Taras de Kamel: 'autenticidade não comprovada'

Dois anos atrás, recebi de um colega jornalista a informação sobre o filme “Solar das Taras Proibidas”. Ali Kamel – diretor da Globo- estaria no elenco, dizia-me este colega.
Alguns meses depois, vi as imagens no “youtube”.
Não dei bola pra isso, por vários motivos:
– as sacanagens do filme são de uma inocência angelical, comparadas às sacanagens de determinado jornalismo praticado hoje no Brasil (ficha falsa da Dilma, campanha contra Petrobrás, campanha contra Lula);
– se Ali Kamel – diretor da Globo – foi ator pornô nos anos 80, isso não é problema meu, não tem qualquer interesse público, não interessa ao debate sobre a batalha da mídia travada hoje no Brasil.
Acontece que, no último domingo,  o site “Cloaca News” publicou um texto sobre o assunto, com link para as imagens do filme.
O blog do Nassif  também comentou o assunto, com o cuidado merecido – http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/08/16/o-ali-kamel-da-pornochanchada/.
Diante da repercussão do fato na internet, este “Escrevinhador” procurou o “Cloaca News”, e recebeu uma resposta lapidar, baseada no melhor jornalismo praticado na alameda Barão de Limeira:
“Sobre o vídeo, o Cloaca tem a dizer o seguinte: a autenticidade daquelas imagens não pode ser comprovada, bem como não pode ser descartada. Ademais, o nome do cara aparece nos créditos. Fora o fato de o vídeo ser de domínio público – foi “embebedado” do Youtube”.
“Autenticidade não pode ser comprovada, bem como não pode ser descartada”. Foi essa a conclusão da “Folha” sobre a ficha fajuta da Dilma, publicada na primeira página.
O Ali Kamel ator pornô, esse seguimos sem saber se é verdadeiro. O filme é verdadeiro. Mas, não sabemos se se trata de um homônimo.
O Ali Kamel que me preocupa é o homem que combate as quotas raciais, o Bolsa-Família e pilota o jornalismo da Globo como se fosse um partido político. Foi contra esse Ali Kamel de verdade que, em 2006, eu e outros colegas nos insurgimos quando trabalhávamos na Globo.
Ali Kamel – o jornalista, não o ator – queria que assinássemos um manifesto, defendendo a cobertura da Globo nas eleições. Isso, sim, seria pornográfico.
No dia em que sai da TV Globo, em dezembro de 2006, enviei uma carta para meus colegas.
O então chefe da Globo São Paulo, um sujeito gordinho e de fala enrolada, ao me ver sentado ao computador, ficou bufando a meu lado: “o que você ainda está fazendo aqui?”. “Estou me despedindo de meus colegas”, respondi, e enviei a carta pela rede interna de computadores.
Minutos depois, minha senha de computador foi bloqueada. Resolvi ir embora.
Quando cheguei à catraca, meu crachá também havia sido bloqueado. Depois de 12 anos de trabalho na emissora, tive que pular a catraca pra ir embora.
Eu já vi gente ser proibida de entrar em determinados lugares. Mas proibir alguém de sair?
Deve ser mais uma tara de Ali Kamel e seus amigos.

2 comentários em “Taras de Kamel: 'autenticidade não comprovada'”

  1. Excelente paradoxo da pornografia do filme pornô e da pornografia “política” envolvendo o mesmo personagem, ou de nomes coincidentemente iguais. A ditadura continua, implícita, sutil para os distraídos, cegos, alienados, e/ou explícita para os antenados, interessados.Socorro pra esse povo que “comanda” (ou pensa que comanda) perturbado de interesses, de visão , de horizontes…
    Virgínia Corsini

  2. Gustavo Barreto – Jornalista, 41, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis em https://amzn.to/3ce8Y6h). Acesse o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0384762289295308.
    Gustavo Barreto disse:

    Ótima hora pro Arnaldo Jabor fazer um comentário sobre seu genial livro, “Pornopolítica” 😉

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