz a dependência de insumos vindos de fora da propriedade, diversifica a produção, utiliza com eficiência e racionalização os recursos hídricos, alcança a sustentabilidade em pequenas propriedades, e produz em harmonia com os recursos naturais.

“Estamos contentes, pois já tivemos o reassentamento que foi uma conquista da nossa luta, e agora estamos tendo a oportunidade de melhorar a nossa alimentação e ter uma renda pra continuar vivendo na terra’’, relatou Marines de Souza, uma das beneficiadas pelo projeto.

Segundo a coordenação do MAB, esta metodologia tem como característica a sua alta capacidade de ser aplicada por um custo muito baixo. A iniciativa faz parte do Projeto Popular de Desenvolvimento, um plano de recuperação, preservação e desenvolvimento das comunidades, municípios e região atingida pelas hidrelétricas na bacia do rio Uruguai e está tendo parceria com a entidade norte americana Heifer Internacional.

“Nossa prioridade é produzir alimentos saudáveis, sem o uso de venenos e com adubação orgânica através das famílias atingidas por barragens que estão nos reassentamentos ou nas comunidades ribeirinhas. Entendemos que quem vive na agricultura tem uma tarefa muito importante, que é produzir alimento e cuidar da natureza. E nós como agricultores e agricultoras queremos fazer isso”, finalizou Marines.

Mais informações:

Neudicléia Neres de Oliveira
Setor de Comunicação do MAB
(54)3522-1857
(54)9926-7719
www.mabnacional.org.br

Poluentes agroecológicos?

Da redação

Na Índia, um senhor chamado Iyengara que estuda Vriksh Ayurveda, um sistema de medicina tradicional, está desenvolvendo um conceito de agricultura biológica sustentável e rentável. “Todos os resíduos poluentes são úteis e podemos converter a maioria deles em adubo orgânico”, afirma. “A antiga medicina indiana dá detalhes de processos de criação de adubo orgânico a partir de praticamente qualquer coisa. Assim como venenos como o mercúrio são usados na medicina tradicional indiana, os poluentes diluídos com outros materiais podem produzir um melhor fertilizante”.

“Nós temos o suficiente de fertilizantes orgânicos para algumas épocas de plantio”, argumenta. Acreditam que isso poderia “limpar” uma área rural da Índia – e o ambiente de Assam, estado indiano -, contaminada pelo uso de inseticidas, repelentes de pragas e adubos químicos altamente tóxicos. Ambientalistas argumentam que estes produtos estariam penetrando na cadeia alimentar e ameaçando a saúde de milhões de pessoas.

A reportagem é da BBC, leia aqui.

Transgênicos: a versão do Greenpeace


Assista à campanha do Greenpeace no Brasil sobre as pesquisas com alimentos transgênicos.

O vídeo do link acima deixa bem clara a posição do Greenpeace com relação às pesquisas com transgênicos que vêm sendo desenvolvidas em diversos países e, finalmente, também no Brasil. O problema é que, ao tratar a questão a partir de uma leitura extremamente sensacionalista e maniqueísta, a ONG internacional parece não querer estimular um real debate entre a sociedade civil sobre o tema.

O vídeo problematiza, por exemplo, uma questão muito importante com relação aos transgênicos, que é a formação de conglomerados de grandes empresas que desmantelam a produções dos pequenos proprietários rurais. No entanto, é preciso enxergar também uma questão de fundo que parece ser muito importante.

Hoje, mais da metade da produção de alimentos está nas mãos de multinacionais que podem jogar a bel-prazer com os preços flutuantes dos bens alimentícios, gerando crises como as que atravessamos agora e que atingem de forma contundente os setores mais pobres da população mundial. Todos sabemos – ou deveríamos saber – que o planeta tem capacidade de produzir alimentos suficientes para toda a população mundial e ainda mais. No entanto, justamente por conta do monopólio sobre a produção, a fome ainda persiste como consequência de uma política de distribuição planejada para ser injusta.

Nesse contexto, e levando também em conta as questões de mudança climática, já ficou claro que a transgenia está em vias de ser um fator fundamental para a geopolítica mundial. E os países que não investirem em pesquisas na área terão como única opção se colocarem à mercê dos grandes conglomerados internacionais. Em outras palavras, as campanhas promovidas por ONGs como o Greenpeace tentam embarreirar o desenvolvimento de pesquisa na área, desestimulando os investimentos nacionais e promovendo a criação de entraves jurídicos em um setor tão importante que é a alimentação. Hoje no Brasil, por exemplo, tornou-se tão oneroso patentear as novas descobertas resultantes de pesquisas promovidas por Universidades que estas instituições acabam se vendo forçadas a vendê-las a laboratórios extrangeiros que, ao final, serão os que vão patenteá-las. Resta a nós, então, mais uma vez (!), o papel de compradores de produtos feitos a partir de nossas matérias primas e até mesmo nossa tecnologia. Qualquer semelhança com o velho pacto colonial das aulas de história não é, obviamente, mera coincidência.

Na Europa, as campanhas do Greenpeace levaram à restrição, por exemplo, de importação de alimentos geneticamente modificados, o que desestimula ainda mais o desenvolvimentos de nossas pesquisas dentro da ordem agroexportadora. E, adivinhem só: estamos, ainda por cima, dando de bandeja aos países centrais a matéria prima para que eles desenvolvam pesquisas na área e possam, futuramente, nos explorar. Isso, vale a pena lembrar, quando não perdemos também pesquisadores que não encontram espaço para desenvolverem seus experimentos em pleno território nacional.

Por último, é interessante perceber também a incongruência da peça publicitária que, ao mesmo tempo em que afirma que não são conhecidos os efeitos da transgenia para a saúde humana, simboliza os alimentos geneticamente modificados como pequenos monstrinhos aterrorizantes. Vale mencionar que o processo de testes de risco com transgênicos na América Latina (especial destaque para Brasil e Argentina) leva cerca de sete anos – uma quantidade de tempo aparentemente considerável.

Não desejo, de forma alguma, levantar uma espécie de bandeira pró-transgênicos. Em primeiro lugar porque não julgo ter conhecimentos suficientes sobre a questão. Mas acredito ser importante tentar desmontar certos maniqueísmos naturalizados para que possamos problematizar e entender de verdade o cerne das questões que nos rodeam. É, por assim dizer, um convite ao debate contra a informação verticalizada.