Sobre mídia e política

1) Sobre a tragédia no Rio de Janeiro, três coisas: a primeira é saber se os royalties do petróleo poderiam ser usados para minimizar os danos e para evitar que outras tragédias ocorram; a segunda é registrar a fala do ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria de Direitos Humanos, durante a audiência realizada nesta quinta-feira (8), no Senado, com transmissão ao vivo pela TV Senado. Ele afirmou que o direito à moradia é um direito humano fundamental e que as pessoas não podem ser simplesmente expulsas de onde moram, é preciso DIALOGAR e oferecer condições dignas de moradia; e a terceira é recomendar a leitura do pronunciamento do deputado Marcelo Freixo: “É inadmissível que o Governador do Estado do Rio de Janeiro tenha colocado a responsabilidade das mortes nos mortos. Isso é de uma covardia! O Governador do Estado do Rio de Janeiro é um covarde, é um irresponsável”. Íntegra aqui.
1.1) Da matéria do Estadão online desta sexta-feira (9): “Em entrevista à Rádio CBN na manhã desta sexta-feira, 9, o prefeito Eduardo Paes falou sobre as consequências das chuvas que já deixaram 184 mortos em todo o Estado do Rio e reafirmou a validade do decreto da última quarta-feira, 7, que permite a retirada dos moradores de áreas de risco à força, sem o consentimento dos mesmos”.
1.2) Insista-se: até o momento, mais da metade dos mortos moravam em Niterói: 112 dos 192. Enquanto as corporações de mídia botam a culpa na chuva ou, quando muito, na “omissão das autoridades públicas” (o que é verdade), é preciso reafirmar o que tem sido omitido: não pode ser coincidência esse número de mortos e a violenta especulação imobiliária que domina a cidade. Esse fato quebra a espinha dorsal de empresas que dizem fazer jornalismo; em seus manuais elas definem que jornalismo seria tão somente fiscalizar o poder público, mas não se encontra a mesma sanha com relação às empresas privadas. E agora?
2) Ainda sobre a audiência do ministro Paulo Vannuchi, no Senado: durante quase cinco horas de debate, ele apresentou, em detalhes, a terceira edição do Programa Nacional de Direitos Humanos. Falou sobre seu contexto histórico, falou da ampla participação popular na elaboração do documento, fruto de dezenas de conferências nacionais. Vannuchi disse que existem 521 ações sugeridas no programa, mas que as críticas se concentraram em apenas onze. Ainda assim, disse que está aberto ao diálogo com os setores interessados e não descartou a possibilidade de alterar a redação de três ou quatro pontos. No entanto, reafirmou que a essência das ações que podem ser alteradas será preservada. Ao terminar a exposição, foi aplaudido pelo público que lotava o plenário. Os senadores Arthur Virgílio, Aloísio Mercadante, Eduardo Suplicy, Inácio Arruda, Mão Santa, Cristóvam Buarque e Fátima Cleide fizeram considerações a respeito do PNDH-3, apresentaram propostas e fizeram perguntas ao ministro. No dia seguinte, o título da Folha a respeito dessa audiência foi: “Tucano ataca luta de Dilma contra a ditadura”.
2.2) Durante a audiência que, repito, teve transmissão ao vivo da TV Senado – uma emissora pública que não figura no espectro aberto da televisão brasileira porque ainda prevalecem interesses privados sobre os interesses públicos – o senador Inácio Arruda (PCdoB) foi na contramão dos que se dizem preocupados com o “controle da imprensa”. Arruda disse, com eloqüência e firmeza: “Tem que controlar não, tem é que democratizar. Em vez de deixar a televisão na mão de duas ou três famílias, tem que ter televisão pras famílias sem-terra, pros sindicatos, pros estudantes…”. Amigos da mídia democrática, acho que estamos devendo aos leitores uma entrevista com esse senador.

3 comentários sobre “Sobre mídia e política”

  1. Eu venho repetindo em comentários aqui no fazendo Media que o governador e o prefeito do Rio de Janeiro são cínicos e covardes, apesar da aliança do PT com o PMDB, tanto no governo do Estado quanto na prefeitura do Rio de Janeiro, que têm como secretário de habitação o petista Jorge Bittar. Tanto o governador quanto o prefeito do Rio, são dois covardes que estão postos “de quatro” pela máfia que governa o Rio de Janeiro: midiático-militar-empresarial. Estamos diante de uma militarização sistemática do urbanismo e das periferias urbanas em escala mundial. No Brasil, o Rio de Janeiro ocupa o centro para ser um modelo nacional. Além, é claro, em razão dos mega-eventos que virão, o capital imobiliário e empreiteiros civis são os abutres que ocuparão o território depois das campanhas por remoções generalizadas. A mídia faz a artilharia que vem na frente produzindo a subjetivação necessária com seus exércitos de “especialistas” sádicos.
    A relação de forças com essa mídia golpista, e cínica, no apoio aos conservadores do PMDB, inclui-se aí o ministro da integração regional, Gedel, que concentrou toda a verba de defesa civil para sua campanha política na Bahia, não serão mencionados como responsáveis diretos nessas tragédias.
    O que é vergonhoso é o PT se calar para não romper com a aliança eleitoral para se garantir a tal “governabilidade”. Enquanto isso…a periferia vai sendo alagada e soterrada com bolsa-família e tudo.
    Por tudo isso, é necessário uma ruptura com essa podre elite carioca e brasileira.
    O caso de Niterói, com o atual prefeito Jorge Roberto Silveira, populista histórico que governou o município várias vezes, é escandaloso. E ele ainda tem a cara de pau de dizer que não sabia de nada e que o caso é muito complexo e que pertence ao Brasil real.
    Cabe então a pergunta: ele pertence a que Brasil?
    Marcelo Freixo denunciou na alerj que Jorge Roberto Silveira criou um conselho municipal em que os conselheiros, que inclui o procurador do município e chefes de partidos aliados, ganham 6 mil reais por mês. O que fará ele com os milhões que receberá do governo federal para reparar suas irresponsabilidades?

  2. Caro João,
    Tão covarde (ou mais) que o prefeito e governador é o citado secretário de habitação Jorge Bittar. Vide a sanha com que ajuda a tocar o projeto de remoção da vila autódromo (barra). Bittar é daqueles que são mais realistas que o Rei…

  3. Caro Antonio,
    Concordo plenamente! E tudo é feito em nome de uma suposta esquerda que busca, infinitamente, melhores correlações de força para uma futura ruptura que jamais chegará. É tão simplesmente oportunismo de esquerda sem um pingo de vergonha na cara.
    Muito agradecido e um fraterno abraço.

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