Senadores e entidades mobilizam a população contra a corrupção

Senadores da Frente Suprapartidária contra corrupção em evento no Firjan, no Rio de Janeiro. Foto: Antonio Batalha

Às vésperas da Marcha contra a Corrupção, marcada para hoje (07) em Brasília, o senadores Pedro Simon (PMDB) e Randolfe Rodrigues (Psol-AP) se reuniram com conselheiros e diretores da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, e garantiram que essa mobilização terá resultados concretos no combate a roubalheira. Eles integram Frente Suprapartidária contra Corrupção, organizada em resposta às retaliações que a presidente Dilma Rousseff tem sofrido após as demissões realizadas em combate à corrupção. Os senadores estão colhendo assinaturas para apresentarem um projeto ao Congresso Nacional que, principalmente, faça os condenados em segunda instância responderem ao processo na cadeia. Eles se encontraram algumas instituições no Rio, como Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para pedir apoio e clamaram pela pressão popular nas ruas.
Pedro Simon disse que os senadores vão colocar um roteiro no papel e jogar no Congresso, assim como a Ficha Limpa, e dessa vez com a mobilização das mídias sociais é possível obter mudanças concretas. Ele ressaltou ainda que não é possível que pessoas acusadas de corrupção tenham seis recursos em liberdade.
“Tudo tem que começar pela impunidade. No mundo inteiro tem, mas ricos e poderosos vão para a cadeia. Aqui no Brasil é um absurdo. Algumas instituições devem coordenar a campanha para que ela esteja fora dos interesses políticos partidários. Tem que ser uma posição em favor de um princípio e não de partido, se não a população não vai aceitar. A presidente tem que avançar, e temos de ampliar esse leque de apoio a ela”, destacou Simon.
O senador Randolfe Rodrigues lembrou que grandes campanhas cívicas foram iniciadas na ABI e listou seis bandeiras levantadas como essenciais pela campanha anticorrupção: declaração da corrupção como crime hediondo, que tramita no Congresso um projeto de lei que objetiva aumentar a pena inicial de 2 para 4 anos; aplicação da lei da transparência nos órgãos públicos, que foi sancionada no ano passado estabelecendo que todos os órgãos coloquem em tempo real sua contas públicas na internet; Aplicação da lei Ficha Limpa, que será julgada pelo STF em outubro, para as eleições de 2012 e ampliá-la de cargos elegíveis aos detentores de cargos comissionadas; Fim da impunidade, mais celeridade no julgamento de casos de corrupção pelo legislativo e do judiciário;  Fim do voto secreto nos legislativos em todas as instâncias; Fim das emendas parlamentares individuais, passando a ser apenas coletivas.
A presença dessas entidades tem em vista alastrar esse movimento para sensibilizar a opinião pública que pode ter uma atuação decisiva para modificar a leniência e contemplação que graça na administração pública em todos os níveis, afirmou o presidente da ABI, Maurício Azêdo. Nesse sentido, destacou, a imprensa tem um papel fundamental.
“O papel da imprensa é fundamental porque ela é que vai levantar os casos de corrupção que ensejem numa investigação e na aplicação das sanções cabíveis, porque ela é que tem esse poder de devassar os diferentes escaninhos da vida pública onde ocorrem esses atos delituosos”, afirmou.
Segundo o veterano jornalista político Villas Bôas Côrrea, no Congresso não tem equilíbrio, por falta de combate da oposição, fazendo com que a maioria esmague as propostas de mudança. Ele também apontou o voto secreto nos legislativos como um facilitador da corrupção.
“Não está havendo mais interesse do eleitor pela política, porque ela está desmoralizada. Todo mundo está sentindo que o problema imediato nesse país é a violência. A população não tem nenhuma confiança no Congresso”, afirmou.
Conselheiros da ABI destacaram que com a ascensão do neoliberalismo o poder econômico desmoralizou sistematicamente o poder político, e nesse contexto as privatizações de setores públicos fundamentais, como os que ocorrem na área da saúde, são fatos significativos para o atual cenário de corrupção.
Empresários condecoram senadores
Em seguida foi realizada uma atividade na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) com senadores a frente da Campanha. Eles foram agraciados pela “Medalha do mérito industriak” em solidariedade a mobilização e houve o lançamento do Manifesto do Empresariado em favor da Ética na Política.
O presidente do Sistema Firjan, Eduardo Gouvêa Vieira, disse que nesse ato a indústria brasileira reafirmou seu compromisso de apoio aos interesses da sociedade.
“A Corrupção é inimiga histórica da sociedade brasileira em suas mais diferentes manifestações ou subprodutos, tais como compadrio, o nepotismo e o fisiologismo que acometem o Estado brasileiro. Um país só é possível reinventado”, afirmou.
Em nome dos senadores, Ana Amélia (PP-RS) explicou ao público que o movimento começou em julho como apoio a presidente Dilma para que ela continue combatendo a corrupção. Ela destacou que muito do que é arrecadado nos impostos é corroído por esse câncer na sociedade, e a educação é a raiz para combatê-la. Ela pediu também que a imprensa não se submeta ou silencie, pois ajudou a desvendar a podridão nos porões da política brasileira mas depois saiu de cena e não apoiou a presidente. “Não podemos interditar esse trabalho sério e comprometido pela democracia”, destacou a senadora.
A Frente Suprapartidária contra Corrupção é formada pelos senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Ana Amélia (PP-RS), Casildo Maldamer (PMDB-SC), Cristovam Buarque (PDT-DF), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Marcelo Crivella (PRB-RJ), Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) e Pedro Taques (PDT-MT), Pedro Simon (PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).

Diário fundado em 13 de maio de 2000