As entidades abaixo-assinadas, diante da iminente votação da MP 398/07, que cria a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), gestora da TV Brasil e espinha dorsal do sistema público de comunicação, afirmam:
1. Ratificamos nosso apoio à criação da EBC, na expectativa de um sistema público de comunicação, ressaltando sua importância para a democracia brasileira e sua necessidade para a consolidação da comunicação como direito social e humano.
2. Diferentemente das principais democracias consolidadas no mundo, que contam com um sistema público de radiodifusão, o Brasil até hoje não deu esse passo necessário.
3. Defendemos que a nova TV Pública deve ser uma referência para as demais televisões no que diz respeito à qualidade da programação e ao estabelecimento de mecanismo de participação e envolvimento da sociedade na sua gestão, produção e programação, bem como no encaminhamento de críticas e sugestões pela população.
4. Entendemos que a TV Pública deve manter independência tanto em relação aos governos como ao mercado, produzindo conteúdo de interesse público, sintonizada com as necessidades da sociedade.
5. Ressaltamos que a TV pública deve considerar o cenário de convergência tecnológica, buscando formas de agregar à sua rede uma oferta de serviços digitais, viabilizando a inclusão social.
6. Repudiamos as tentativas de desqualificação da TV Pública que tentam obstaculizá-la ou retirar-lhe as prerrogativas indispensáveis para o seu bom desempenho, cerceando a pluralidade da sua programação e a busca de fontes de financiamento não governamentais.
7. Por tudo isso, defendemos a aprovação da Medida Provisória 398/07, entendendo que ela é o primeiro passo na direção da criação do sistema público de comunicação no Brasil.
8. Reivindicamos, todavia, o aperfeiçoamento da MP, mediante a consideração das contribuições formuladas pela sociedade civil, movimentos sociais, movimentos que lutam pela democratização da comunicação, pesquisadores e trabalhadores da comunicação. Tais contribuições dizem respeito especialmente aos conceitos de gestão, programação e financiamento, de modo a aperfeiçoar o caráter público da EBC e da TV Brasil e garantir sua continuidade nos governos futuros.
9. Por fim, afirmamos que estamos mobilizados para defender a implantação da TV Pública brasileira.
Brasília, 13 de fevereiro de 2008.
Comissão de Mobilização pela I Conferência Nacional de Comunicações
1) FNDC – FÓRUM NACIONAL PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO 2) MNDH – MOVIMENTO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 3) FENAJ – FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS 4) CUT – CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES 5) CFP – CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA 6) ABCCOM – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CANAIS COMUNITÁRIOS 7) CDHM – COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E MINORIAS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS 8) SUBCOMISSÃO DE TV E RADIODIFUSÃO DA COMISSÃO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA, COMUNICAÇÃO E INFORMÁTICA 9) INTERVOZES – COLETIVO BRASIL DE COMUNICAÇÃO SOCIAL 10) FITERT – FEDERAÇÃO INTERESTADUAL DOS TRABALHADORES EM EMPRESAS DE RÁDIO E TELEVISÃO 11) LaPCom-UNB – LABORATÓRIO DE POLÍTICAS DE COMUNICAÇÃO – UnB 12) ABRAÇO – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RADIODIFUSÃO COMUNITÁRIA 13) PROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO – MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 14) AMARC-BRASIL – ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS 15) ENECOS – EXECUTIVA NACIONAL DOS ESTUDANTES DE COMUNICAÇÃO SOCIAL 16) MST – MOVIMENTOS DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA 17) ARPUB – ASSOCIAÇÃO DAS RÁDIOS PÚBLICAS DO BRASIL 18) CAMPANHA QUEM FINANCIA A BAIXARIA É CONTRA A CIDADANIA 19) OAB – ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL
Outras entidades * SINDICATO DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS DO DISTRITO FEDERAL * ARTIGO 19 – BRASIL * ANDI – AGÊNCIA DE NOTÍCIAS PELOS DIREITOS DA INFÂNCIA * REVISTA VIRAÇÃO * ARTICULAÇÃO MULHER E MÍDIA * FEDERAÇÃO NACIONAL DOS SERVIDORES DO JUDICIÁRIO E DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO * TV COMUNITÁRIA – BRASÍLIA * COMULHER – COMUNICAÇÃO MULHER * ABGLT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS * SINDICATO DOS RADIALISTAS NO ESTADO DE SÃO PAULO * OBSERVATÓRIO DA MULHER * BLOG MÍDIA EM DEBATE * REVISTA FÓRUM
As entidades que desejarem assinar esta nota podem entrar em contato pelo e-mail cdh@camara.gov.br
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Garotas e garotos com deficiência pouco se reconhecem na programação de tevê, nos jornais e nas revistas. É o que revela o estudo “Mais Janela que Espelho: a percepção dos adolescentes com deficiência sobre os meios de comunicação na Argentina, no Brasil e no Paraguai”, lançado na segunda (11/2) pela ANDI, Rede ANDI América Latina e Save the Children Suécia.
A pesquisa ouviu 67 adolescentes, a maioria na faixa dos 11 a 13 anos, com deficiência, de diferentes classes sociais, em três países latino-americanos – Brasil, Argentina e Paraguai – divididos em oito grupos focais nas cidades de São Paulo, Salvador, Buenos Aires e Assunção. A maioria esmagadora deles não se recordou de nenhuma notícia ou personagem televisivo que abordavam essa condição. “Apenas depois de diretamente questionados eles lembravam de algo e falavam no assunto”, conta Guilherme Canela, coordenador de Relações Acadêmicas da ANDI e do estudo.
Quando estimulados, os adolescentes brasileiros se lembraram de mais personagens do que os argentinos e os paraguaios. Isso se deve, especialmente, a ações de merchandising social que incluem pessoas com deficiência nas telenovelas (especialmente as da Rede Globo), em histórias em quadrinhos e programas infantis. Personagens como os cegos Flor e Jatobá, da novela América (rede Globo), Clarinha, que tinha Síndrome de Down na novela Páginas da Vida (também da rede Globo) ou o cadeirante Luca, da Turma da Mônica criada por Maurício de Souza, foram mencionados pelos meninos e meninas.
Além de lembrar personagens criados para abordar a questão, o grupo brasileiro se identificou com o que era mostrado na telinha ou no papel. E não foi uma identificação negativa. “Os adolescentes não demonstraram autopiedade. Essas ações têm um impacto muito interessante”, explica Canela. Clara por exemplo, foi considerada ‘legal’, ‘bonita’, ‘mais desenvolvida’. A identificação com a personagem foi tanta que uma participante da pesquisa chegou a dizer que “Clara era igual a mim”.
Uma janela para outros mundos
Embora o merchandising social tenha demonstrado certo impacto, o fato de os participantes da pesquisa não se recordarem espontaneamente de personagens e notícias sobre essa parcela da população é preocupante. “Por se reconhecerem pouco na programação da tevê, os adolescentes com deficiência não têm na televisão um espelho, mas uma janela”, conclui a pesquisa. Isso significa que a realidade que esses garotos e garotas apreendem por meio dos veículos de comunicação não reflete, ainda que minimamente, seu mundo e suas experiências. Nesse sentido, os meios de comunicação funcionariam como uma vitrine, uma janela para outros mundos.
Uma das conseqüências disso, segundo Guilherme Canela, pode ser uma dificuldade extrema de reflexão sobre sua condição – um dos componentes essenciais para a luta pela garantia dos seus direitos. “A mídia deveria mostrar, de forma menos desigual, a sociedade tal qual é com pessoas de diferentes gêneros, etnias, classes sociais, condições físicas e psíquicas – independentemente de ações de merchandising social”. O estudo apontou, por exemplo, que os meninos e meninas estão mais preocupados com a situação de crianças pobres ou de idosos do que com os seus próprios entraves para a plena efetivação de seus direitos.
Gostos semelhantes – Ao contrário do que pode pensar boa parte da população, os gostos e preferências dos adolescentes com deficiência em relação à televisão são semelhantes ao de garotos e garotas em geral. Os meninos e meninas ouvidos nos grupos focais demonstraram preocupações com conteúdos violentos e apelativos. Suas preferências mesclam um consumo ainda característico da infância – como desenhos animados – e hábitos adultos – como a atração por novelas e reality shows. O resultado foi semelhante a outros estudos do tipo conduzidos pela ANDI com adolescentes sem deficiência.
Segundo o consultor da pesquisa, Romeu Sassaki – que há quatro décadas se dedica ao estudo das mais diversas questões sobre deficiência e que acompanhou todos os grupos –, “os adolescentes com deficiência são, antes de tudo, adolescentes”.
Acessibilidade
Nos grupos realizados no Brasil, foi possível estabelecer uma discussão sobre a Classificação Indicativa, levantada pelos próprios adolescentes. No anúncio da indicação, símbolos específicos informam a classificação e simultaneamente uma intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) traduz a mensagem às pessoas com deficiência auditiva.
Os meninos e meninas surdos disseram que os intérpretes gesticulam muito rápido e o espaço destinado a eles é pequeno. A conseqüência é que não entendem as mensagens veiculadas. Os garotos e garotas com deficiência auditiva também levantaram a necessidade de que mais programas televisivos sejam traduzidos em Libras – com a devida visibilidade.
Conheça a metodologia utilizada
O grupo focal é uma metodologia científica utilizada para avaliar qualitativamente a opinião de uma parcela específica da população a respeito de determinado assunto. Não interessa, portanto, a quantidade de pessoas ouvidas e sim, o tipo de conhecimento que foi obtido. É uma estratégia de coleta de informações baseada na premissa de que as respostas do indivíduo, em grupo, serão mais elaboradas do que quando ele está sozinho com um entrevistador.
Para que funcione, o grupo deve ter, idealmente, entre seis a dez participantes e contar com um moderador que provoca as discussões, mas não faz perguntas fechadas, como um entrevistador. No caso dessa pesquisa, foram realizados grupos nas cidades de Buenos Aires, Assunção, São Paulo e Salvador.
Esta não é a primeira vez que a ANDI realiza grupos focais. As opiniões de adolescentes a respeito da abordagem dos meios de comunicação sobre diversos assuntos – como programas juvenis, trabalho infantil doméstico e saúde – já foram ouvidas em outros estudos da Agência. Clique aqui para baixar a íntegra do estudo.
Informações:
Guilherme Canela – coordenador do estudo (61) 2102-6537 gcanela@andi.org.br
Fábio Senne – assistente da Coordenação de Relações Acadêmicas (61) 2102-6535 fsenne@andi.org.br
Romeu Sassaki – Consultor da pesquisa (11) 3507-4115 romeukf@uol.com.br
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Os setores midiáticos que a derrubaram não miravam nela, mas no que o seu cargo representava e espero continue a representar, uma trincheira para implantação de políticas afirmativas que ajudem a superar a enorme desigualdade entre negros e brancos. Por Renato Rovai (*).
Mais uma boa cabeça é entregada para saciar a gula de setores da mídia. A ministra Matilde Ribeiro não foi escolhida para ser a bola da vez à toa. Os 400 paus que gastou no Free Shop (e não devia ter feito isso) foram devolvidos e no máximo o que cabia pela bobagem era uma advertência pública do presidente ou de um ministro político. Estaria de bom tamanho o porta-voz dizer que o presidente presidente da República não iria demitir a ministra porque não considerava esse um erro grave, mas que havia passado um comunicado a todos os ministérios impondo novas normas para o uso do cartão.
Além do quê, no governo Lula esses gastos foram reduzidos em praticamente 30% se comparados com o governo FHC. Na época não havia cartão, o ministro usava cacau, dindim mesmo. E ponto. Ninguém precisava saber onde ele gastou o quê. Além disso, as contas não eram publicadas na internet. E hoje são. Aliás, como cobrou o o me colega de blogosfera Eduardo Guimarães, por que os gastos do governo de São Paulo ou de Minas também não são publicados na internet?
Não sei o que a ministra comprou com o dinheiro, se perfumes, bombons, uma caixa de uísque ou ainda um aparelho de som para a sua sala do ministério. Seja o que for, errou. Devolveu o dinheiro e deveria ficar no cargo. Porque faz bom trabalho e não é corrupta, como tentaram insinuar setores da mídia. Qualquer idiota sabe um ministro não precisa de cartão de crédito para roubar. Se for ladrão ele nem vai usar essa porcaria.
O problema é que os setores midiáticos que a derrubaram não miravam nela, mas no que o seu cargo representava e espero continue a representar, uma trincheira para implantação de políticas afirmativas que ajudem a superar a enorme desigualdade entre negros e brancos.
A ministra Matilde sempre, no mínimo, tentou encaminhar as demandas que a luta histórica do movimento negro esperavam ver atendidas. Não é tarefa fácil ser ministro dessa pasta. Espero que ela seja substituída por alguém com os mesmos compromissos e propósitos. Este blogue é solidário a ministra e considera que ela foi séria ao admitir que cometeu um erro administrativo no uso do cartão. E este blogue sabe que a campanha da mídia para que ela saísse também não foi por conta disso.
(*) Renato Rovai é editor da revista Fórum outro mundo em debate. Original aqui.
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A morte da enfermeira Marizete Borges de Abreu, 43, ontem, quinta feira (31/1) com suspeita de febre amarela vacinal, é a prova mais cabal de que transformar suas posições políticas em terrorismo midiático é arriscado e execrável. Por Renato Rovai (*).
Os tagarelas da imprensa que deveriam calar a boca para não engolir mosca às vezes não calculam o quanto é importante ser responsável na hora de escrever algo com dimensão pública.
A morte da enfermeira Marizete Borges de Abreu, 43, ontem, quinta feira (31/1) com suspeita de febre amarela vacinal, é a prova mais cabal de que transformar suas posições políticas em terrorismo midiático é arriscado e execrável.
Foram muitas as matérias editorializadas onde se estimulava todo brasileiro a ir tomar a vacina contra a febre amarela. Uma clássica coluna assinada por Eliane Catanhêde, ainda no dia 9 de janeiro quando não se contavam as mortes, tornou-se símbolo dessa ação que tentava transformar uma possível nova onda do vírus num drama nacional. Numa ameaça à vida de todo brasileiro.
Às vezes para não parecer que a crítica é leviana faz-se necessário mostrar o pau que matou a cobra. Catanhêde abriu seu texto alertando todo o brasileiro a se vacinar: “Com sua licença, vou usar este espaço para fazer um apelo para você que mora no Brasil, não importa onde: vacine-se contra a febre amarela! Não deixe para amanhã, depois, semana que vem… Vacine-se logo!”. E aproveitou para terminá-lo mais do que politizando a coisa, sendo grosseira: “O fantasma da febre amarela, portanto, paira sobre o país como um alerta num momento crucial, para que a saúde e a educação sejam preservadas antes de tudo o mais. Senão, Lula, o aedes aegypti vem, pica e mata sabe-se lá quantos neste ano –e nos seguintes.” A colunista ainda disse que desde 1942 a febre amarela era considerada extinta do Brasil. No dia 18 de janeiro repercuti o blog do Azenha onde essa afirmação canhestra foi absolutamente desmascarada.
Mas tem mais: o próprio ombudsman da Folha escreveu coluna dominical onde perguntava por que as estatísticas divulgadas pelo jornal começavam e acabavam no governo Lula. Se, por exemplo, no ano 2000, o sexto do exercício de FHC e da aliança demotucana foram 85 casos do vírus e 42 mortes. Isso também estava no post publicado pelo Azenha.
Pois é, não estou aqui responsabilizando ninguém individualmente pela morte da enfermeira Marizete. Não considero que ela foi picada por algum colunista aedes aegypti. Não me parece adequado fazer afirmação leviana como essa. Aliás, a causa da morte da enfermeira ainda está no campo das suspeitas. Daqui a pouco pode-se chegar a conclusão diferente sobre o que se passou. Isso não muda minha opinião sobre o que escreveram certos colunistas e a meu ver não lhes dá salvo-conduto nesse episódio.
Terrorismo midiático é o nome desse tipo de ação promovida a cada tempo. Essas em geral são realizadas por algumas colunas-bombas, assinadas por alguns “corajosos colunistas”. Não há graça nenhuma nisso. Mas tem gente que parece se divertir em participar desse tipo de movimento. Acho-o um perigo à democracia e à sociedade.
(*) Renato Rovai é editor da revista Fórum outro mundo em debate. Original aqui.
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Birra política se sobrepõe à saúde pública e cidadãos saem perdendo no caso da febre amarela. Por Gustavo Barreto.
Epidemia [substantivo feminino] 1 Rubrica: medicina. doença ger. infecciosa, de caráter transitório, que ataca simultaneamente grande número de indivíduos em uma determinada localidade (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa)
Birra [substantivo feminino] 1 ato ou disposição de insistir obstinadamente em um comportamento ou de não mudar de idéia ou opinião; teima, teimosia (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa)
É perfeitamente possível dizer que há no Brasil, atualmente, um surto de febre amarela na imprensa brasileira. Como demonstro no caso de um importante jornal paulista, felizmente (ou infelizmente), este “surto” se restringe à imprensa brasileira e a alguns jornalistas brasileiros. Colocada sob a óptica de um microscópio, a imprensa de grande circulação parece conter em sua genética um arranjo que a destina a provocar o medo e a desinformação em casos de crises de saúde pública e, mais especificamente, no recente caso das notificações de febre amarela no Brasil.
Na capa do jornal Folha de S. Paulo da última segunda-feira (14/1/2008), ao melhor estilo Folha, um ministro de Estado “nega” – colocado na primeira linha (veja na imagem), em “Ministro vai à TV e nega” – uma “epidemia” de febre amarela – colocado como frase na segunda linha: “epidemia de febre amarela”. Acima, uma imagem de desabrigados da forte chuva que atingiu o litoral paulista, que casa à primeira vista com os dizeres “Ministro vai à TV e nega epidemia de febre amarela”. Não usarei nenhuma habilidade lingüística para demonstrar como esses elementos gráficos foram importantes na construção da capa – basta acompanhar o conteúdo que o jornal vem insistindo em dar preferência nos últimos dias.
O tom da reportagem tenta claramente desmentir o ministro, como se percebe logo no primeiro parágrafo: “No dia em que o número de notificações de casos suspeitos de febre amarela subiu de 15 para 24, o ministro José Gomes Temporão (Saúde) foi à TV fazer um pronunciamento em cadeia nacional para dizer que “não existe risco de epidemia”. O ministério confirmou que, dos 24 casos suspeitos notificados pelas secretarias estaduais de saúde, 5 foram descartados e outros 2, confirmados. ”
As aspas em “não existe risco de epidemia” é contraposta à relação que fazem ao “dia em que o número de notificações de casos suspeitos (…) subiu de 15 para 24”.
Depois, continua com a birra com o governo dando um espaço de destaque a um “renomado infectologista da USP” que disse que “(…) ninguém pode dizer que não existe risco [de febre amarela urbana] quando doentes vêm de áreas silvestres para lugares com Aedes”, enquanto deixa no canto da página uma notinha que confirma exatamente o que sustenta o Ministério da Saúde: “Os casos de febre amarela confirmados até agora não são motivo para alarme na opinião de infectologistas do Incor, da Unicamp e do Fleury. Para eles, a preocupação deve mesmo ser apenas de pessoas que vão viajar para regiões afetadas.” David Uip, que também é infectologista e diretor-executivo do InCor (Instituto do Coração) – e nem por isso mereceu uma entrevista – tocou na ferida: “A gente precisa ter a responsabilidade de baixar a bola agora e não causar pânico”.
Exatamente o que a Folha de S. Paulo, de modo irresponsável, não fez nesta segunda (14/1). E outros dois igualmente renomados médicos tinham a mesma opinião. Se ouvissem mais, teriam mais opiniões semelhantes.
Trocando em miúdos, o jornal Folha de S. Paulo, abrindo mão do jornalismo sério e que serve ao cidadão, de modo que tome a melhor atitude no cotidiano, está de birra com o governo, como lhe é comum. Nesse caso, está dando sua pequena contribuição ao caos na saúde pública.
Outro exemplo foi a entrevista com Drauzio Varella na mesma edição (14/1). Varella é uma excelente fonte, pois além de conhecedor do assunto (é médico cancerologista), foi um dos dois sobreviventes em 2004 quando três pacientes morreram.
O repórter começa a birra: “Dá para falar em surto?”
Varella é claro e diz que não, não dá. “O que acontece é um fenômeno de imprensa. E isso é clássico na história das epidemias. Toda vez que surge uma, os governos negam. E a imprensa vai atrás, no rastro da doença. Estamos vivendo uma situação normal.”
O repórter insiste na birra: “O senhor não vê esses casos como um alerta?”
Varella tenta ser mais objetivo: “Não vejo mesmo”. E dá uma dimensão do real problema que trazem jornais como a Folha de S. Paulo: “O problema dessas fases de pânico é que muita gente que não precisa vai tomar a vacina. O sujeito está em São Paulo e vai ao Guarujá e quer se vacinar. Aí cria-se um problema social, engrossam-se as filas. E o sujeito que precisa não vai tomar. Eu acho até que essa preocupação com a febre amarela silvestre vai aumentar o número de casos porque os médicos vão fazer mais o diagnóstico.”
O repórter, acredite, insiste na birra: “Então há subnotificação…”
Varella tenta ser ainda mais claro: “Fui cuidado por médicos da melhor competência, todos professores da USP, gente com muita experiência. Nenhum deles tinha visto sequer um caso de febre amarela.”
Finalmente o repórter muda de assunto. Ao responder se não daria pra erradicar a febre amarela, ele ironiza: “É impossível. Só se se puser fogo em todas as florestas, matar todos os macacos.” Sobre a vacinação em massa, que a imprensa insiste em colocar em questão, juntamente com o “renomado” infectologista da USP, Varella sentencia: “Está errado. Não é a medida mais inteligente.”
No dia 11 de janeiro, o Ministério da Saúde liberou nota técnica (leia aqui) sobre o assunto que foi solenemente ignorada por este jornal paulista. Em vez de informar aos seus leitores sobre as informações técnicas contidas ali, o jornal continuou com sua birra, tentando fazer acontecer uma epidemia urbana na marra:
> Mulher é internada em São Paulo com febre amarela (12/1/2008) > Argentina: Turistas formam filas para vacinação (12/1/2008) > Aeroporto e postos de SP têm filas de vacinação (12/1/2008) > SP tem fila de até 4 h para vacina contra febre amarela (13/1/2008) > Espanhol morre com suspeita da doença em GO (13/1/2008)
Na matéria de capa desta terça (15/1) – “GO confirma 2a morte por febre amarela neste ano no Brasil” – a Folha escreve: “O número de notificações ao Ministério da Saúde subiu ontem para 26 – eram 15 até sexta-feira e 24 até domingo. Desses, 17 estão sob investigação, três já foram confirmados e seis, descartados”.
O que os editores deste jornal chamam, então, de “notificações”? Se seis estão descartados, porque incluí-los no total de 26? E se apenas 3 estão confirmados, porque não deixar claro que 17 são casos suspeitos e 3 efetivamente de febre amarela? Tudo para confirmar a birra, visto que aparentemente ninguém na redação da Folha leu – três dias depois de divulgada – a nota técnica a que me referi – exceto a sucursal de Brasília, que citou um dos últimos parágrafos, referente à notificação internacional que o Ministério da Saúde fez em 21 de dezembro de 2007. Com mais uma matéria, no entanto, que não contém dados técnicos, apenas políticos: “Brasil fez alerta internacional sobre doença”.
Confirmando novamente a observação do jornalista Aloysio Biondi de que reside, em geral, nas últimas quatro linhas das matérias da grande mídia as informações mais importantes, a Folha publica (bem escondidinho, looonge da primeira página): “Especialistas ouvidos pela Folha dizem que os três casos confirmados e os outros 17 sob investigação não configuram nem epidemia nem surto da doença. “São casos isolados”, explicou o epidemiologista Pedro Tauil, da Universidade de Brasília. Tauil disse que epidemia é um aumento inusitado de casos da doença, e surto é um tipo de epidemia localizada em que os casos têm relação entre si.”
O problema não chegou nem perto de se tornar uma epidemia, mas tamanha foi a insistência da imprensa que o ministro da Saúde foi obrigado a ir à TV para negar a suposta epidemia inventada pela repetição de mensagens de pânico.
Que jornalismo tem que ser de oposição ao poder, todos sabemos. Que tem que ser independente, igualmente. Mas que ignore informações técnicas e prejudique o seu público, ao criar birras políticas com quem quer que seja, inadmissível. Não se pode colocar acima do interesse público e da saúde pública as disputas mesquinhas entre o governo e aqueles que querem sua caveira – principalmente nesse caso, pois febre amarela é uma doença de pobre, conforme explicou Varella. Não é esse, continuo a acreditar, o papel de qualquer imprensa, seja esta grande, média ou pequena.
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No último dia 07 de janeiro, fui ilegalmente demitida na TV Band, pouco mais de um mês após o término de meu mandato no Sindicato dos Radialistas do Estado de São Paulo. Essa demissão ataca não só a mim e meus direitos, mas também ao direito de organização sindical dos trabalhadores, direito assegurado pela Constituição brasileira e pela CLT, que estabelece a estabilidade de um ano após mandato sindical, para proteção da representação dos trabalhadores.
A BAND, vice-campeã em irregularidades e desrespeito aos direitos trabalhistas (a campeã, como todos sabem, é a Rede TV), tomou mais uma atitude arbitrária, zombando mais uma vez da lei. Infelizmente, isso não surpreende ninguém que conhece as práticas abusivas da empresa contra seus funcionários.
Trabalhei nessa empresa por 17 anos. Durante 9 anos, por 3 mandatos sucessivos, exerci mandato sindical. Imediatamente após o término do meu mandato sindical, apresentei-me e prontifiquei-me a voltar ao trabalho. Compareci à empresa no dia 7 de janeiro de 2008, atendendo convocação do RH, e fui sumariamente comunicada de minha demissão, sob a alegação de inexistência de qualquer possibilidade de enquadramento de meu perfil em qualquer programa da grade 2008(!).
Uma campanha de moções Pelo Cancelamento da Demissão de Paula Capriglione foi iniciada pela CUT. O presidente da CUT-SP solicitou ao presidente do Grupo Bandeirantes de Comunicação uma reunião em caráter de urgência. Uma manifestação na porta da emissora será realizada na próxima quarta-feira, 16 de janeiro, às 12 horas.
CUT-SP inicia campanha Da redação
Em nota, a CUT-SP disse que “jamais aceitará qualquer prática anti-sindical e exige a imediata readmissão de Paula Capriglione, conforme determina a legislação trabalhista brasileira. Estamos ao lado da trabalhadora e solicitamos a todos os companheiros que manifestem sua indignação”. Endereço para envio de moções ao Presidente do Grupo Bandeirantes de Comunicação, João Carlos Saad: johnny@band.com.br, com cópia para a jornalista pelo e-mail: paulacapri@uol.com.br
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