Sobre mídia e política

No Twitter: @MarceloSallesJ
1) Em manchete no sábado, dia 20 de novembro, o Globo critica a diplomacia brasileira por não ter votado contra o Irã numa resolução da ONU contra as sentenças de morte por apedrejamento e chibatadas. Na página 41, um texto editorial zomba do que chama de “diplomacia companheira”, “que levou o Brasil a se abster em moção na ONU que condenava o Irã por fazer justiça à base de apedrejamento, amputações e chibatadas.
1.1) É interessante notar a seletividade da crítica do Globo, que jamais se levantou contra as mais de mil execuções judiciais que acontecem, todos os anos, nos EUA. Então injeção letal pode? Cadeira elétrica vale?
1.2) Além disso, não se conhece reportagem com o mesmo destaque para criticar os EUA por votarem contra o fim do embargo econômico que vitima o povo cubano há décadas.
1.3) Assim como em 2003, quando foi declarada uma guerra baseada em mentiras contra o Iraque, o Globo repete a cobertura engajada pró-EUA, cujo objetivo parece ser contribuir com a legitimação de uma invasão contra o Irã, o que vai matar milhões de pessoas pelo butim do petróleo. Uma vergonha para o jornalismo brasileiro!
2) Interessante a observação de Luiz Alberto Moniz Bandeira, no livro “Brasil, Argentina e Estados Unidos – Da Tríplice Aliança ao Mercosul”. Ele afirma que o Brasil ainda tem muito da América Portuguesa, pois “manteve sua unidade econômica, social e política” (página 34). Lembrei no ato do livro “O medo na cidade do Rio de Janeiro”, de Vera Malaguti, que discute as origens da violência contra as classes subalternizadas.
2.1) Vale a pena consultar esses dois livros, sobretudo nesse momento em que as corporações de mídia fazem de tudo para a população temer ainda mais quem é pobre (basta ver a cobertura sobre os últimos arrastões e incêndios na cidade, inclusive na sacro-santa zona sul AA).
2.2) Essa zona sul AA, ressaltemos, é justamente a região da cidade onde fica a sede da corte carioca, que não se desfez, como bem assinalou Bandeira. Mas não me refiro ao Palácio Laranjeiras, que seria apenas uma sucursal, ou posto avançado, se preferirem. Falo da mansão do Cosme Velho, de fazer inveja a duques, lordes e sultões. Não me parece casual que o Bope seja considerado a melhor tropa de combate urbana do mundo.
3) Pelo segundo ano consecutivo, Chico Alencar foi eleito o melhor deputado federal. Vale a pena conferir seu discurso na entrega do prêmio Congresso em Foco, nesta segunda-feira (22). Começou lembrando o trabalho coletivo, valorizando sua equipe de assessores e a militância que o acomanha; falou sobre a Revolta da Chibata; pediu uma maior aproximação do Congresso com o povo brasileiro; e terminou citando José Saramago, não sem antes pôr o guiso de direitista no pescoço de Índio da Costa, que estava presente. O vídeo está aqui.

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